Planalto aposta em vitória contra Itamar



Planalto aposta em vitória contra Itamar Para o governo, resultado da convenção do PMDB será primeira vitória na corrida presidencial BRASÍLIA - A cinco dias da convenção nacional do PMDB, o Palácio do Planalto já comemora aquilo que considera sua primeira vitória na corrida presidencial de 2002. A cúpula governista da legenda e os colaboradores mais próximos do presidente Fernando Henrique Cardoso não têm dúvidas de que irão impor uma "derrota humilhante" ao governador de Minas Gerais, Itamar Franco, na convenção que deve eleger o deputado Michel Temer (SP) presidente do partido, inviabilizando sua candidatura ao Planalto pelo PMDB. A grande preocupação do governo era impedir que um "inimigo público" do presidente saísse candidato por um partido que, além de grande e aliado, mantivesse suas posições no Executivo federal, aproveitando-se das benesses do governo até as vésperas da eleição. "Itamar pode até disputar no campo da oposição, mas não no PMDB", disse um interlocutor do presidente há dois meses. Foi com este pensamento e a constatação de que o ímpeto do PMDB em favor da candidatura própria era grande, que o governo fez uma operação apontada hoje como "jogada de mestre" até por líderes adversários do Planalto. Em vez de combater a tese da candidatura própria, Fernando Henrique investiu em um alerta aos aliados do PMDB: o da inconveniência política de entregar o comando a Itamar este ano. "Nesta eternidade real que nos separa do processo sucessório, só dou importância a dois fatos", resume o líder do PPS no Senado, Paulo Hartung (ES), ao apontar o "discreto e eficiente deslocamento da candidatura de Lula (Luiz Inácio Lula da Silva, do PT) para o centro, e a derrota que Fernando Henrique impôs a Itamar, sem declaração de guerra". Ritual - Em conversas com ministros e líderes do PMDB, Fernando Henrique salientou que não tinha dúvidas de que, no comando do partido, Itamar desprezaria todos em 2002. Peemedebistas mandaram recados ao governador, tentando extrair dele compromissos para a composição de palanques nos Estados. A resposta foi o silêncio. O quadro ficou mais claro quando Itamar desistiu de disputar a presidência do partido com Temer, abrindo espaço para a candidatura do presidente interino, senador Maguito Vilela. Em discurso combinado com Itamar e de olho no apoio da oposição na disputa em Goiás, ele partiu para ataques ao governo e aos ministros do PMDB. Na avaliação geral, o resultado foi duplamente favorável ao governo: além de fechar as portas do partido a Itamar, o discurso de Maguito aproximou do Planalto a ala mais independente que rejeita a candidatura do governador. Mas para o chefe de representação do governo mineiro em Brasília, Israel Pinheiro Filho, Itamar também saiu satisfeito. Segundo ele, o governador está apenas "cumprindo um ritual para mostrar à sociedade que Fernando Henrique interferiu para impedir sua candidatura pelo PMDB" e irá para o PDT, de Leonel Brizola. Governador diz duvidar de união das esquerdas RIO - O governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), afirmou ontem duvidar que as esquerdas brasileiras se aliem na eleição presidencial de 2002. Ele atribuiu veladamente a responsabilidade pela divisão ao PT e ao seu pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva. O peemedebista lembrou que em julho de 1994 Lula, como agora, liderava as pesquisas, com 44% das preferências, e Fernando Henrique Cardoso tinha apenas 2%, mas acabou vencendo. Itamar criticou as esquerdas por subestimarem o governo e aventou a hipótese de as forças políticas esquerdistas não chegarem ao segundo turno. "Duvido que as esquerdas brasileiras se unam", disse ele, também pré-candidato a presidente. "Hoje, este é o grande erro que as esquerdas brasileiras cometem: achar que o governo é fraco. Um governo que controla o câmbio, que controla os juros, o financiamento externo, o financiamento interno, que utiliza uma máquina como o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social)." Razões, segundo ele, para uma aliança da oposição. "Elas (as forças oposicionistas) vão ter (de se unir), querendo ou não, se é que vão chegar no segundo turno." No ataque ao PT, o governador não citou a sigla, mas deixou claro que era o partido de Lula o seu alvo. "Esses partidos políticos estão achando que já venceram as eleições, porque um está lá com não-sei-quantos-por-cento", disse ele, a uma platéia de empresários e dirigentes empresariais, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Depois