PMDB quer Sarney na presidência do Senado
PMDB quer Sarney na presidência do Senado
BRASÍLIA. O senador José Sarney (PMDB-AP) foi sondado por líderes do partido para voltar à presidência do Senado como solução para a crise que levou Jader Barbalho a anunciar sua saída do cargo para a próxima semana. O ex-presidente do Senado no biênio 1995-1996 pediu tempo para pensar, pois está com medo de acabar envolvido num acordo destinado a impedir que seja cassado o mandato de Jader por quebra de decoro parlamentar. Sarney teme ser responsabilizado, sobretudo pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), caso Jader venha a ser poupado.
PMDB acredita que Sarney vai aceitar o cargo
Apesar disso, o PMDB acredita que Sarney acabará aceitando o cargo. Principalmente se ele receber o apoio de todos os partidos. O líder no Senado, Renan Calheiros (AL), vai reunir a bancada na próxima terça-feira para escolher o candidato do PMDB para suceder Jader.
— O Sarney cumpriria as exigências de manter o comando da Casa nas mãos do PMDB, de assegurar o funcionamento do Senado e garantir sua estabilidade — disse o senador José Fogaça (PMDB-RS), tido como o nome da preferência do Palácio do Planalto.
O nome de Sarney atenderia a outra exigência, discutida pela cúpula do PMDB, de evitar uma disputa interna pelo cargo. Os peemedebistas dizem que, se Sarney não aceitar, será difícil impedir que vários senadores tentem disputar o cargo no voto. Ontem, dizia-se que o líder Renan Calheiros, o vice-presidente do partido, José de Alencar (MG), e o senador Gérson Camata (ES) poderiam se lançar candidatos. A escolha de Sarney, que é pai da governadora pefelista do Maranhão, Roseana Sarney, teria a vantagem adicional de ser bem recebida no PFL. Jader, que continua tendo forte ascendência sobre a bancada do PMDB, também está de acordo com esta saída.
— O Sarney é um nome forte, mas não temos candidatos ainda. O processo não foi deflagrado e vamos escolher aquele que aglutinar mais — afirmou Renan Calheiros.
Nos últimos dias, ele conversou com vários senadores da bancada e, segundo alguns colegas, Renan estaria sugerindo o nome de Sarney. O líder peemedebista, porém, nega e argumenta que a cautela não recomenda uma ação desse tipo numa bancada complexa como a do PMDB. Ele, no entanto, admite que conversou com Sarney sobre a crise institucional do Senado.
O fato de Sarney ter sido o candidato do senador pefelista Antonio Carlos Magalhães, na disputa contra Jader, não é obstáculo no PMDB. Os peemedebistas dizem que as circunstâncias são outras e que Sarney não chegará ao cargo agora pelas mãos do PFL, mas pelas mãos dos senadores do PMDB. Para os peemedebistas, caso Sarney recuse a presidência do Senado, o nome mais forte seria o de Renan Calheiros.
Oposição não descarta apoio a candidato do PMDB
A oposição ainda não decidiu se vai apoiar o candidato do PMDB ou lançar outro nome para a presidência do Senado. Depois de uma rápida conversa no gabinete da senadora Heloísa Helena (PT-AL), o líder da oposição, José Eduardo Dutra (PT-SE), marcou com o líder do PPS, Paulo Hartung (ES) e com Eduardo Suplicy (PT-SP), uma reunião para que a oposição chegue a uma decisão.
— Não estamos descartando o apoio a um nome do PMDB, mas depende do nome. Também podemos lançar candidato — disse Heloísa Helena.
Benedita critica programa do PT
A vice-governadora Benedita da Silva desaprovou ontem o programa eleitoral do PT veiculado segunda-feira na televisão, durante o horário eleitoral gratuito. Ela discordou da divulgação das fitas em que o governador Anthony Garotinho (PSB) conversa sobre o pagamento de propina a um fiscal da Receita para liberar sorteios em seus programas de rádio e tevê, em 1995. As críticas de Benedita foram feitas no mesmo dia em que o diretório estadual do PT voltou a defender a divulgação, em uma nota oficial.
