PM busca cativeiro de Celso Daniel nas zonas sul e oeste




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PM busca cativeiro de Celso Daniel nas zonas sul e oeste
Quadrilha mantém prefeito de Santo André desde às 23h15 de sexta

A Polícia Militar deslocou ontem homens de todas as regiões da capital para fazer uma operação especial nas zonas sul e oeste da cidade e nos municípios do ABC paulista. O objetivo: tentar encontrar o prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), sequestrado às 23h15 de sexta, quando seguia de um restaurante para casa.

De acordo com o comandante-geral da corporação, coronel Rui César Melo, os policiais estão orientados a fazer blitze, fechar acessos às estradas, revistar favelas e monitorar sítios suspeitos.

Dos cativeiros identificados em 2001, 90% eram na borda sul da cidade. Participam da operação, além de policiais do patrulhamento, homens das equipes especializadas das duas polícias do Estado. O coronel não disse quantos são nem precisou os pontos de ação para não "dar o alerta".

O cerco à zonas sul e oeste deve ser mantido pelo menos até a madrugada de amanhã. A polícia acredita que, se Celso Daniel estiver sendo mantido refém nessas regiões, será encontrado nessas 48 horas. A Polícia Federal também entrou ontem nas investigações.

Abordagem no trânsito
Prefeito da maior cidade do ABC, Daniel, 50, foi abordado por pelo menos cinco homens em uma rua do Sacomã (zona sul), a duas quadras do 26º DP.

Ele seguia de carona na Pajero blindada de um amigo, o empresário Sérgio Gomes da Silva, 45. Os sequestradores perseguiram o carro por quase três quadras.

"Ele disse que acelerava e não conseguia sair do lugar", afirmou o delegado Maurício D'Olívio, do 26º DP (Sacomã), que ouviu o empresário anteontem.

Depois, atiraram contra a Pajero, arrancaram Daniel de dentro do veículo e o colocaram na Blazer preta. Fugiram sem deixar pistas (veja quadro ao lado). Segundo amigos, os partidários e o governo, não haviam feito contato até as 20h30. Os familiares autorizaram a divulgação do sequestro, "pois mais ajuda do que pode atrapalhar", segundo Bruno José Daniel, 49, irmão do prefeito.

A emboscada que vitimou Daniel tem se tornado a cada mês mais comum. Em 2001, o trânsito foi o mais frequente local de abordagem registrado nas 307 ocorrências do Estado -o número não inclui os casos atendidos nas delegacias do interior. É um sequestro a cada 28 horas. Em outubro, o intervalo era de 35 horas.

Crime político
O sumiço de Daniel mobilizou a cúpula do PT, cujas maiores lideranças se reuniram em Santo André de madrugada. Alguns vêem na ação um crime político. Outros descartam essa possibilidade.

O prefeito foi um dos 15 políticos petistas ameaçados de morte no ano passado (leia abaixo).

O governo do Estado de São Paulo, comandado pelo PSDB, preferiu não ser conclusivo.
""Há ainda algumas dúvidas sobre qual é a real intenção da ação", afirmou o secretário da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi. "Nada está descartado", completou o governador Geraldo Alckmin.

Petrelluzzi esteve durante a madrugada no 26º DP, onde o empresário que acompanhava o prefeito foi ouvido. Silva não quis dar entrevistas. O delegado que o ouviu, Maurício D'Olivo, disse que ainda há dúvidas sobre o alvo da ação: Daniel ou o empresário.
Por essa tese, os sequestradores teriam escolhido as vítimas pela marca do carro e, sem saber quem abordavam, teriam escolhido Daniel porque ele estava de terno. Silva usava trajes esportivos.


Prefeito coordena programa de governo de Lula
Prefeito de Santo André (Grande SP) pela terceira vez, Celso Daniel, 50, foi escolhido há cerca de um mês para ser o coordenador do programa de governo do PT à Presidência.
Ontem, Daniel iria se reunir com lideranças nacionais do partido para discutir o assunto. Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato da legenda, interrompeu as férias na Bahia quando soube do sequestro e iria chegar a São Paulo ontem.