de avisar que ainda não é candidato a presidente e não sabe se o será, criticou o discurso do presidente de "exportar ou morrer". "Um indivíduo falar em exportar ou morrer, a esta altura, após sete anos, já era cadáver", disse, sorrindo. "A não ser que fosse conservado em formol." Ele aproveitou para defender auditoria e revisão do programa de privatização. Governo gaúcho recebeu empresários do jogo Mas presidente da loteria estadual negou na CPI do Bingo negociação para legalizar caça-níqueis PORTO ALEGRE - O presidente da Loteria do Estado do Rio Grande do Sul (Lotergs), José Vicente Brizola, admitiu ontem ter recebido empresários internacionais do ramo de jogos de loteria, mas negou que o governo gaúcho esteja negociando a legalização das máquinas caça-níqueis. "Tenho obrigação de receber quem quer que seja, mas nenhuma ilação a mais é válida", afirmou, em depoimento à CPI da Segurança Pública, da Assembléia Legislativa. Ele negou que o governo gaúcho tenha ligações com donos de bingos interessados na legalização de jogos e acusou deputados da oposição de tê-lo procurado para discutir a legislação das loterias. Ao depor, o filho do presidente do PDT, Leonel Brizola, mostrou uma cópia de sua agenda desde 21 de fevereiro e contou que recebeu um deputado da CPI, Luís Augusto Lara (PTB) e um vereador do PDT (partido do relator da CPI, Vieira da Cunha). O vereador, Hélio Costa de Oliveira, de Santo Ângelo, reuniu-se com José Vicente em 13 de julho. O pedetista é ex-colaborador da empresa Juni, responsável por jogos na modalidade de chances múltiplas "Mais Fácil". Lara procurou-o em abril, depois de ir a Buenos Aires, como presidente da Comissão Especial do Mercosul. Na viagem, ele foi questionado sobre a legislação das loterias pelo dono da Lincoln Trade Center, o argentino Raul Orion. "Informei o deputado de que a questão das videoloterias estava sendo estudada e já havia recomendação contrária do Ministério Público", contou José Vicente. "Faço papel de embaixador dos negócios do Rio Grande do Sul, mas não admito que se faça qualquer tipo de insinuação de que intermediei os interesses desse empresário pela videoloteria", disse Lara. Ele marcou nova reunião com José Vicente para junho, mas desmarcou-a depois que a CPI começou seu trabalho. O governo gaúcho instituiu a videoloteria no início do ano, mas recuou depois que o Ministério Público advertiu que estava invadindo a competência da União. Pelos dados da Secretaria da Fazenda, o Rio Grande do Sul poderia arrecadar cerca de R$ 35 milhões com a legalização dos caça-níqueis e das modalidades loteria on line, bingo gaúcho e chances múltiplas. "Há muitos interesses econômicos em jogo que seriam contrariados com a regulamentação em esfera estadual", disse o líder do governo na Assembléia, Ivar Pavan (PT). Para o relator da CPI, os caça-níqueis têm servido para lavar dinheiro da máfia italiana. Ele deverá convocar o procurador da República Luiz Francisco de Souza para falar sobre as investigações que já fez sobre as conexões dos jogos ilícitos com o crime organizado. Renúncia e crítica agitam sucessão no PT A 13 dias da eleição que vai escolher o novo presidente nacional do PT, o vereador gaúcho José Fortunatti (RS) não só renunciou à candidatura como saiu criticando o que chamou de "falta de democracia interna" do seu partido. Depois de admitir a possibilidade de trocar o PT pelo PDT, Fortunatti foi substituído na chapa pelo deputado Ricardo Berzoini (SP), atual presidente do diretório paulistano. Na carta de sete linhas enviada ontem ao deputado José Genoíno (SP), presidente em exercício do PT, Fortunatti comunicou que se retirava da disputa por causa da "celeuma" criada em torno de sua insatisfação partidária. Ao Estado, o vereador que foi vice-prefeito de Porto Alegre (1997 a 2000) disse que o PT ficou antidemocrático porque as decisões são sempre tomadas por tendências. "A estrutura da Articulação/Unidade na Luta é como um trator passando em cima de quem anda de patinete", comparou Fortunatti, que planeja concorrer ao Senado em 2002. A moderada Articulação é a facção do pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do deputado José Dirceu (SP), presidente licenciado do partido, que pleiteia a reeleição. Dirceu é o favorito absoluto da disputa do próximo dia 16. Estão aptos a votar 851.047 filiados em todo o país e haverá urnas eletrônicas. Além de Dirceu, concorrem à presidência do PT outros cinco candidatos: o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont; o