Planalto define hoje prioridades para segurança
Planalto define hoje prioridades para segurança
Aloysio e técnicos vão avaliar projetos e acertar critérios para fiscalizar destinação de recursos
BRASÍLIA – O ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, convocou para hoje uma reunião na qual os técnicos do ministério vão definir os pontos do Plano Nacional de Segurança Pública que serão prioridade do governo a partir de agora. Serão acertados, também, critérios mais rigorosos para o repasse de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública aos Estados.
O governo está em busca de respostas concretas, em atuação conjunta com os governadores e o Congresso, para combater o aumento da violência e criminalidade no País. Uma das medidas que deverão ser anunciadas em breve é a concessão de mais poderes ao Conselho Nacional de Segurança Pública, órgão vinculado à pasta da Justiça, que passaria a fazer um acompanhamento mais efetivo das ações dos Estados.
Esse seria o primeiro passo para a criação de uma Câmara de Segurança Pública, subordinada ao governo federal, ou de câmaras estaduais, de responsabilidade dos governadores. O formato ainda está em discussão, mas a tese mais forte – pelo menos em muitos setores do Palácio do Planalto – é de que essa atribuição deva ser dos governadores.
Na quarta-feira, será a vez de o presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitar uma reunião ministerial, marcada para traçar as linhas de ação de seu último ano de governo, para falar da preocupação com o tema da segurança. No encontro, que contará com a presença dos líderes dos partidos da base aliada, Fernando Henrique vai apelar aos parlamentares para que aprovem as medidas em tramitação no Congresso e as que estão sendo preparadas pelo Planalto.
O presidente deverá comentar, ainda, sobre a medida provisória, ainda em fase final de elaboração, que dá mais poderes aos diretores de presídios. O Planalto está convencido de que a MP, em fase final de análise pela área jurídica, ajudará a cercear o poder dos bandidos que controlam o crime organizado, seqüestros e o narcotráfico a partir dos presídios.
A medida introduzirá um novo regime nas penitenciárias, reduzindo regalias dos detentos e de advogados e dando mais autonomia aos diretores.O aumento de penas para presos com mau comportamento não estará incluído nessa MP, mas poderá fazer parte de um projeto de lei a ser anunciado em breve.
Fernando Henrique quer ressaltar no encontro, sobretudo, que a segurança é uma prioridade no seu governo. Será certamente a última reunião com a presença do ministro da Saúde e candidato do PSDB à Presidência, José Serra, que deverá deixar o cargo para se dedicar à campanha.
O secretário-geral da Presidência, deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM), vai ajudar nas negociações para a aprovação das medidas no Congresso, promovendo, também, reuniões com líderes a partir desta semana. Ele lembra que a questão é do interesse de todos e, por isso, tem de ser tratada de forma suprapartidária.
Polêmica – As propostas são polêmicas. Apesar de o governo querer repassar a responsabilidade pela criação das câmaras de segurança aos Estados, há uma corrente que tenta convencer Fernando Henrique de que a gravidade desse problema e o vulto que tomou exige uma coordenação direta do Planalto. Há quem ache que seria melhor haver uma única câmara, ligada ao Ministério da Justiça.
No momento, só há consenso de que é preciso fazer alguma coisa e é preciso dar mais poderes ao Conselho Nacional de Segurança Pública. O órgão poderia agir mais energicamente no caso dos Estados que não estiverem, por exemplo, integrando as polícias ou aplicando mal os recursos do Fundo Nacional de Segurança.
O último fim de semana, de acordo com auxiliares do presidente, já trouxe alguma esperança – particularmente em relação a São Paulo – com a libertação do publicitário Washington Olivetto e o avanço nas investigações de crimes contra prefeitos petistas, com prisão de novos suspeitos. Na avaliação do Planalto, isso mostra que os governadores também estão se mobilizando contra o problema.
FHC reclama de crítica de Alckmin pela crise no setor
Presidente considera 'injusta' posição de culpar o Planalto pelos problemas no Estado
BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) está irritado com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Num jantar na quinta-feira, na casa do ministro de Minas e Energia, José Jorge, Fernando Henrique considerou injusta a tentativa de Alckmin de responsabilizar o governo federal pela crise na segurança.