Administrador preocupado com a segurança -chegou a criar uma secretaria municipal para o assunto-, Daniel teve a própria escolta pessoal reforçada após sofrer ameaças, em novembro. Mas, de acordo com o secretário interino de Governo, Wander Prado, ele dispensava os seguranças em eventos particulares, a exemplo de anteontem, quando jantou com o empresário Sérgio Gomes da Silva, seu amigo há 15 anos.

Silva foi assessor de Daniel na primeira gestão do prefeito, em 1989. Depois disso, montou uma empresa de ônibus que atua nas cidades de Fortaleza e Goiânia. Segundo o senador Eduardo Suplicy (PT), Silva costuma visitar Santo André uma vez a cada três meses.
Filiado ao PT desde 1980, depois de prefeito, foi eleito deputado federal em 1995 com mais de 90 mil votos. Deixou o cargo no ano seguinte para disputar, e vencer, a eleição para prefeitura. Em 2000, foi reeleito.

Celso Daniel é professor da PUC desde 1982, instituição em que já coordenou o curso de economia. Divorciado há quase dez anos, não tem filhos.


FHC mobiliza a PF para ajudar nas investigações
Ministro foi acionado pelo presidente; polícia descarta motivação política

O presidente Fernando Henrique Cardoso determinou ontem que a Polícia Federal fosse acionada para ajudar nas investigações sobre o sequestro do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT).

A determinação foi feita ao ministro Aloysio Nunes Ferreira, da Justiça, que viajou a São Paulo para acompanhar de perto a ação da polícia. O diretor da Polícia Federal, Agílio Monteiro, interrompeu suas férias e acionou o serviço de inteligência da PF para ajudar no caso. À tarde, dois delegados do órgão estiveram na sede da Prefeitura de Santo André.
O delegado Gilberto Tadeu, assessor de imprensa da PF, disse à tarde que as primeiras investigações praticamente descartaram a hipótese de crime político. "As informações apontam para um crime de oportunidade", disse.

A forma desorganizada da quadrilha, relatada à PF pelo empresário Sérgio Gomes da Silva, demonstra que a ação não tinham objetivo político. A PF, entretanto, continua no caso.
Aloysio iria se encontrar ainda ontem com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), para discutir as formas de ajuda do governo federal. Também estava previsto um encontro dos dois com lideranças do PT.

Aloysio, que, a princípio, considerava plausível a hipótese de sequestro político, disse que o governo federal, independentemente das divergências políticas, prestará toda a ajuda possível para a elucidação do caso. "Essa á uma situação inadmissível", disse.
A intervenção da Polícia Federal foi discutida por petistas horas depois da notícia do sequestro (leia texto na A6).

Alckmin, que estava de manhã em Barretos, no interior, disse que não se opunha à ajuda da PF. "Se houver uma rede que justifique uma ação envolvendo mais de um Estado, toda ajuda será bem-vinda."

Já o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi, irritou-se ao ser questionado se tinha medo de ser sequestrado. "Isso não é pergunta, é provocação. Não vou responder", disse a jornalistas, quando deixava o 26º DP (Sacomã), ontem de madrugada. Em sua gestão, o número de sequestros explodiu.


STF indefere pedido contra Itamar
O Supremo Tribunal Federal indeferiu pedido de liminar da Confederação Nacional do Comércio contra o governador Itamar Franco (MG), que requeria a impugnação do artigo 16 da lei 13.430/99. A ação será apreciada pelo plenário.


Marketing é primeiro problema de Serra
Tucano não escolheu marqueteiro, não definiu estratégia e não sabe como se descolar de FHC sem ofendê-lo

A definição de uma estratégia de marketing político é uma das dificuldades imediatas do pré-candidato tucano à Presidência, o ministro da Saúde, José Serra.

Além de hesitar entre escolher um único marqueteiro ou formar um conselho de publicitários para atendê-lo, Serra tem dúvida sobre como apresentar suas características pessoais na campanha e sobre como se diferenciar do presidente Fernando Henrique Cardoso sem ofendê-lo.