presidente do diretório gaúcho, Júlio Quadros; o deputado Tilden Santiago (MG), o economista Markus Sokol e, agora, o deputado Berzoini, no lugar de Fortunatti. "Não temos ilusão de ganhar, mas queremos cumprir o papel de prosseguir o debate", afirmou Berzoini, do PT de Luta e de Massa. Genoíno disse esperar que Fortunatti não saia do partido. "Seria muito ruim não só para ele como para nós", advertiu. Secretário acusa Jader de engavetar pedido Segundo ofício de Raimundo Carreiro, o senador adiou entrega de requerimento da Casa para obter informações doBC sobre caso Banpará BRASÍLIA - O secretário-geral do Senado, Raimundo Carreiro, encaminhou ontem à presidência da Casa ofício que responsabiliza o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) pela decisão de engavetar, por mais de três meses, requerimento de informação ao Banco Central sobre o caso Banpará. Com base nessa informação, a comissão do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar vai fundamentar o pedido para a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra o presidente licenciado do Senado. A conclusão é que ele agiu em proveito próprio, o que é "abuso das prerrogativas constitucionais". Jader poderá ser acusado ainda de crime de perjúrio, porque, em depoimento à comissão na quarta-feira passada, assegurou, de forma categórica, que não engavetou o requerimento na época em que o Senado estava sob seu comando. De acordo com informações da comissão, Jader segurou, do dia 5 de março a 22 de junho, o pedido para que o BC enviasse as conclusões sobre as inspeções e fiscalizações no Banpará, inclusive o relatório assinado pelo auditor Abrahão Patruni Júnior que conclui que o peeemedebista participou do esquema de desvio de recursos do banco estadual. A comissão poderá convidar Carreiro para prestar mais esclarecimentos a respeito da acusação, porque, em depoimento à comissão, Jader procurou mostrar que o secretário foi o responsável pela decisão de despachar o requerimento, dizendo essa era um "tarefa da secretaria-geral da Mesa". De acordo relatos de Carreiro a senadores, Jader lhe deu ordens para segurar o requerimento, com a justificativa de que queria anexá-lo a outros dados. Essa argumentação, no entanto, não convenceu a comissão. Com base nos dados fornecidos pelo senador Jefferson Péres (PDT-AM), o requerimento somente seguiu seu trâmite normal quando, em 22 de junho, os líderes do Senado fecharam um acordo para que ele fosse aprovado de forma a permitir que o BC encaminhasse a documentação que poderia sustentar as investigações do caso Jader no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. A partir desse dia, houve uma rápida tramitação: o pedido foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, logo em seguida, pelos senadores em plenário. Além disso, na relação das matérias apreciadas pela CCJ, o requerimento, de autoria do líder do bloco de oposição no Senado, José Eduardo Dutra (PT-SE), aparece com tendo se extraviado durante 119 dias. Reação - Na tentativa de derrubar mais uma acusação apresentada contra ele, Jader divulgou ontem, por meio de sua assessoria, que, em 6 de março, enviou, por conta própria, outro ofício ao presidente do BC, Armínio Fraga, solicitando a "remessa imediata ao Ministério Público do Estado do Pará de relatório ou conclusões" sobre o caso Banpará. Jader requereu ainda que lhe fosse remetida cópia integral da documentação em poder do BC. Senadores sustentam, no entanto, que esse pedido de Jader foi "inócuo", porque o BC não poderia enviar os papéis da instituição ao Conselho de Ética, porque constavam dos dados incluídos nos relatórios informações protegidas pelo sigilo bancário. Somente um requerimento aprovado pelo plenário do Senado tem o poder de quebrar o sigilo bancário de pessoas sob investigação da Casa. Ex-gerente do Banpará depõe a senadores BELÉM - O ex-gerente do Banco do Estado do Pará (Banpará) Marcílio Guerreiro Figueiredo entregou ontem à comissão de investigação do Conselho de Ética do Senado uma relação de correspondências internas da instituição bancária. Os papéis mostram quem eram os responsáveis pela emissão de cheques administrativos usados em aplicações no Rio de Janeiro cujos rendimentos beneficiaram, entre outros, o presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), então governador do Estado. Guerreiro prestou depoimento ontem a um dos integrantes da comissão investigativa, o senador Romeu Tuma (PFL-SP), e confirmou o que já havia dito à Polícia Civil do