Polícia indicia Maluf por crime eleitoral
Polícia indicia Maluf por crime eleitoral
Ex-prefeito, levado de "forma coercitiva" por agentes federais, é alvo de ovo jogado por manifestante.
O ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) foi indiciado ontem pela Polícia Federal em inquérito que apura irregularidades na prestação de contas das campanhas eleitorais de 1998 e 2000, para a Prefeitura da capital paulista e para o governo de São Paulo.
Segundo a polícia, Maluf teria omitido dados a respeito de dinheiro e bens obtidos nas campanhas eleitorais. A pena prevista varia de um a cinco anos.
Ontem, Maluf foi conduzido "de forma coercitiva" por agentes da Polícia Federal para depor por ordem do delegado do DOPS, Almir Rodrigues Otero.
Maluf estava depondo no Ministério Público no inquérito que investiga depósitos no valor de US$ 200 milhões em seu nome no paraíso fiscal das Ilhas Jersey, quando recebeu a intimação.
O promotor Silvio Antonio Marques afirmou que Maluf, no depoimento, manteve a mesma linha de seus familiares, definida pela defesa, e respondeu a todas as perguntas que lhe foram formuladas ontem com um "nada a declarar".
O ex-prefeito foi alvo ontem de um ovo atirado por Juarez Souza dos Santos, quando chegava ao prédio do Ministério Público. Maluf escapou ileso e limpo. O ovo atingiu um dos seguranças da sua comitiva. Santos foi levado para o 78º DP, onde afirmou que jogou o ovo como "uma forma de protesto contra a corrupção".
O ex-prefeito atribuiu à "mais uma armação tucana" a forma como foi articulado o seu depoimento e a sua intimação na Polícia Federal. Nota distribuída ontem reafirma que nem ele, nem seus familiares têm ou tiveram contas no exterior.
Planalto confirma Aloysio na Justiça
O porta-voz da Presidência da República, George Lamazière, confirmou ontem a indicação de Aloysio Nunes Ferreira, atual secretário-Geral da Presidência da República, para o cargo de Ministro da Justiça, no lugar de José Gregori, que assumirá em baixada do Brasil em Portugal. O presidente examina hoje a indicação do novo ministro da Integração Nacional, vago desde que Ramez Tebet (PMDB-MS) deixou a pasta para presidir o Senado.
Virgílio cotado para Secretaria
Apesar dos rumores que circulam no Congresso Nacional, ainda não é certo que o líder do governo, deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM), irá mesmo assumir a Secretaria-Geral da Presidência da República, no lugar de Aloysio Nunes Ferreira, que assumirá a Justiça. A assessoria do deputado, por enquanto, não confirma a informação. Segundo a assessoria de Virgílio, ele está percorrendo municípios do interior do Amazonas e só estará em Brasília amanhã.
Favorito, Itamar faz exigências
O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), e o senador Pedro Simon (PMDB-RS), registram hoje, em Brasília, as pré-candidaturas a presidente. Itamar tem informações de que receberia os votos de 50% dos filiados do partido, se a convenção fosse hoje. Na condição de favorito, Itamar fará exigências. Ele dirá ao presidente nacional da sigla, deputado Michel Temer (SP), que o partido deve abandonar logo todos os cargos que tem no governo.
Benedita reage e processa Garotinho
A vice-governadora do Rio, Benedita da Silva (PT), entrou ontem, na 23ª Vara Cível, com uma ação por danos morais contra o governador Anthony Garotinho (PSB) e a primeira-dama Rosângela Matheus, a Rosinha. Na quarta-feira, durante um reunião pública do PSB para cerca de 500 militantes, Garotinho e Rosinha acusaram a vice-governadora de ter desviado R$ 500 mil que seriam usados na construção de um restaurante popular, na Central do Brasil.
IML começa a examinar ossadas
Legistas do IML de Brasília encontraram numa antiga base do Exército em Xambioá (TO) cinco ossadas que acreditam ser de guerrilheiros do PC do B, mortos durante a Guerrilha do Araguaia, no começo dos anos 70, no sul do Pará. O material, localizado por iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, será analisado no DF e chegou ontem em um avião da FAB.