Segundo um senador que participou do jantar, o presidente estava aborrecido pois, após o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), Alckmin insinuou que a culpa pela falta de segurança era do governo federal.
Segundo o senador, o presidente comentou: "Quando as coisas dão certo para o governador, ele fatura; quando não dão, ele joga para cima do governo federal."
Os desentendimentos entre Alckmin e Fernando Henrique mobilizaram o PSDB de São Paulo. Tucanos paulistas pedem pressa no exame das propostas - mais de 380 - a respeito de segurança que estão no Congresso. O problema é que medidas provisórias não votadas trancarão a pauta do Senado e da Câmara a partir de sexta-feira, quando encerra o recesso parlamentar. Os projetos só devem começar a ser examinados a partir de abril.
O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) contou que, depois do assassinato de Celso Daniel e das declarações de Alckmin, fez uma visita ao Planalto. Notou que o clima estava ruim e que havia reclamações contra o governador. Depois disso, em entrevista, o presidente criticou a segurança de São Paulo.
Alckmin, então, reagiu.
A atitude do governador desagradou mais ao Planalto. O deputado José Genoíno (PT-SP) lembra que quem deu a notícia do seqüestro de Daniel ao presidente foi o PT. Outro petista conta que no dia 19 - antes da descoberta do corpo do prefeito - houve reunião dos dirigentes do PT com Alckmin. O governador teria rejeitado proposta de chamar o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, pois resolveria tudo sozinho.
PSDB paulista vai a Brasília pedir que Congresso apresse votações
Feldman conversará com Aécio, Tebet e Aloysio para que seja recebido até quinta-feira
A ofensiva dos deputados estaduais tucanos de São Paulo para que o Congresso apresse a votação de projetos na área de segurança pública começa hoje. O presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, Walter Feldman (PSDB), conversará com os presidentes da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), e do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), e com o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, para que ele seja recebido em Brasília no máximo até quinta-feira.
Feldman pretende entregar um "documento de apelo"para que Brasília dê prioridade às questões de segurança. "Há medidas de âmbito federal que ajudariam a resolver problemas. Isso não pode ficar só por conta dos Estados", disse o presidente da Assembléia paulista. Entre os projetos que os tucanos paulistas consideram importantes, estão a unificação das polícias e o aumento da pena para porte ilegal de armas e para fugas reincidentes.
Os tucanos paulistas, no entanto, não querem caracterizar a entrega do documento como uma medida partidária, para diminuir a pressão sobre o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que vai concorrer à reeleição.
Para isso, vão submetê-lo ao colégio de líderes dos partidos na Assembléia amanhã. "Já sondei diversos partidos e todos mostraram-se favoráveis", disse Feldman. "Será uma ação suprapartidária, não estamos fazendo enfoque eleitoral", afirmou o deputado estadual Edson Aparecido (P SDB), presidente regional tucano.
A idéia do PSDB paulista é que Feldman vá a Brasília acompanhado dos líderes de bancadas de todos os partidos da Assembléia.
Eles querem que os líderes paulistas também pressionem os deputados federais de suas legendas para que apressem a votação dos projetos de segurança pública que tramitam no Congresso. No âmbito estadual, os deputados tucanos prometem votar todos projetos que possam ajudar no combate à violência.
Discurso - Feldman conversou na sexta-feira com o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), líder do governo na Câmara. Madeira disse ao Estado, também na sexta, que a entrega do documento era desnecessária e que havia falta de comunicação entre as bancadas tucanas federal e estadual. "Falei com o Madeira e estamos em sintonia", disse o presidente da Assembléia.
Para evitar mais desencontros no discurso e tentar evitar um ônus eleitoral ainda maior para o partido, as bancadas tucanas federal, estadual e municipal vão se reunir na tarde de hoje em São Paulo. O encontro contará com a presença do secretário de Segurança Pública paulista, Saulo de Castro.
Pressão social pode acelerar projetos
Parlamentares acreditam, porém, que mais do que leis faltam investimentos
Destinar obrigatoriamente 10% dos recursos orçamentários para a segurança pública, proibir a venda de armas no País e dar maior poder de ação às guardas municipais. Estes são apenas três exemplos das dezenas de projetos de lei sobre segurança pública que aguardam votação no Congresso.