Pará em 1990. Disse que não sabia qual o destino dos cheques, cuja emissão, garantiu, era feita a pedido do chefe do Departamento Financeiro do Banpará Jamil Xaud - que prestará depoimento a Tuma amanhã. Com esse depoimento, a comissão já tem condições de concluir o relatório sobre as suspeitas que pesam contra Jader nos casos de desvios no Banpará. Os senadores esperam apenas os documentos do Banco Central com informações sobre uma aplicação contestada por Jader durante o depoimento prestado na quarta-feira. Além de Guerreiro, Tuma ouviu o arquiteto Aurélio Meira, que confirmou ter recebido de Jader várias remessas de dinheiro como pagamento por seu trabalho. "Sou arquiteto e construi para ele como um cliente qualquer", afirmou Mera, que recebeu cerca de R$ 800 mil para reformar a sede da Fazenda Rio Branco e um apartamento de cobertura da família Barbalho. Ainda ontem o advogado Paulo Lamarão, desafeto de Jader há vários anos, entregou a Tuma vários documentos relacionados aos desvios do Banpará. Em outra frente do cerco que está se fechando em torno de Jader, o SupremoTribunal Federal (STF) recebeu ontem documentos de 47 bancos que fizeram movimentação com _Títulos da Dívida Agrária (TDAs) no período de em que o hoje senador era ministro da Reforma Agrária, entre 1987 e 1988. Empresário diz que não fez acusações a senador Gutzeit admitiu, porém, ter recebido verba da Sudam para projetos que não saíram do papel BELÉM - O empresário paraense Danny Gutzeit, citado em inquérito na Polícia Federal por desvio de recursos da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), negou ontem ter feito acusações ao presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho, e ao deputado federal José Priante (PMDB-PA), durante depoimento à PF em Altamira, no dia 28. Para provar o que disse, Gutzeit entregou ao Estado uma cópia do depoimento que prestou ao delegado Luiz Pontel de Souza. No trecho em que é indagado sobre qual tinha sido a participação de Jader e Priante nos fatos investigados, o empresário disse que nada sabia - tanto sobre atividades pessoais como comerciais dos políticos. Segundo Gutzeit, as empresas Propamar e Propanorte foram montadas por ele com a finalidade de obter financiamento da Sudam para o cultivo de açaí, cupuaçu e dendê. O escritório responsável pelos dois projetos era o AME, de Maria Auxiliadora Barra Martins, também investigada pela polícia por fraudes na autarquia. O endereço da Propamar em Altamira, segundo o empresário, estava localizado em um terreno baldio, apenas murado e sem nenhum construção. Do total de R$ 11 milhões, ele garante ter recebido R$ 2,9 milhões para construir os dois projetos. "Paguei 7% da parcela para Maria Auxiliadora", alegou. Em nota, o delegado Hélbio Dias Leite, responsável pelas investigações sobre a Sudam, afirma que os depoimentos de Gutzeit e de outros envolvidos estão sob sigilo. Ele negou ter prestado informações à imprensa sobre o conteúdo das declarações. Estevão será alvo de novo pedido de prisão Relato de contadora sobre adulteração de livros fiscais será base de solicitação do MP A Procuradoria da República quer a decretação da prisão preventiva do senador cassado Luiz Estevão, acusado de comandar esquema de falsificação de livros contábeis e fiscais do Grupo OK. Por meio de representação criminal à cúpula do Ministério Público Federal em São Paulo, procuradores que investigam o desvio de verbas das obras do Fórum Trabalhista vão pedir hoje abertura de ação contra Estevão recomendando que sua prisão seja requerida à Justiça Federal. O pedido será feito com base no relato da contadora Teresa Jesuína Varandas Ferreira que durante 19 anos trabalhou no Grupo OK, presidido por Estevão. No dia 16, ela revelou a um grupo de procuradores em Brasília os detalhes da operação que teria sido comandada pelo ex-senador para adulterar documentos que comprovam a entrada de recursos no caixa de nove de suas empresas a partir de remessas feitas pelo Grupo Monteiro de Barros – controlador da Incal Incorporações, a empreiteira do fórum. Os procuradores federais avaliam que a prisão de Estevão “é medida que se faz necessária” porque a contadora afirma estar sofrendo ameaças de morte. Além disso, o ex-senador tentou liberar bens bloqueados judicialmente adulterando balancetes dos anos de 1998 e 1999. O patrimônio das empresas OK – à exceção do ativo circulante – foi tornado indisponível em abril de 2000, por ordem do juiz Pedro Paulo Lazarano, da 12.