Benedita disse que não foi consultada sobre o teor do programa e lamentou que o partido não tivesse usado o tempo para divulgar suas propostas.
— O PT deveria ter aproveitado melhor seu tempo na TV para divulgar políticas públicas que vem desenvolvendo em todo o território nacional e também no Rio. Gravei a minha parte no programa no dia anterior ao meu embarque para Durban — disse Benedita, que integrou a delegação brasileira que participou da Conferência da ONU contra o Racismo, na África do Sul.
A vice-governadora classificou como um acidente de percurso a crise entre o PT e o PSB, que culminou com o rompimento entre os dois partidos no Rio. Benedita disse que esse é um problema regional, que não deverá ter conseqüências nacionais:
— Nosso interesse é o de continuar mantendo uma relação estreita com o PSB.
Além de Garotinho, as gravações envolvem a primeira-dama Rosinha Matheus, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Jonas Lopes de Carvalho e Waldemar Linhares, ex-tesoureiro da Garotinho Editora Gráfica. Garotinho obteve liminar na Justiça proibindo todos os meios de comunicação de veicular o conteúdo das fitas.
A nota do PT fluminense responde às críticas do PSB pela divulgação das fitas, e explica os motivos para essa decisão. O programa, segundo a nota, “apenas reiterou a posição pública do partido de oposição ao governo do estado, ao senhor Garotinho, e não ao PSB”, Segundo o comunicado, causa “estranheza política” a atitude do PSB de defender o governador, que “assume práticas que em nada corroboram com a história do partido”.
INSS investiga golpe de filantrópicas para deixar de pagar contribuições
BRASÍLIA e RIO. As cem maiores entidades filantrópicas do país estão na mira da Previdência Social. Com base nas informações da guia de recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e Informações à Previdência (GFIP), os técnicos do ministério suspeitam que as filantrópicas estão informando um número maior de funcionários expostos a situações nocivas à saúde do que realmente empregam.
Segundo o secretário-executivo do Ministério da Previdência, José Cechin, isso estaria acontecendo porque as filantrópicas são isentas do recolhimento da contribuição adicional sobre cada trabalhador submetido a riscos à saúde como radiação, ruídos e agentes químicos. Com isso, estariam onerando os custos do INSS, ao abreviar a aposentadoria de seus funcionários. O indício de fraude foi constatado no cruzamento de informações entre os dados sobre entidades filantrópicas e empresas convencionais. Dos 19,2 milhões de trabalhadores (dados de abril) do setor convencional, 700.600 estão expostos a riscos. As filantrópicas empregam 701.500 funcionários, dos quais, segundo as entidades, 111.300 lidam com situações nocivas.
Segundo a legislação, esses trabalhadores podem se aposentar com 15, 20 e 25 anos de contribuição, dependendo dos casos de exposição aos riscos.
— Esses trabalhadores que se aposentam mais cedo têm um longo período de vida, o que significa que a contribuição paga não financia os benefícios — disse o secretário.
Diretor de hospital de Itaperuna nega fraudes
Na lista dos suspeitos, um caso a ser investigado é do Hospital São José do Avaí, em Itaperuna (RJ), que informou que todos os seus 497 trabalhadores, inclusive membros da diretoria, estão submetidos a riscos à saúde, segundo informações da Previdência. O médico Renan Tinoco, vice-diretor médico do Hospital São José do Avaí, estranhou a informação do Ministério da Previdência e contestou os números. Segundo ele, a quantidade de trabalhadores sob risco é bem menor:
— Temos cerca de 600 funcionários e menos de 10% trabalham em áreas de risco, como CTI, radioterapia e medicina nuclear.