Parados há muito tempo, aguardando pareceres de comissões - seja por desinteresse do governo ou pela falta de entendimento entre os parlamentares -, os projetos são apresentados, a cada crise, como a solução para os problemas de segurança no País. E como prova de que os parlamentares preocupam-se com o tema.
A morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), e a libertação do publicitário Washington Olivetto, depois de 53 dias de cativeiro, criam agora a expectativa de que boa parte dos projetos sobre segurança pública será votada na volta do recesso.
O deputado federal José Genoíno (PT-SP) acredita que a pressão da sociedade pode acelerar a apreciação desses projetos, mas diz que o Congresso não pode tratar do tema somente sob efeito do que chama de "espasmos". "É a quinta vez nos últimos anos que a segurança volta a entrar na pauta com urgência", lembra, citando o seqüestro do empresário Roberto Medina, o assassinato da atriz Daniela Perez, as greves dos policiais militares, o seqüestro do ônibus 174 na cidade do Rio e a recente onda de seqüestros.
Genoíno acredita que apenas 20% dos problemas de segurança podem ser resolvidos com novas leis. Para ele, as prioridades seriam a aprovação das novas leis orgânicas das Polícias Civil e Militar, a autorização para os Estados integrarem as polícias e as mudanças no Código Penal para tornar algumas penas mais severas.
"Mas 70% dos problemas podem ser resolvidos pelos governos estaduais e com mais investimentos do governo federal, como por exemplo, para fazer um banco de dados nacional sobre criminalidade", opina o petista.
O senador Romeu Tuma (PFL), autor de vários projetos na área de segurança, tem a mesma opinião. "Há leis demais e para todos os gostos, o que precisamos é de mais investimentos", afirma. Ele é defensor do projeto que vincula os gastos no Orçamento à segurança - a exemplo do que ocorre com as áreas de saúde e educação.
"O problema é que o governo não quer mais vincular gastos", diz Tuma. O senador defende mais recursos para a formação de policiais e para o aparelhamento dos setores de perícia.
Lula diz que evitará debate para não ajudar rival
Estratégia em relação a Serra, segundo ele, será pensada cuidadosamente para PT 'tirar vantagem'
PORTO ALEGRE - O provável candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que não vai debater com o ministro da Saúde, José Serra (PSDB), e comprou uma briga com Ciro Gomes (PPS) ao afirmar que o rival "só fala bobagem". "Por que o Serra não debate com o Enéas?", ironizou. Lula, que ontem encerrou sua participação no 2.º Fórum Social Mundial, não quer saber de debater agora nem com o senador Eduardo Suplicy (SP), que vai disputar com ele uma prévia no dia 17 de março. Com Serra, então, nem pensar.
"Fazer debate para ajudar adversário não é boa política, nem inteligente", avaliou o petista, que lidera as pesquisas de intenção de voto. "De nossa parte, isso será pensado estrategicamente e programado de acordo com nossos interesses, para que o PT tire vantagem."
Lula bateu na tecla de que o presidente Fernando Henrique Cardoso "nunca quis" trocar idéias com ele diante da TV nas eleições de 1994 e 1998. "Fez duas campanhas sem debate e, na época, não vi o Serra falar que era importante", provocou.
As críticas mais fortes, porém, foram a Ciro. Não sem motivo: na véspera, o candidato do PPS afirmou que a segunda edição do fórum foi muito "partidarizada" pela esquerda. Mais: disse que o PT tenta tirar proveito do fórum ao explorar a questão da segurança pública.
Barra - "É engraçado isso: Ciro nunca fez questão de dizer que era de esquerda. Nós é que forçamos a barra e achamos que é", reagiu Lula. Irritado, ele insistiu em que Ciro demonstrou total desconhecimento e desinformação. "Ele falou uma grande bobagem porque o PT tem muita gente aqui, mas, obviamente, muitas pessoas não estão em Porto Alegre como petistas", notou, ao lembrar que há inúmeras delegações ligadas a movimentos sociais.
"Quem sabe, ao invés de falar bobagem, seja melhor o Ciro se preparar para o ano que vem e vir aqui montar seminários e apresentar propostas concretas, como nós", afirmou.
O Fórum Social Mundial termina na terça-feira, mas Lula foi embora ontem à noite, depois de participar de uma série de seminários promovidos pelo Instituto Cidadania - a organização não-governamental que ele comanda - sobre políticas públicas. Um dos principais temas do pacote de propostas de Lula foi a segurança pública.