ª Vara Federal. Segundo a Procuradoria da República, Estevão exibiu documentos forjados nos autos da ação. “Ele está ameaçando testemunhas, forjando papéis e destruindo provas importantes”, acusam os procuradores. Foi solicitado “com urgência” o depoimento da contadora no processo criminal sobre superfaturamento do fórum. Para o Ministério Público Federal – que acusa Estevão de formação de quadrilha, estelionato, corrupção ativa e falsidade ideológica –, o relato de Teresa é fundamental para reforçar as provas e levar à condenação do ex-senador. Nove empresas de Estevão receberam o equivalente a US$ 39,5 milhões do Grupo Monteiro de Barros. Perante a Comissão Parlamentar de Inquérito do Judiciário no Senado e à Justiça Federal, Estevão sustentou que os créditos foram recebidos por conta de “outros negócios” entre os dois grupos. A contadora derrubou a versão do ex-senador. Segundo ela, Estevão ordenou adulterações dos lançamentos em 125 diários das empresas beneficiadas com cheques do Monteiro de Barros. Oito livros foram “inteiramente refeitos”. A papelada foi levada por Estevão à CPI que queria livrar-se da cassação. Assalto – Teresa contou que em todos os livros do mês de dezembro dos anos de 1994 a 1997 – nos quais constavam os balanços de encerramento do exercício – “foram alteradas as páginas do balanço para nele inserir dados falsos” sobre a origem de recursos. Ela disse aos procuradores que seguranças do OK a ameaçaram. Um deles teria dito: “Cuidado, se o Luiz Estevão for preso”. Em outra ocasião: “Como você tem muitas jóias, vamos leva-la até Sobradinho (cidade satélite) e matá-la, vai parecer que foi assalto.” A procuradoria juntou cópias do depoimento de Teresa no processo criminal do fórum e nos autos do habeas-corpus que, em caráter liminar – concedida pelo Superior Tribunal de Justiça –, garantiu em março a revogação da prisão preventiva decretada contra o ex-senador. Maluf comemora seus 70 anos com banda de música Ex-prefeito faz festa em escritório, cita versos de Gonçalves Dias e chama Alckmin de 'inexperiente' Declamando versos de Gonçalves Dias, ao som de uma banda de música, cercado de personalidades do esporte e ovacionado por dezenas de simpatizantes. Embora acossado pelas denúncias de que tem dinheiro aplicado no exterior, foi dessa forma que Paulo Maluf comemorou os seus 70 anos. Deixou de lado a tradicional missa e festejou ostensivamente o aniversário, ontem, em São Paulo. Em seu escritório político, nos Jardins, o ex-prefeito criticou "a falta de personalidade" do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a quem chamou de "inexperiente" por negociar com Fernando Dutra Pinto, que fez Silvio Santos de refém. "Será que o governador do Estado pode ceder à chantagem de um assassino frio? Será que se amanhã, numa favela ou bairro de classe média, um pai de família estiver seqüestrado e o bandido exigir a presença do governador, ele irá?", perguntou. "Não se dá um boeing para quem nunca pilotou um teco-teco; tem pessoas que nascem para ser líderes, outras para ser vice." Maluf prometeu manter a candidatura ao governo e avisou aos adversários que seguirá na vida pública. "Só Deus me tira da política", disse. Citando a Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias, arrematou: "A vida é combate, que aos fracos abate, que aos fortes, aos bravos, só pode exaltar." O escritório político ficou lotado. A animação vinha por conta de quatro músicos, vestidos de vermelho. Minutos antes de Maluf chegar, tocavam Regra Três, de Toquinho e Vinícius de Moraes: "Tantas você fez/ que ela cansou/porque você, rapaz/abusou da regra três (...) Mas tem sempre um dia em que a casa cai (...)". Maluf chegou num Nissan preto de quatro portas e foi cercado por simpatizantes, que o beijavam e o paravam para tirar fotografias. "Meu querido! Minha querida!", repetia Maluf, sorridente. O ex-prefeito foi homenageado pelo boxeador Maguila, pela jogadora de basquete Karina e pelo ex-jogador da seleção brasileira de vôlei Pampa, que se filiou ontem ao PPB. "Maluf tem 70 anos de serviços prestados ao Brasil", elogiou Pampa. Antevendo a boa imagem, Maluf chamou Maguila para perto e, com um soco na mesa, conclamou o boxeador a "dar uma pancada" nos adversários políticos. O deputado estadual Conte Lopes advertiu que, se Maluf for eleito governador, os bandidos devem temer. "Quando eu era PM, baleei bandido, salvei gente e o Maluf me promoveu por bravura", disse. "Quando eu estiver com a caneta na mão, bandido vai ter medo da polícia e não a polícia de bandido", completou. Ele negou