Lobista pode ter sigilo bancário quebrado
O Ministério Público Federal pode pedir, nos próximos dias, a quebra de sigilo bancário do lobista Alexandre Paes dos Santos. Desde quinta-feira, o procurador da República Marcelo Antônio Serra Azul, que expediu o mandado de busca e apreensão, está analisando anotações contidas na agenda pessoal do lobista. Tudo indica que as transações bancárias de Santos poderão comprovar se suas relações com o Ministério da Saúde e outros órgãos federais envolvem altas cifras.
Já a Polícia Federal recebeu, às 18h de ontem, o médico italiano Renato Tasca, consultor da Organização Panamericana de Saúde (Opas), que foi servir de álibi para o secretário de Assistência à Saúde, Renilson Rehem. Segundo fonte do Ministério Público, Tasca disse aos policiais que estava no Brasil no dia 14 de agosto e, entre 21h e 23h30, jantou com Rehem na residência de Marcelo Queiroz de Oliveira, funcionário do Ministério. O italiano é amigo pessoal de Rehem há 11 anos.
O secretário está sendo acusado por Santos de pedir propina ao presidente do laboratório Novartis, Andreas Strakos – o que teria acontecido no dia 14 de agosto, num jantar às 21h15. Outra pessoa ouvida pela PF ontem foi Débora Alves, ex-secretária do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina. Afastada do emprego, ela negou que tenha passado informações ao lobista, apesar do número de sua conta bancária estar anotado na agenda de Santos.
Artigos
O abismo do PT
Lourenço Ponte Peixoto
O Partido dos Trabalhadores tem sido pródigo em reafirmar que há um abismo entre o discurso e a prática. Liderando as pesquisas de intenção de voto para presidente da República, o PT está dividido entre as promessas de quem quer conquistar eleitores e os que já foram eleitos. A intenção pragmática de tentar eleger Luiz Inácio Lula da Silva presidente esbarra em algumas propostas que além de estarem distantes do discurso dos maiores nomes do partido, traem pontos básicos de um programa que sempre foi anunciado como a diferença para os outros partidos.
Dois casos recentes ilustram este conflito de personalidades que toma conta do PT. Pode-se classificar de escandalosa a proposta da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, de diminuir a verba destinada à educação de 30% do orçamento, como manda a lei municipal, para 25%. E não passa de mais uma falácia a proposta petista de combate à fome, trazendo um discurso velho que já deveria ter sido sepultado e que, por isso mesmo, traz grandes preocupações para as classes produtivas do País.
O caso paulista merece reflexão. Uma das principais bandeiras do PT tem sido a educação, mas bastou o partido assumir o poder na maior cidade brasileira, para inverter prioridades. Não se ouviu nenhuma voz dentro do partido contestando a proposta da prefeita de diminuir a verba para as escolas. Nem mesmo daqueles que têm se dedicado à causa com a perseverança de um peregrino. Por muito menos, o próprio Partido dos Trabalhadores pediu o impeachment do ex-prefeito Paulo Maluf. Se uma proposta como esta soa absurda vinda de qualquer político, saída de uma petista ela beira ao estelionato político.
O PT, nunca é demais lembrar, nasceu com a proposta de ser um partido diferente. Talvez as seguidas derrotas nas disputas para a presidência da República tenham tornado mais dura a pele das lideranças do partido e mudado a direção das primeiras propostas, mas o fato é que o PT é hoje um partido como os outros. Mas as idéias são piores. A proposta para a erradicação da fome do País é de um anacronismo a toda prova e mostra o quão distante o PT está da realidade.
Nos dias de hoje poucos ousariam pregar a distribuição da miséria, como parece querem promover o Partido dos Trabalhadores. Ao pregar a suspensão das exportações para que os alimentos sejam consumidos internamente o partido demonstra, não apenas pobreza de espírito, mas uma obtusa visão econômica do planeta.