Socialistas - O Partido Socialista francês, do primeiro ministro Lionel Jospin, deverá apoiar o PT nas eleições. Em troca, Lula se comprometeu a dar aval a Jospin, que concorre à Presidência da França. O petista viajará para Paris em abril, antes do primeiro turno.
Classe média domina os quadros petistas
Pesquisa revela 'profissionalização' de dirigentes, após 22 anos de criação da sigla
Os dirigentes do PT são mais profissionais, têm melhor nível de vida e são mais estudados do que 22 anos atrás, quando o partido foi fundado no ABC paulista, em 10 de fevereiro de 1980. Pesquisa da Fundação Perseu Abramo, encomendada pela executiva do partido, ao qual é vinculada, revela que 65% dos delegados à convenção nacional, realizada em dezembro no Recife, têm curso superior e 67% ganham de 10 a 50 salários mínimos e, em alguns casos, até mais. Ou seja, têm renda familiar acima de R$ 1.800 mensais. Dos delegados que participaram da reunião, 74% são funcionários do próprio PT ou de setores ligados a ele, como governos estaduais, prefeituras, gabinetes parlamentares e sindicatos.
"Faz tempo que a classe média está em alta no PT, especialmente entre os simpatizantes, numa escalada que começou logo depois da fundação de uma legenda que nasceu com esse nome, mas não se confirmou como partido dos trabalhadores", observou o sociólogo Leôncio Martins Rodrigues, professor titular de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ao analisar os resultados da pesquisa. Os dados referentes à profissionalização dos quadros políticos também não surpreendem, em sua opinião, porque refletem uma tendência que se observa nos partidos de esquerda.
Estudioso das questões sindicais e partidárias, o professor da Unicamp diz que o grupo de militantes e filiados que formam o aparelho do Estado, em russo o aparatchik da máquina burocrática, deverá crescer no PT. "Os parlamentares petistas têm de dividir o poder com esse grupo, porque se trata de uma marcha inevitável", adverte Rodrigues. Para ele, é normal também que, como partido de esquerda, o PT utilize essa máquina como fonte de recurso financeiro, impondo contribuições àqueles que têm mandato eletivo ou que são nomeados para cargos de confiança. "Os partidos de esquerda são obrigados a tirar um pouco de cada um, porque não recebem doações de banqueiros e de empresários, como os partidos eleitorais", observa o sociólogo.
"A pesquisa da fundação mostra que o PT é um dos maiores partidos do ponto de vista financeiro", reforça o consultor político Gaudêncio Torquato, professor de Comunicação Política na área de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da GT Marketing e Comunicação. Segundo ele, os dirigentes do partido e os governantes petistas tiram proveito da profissionalização de seus quadros - parlamentares, assessores e ocupantes de cargos de confiança - para arrecadar recursos. "Quando (a prefeita de São Paulo) Marta Suplicy aumenta os salários de funcionários em postos de chefia, está olhando para o futuro e para a campanha eleitoral do PT", afirma.
'Apego' - A profissionalização com base no compromisso político e ideológico tem outra vantagem. "O burocrata do PT trabalha com mais entusiasmo, porque é engajado e tem apego ao cargo", acrescenta o consultor. Como o vínculo profissional com assessorias e administrações garante o caixa, o partido nomeia filiados e militantes para funções remuneradas. "O PT, que há muito saiu do ciclo do ABC, seu berço sindicalista, com cobertura intelectual da USP e aproximou-se da classe média num segundo ciclo, quando conheceu a administração pública, está se afastando agora dos sindicalistas e partindo para alianças amplas, de uma maneira pragmática que cheira a fisiologismo", observa Torquato. Exemplo disso, segundo ele, é a tentativa de Marta de se aproximar do PMDB do ex-governador Orestes Quércia, "representante do segmento mais retrógrado da política".
A pesquisa da Fundação Perseu Abramo revela outros dados que, segundo dirigentes petistas, têm de ser levados em consideração. "O PT, que virou uma grande instituição, é um partido pluralista e socialmente muito amplo", adverte o deputado federal José Genoíno (SP), vice-presidente do PT e pré-canditado ao governo paulista. O fato de o quadro dirigente abrigar grande número de filiados que exercem a militância como profissionais não compromete a identidade petista. "O que se tem de levar em conta é o comprometimento com as camadas populares em nossa formação política e social."