Um dos quatro marqueteiros com os quais Serra tem conversado nos últimos meses diz que o candidato não pode querer se mostrar simpático demais, transformando-se num beijoqueiro de crianças e eleitores. Soaria falso.

No entanto, afirma que, dentro de certos limites, o ministro precisa tentar diminuir o carimbo de antipático e procurar melhorar a aparência física.

No lançamento da candidatura, na quinta, Serra seguiu o roteiro à risca. Cortou cabelo, fez sauna um dia antes para limpar a pele, maquiou-se, usou teleprompter para passar a impressão de que fazia um discurso de improviso, mas foi contido. Não abusou dos sorrisos nem dos abraços. E usou, ao discursar, um tom solene, meio professoral. O problema é que a cerimônia aceitava um figurino sóbrio. Para tentar tirar votos da "simpática" governadora do Maranhão e pré-candidata do PFL, Roseana Sarney, Serra não sabe se a receita deve ser a mesma.

Em relação a FHC, o problema é o discurso econômico. Serra sempre criticou a política econômica muito mais do que o PFL. Mas, por necessitar do governo para crescer nas pesquisas e tentar superar a pefelista, o ministro da Saúde precisa ser o candidato mais identificado com o governo.

Serra, porém, teme que a identificação imponha um teto para o crescimento e que Roseana, apesar de estar politicamente mais distante do presidente, acabe por abocanhar um segmento do dito eleitorado governista -aquela fatia de 20% a 25% que aprova os dois governos de FHC.

O próprio presidente desconfia de que, caso Serra decole nas pesquisas, venha a sofrer um bombardeio maior do ministro. FHC não gostou da menção de Serra ao governador Itamar Franco (PMDB-MG) no discurso de lançamento. O ministro relacionou Itamar ao Plano Real.

Ou seja, Serra precisa de FHC para crescer, mas também precisa de alguma liberdade de crítica ao governo para se viabilizar.

A relação de Serra com os marqueteiros sempre foi para lá de complicada. Nizan Guanaes (ex-DM9), que fez a campanha derrotada de Serra à prefeitura paulistana em 1996, costuma dizer que o tucano não aceita determinadas orientações. Ambos saíram brigados da campanha de 96.

Um exemplo, segundo um publicitário, foi o slogan que Serra lançou para seu eventual governo: "Nada contra a estabilidade, tudo contra a desigualdade". Do ponto de vista publicitário, devido às negativas, é considerado infeliz.

Eterno insatisfeito com a opinião de um só marqueteiro, Serra namora a idéia de montar uma equipe deles. Detalhe: esse tipo de coisa não costuma funcionar.

Ainda mais se Nizan, que não gosta de dividir poder, estiver no time. Em 1998, Nizan boicotou a colaboração de Fernando Barros (Propeg) para a campanha da reeleição de FHC. Fernando Barros, aliás, é um dos marqueteiros que têm aconselhado Serra.

Dos cotados para a campanha, Nelson Biondi é o que tem estado mais próximo a Serra. Ex-parceiro de Duda Mendonça nas campanhas malufistas, Biondi é bem visto por Serra. Traria ainda a vantagem de conhecer bem Duda, que fechou com Luiz Inácio Lula da Silva.

Público feminino
Durante evento realizado ontem em Jaçanã (RN), Serra destacou a importância das mulheres nos programas de saúde. Na opinião do ministro, que foi beijado por fãs, "o governo reconhece que a mulher é a melhor fiscal. Ela não vai desviar o dinheiro para deixar de dar comida para os filhos".


Nova lei prejudica a União em processos
Norma, que também afeta Estados e municípios, proíbe advogados públicos de interporem recursos protelatórios

Em pleno recesso de fim de ano, o "Diário Oficial da União" publicou lei que atou as mãos da advocacia pública nas batalhas judiciais contra indenizações indevidas ou superavaliadas.

A novidade legislativa, aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com o aval do Ministério da Justiça, pode custar milhões de reais aos cofres públicos já em 2002.

Reação
Alertado, o advogado-geral da União, Gilmar Mendes, decidiu reagir em duas frentes: vai enviar projeto de lei ao Congresso e mover uma ação direta de inconstitucionalidade ao Supremo Tribunal Federal (STF).