A distorção é ainda maior entre as associações culturais e desportivas: nas não-filantrópicas, o percentual é de 1,9% e, nas filantrópicas, de 11,9%. As entidades de ensino filantrópicas informaram que 4% dos seus funcionários lidam com atividades de risco; nas não-filantrópicas esse índice é de 2,6%.
— É difícil entender a razão pela qual as instituições de ensino e associações culturais tenham índices tão altos de trabalhadores em situação de risco — estranhou Cechin.
Segundo o secretário, as diferenças verificadas a partir dos dados da Gfip também sugerem que as empresas filantrópicas estariam sonegando informações para fugir da contribuição adicional de 6%, 9% e 12%, cobrada desde 99 sobre cada trabalhador exposto a agentes nocivos. Cechin acrescentou que os técnicos fiscalizarão, a princípio, as informações do sistema. Depois disso, será feita investigação nos locais de trabalho. A fiscalização deverá ser concluída no final deste ano.
Brindeiro recebe pedido contra governador do ES
BRASÍLIA. Treze deputados estaduais e um deputado federal do Espírito Santo pediram ontem ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, a inclusão do nome do governador José Ignácio Ferreira nos processos que tramitam no Ministério Público contra o governo capixaba. Eles querem ainda a agilização da conclusão desses processos, iniciados a partir de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada para investigar pagamento de propinas no Espírito Santo.
Os deputados levaram a Brindeiro dados apurados pela Comissão Parlamentar de Inquérito, mas que não foram incluídos no relatório oficial. O documento apresentado ontem conta com a assinatura de 15 dos 30 deputados da Assembléia Legislativa do Espírito Santo.
Depoimento incriminaria José Ignácio em fraude
Entre os documentos entregues a Brindeiro está um depoimento de Geminiano dos Santos, presidente da Creditel, a cooperativa de crédito mútuo dos trabalhadores da área de telefonia do estado. Segundo o deputado estadual Cláudio Vereza, o depoimento indica que foram feitas operações bancárias em nome do governador e de aliados, que comprovariam a ligação de José Ignácio com os desvios de dinheiro no estado.
Os deputados acusam Ignácio de crime eleitoral, crime contra o sistema financeiro, sonegação fiscal e crime de responsabilidade — este último devido a um empréstimo irregular obtido no Banestes
Artigos
Venda suspeita
PADRE ROQUE ZIMMERMANN
ACopel começou a ser construída a partir da década de 50, para suprir a demanda de energia elétrica que a estrutura privada, predominante na época, não conseguia atender por falta de investimento adequado. O complexo atual é constituído por 18 usinas em operação, 6.500 km de linhas de transmissão e 151.000 km de linhas de distribuição, que geram e distribuem 4.545 megawatts de energia. O patrimônio todo hoje existente na empresa demandaria um investimento de aproximadamente US$ 7 bilhões, ou quase R$ 18 bilhões pelo câmbio atual.
A Copel, mais que uma empresa, é um símbolo do povo paranaense. Um ícone do trabalho, da competência e da eficiência. No decorrer de quase 50 anos de existência, tornou-se a maior empresa do estado e uma das mais eficientes do setor elétrico do país. Um bem que os paranaenses amam e do qual se orgulham. Este sentimento está retratado no percentual de reprovação da venda da empresa — 94% da população são contra a privatização.
A energia elétrica, gerada a partir de recursos hídricos, tem algumas vantagens em relação a outros sistemas. Vale destacar duas pela importância econômica e ambiental. A matéria-prima utilizada para movimentar as turbinas é gratuita e não polui. O que possibilita a geração de energia mais barata e sem novo impacto ao meio ambiente. Portanto, explica-se o interesse incomum de grandes empresas privadas, ávidas por lucros fáceis. Estimativas do próprio governo prevêem que o lucro da empresa triplicará em menos de uma década, razão maior da sanha dos privatistas.