Genoíno não vê, também, risco de burocratização e de uma eventual acomodação, numa estrutura formada por funcionários pertencentes ao partido ou a instituições e pessoas a ele ligadas. "Muitos dirigentes são também militantes sociais e participam de movimentos das camadas populares, embora tenham uma relação direta com o aparato estatal", observa o deputado.
"O PT não pode se transferir para a máquina do Estado, assim como não é possível montar um governo só com petistas", adverte Genoíno, acrescentando que o PT distingue o que é partido e o que é governo. Segundo a pesquisa, 69% dos delegados à convenção nacional participam de algum tipo de movimento social.
"Os delegados que têm curso superior também são militantes de movimentos populares", reforça o deputado federal Aloízio Mercadante (SP), secretário de Relações Internacionais do PT, para argumentar que o status social não afasta os dirigentes da ideologia e da luta do partido. Também não se corre o risco de burocratização, acrescenta ele, porque os convencionais que foram ao Recife eram filiados petistas com representação política e social.
"Aqueles 500 delegados foram eleitos por 250 mil votos, num processo de eleição direta e democrática, nos encontros estaduais de um partido que tem 900 mil filiados e está governando 29 milhões de eleitores", observou Mercadante. A grandeza do PT se mede também, conforme lembra o deputado, pela presença da legenda nos parlamentos e na administração de nível estadual e municipal.
Desconto - Os parlamentares petistas descontam obrigatoriamente 30% de seus vencimentos para os cofres do partido. A contribuição dos funcionários que ocupam cargos de confiança gira em torno de 5% dos salários. Segundo Mercadante, "todos os filiados contribuem com ao menos R$ 5 de mensalidade para manutenção do PT". Apenas os desempregados estão isentos.
A pesquisa da Fundação Perseu Abramo ouviu 431 dos 537 participantes da convenção nacional - número de entrevistas correspondente a quase 80% do total. Comparados com levantamentos de encontros anteriores, os resultados mostram que aumentou a porcentagem dos delegados que são remunerados para fazer política (74% em 2001 contra 66% em 1999) e que a renda familiar daqueles que ganham mais de dez salários mínimos passou de 53%, em 1997, para 69% em 1999 e caiu para 67%, em 2001.
Temer usa a crise do PMDB e tenta desmontar prévias
Grupo de Requião reage e acusa deputado e 'seu bando' de articularem aliança com Serra
BRASÍLIA - O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), admitiu ontem que seu partido enfrenta um dos piores momentos de sua história, sem nenhum candidato com chances para disputar a sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso, mas com três nomes inscritos para as prévias de março. Ele lembrou que o governador de Minas, Itamar Franco, o mais cotado, caiu de 9,8% para 3,8% nas intenções de votos.
Com base nesses dados, a executiva nacional planejava fazer uma reunião amanhã, em Brasília, para desmontar as prévias. Mas o encontro foi cancelado, por causa da proximidade do carnaval. A intenção agora é deixar o PMDB preparado para negociar uma aliança com o PSDB do ministro José Serra ou com o PFL da governadora Roseana Sarney.
Ao tomar conhecimento das articulações, a ala contrária ao governo e à aliança com Serra começou a coletar assinaturas para uma convenção extraordinária em 3 de março. "A intenção é tirar da executiva nacional o controle do programa gratuito no rádio e na televisão, além de estabelecer regras claras para as prévias", disse o senador Roberto Requião (PR), um dos líderes do movimento pró-candidatura própria.
Atritos - "O ministro Serra negocia com o grupo caititu (porco-do-mato) do PMDB, formado pelo Temer, pelo deputado Geddel Vieira Lima (BA, líder na Câmara) e pelo ex-senador Jader Barbalho (PA), que anda sempre aos bandos", afirmou Requião. Temer reagiu: "Requião e essa ala do partido fazem barulho político irracional e falam as maiores besteiras".
Para Temer, as reclamações do grupo de Requião - composto ainda pelo ex-deputado Paes de Andrade (CE), pelo governador de Minas, Itamar Franco, e pelo senador Pedro Simon - não têm procedência. "O edital de convocação das prévias foi publicado pelo Diário Oficial da União e lá estão todas as regras, quem vota (cerca de 16 mil filiados) e como se ganha."