O que o Brasil precisa é apostar na produção, produzir mais, vender mais. Temos tecnologia e áreas agricultáveis, falta uma política séria para a agricultura, que aumente a oferta de alimentos. Não se pode esquecer do inimigo oculto que é a volta da inflação, este sim o imposto que mais penaliza o trabalhador. O PT, no entanto, propõe que o Brasil ande na contramão, que perenize a miséria com a distribuição do que se produz hoje. É um contrasenso num partido que se intitula dos trabalhadores. Estes precisam de empresas fortes para que possam ter emprego, saúde e educação. É muito bonita a pregação de que todos devem ter direito a um prato de comida, embora em Brasília o PT critique as ações sociais do governo Joaquim Roriz, que distribui cestas básicas para famílias carentes, pão e leite para crianças até seis anos e o restaurante comunitário que serve comida a R$ 1,00.
Esse discurso duplo confunde o eleitor, iguala o PT a práticas eleitoreiras condenáveis de outros partidos. Ao contrário do que diz o documento petista, o Brasil não deve se isolar com seus problemas. Ao invés de democratizar a miséria, deve dividir a riqueza.
Colunistas
Claudio Humberto
Serra pode deixar o cargo
O ministro da Saúde, José Serra, está sob pressão de amigos e aliados para deixar o cargo o quanto antes, assumindo sem pudor nem recalques a sua candidatura a presidente da República. Com isso, ele teria todas as vantagens de um candidato e nenhuma das desvantagens de continuar ministro, como o recente escândalo que envolve assessores em suposta tentativa de extorsão a empresários da área farmacêutica.
Galho na Galheta
Um triângulo amoroso pode estar por trás do acidente no navio da Petrobras que derramou nafta na baía de Paranaguá. Chegou à Polícia Federal a informação de que o prático que conduzia o navio no Canal da Galheta tentou atingir um outro, que vinha em sentido contrário, pilotado por um colega suspeito de relacionar-se com sua mulher.
Aécio, o Estripador
Político jovem, o presidente da Câmara, Aécio Neves, resolveu jogar no time do atraso, remetendo para 2003 a discussão da reforma tributária que o País aguarda há anos, ao invés de liderar o esforço para viabilizá-la. O pretexto: 2002 será ano eleitoral e o Congresso não vai trabalhar. Ele propõe uma reforma "em partes". À moda de Jack, o Estripador.
Ameaça secreta
O ministro Andrea Matarazzo (Comunicação) tem dito a amigos que não suportará mais novos embaraços ou humilhações à sua indicação ao posto de embaixador do Brasil em Roma. Na próxima, ele desiste.
Matarazzo só diz isso à boca pequena, claro. Ou a ameaça vira profecia.
Álibi inutilizado
A multinacional Novartis rescindiu o seu contrato com o lobista Alexandre Paes dos Santos no dia 16, quando esta coluna revelou a extorsão de assessores do ministro José Serra e a invasão do escritório de APS pela Polícia Federal, sob mandado judicial. E exigiu que a rescisão tivesse data retroativa, 2 de outubro, para fingir que nada tinha com o assunto.
O devido PS
APS é o vulgo de Alexandre Paes dos Santos, o lobista desmascarado de Brasília, e não as iniciais da advertência "Atenção à Propina, Serra!"
Perplexidade catatônica
FhC disse a um senador governista que ficou "perplexo" com a denúncia de superfaturamento na compra de dois transformadores de Furnas. Segundo Veja, o presidente da estatal, Luiz Carlos dos Santos, pagou US$ 7 milhões – sem licitação – por um equipamento que custa US$ 1,5 milhão. A perplexidade parece ter deixado FhC catatônico.
É mais embaixo!
Dada a imprecisão dos mísseis em atingir o alvo, ainda bem que os americanos confundem o Brasil com a Argentina.