O que não dá para entender é a sofreguidão do governo do Paraná em querer entregar a Copel inteira — tanto a geração como a distribuição — contra a vontade popular, pondo em risco o futuro energético do estado. O atual governo já vendeu 49% do total das ações da empresa e até hoje não se sabe quanto rendeu tal venda e nem para onde foi o dinheiro.
Outro dado preocupante é o preço mínimo estipulado para o leilão do restante. Apenas R$ 4,3 bilhões. A falta de transparência que acompanha o processo da venda desde o início põe sob suspeita esta avaliação. Entretanto, mesmo que houvesse transparência e o preço fosse apropriado, ainda assim, a venda da Copel deveria ser questionada em função de seu caráter estratégico.
A Terceira Guerra Mundial
THOMAS L. FRIEDMAN
JERUSALÉM -- Enquanto eu permanecia acordado, na madrugada de ontem, com a TV ligada na CNN e o sol da manhã irrompia sobre os lugares sagrados de Jerusalém, soava em meus ouvidos uma declaração do secretário de Transportes dos EUA, Norman Mineta, sobre os novos controles que serão postos em prática nos aeroportos americanos, em conseqüência dos ataques terroristas: “Não haverá mais o check-in na beira da calçada”, disse ele. De repente, imaginei um grupo de terroristas, em algum lugar do Oriente Médio, saboreando um café, vendo a CNN e dando gargalhadas: “Ei, chefe, ouviu isto? Nós acabamos de explodir Wall Street e o Pentágono e tudo o que os americanos têm a dizer é que não vai mais haver check-in na calçada?”
Não pretendo criticar o sr. Mineta. Ele está fazendo o que pode. E não temos dúvidas de que a turma de Bush, quando identificar os criminosos, vai fazê-los pagar pelo que fizeram.
Ainda assim havia algo absurdamente fútil e americano nesta proibição, que eu não poderia deixar de vislumbrar: será que os EUA entendem que esta é a Terceira Guerra Mundial? Se este ataque for o Pearl Harbor da Terceira Guerra Mundial, então isso significa que temos uma longa guerra pela frente.
E esta Terceira Guerra Mundial não nos lança contra outra superpotência. Ela nos joga — a única superpotência mundial, a quintessência e o símbolo do mercado livre liberal, dos valores ocidentais — contra todos os homens e mulheres fanaticamente armados. E muitos desses combatentes, poderosamente armados e enraivecidos, originam-se de estados decadentes do mundo muçulmano e do Terceiro Mundo. Eles não partilham nossos valores e se ressentem da influência americana em suas vidas, sobre suas crianças, sobre a política de seus países, sem falar do apoio a Israel. Eles culpam os Estados Unidos pela falência de suas sociedades diante da modernidade.
O que os torna poderosamente armados é, no entanto, a sua capacidade de usar o mundo globalizado, a internet e a alta tecnologia que tanto odeiam para nos atacar. Pense nisso: eles transformaram os nossos mais avançados aviões civis em mísseis, precisamente direcionados contra seres humanos — na mistura diabólica entre o fanatismo deles e a nossa tecnologia. Jihad Online. E pense no que atingiram: o World Trade Center, o farol-guia do capitalismo que ao mesmo tempo os tenta e os repudia, e o Pentágono, a corporificação da superioridade militar americana.
E pense sobre os lugares em Israel que os palestinos suicidas escolhem com mais freqüência. “Eles nunca atacam sinagogas, assentamentos ou fanáticos religiosos israelenses”, disse Ari Shavit, colunista do jornal “Haaretz”. “Atacam a pizzaria Sbarro, o shopping Netanya e a discoteca Dolphinarium. Atingem o israelense yuppie , não o israelense yeshiva.