O governador pernambucano, Jarbas Vasconcelos, convidado por Serra para ser seu vice, disse ontem que o seu partido se meteu em uma "grande enrascada".
"O PMDB é governista e inventou de lançar candidato, deixando confuso o partido e o eleitor", avaliou, durante desfile do Bloco da Parceria, que abriu ontem o carnaval recifense. Para Jarbas, o primeiro grande erro da legenda foi decidir pela realização de prévias, que ele condena.
Artigos
Classe média vai ao crime
Carlos Alberto Di Franco
Ricardo Augusto de Oliveira, de 22 anos, era o caçula da família. Não andava de ônibus. O Gol 1998, que hoje tem motor turbo e rodas de alumínio, ele ganhou do pai. Este também pagava quase R$ 500 por mês para o filho estudar Administração de Empresas. Não obstante o perfil de um rapaz de classe média como qualquer outro, foi preso, na madrugada de uma quinta-feira, em flagrante. Ele e um amigo, Fernando Constantino, de 21 anos - cuja família tem a mesma condição econômica que a de Ricardo -, deixavam a Rua Purpurina, na Vila Madalena, bairro badalado da cidade de São Paulo, em alta velocidade, quando viram uma viatura policial se aproximar. Tinham vários CDs players, cerca de 40 CDs e celulares que, segundo a polícia e as vítimas, que reconheceram seus pertences, foram furtados de veículos no mesmo bairro. O registro na crônica policial, aparentemente surpreendente, é cada vez mais rotineiro.
Jovens de classe média e média alta têm freqüentado o noticiário policial.
Crimes, vandalismo, consumo e tráfico de drogas deixaram de ser uma marca registrada das favelas e da periferia das grandes cidades. O novo rosto da delinqüência transita nos bares do momento, veste roupas de marca e estuda nos colégios da moda. O fenômeno é o reflexo de uma enxurrada de equívocos.
O novo mapa do crime não é fruto do acaso. É o resultado lógico da crise da família, da educação permissiva e do consumismo desenfreado.
Não conheço a história da família desses jovens. Solidarizo-me com o sofrimento moral dos seus familiares. Mas os pais da geração transgressora têm grande parcela de culpa. Choram os desvios que cresceram no terreno fertilizado pela omissão e pela falta de limites. Compensam a ausência com valores materiais. Os adolescentes precisam de pais, e não de cartões de crédito. Assustados pela desenvoltura anti-social dos seus meninos, recorrem ao salva-vidas da psicoterapia. E é aí que a coisa se complica. Como dizia Otto Lara Rezende, com ironia e certa dose de injusta generalização, "a psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva de ensinar a odiar o pai, a mãe e os melhores amigos".
Reféns da cultura da auto-realização, certos pais não suportam ser incomodados pelas necessidades dos filhos. O vazio afetivo, imaginam, pode ser preenchido com carros, mesadas e um celular para casos de emergência.
Erro fatal. A renúncia ao exercício da paternidade sempre acaba mal. A omissão da família está-se traduzindo no assustador aumento da delinqüência infanto-juvenil e no comprometimento, talvez irreversível, de parcelas significativas da nova geração.
A escola permissiva está na outra ponta do problema. Uma legião de desajustados, crescida à sombra da pedagogia não traumatizante, está apresentando a inexorável fatura. A despersonalização da responsabilidade e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores. O inchaço do ego e o esvaziamento da solidariedade estão na origem de inúmeras patologias sociais.
O pragmatismo do mundo do entretenimento, capitaneado pela avassaladora força da televisão, completa a equação. A valorização do sucesso sem balizas éticas, marca do enredo de inúmeras novelas, e a apresentação de desvios comportamentais num clima de normalidade têm contribuído para o aparecimento do banditismo de elite. Ao subestimar a influência perniciosa da violência ficcional, certa programação da TV tem levado adolescentes ao delírio em shows de auditório que promovem uma grotesca sucessão de quadro desumanizadores e humilhantes.
Mídia responsável, família funcionando e educação da vontade, não duvidemos, compõem a melhor receita para uma sociedade civilizada. Proposta conservadora? Penso que não. É uma questão de bom senso. E nada mais. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.