"Há uma intenção malévola no texto e isso está gerando uma insegurança muito grande para nossos 5.000 advogados federais", diz Mendes. A restrição também atinge procuradores de Estados e municípios.

Os defensores da União informam que a medida favorece empreiteiras que cobram pagamentos do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem), empresas que pedem indenizações contra o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e fazendeiros que julgam ter sido prejudicados pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), entre outros.

"A mudança é boa para as empresas que pedem indenizações superiores ao que é efetivamente devido e para a minoria de maus advogados públicos que agora têm uma desculpa técnica para perder propositadamente com objetivos escusos", afirma Carlos Mota, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da Previdência Social.

Processo Civil
A polêmica nasceu com a edição do "Diário Oficial" publicada em 28 de dezembro de 2001, última sexta-feira do ano.

Trata-se de revisão do Código de Processo Civil, que proibiu apenas os advogados públicos (da União, dos Estados e dos municípios) de apresentarem recursos considerados protelatórios nas ações em que atuarem.

Os advogados privados podem continuar usando artifícios jurídicos para atrasar recolhimento de tributos, contribuições e outros pagamentos ao setor público.

Bens pessoais
Já os advogados que defendem o erário devem, segundo a nova regra, "cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final", sob o risco de responderem com seus bens pessoais.

Caberá ao juiz definir, caso a caso, esses "embaraços à efetivação de provimentos judiciais" criados pela defesa dos poderes públicos. Pedir para recalcular um precatório, por exemplo, pode ser visto, agora, como medida protelatória, passível de aplicação de multa contra o advogado público.

O relator do projeto de lei na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, deputado Inaldo Leitão (PSDB-PB), considera que a restrição "só vale para advogados públicos".

Segundo a lei, a punição não pode ser aplicada a "advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB".

"Como os advogados públicos também estão sujeitos ao estatuto próprio dos servidores e outras normas específicas, a lei se aplica a eles", diz Leitão.

Para todos
Ele conta que o projeto enviado pelo governo pretendia proibir ações protelatórias tanto de advogados públicos como privados. "No projeto original, a regra valeria para todos os advogados", lembra o relator.

Mas na comissão, revela, a OAB conseguiu livrar os advogados privados dessa regra. "Esse foi o ponto de negociação com a OAB. Não sei dizer quais serão as conseqüências práticas disso. Mas sem esse acordo não seria possível aprovar o projeto de lei."


Artigos

Onda de seqüestros
Vinicius Mota

SÃO PAULO - "Mamãe, corre. Vem ver a onda de sequestros". Minha filha tem três anos e meio de idade. Quase não vê televisão. Não tem paciência ou a inda não foi domesticada o suficiente para isso. Num dia desses, ao passar os olhos pelo monitor, deve ter achado bonito o termo "onda de sequestros" e a ênfase com que a apresentadora o pronunciava. Intuiu que a mãe não podia perder a notícia e soltou a frase. Achei a história engraçada num primeiro momento. Desconfio que ela não me sai da cabeça por razões mais profundas. Medo, por exemplo.

Assusta ouvir enredos como o da dona-de-casa de Campinas que foi ritualmente assassinada na porta de sua residência depois de ter sido sequestrada. Causam arrepios as demonstrações de força e organização da criminalidade. Um helicóptero pousou no presídio de "segurança máxima" de Guarulhos e resgatou de lá dois criminosos e 99 anos de pena. O torpor só faz aumentar quando se olha para a polícia.

Terra arrasada, pronta para os trogloditas da "Rota na rua", da prisão perpétua, da pena de morte. O que eles pregam já ocorre nas periferias pobres deste país. No ano retrasado, alguns homens entraram numa casa em Jacareí e assassinaram dez pessoas que dormiam. Mais de cem tiros foram disparados. São formas corriqueiras de administrar a "justiça" nesses rincões vizinhos. Brigas de bar, desavença entre gangues de adolescentes, tudo é motivo para ser resolvido a bala. Matam-se famílias inteiras, crianças na porta da escola, sem a menor cerimônia. Mas são pobres. Não vejo, não sinto.