Então, o que é necessário para combater numa guerra contra essas pessoas, num mundo como este? Para começo de conversa, nós, americanos, jamais conseguiremos nos infiltrar naqueles pequenos grupos, muitas vezes formados por laços de família, que vivem em lugares como o Afeganistão, o Paquistão ou o árido Vale Bekaa, no Líbano. Os únicos indivíduos que podem infiltrar-se nesses sombrios grupos, que vivem em permanente transformação, e detê-los são membros das suas próprias sociedades. E nem mesmo eles podem fazê-lo regularmente. Portanto, sejamos menos exigentes com a CIA.
Oficiais de Israel contam que o único período que têm de calma e de real controle sobre terroristas suicidas e grupos radicais palestinos, períodos como o Hamad e o Jihad, é quando Yasser Arafat e a autoridade palestina lidam com eles, prendem-nos ou os dissuadem do ataque.
Então a pergunta se transforma: o que é preciso fazermos para conseguir que as sociedades que abrigam grupos terroristas comecem verdadeiramente a agir contra eles?
Primeiro, nós, americanos, temos que provar que somos sérios e que nós compreendemos que muitos desses terroristas odeiem a nossa existência e não apenas a nossa política. Em junho, escrevi uma coluna sobre o fato de que um bando de ameaças de Osama bin Laden por telefones celulares levaram o presidente Bush a retirar o FBI do Yemen, um contingente dos fuzileiros americanos da Jordânia e a quinta frota americana de sua base no Golfo Pérsico. Esta retirada americana foi noticiada em toda a região, mas não mereceu uma só linha em nenhum grande jornal americano. Isto deve ter encorajado os terroristas. Esqueça os nossos civis, nós não queremos pôr os nossos soldados em risco para enfrentar tais ameaças.
As pessoas que planejaram os bombardeios de terça-feira combinaram maldade de primeira classe com um gênio de primeira classe, de efeitos devastadores. E a menos que nós, americanos, estejamos prontos para convocar as nossas mentes mais brilhantes para combatê-los — um projeto de Terceira Guerra Mundial desenhado em Manhattan — de um modo igualmente ousado, anticonvencional e incansável, estaremos em apuros. Porque esta pode ter sido a primeira grande batalha da Terceira Guerra Mundial e pode ter sido a última travada com armas convencionais, não-nucleares.
Em segundo lugar, permitimos que durasse anos um jogo duplo com nossos aliados do Oriente Médio, e isto tem que parar. Um país como a Síria tem que decidir: quer uma embaixada do Hezbollah ou uma embaixada americana em Damasco? Se quiserem uma embaixada americana, os sírios não poderão ser anfitriões de grupos terroristas foragidos.
Isso significa que os EUA devem ignorar as preocupações palestinas e as queixas econômicas dos muçulmanos? Não. Muitos, nessa parte do mundo, desejam o melhor da América, e não devemos esquecer que somos o seu raio de esperança. Mas, a propósito da Palestina, os EUA puseram sobre a mesa, em Camp David, um plano que daria a Yasser Arafat muito de tudo que ele hoje alega que está lutando para obter. Aquele plano americano pode não ser suficiente para os palestinos, mas é doentio alegar que o terrorismo suicida é uma resposta adequada a ele.
Em terceiro lugar, precisamos ter um diálogo sério e respeitoso com o mundo muçulmano e seus líderes políticos sobre os motivos pelos quais tantos deles estão retrocedendo. Na verdade, nenhuma região do mundo, inclusive a África Subsaariana, tem menos governos eleitos livremente do que o mundo árabe-muçulmano, que não tem um sequer. Por quê? O Egito atravessou todo um período de autocrítica depois da guerra de 1967, e isso produziu um país mais forte. Por que uma autocrítica como essa não é tolerada hoje por qualquer dos líderes árabes?
Onde estão os líderes muçulmanos que dirão aos seus filhos para resistirem aos israelenses — mas que não se matem, nem matem inocentes civis? Por pior que seja a sua vida, ela é sagrada. Certamente o Islã, uma nobre religião que nunca perpetrou contra os judeus que viviam em seu meio um holocausto como o que ocorreu na Europa, está sendo deturpado quando é tratado como um livro de instruções para homens-bomba. Por que nem um só líder muçulmano diz isso?