Colunistas
RACHEL DE QUEIROZ
Morrer sonhando
Sempre me sinto entre a vida e a morte, mais para a morte do que para a vida, neste calor medonho do verão do Rio. Um calor de boca do inferno, um ar pesado que pode ser tirado às colheradas. Em plena Praia do Leblon, mesmo com o pé na água, se você riscar um fósforo, ele queima sem tremer até lhe sapecar o dedo. E nesse ambiente de forno, a gente, talvez por associação, sonha com um iglu, daqueles dos esquimós, todo armado em tijolinhos de gelo, no feitio dos fornos de barro do sertão. Dentro do iglu, em vez desse suor viscoso que nos gruda a roupa à pele, uma gotinha de água gelada de vez em quando nos pinga no rosto, ou se pousa, feito uma pérola, nos pêlos do nosso agasalho de couro. O iglu é, assim, uma visão de paraíso, miragem de viajante derrubado pela insolação na areia ardente do deserto.
O pior é que, ante nossas queixas, o pessoal carioca vem e diz: "Logo você, do Norte, reclamando contra o calor!" Triste ignorância. Primeiro, eu não sou do Norte, sou do Nordeste. E as pessoas que ainda chamam o Nordeste de Norte são tão antigas! Do tempo em que se considerava como Norte tudo o que ficasse da Bahia para cima. A distinção entre Nordeste e Norte é um conceito moderno, que entrou em voga pela década de 30. E, no Nordeste, o clima é muito diferente do clima equatorial do Pará e do Amazonas. Norte autêntico é o calor pesado e úmido que te envolve com um ar feito de lã, só ocasionalmente aliviado por pancadas bruscas de chuva - violentas e repentinas como se a água do céu fosse despejada sobre o chão. No Nordeste, o calor é limpo, claro, todo puro sol. O sol é sempre esticado e transparente como uma gaze azul, cortado aqui e além por raros flocos de nuvens brancas, postas ali só para compor a paisagem. Tão raro é um céu nosso pejado de nuvens, que a gente lá, enfadada de tanta claridade, costuma dizer ante um promissor céu enfarruscado: "Olha como o tempo está bonito pra chover!" Note-se que, para nosso alívio (o que não acontece no Sul nem no Norte), naquela teimosa limpidez de sol nordestino, sopra sempre, abençoadamente, uma brisa: a viração. Basta você se abrigar do sol debaixo de uma sombra, imediatamente a viração te afaga o rosto, suave e fresca. Por isso é que a viração que sopra na boca da noite, a mais constante e amena, é chamada "o aracati" - palavra que, na linguagem dos índios, quer dizer brisa boa, brisa bonita.
Tem horas, aqui no Rio, em que a gente sai de um ar refrigerado e recebe de chofre, na cara, o bafo incendiário do calor de fora. Mal comparando, recordo nessa hora, o que se informava sobre a explosão atômica, logo após o primeiro emprego do artefato em Hiroshima: "Quando a bomba explode, segue-se imediatamente uma rajada de calor violentíssimo; em seguida é que sobe ao céu o cogumelo de fogo." Não é a cara do verão no Rio?
Quando penso no fim do mundo e na infinidade de previsões com que sábios e adivinhos o descrevem, só faço a Deus um pedido: "Se o mundo se acabar ainda no meu tempo, por favor, que não seja pelo fogo!"
Pode vir por contaminação atmosférica, por peste, por colisão com outro astro, por uma grande maré que afogue os continentes. Contanto que não seja pelo fogo. Parece que o fim melhor ainda seria pelo frio. Nada de explosões e chamas, só o ar gelado tomando tudo. A gente vai se encolhendo, se amontoando uns contra os outros, tiritando, batendo o queixo. E aí, sendo o frio cada vez mais forte, baixa aquela sonolência; e se adormece e se morre, sonhando. Pelo menos assim me contou um russo, que quase morreu congelado e já foi salvo dormindo.
Pelo fogo, não!
Editorial
TIRO PELA CULATRA
O desfecho feliz, após 53 dias, do seqüestro do publicitário Washington Olivetto, libertado sábado à noite sem pagamento de resgate, pode ter o efeito de um tiro saído pela culatra do Partido dos Trabalhadores (PT), que tanto esforço fez em atribuir v
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