Privatizou, dançou
O secretário de Justiça paranaense, Pretextato Taborda (que nome...), armou o maior barraco, ontem, no posto do antigo Banestado (hoje Itaú) no Palácio Iguaçu, sede do governo Jaime Lerner. Inconformado com as filas longas e o mau atendimento, ele fechou a conta, deu show, chamou o Procon etc. É, seu Taborda, privatização tem dessas coisas...
Notícia velha
A ida de José Gregori para a embaixada em Lisboa (tradicional exílio de incômodos monoglotas) foi antecipada nesta coluna em julho. Tempo suficiente para o ministro fazer um cursinho intensivo de português.
Coisa de amigo
Para quem o acusa de não ser leal aos amigos, FhC foi de uma generosidade ímpar, ao tornar pública a decisão de despachar o ministro José Gregori para Lisboa. Ou ninguém perceberia o cargo vago.
Paulinho: tô fora
Amargurado com as denúncias envolvendo a Força Sindical, Paulinho decidiu devolver ao governo a gestão dos projetos, que beneficiaram meio milhão de trabalhadores em quatro anos. Ele tem certeza da lisura na aplicação dos recursos do FAT. "Quem pariu Mateus que o embale", desabafou, "e parceria, agra, só quando houver governo sério no País".
Amaury dançou
Após 16 anos publicando sua coluna no Diário Popular (atual Diário de S. Paulo), Amaury Jr. deixará o jornal no dia 31. O pretexto apontado pela direção foi a transferência de Amaury Jr. da Band para a TV Record, inimiga das Organizações Globo – que é a nova proprietária do jornal.
Castigo cubano e...
Médico de família em Catende, perto do Recife, Miguel Soneira e Letícia, sua mulher, tentam desde 1998 trazer a filha Anabel, 14 anos. Com visto da embaixada brasileira, ela está com a avó em Cuba, e emocionalmente abalada. O casal já apelou em vão, com atestados médicos, a todas as instâncias no país de Fidel, mas ninguém autoriza nem férias no Brasil.
...o desespero familiar
Miguel Soneira e Letícia foram três vezes a Cuba e Anabel escreveu para o próprio ditador Fidel Castro, que nem respondeu. O casal apelou ao ministro Celso Lafer: a avó está doente e Anabel ameaça se matar. A Imigração cubana ameaçou Miguel: se ele voltar, não sairá mais.
Bob Fields em campanha
Intelectual refinado, ex-ministro e diplomata, Roberto Campos orgulhou o Mato Grosso, sua terra natal, quando decidiu disputar o Senado, em 1982. Paciente e aplicado, percorreu todos os municípios e distritos que pôde. Nessa peregrinação, chegou à pequena cidade de Pedra Preta. Ao entrar no local onde era esperado, um eleitor estendeu a mão ao antigo embaixador do Brasil em Londres e o saudou, emocionado:
– Welcome to Black Stone, senador!
Editorial
Perigo na prisão
As constantes rebeliões nas penitenciárias brasileiras, como aconteceu em Brasília na última semana, mostram que o modelo prisional no Brasil precisa ser revisto. No mesmo ambiente, embora em pavilhões separados, convivem bandidos de alta periculosidade com outros que podem ser reintegrados à sociedade, desde que sejam incentivados a seguir as regras de convivência social.
Há quem argumente que não há contato entre esses presos reconhecidamente mais perigosos e os demais, mas a prática ensina que a comunicação nas penitenciárias é ampla, usa truques que quem está do lado de fora sequer imagina, há, enfim, uma efetiva conversa entre presos de pavilhões diferentes.
O País precisa apostar mais num modelo de prisão que, sem deixar de fazer com que os condenados cumpram sua pena e paguem sua dívida social, deixe aberta a possibilidade de que, ex-presidiário, qualquer um possa ser reintegrado ao convívio da sociedade. Há uma certa lentidão do Ministério d a Justiça para que ações efetivas sejam tomadas e até para que verbas para a reforma e construção de presídios sejam liberadas.
As penitenciárias devem ser mais do que armários de gente, prontos para explodir. O ambiente já é tenso o bastante e o modelo atual só serve para aumentar esta tensão.
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10/23/2001
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