Estes são alguns dos termos que terão de ser abordados quando estivermos lutando na Terceira Guerra Mundial. Será uma longa guerra, contra um inimigo brilhante e motivado. Quando comentei com um oficial israelense que era um feito tecnológico incrível o dos terroristas, que seqüestraram os aviões e os levaram até os pontos mais vulneráveis de cada prédio, ele riu de mim.
“Não é tão difícil aprender a pilotar um avião depois que ele está no ar”, ele disse. “E lembre-se de que eles nunca precisaram aprender a aterrissar.”
Não, não precisaram. Tinham apenas de destruir. Nós, ao contrário, temos de lutar de uma forma que seja eficaz, sem destruir a própria sociedade aberta que estamos tentando proteger. Temos de lutar duro, e aterrissar em segurança. Temos de lutar contra os terroristas como se não existissem regras, e temos de preservar nossa sociedade aberta como se não existissem terroristas. Não será fácil. Exigirá esforços dos nossos melhores estrategistas, nossos diplomatas mais criativos e nossos mais bravos soldados. Semper Fi (“Sempre fiéis”, lema dos fuzileiros navais americanos).
Colunistas
PANORAM POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL
FH pode ir à ONU
Tradicionalmente o Brasil é o país que abre a Assembléia Geral da ONU, e quase sempre é representado pelo ministro das Relações Exteriores. Assim seria também este ano, mas, diante da situação criada pelo ataque aos EUA, o presidente FH avalia a conveniência de sua participação pessoal na abertura do dia 24, como admite o regulamento e já fizeram alguns antecessores.
Essa é uma possibilidade que está sendo considerada, mas a decisão ainda está sujeita aos desdobramentos da situação. O evento, dizem os defensores da iniciativa dentro do governo, cria para o Brasil singular oportunidade de exercer um papel construtivo e até de demonstrar aos cinco países que controlam o Conselho de Segurança que a ONU só ganharia força e influência se aceitasse a presença de países que, mesmo não sendo do G-7, podem ajudar na construção da nova ordem com suas experiências e culturas diferenciadas.
A presença e o discurso do próprio presidente dariam mais visibilidade e relevo a essa figuração do Brasil. Mas, diz um formulador da idéia, estamos falando do Brasil, e não de FH. Pois nada mais buscou o presidente, ao reunir-se ontem com líderes da situação e da oposição — acolhendo sugestão do presidente da Câmara, Aécio Neves — do que a coesão política interna que legitime qualquer posição que o Brasil venha a adotar. Em tão delicada situação, deve encarnar o chefe de Estado, e não apenas o de governo. E, como tal, fala pela nação. Mas ir à ONU dependerá, como já dito, do rumo que as coisas tomarem. Terá menor sentido, por exemplo, se Bush já tiver desencadeado a reação militar contra... Contra quem mesmo? Digamos o Afeganistão.
Internamente, é claro que o presidente lavra um tento político quando impõe sua liderança e leva ao mais imponente salão do Planalto seus principais opositores, que até chegaram um tanto ressabiados. Mas a oposição, refeita da surpresa do convite, também demonstrou maturidade no comparecimento e no diálogo que fluiu. Estiveram todos de acordo quanto à prevalência do sentimento humanitário sobre a apreensão econômica; sobre a necessidade de fina sintonia entre os dois poderes ao tratar do fato e de seus desdobramentos; e prometeu o presidente não adotar qualquer medida, de segurança, política externa ou econômica, sem consulta ao Congresso.
Quanto aos efeitos econômicos que podem afetar a dinâmica política interna, toda projeção ainda é precária. Faltam 13 meses para a eleição presidencial e o day after está apenas começando. Em caso de agravamento da situação econômica, diz o cientista político Walder de Góes, o ocorrido “deixa à mão o conveniente argumento de que as dificuldades têm origem externa. E numa conjuntura de incerteza internacional, o eleitorado pode facilmente ceder aos apelos de segurança de uma proposta de governo já conhecida”.