Pelo contrário, sou tomado pelo ímpeto da autodefesa. Minimizo o meu convívio e o de minha família com outras camadas sociais. Deixei de acreditar em escola pública, em saúde pública, em lazer público. Desprezo o Estado e agora dele exijo, indignado, a minha segurança.

É disso que tenho medo. De estar legando às minhas filhas apenas um controle remoto.


Colunistas

PAINEL

Tudo se copia
A direção do PSDB orientou as seções estaduais do partido a dedicar pelo menos a metade dos seus programas de TV e rádio, em março, para a campanha de José Serra. O partido acha que conseguirá repetir o êxito da estratégia lançada pelo PFL para alavancar Roseana.

Compasso de espera
O programa de TV do partido é uma das apostas do PSDB para Serra dar um salto nas pesquisas. Mas nada ainda foi planejado. Os tucanos aguardam a definição sobre a possível contratação do marqueteiro Nizan Guanaes, hoje com Roseana.

Sem punição
Apesar de ter sido desautorizado por FHC em razão dos ataques a Roseana, Luiz Paulo Vellozo Lucas, prefeito de Vitória, deverá ser mesmo o coordenador da campanha de José Serra.

Holofote disputado
Tucanos interpretam a opção de José Serra por Vellozo como uma estratégia para bloquear outros políticos de São Paulo, do Rio e de Minas Gerais que iniciaram um lobby para ocupar a coordenação da campanha.

Tempo ao tempo
O PMDB não tem pressa para definir-se entre Serra e Roseana. Enquanto espera as pesquisas, organizará as candidaturas ao Congresso para tentar eleger uma grande bancada. "Com cem deputados, teremos voz em qualquer governo, inclusive do PT", diz um peemedebista.

Apoio literal
Moreira Franco, ex-assessor especial de FHC, foi questionado por dirigentes do PMDB gaúcho se defende a candidatura própria do partido. "Lógico, nunca vou votar em candidato impróprio", ironizou Moreira, que defende o apoio a Serra.

De cima para baixo
Paulo Renato (Educação) diz que não disputará uma eventual convenção do PSDB para garantir sua candidatura ao Senado por SP. Como sabe que não tem apoio da base do partido, só será candidato se for por consenso.

Volta ao passado
Outra possibilidade admitida por Paulo Renato é ser vice de Geraldo Alckmin. "Em último caso, não disputo a eleição. Fiquei 40 anos sem mandato e sempre obtive sucesso", diz.

Pé-de-meia
Roseana Sarney tem emprego garantido em 2002 ainda que seja derrotada na eleição: é funcionária licenciada do Senado desde 88. Quando pedir aposentadoria pela Casa, todo o tempo em que esteve fora será contado para o cálculo do benefício.

Dose dupla
Roseana entrou no Senado pelos braços do pai, José Sarney, de quem foi assessora de gabinete. Em 88, por força da nova Constituição, foi efetivada. A aposentadoria a que tem direito pelo Senado não impedirá uma futura aposentadoria como ex-governadora do Maranhão.

Romaria por votos
Suplicy (PT) já começou sua campanha para a prévia do PT, apesar do mau humor que o tema causa na cúpula do partido. Hoje estará em Juazeiro do Norte, terra do padre Cícero, onde participará de uma romaria e da missa dos romeiros.

Resistência interna
A esquerda petista preparou um manifesto com intelectuais do partido em defesa do vereador Carlos Gianazzi (SP), ameaçado de expulsão pelo partido por ter sido contrário à redução nos gastos da prefeitura paulistana com a educação. O "julgamento" deverá ser em fevereiro.

Time de peso
Assinam o manifesto do PT, que será divulgado nesta semana, os professores Antônio Candido, Marilena Chauí, Roberto Romano, Fábio Comparato, Maria Victoria Benevides e Paulo Arantes, entre outros.

TIROTEIO
Do senador José Eduardo Dutra (PT-SE), ironizando o histórico eleitoral do ministro José Serra (Saúde) e comentando o slogan do tucano "Nada contra a estabilidade, tudo contra a desigualdade":
- O slogan é difícil de ser lembrado [pelo eleitor comum], tem palavras demais. O Serra está mostrando que é tão bom de marketing quanto de urna.