ter telefonado para a Ilha de Jersey, ao contrário do que foi divulgado pela vereadora Ana Martins (PC do B). "Não teria nada de mais eu ligar para Jersey, para os Estados Unidos, mas não liguei". Maluf se declarou perseguido. "Meu patrimônio minguou, ao longo de minha vida pública." Editorial O risco de um fracasso na OMC O mercado internacional será muito mais perigoso, nos próximos anos, se terminar em fiasco, em novembro, a reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC). Nesse encontro, governos de 142 países tentarão lançar, oficialmente, uma nova rodada global de negociações comerciais. O lançamento deveria ter ocorrido no final de 1999, em Seattle, mas a conferência terminou em desastre. Os conflitos de rua entre policiais e manifestantes foram a parte menos grave. Nas salas de conferência, não houve acordo sobre nenhum dos assuntos mais importantes. Um novo fracasso poderá ser muito mais danoso. Uma onda protecionista poderá alastrar-se por toda parte, advertiu, no México, o secretário-geral da OMC, o neozelandês Mike Moore. Não foi a única advertência. O representante comercial da Casa Branca, Robert Zoellick, também deu seu aviso. No caso de um impasse, afirmou, seu governo passará a cuidar somente de acordos bilaterais e regionais. As duas previsões não são excludentes. Acordos bilaterais e regionais, por definição, criam clubes de participação limitada, com desvantagem para quem fica fora do jogo. Um país, ou bloco, pode envolver-se em vários acordos como esses. De um caso para outro, porém, as composições de força e as condições negociadas podem ser muito diferentes. Isso explica por que o sistema global de comércio, com regras multilaterais, tem valor estratégico para o Brasil. Para os maiores atores, como Estados Unidos, União Européia e Japão, uma nova rodada mundial pode resolver problemas por atacado, facilitando, por exemplo, a criação de regras multilaterais para investimentos ou a uniformização de regras de propriedade intelectual. Para economias emergentes, como a do Brasil, negociações multilaterais são especialmente importantes por dois motivos: 1) podem permitir maior equilíbrio na composição de interesses; 2) tornam mais eqüitativa a solução de conflitos. O chanceler brasileiro, Celso Lafer, deixou clara, mais de uma vez, a prioridade atribuída pelo governo brasileiro à nova rodada global. Segundo ele, será o ambiente mais favorável à solução de alguns problemas de especial importância, como as distorções do comércio agrícola e o abuso das medidas antidumping. Será mais difícil, de acordo com sua avaliação, tratar desses temas em negociações bilaterais. Isso não impede que o Brasil procure trabalhar em várias frentes. Neste momento, uma delegação brasileira participa, em Punta del Este, no Uruguai, de uma reunião do Grupo de Cairns, constituído por 17 países. Esse grupo, formado na cidade australiana que lhe deu o nome, começou a atuar durante a Rodada Uruguai, encerrada em 1994. Seu objetivo é a liberalização do comércio agrícola. O encontro de Punta del Este deve servir para a discussão de propostas para a nova rodada global. Os Estados Unidos não participam desse grupo, mas seu principal negociador, Robert Zoellick, também está em Punta del Este. Uma reunião paralela foi programada entre representantes do Mercosul e o negociador americano, para discussão de um possível acordo comercial 4+1, entre o bloco sul-americano e os Estados Unidos. Pode ser uma discussão mais simples que a da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O governo dos Estados Unidos, apesar de seu manifesto interesse nessa negociação, não disse ainda o que poderá oferecer. Os compromissos do presidente George Bush e de poderosos setores do Congresso com lobbies protecionistas podem dificultar as conversações. Agora mesmo, grupos ligados à siderurgia norte-americana estão exigindo a imposição de novas barreiras à importação de aço de várias procedências. No caso do Brasil, esses grupos defendem a adoção de sobretaxas de até 304%. Ninguém leva mais a sério as acusações de dumping e de subsídios formuladas por esses grupos, que representam um setor sabidamente ineficiente. Mas os congressistas e o governo tendem a apoiá-los, por interesse eleitoral. Dados como esse tornam muito clara a importância de uma rodada global. Na OMC, outros parceiros, incluído o Japão, estarão empenhados em contestar o abuso das ações antidumping pelos Estados Unidos. Topo da página

09/04/2001


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