Mas o próprio governo, afinando o discurso com o do ministro Pedro Malan, baixou o tom inicial de alarmismo econômico.Miro Teixeira não teve dúvida. Aproveitou a reunião de líderes com FH para propor a suspensão das privatizações, que acha ainda mais inconvenientes num cenário internacional instável.Malan definitivo: ‘Não vou me filiar’
O dia 4 de outubro chegará e o ministro Pedro Malan não terá se filiado a partido algum. A garantia é dele.
— Mas eu e Zé Marcelo (volta-se para seu assessor de imprensa, Marcelo Pontes) já conhecemos os artigos e declarações que virão. Dirão que não me filiei porque não consegui viabilizar minha candidatura, que nego peremptoriamente há um ano e nove meses.
Malan diz disso um dia depois de mais uma refrega com o PT, o embate com o deputado Aloizio Mercadante na Câmara, durante o qual o petista acusou-o seguidamente de tentar fazer-se candidato atacando o partido. Em conversa ontem em seu gabinete, Malan repetiu as cobranças que tem feito ao PT, principalmente uma posição não-ambígua sobre o tratamento da dívida e o relacionamento com o FMI.
— Como ministro da Fazenda preocupado com o futuro do país, continuarei cobrando as ambivalências de um partido pelo qual tenho respeito. Partido que, por suas pretensões, deve explicações sobre questões importantes para o país. Acho legítimo e pertinente que o ministro da Fazenda suscite esse debate.
Mas por que critica apenas o PT, e não também Itamar Franco, Garotinho ou Ciro Gomes, que vive desafiando-o para o debate? Com os dois primeiros, diz Malan, tudo acabaria numa troca infrutífera de frases. De Ciro, diz nunca ter lido uma proposta oficial. Se tiver acesso a alguma, criticará o que achar necessário.
Mas, isso posto, recusará também os apelos de filiação para que dispute o governo do Estado do Rio ou outro cargo eletivo?
— Já me falaram disso, mas acho que não tenho vocação.
Enfim, um “acho”.JADER BARBALHO vai renunciar à presidência do Senado apostando na capacidade da Casa de encontrar soluções políticas. Talvez, mas o Senado foi incapaz disso nos casos ACM e Arruda.
Editorial
Decisão correta
O Paraná é o estado que mais exporta energia elétrica para outras unidades da Federação. Além da grande hidrelétrica de Itaipu, a Copel (companhia estadual) também gera um excedente de eletricidade suficiente para atender à demanda paranaense por anos a fio.
Como o mercado brasileiro de energia elétrica é interligado e progressivamente será mais competitivo, a Copel terá de disputar cada vez mais clientes fora do Paraná. Para isso precisará da agilidade de uma companhia privada.
A Copel atual é uma boa companhia estatal, pois vive de seus lucros e não depende mais de recursos do Tesouro estadual. Por que desestatizá-la, então? Exatamente para que possa se manter cada vez mais rentável dentro de um mercado onde seus maiores competidores serão empresas privadas.
Vender a Copel no momento em que a estatal é lucrativa (portanto, atraente para investidores) assegurará ao Tesouro paranaense um retorno compatível com as inversões feitas no passado. Os frutos dessa operação serão colhidos basicamente pelas próximas administrações estaduais: os recursos se destinarão a investimentos e à constituição de um fundo de previdência para os servidores públicos (desonerando assim o Tesouro).
Privatizada, a Copel terá mais capacidade de investimento em geração de energia elétrica. Felizmente, o governo paranaense teve a preocupação de impor, já no edital de venda, a obrigação de os compradores aumentarem o parque gerador da empresa em 20% num prazo relativamente curto.
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09/14/2001
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