CONTRAPONTO

Sonho curto
O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), e o prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci, pegaram um táxi no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em dezembro último. Logo no início da corrida, o taxista elogiou o sindicalista do ABC Luiz Marinho, que é filiado ao PT:
- Esse Marinho é mais arretado do que FHC. Foi para a Alemanha e evitou a demissão dos funcionários da Volks.

Os petistas se surpreenderam, pois os taxistas paulistanos têm fama de malufistas. Mas o motorista continuou elogiando:
- Lula devia ouvir mais esse Marinho. Com um cara assim no governo, ele se daria bem.
Mas, ao chegar ao Minhocão, no centro, o taxista discursou:
- É obra do Maluf. O povo fala mal, mas o Maluf faz.
Pinheiro, decepcionado, comentou com Palocci:
- Estava bom demais para ser verdade!


Editorial

DESPERSONALIZAÇÃO

Excetuado o PMDB, os maiores partidos brasileiros já têm seus candidatos à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas falta muito para saber o que pensam e propõem essas legendas. O desafio é passar de uma campanha em torno de pessoas para uma disputa entre propostas de governo.

No PT, a realização de uma prévia só foi aceita a contragosto por Lula, que deverá concorrer pela quarta vez consecutiva. No PFL, a governadora Roseana Sarney ocupa espaço privilegiado nas pesquisas. E o PSDB, com o lançamento da pré-candidatura do ministro José Serra, entra definitivamente na disputa.

O PMDB tenta transformar em vantagem estratégica a própria ambiguidade de ser um partido no governo e ao mesmo tempo abrigar facções oposicionistas. Algumas de suas lideranças têm sido cortejadas pelo PT, pelo PFL e pelo PSDB.

Enquanto o combate à inflação era a prioridade zero, essa falta de definições foi tolerada. Praticamente tudo o que se fez em outros campos, da privatização à abertura comercial, passando pelo arrocho fiscal, subordinou-se à luta contra a inflação.

Mas, se a inflação continua sob controle, esse é um resultado obtido também à custa da capacidade de formular e executar outras políticas. Em muitos casos, como na reforma do setor elétrico ou na gestão do sistema tributário, cometeram-se erros pelos quais será preciso pagar nos próximos anos, colocando em risco a próp ria estabilidade de preços supostamente consolidada. Outro desafio é o de reduzir a vulnerabilidade externa da economia. Praticamente todos falam em exportar mais e em substituir importações. Mas estão ausentes os detalhes sobre os meios para atingir tais objetivos.

Os principais candidatos pouco ou nada falam sobre essas questões. O PT faz um esforço para consolidar uma imagem "light". PFL, PMDB e PSDB procuram formas de aliviar a carga negativa que carregam por terem participado de um governo que iniciou, mas deixou incompletas, a reforma do Estado e o desenho de políticas de desenvolvimento.
Mesmo quando tratam de inflação, os candidatos por enquanto o fazem de modo superficial. Prometem manter este ou aquele membro da equipe atual, mas não entram no debate em torno do sistema de metas inflacionárias ou da tese da independência do Banco Central.

O mal maior do país, a extrema concentração de renda, também carece de debates mais densos. A lacuna é grave. Afinal, a democratização brasileira trazia como esperança maior a redução da desigualdade.

Resta saber se haverá condições de despersonalizar a campanha. Aprisionados cada vez mais à logística dos marqueteiros, que dão aos candidatos um tratamento idêntico ao de produtos em campanhas publicitárias, os partidos não têm dado a devida atenção a programas e projetos.

Vale mais o achado retórico, o slogan ou alguma imagem superficial das principais questões nos campos da política econômica, da segurança ou da inserção internacional.
Não se trata apenas de cobrar definições de candidatos e partidos. O desafio precisa ser enfrentado pela sociedade civil e pela imprensa. Bem cobrados, e o quanto antes, os protagonistas da sucessão poderão afinal ser compelidos ultrapassar o factóide e a propaganda vazia.


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01/20/2002


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