PPS, PDT e PTB lançam coligação, mas não definem termos de acord









PPS, PDT e PTB lançam coligação, mas não definem termos de acordo
O anúncio feito ontem da pré-coligação em defesa da candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República, reunindo PPS, PDT e PTB, foi apenas político, ficando sem a oficialização por ausência de consenso entre os integrantes.

A coligação PPS-PTB-PDT estimou ter 12 minutos diários no horário gratuito de rádio e TV, mas, pela Lei Eleitoral, Ciro Gomes só poderá aparecer nas inserções a partir de junho.

O manifesto, no qual seriam explicadas as afinidades capazes de unir ex-comunistas, ex-governistas e trabalhistas, não pôde ser divulgado por falta de acordo na definição dos termos.

Tentando disfarçar o mal-estar, Ciro Gomes e os presidentes do PDT, Leonel Brizola, do PPS, senador Roberto Freire (PE), e do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), lançaram a denominada Frente Trabalhista.

Inicialmente Ciro e Brizola não atacaram os adversários, mas a determinação durou pouco. O fato de o pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, deixar o Ministério da Saúde em meio à epidemia de dengue foi criticado.

"A epidemia de dengue apenas começou. O ministro teria prazo até 5 de abril para se desincompatibilizar, mas preferiu deixar o cargo para cuidar de caraminholas eleitorais", disse Ciro.

Ao se referir aos seus principais adversários, Ciro citou indiretamente Serra e a pré-candidata do PFL, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney. O presidenciável afirmou que o PT está destinado a perder a eleição.

"Vamos cutucar a onça por dois lados. Um é o lado do poder oficial, o do econômico e o da grande mídia. O outro lado é o da oposição, escolhida para perder, os nossos bons amigos do PT, que involuntariamente acabam sendo manipulados para isso. Eles não têm culpa, a não ser pela imprudência por não perceberem esse jogo", disse Ciro.

Brizola reiterou os ataques às negociações entre o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o PL. Também disse que, para o governador do Rio e presidenciável, Anthony Garotinho (PSB), integrar a frente, teria de "entrar na fila".

Aproximadamente 300 pessoas participaram do lançamento da pré-coligação, num evento na Câmara dos Deputados. O PTB, que integrou a base governista até maio do ano passado, foi o último a anunciar seu apoio.
Com elogios à "sensibilidade" do presidente Fernando Henrique Cardoso, José Carlos Martinez afirmou que o PTB não aceitaria indicar nomes para suceder o ministro Pimenta da Veiga.

O objetivo da coligação é ampliar a frente atraindo o apoio do PST e PHS. Integrantes da frente afirmam que há conversas também com o PL e PSB.

O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), foi procurado também para conversar. Ontem, o inusitado ficou por conta do único membro do PTN, o deputado José de Abreu (SP), que declarou somente na hora que iria integrar a frente e, em seguida, se sentou em uma cadeira vaga na mesa, na qual estavam Ciro, Brizola, Freire e Martinez.


Dengue é como ônibus, diz Serra ao deixar ministério
Serra diz que doença "leva o que vier" e que situação melhorou

Em seu discurso de despedida do Ministério da Saúde, o tucano José Serra fez um balanço de sua gestão, destacando os programas nos quais obteve vitórias -como a erradicação do sarampo e o combate à Aids- e deixando em segundo plano explicações sobre a nova epidemia da dengue.

O tom da despedida variou do emocionado (o ministro chegou a chorar) ao bem-humorado. Ele brincou ao falar da dengue e dividiu a responsabilidade pela doença com os governos estaduais e municipais. "O mosquito não é federal, nem estadual, nem municipal", disse o presidenciável, em frase semelhante às usadas em 1998, quando assumiu a pasta.

"A dengue é uma espécie de ônibus da Itapemirim [viação que atua em 70% do território nacional", que leva o que vier", disse, provocando risos. Quando Serra assumiu, o país também passava por uma epidemia de dengue, com o maior número de casos da década (559.237 naquele ano).

A responsabilidade pelo combate à dengue foi repassada ao seu sucessor, Barjas Negri. "Declaramos guerra à dengue a partir de agora. Isso começa no dia de hoje e só pára quando acabar a dengue", declarou Negri. "A dengue efetivamente recrudesceu neste ano." Como justificativa, disse que a doença não tem vacina nem há inseticida completamente eficaz no combate ao mosquito.

"Melhora"
Sem citar as mortes pela doença, Serra disse que a situação melhorou, se comparados os números de casos de janeiro deste ano aos do ano passado. Em janeiro de 2001, houve 32.592 casos. Neste ano, já foram pelo menos 29.255 notificações. Esse dado está sujeito a atualização. Só em janeiro, morreram 25 pessoas. Em todo o ano passado foram 28 mortes.

Serra disse que o trabalho de combate à dengue não foi abandonado, mas a doença cresceu após 1999. Além de explicações breves sobre a dengue, Serra deu destaque às doenças que conseguiu controlar, como o sarampo, o tétano neonatal e o cólera.

A malária, doença que também aumentou em sua gestão, foi destacada pela redução obtida em 2001, mediante um programa de intensificação: "Foi o declínio mais espetacular já havido".

O presidenciável disse que o programa de Aids brasileiro é um dos melhores do mundo e que se arrependeu de ter negado uma entrevista ao "The New York Times", que elogiou o programa brasileiro. "Eu não tenho votos nos Estados Unidos", justificou.

Serra classificou a redução da mortalidade infantil como sua "maior realização no ministério". O índice, que era de 36,7 mortes para cada mil crianças nascidas vivas, ficou em 32,7 em 2001.

A cerimônia, realizada no auditório do Centro Cultural do Banco do Brasil, foi cuidadosamente preparada pelo PSDB. Os gastos teriam sido custeados pelo partido. Em clima de campanha, o tucano fixou metas a serem cumpridas até o final da década. Entre elas, a de reduzir o índice de mortalidade infantil para no máximo 20. Depois de atacar as "elites" pelas críticas ao SUS (Sistema Único de Saúde), disse que conseguiu recuperar a imagem do sistema.

Elogios do PTB e do PT
Políticos que se dizem alinhados com candidatos de oposição foram assistir ao pré-candidato tucano ao Palácio do Planalto, José Serra, transmitir o cargo de ministro da Saúde a Barjas Negri.

O líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ), defendeu o tucano: "Serra foi um excelente ministro. A dengue não pode ser debitada na conta dele. O ministério repassou recursos aos Estados e municípios. Atirar pedra é mole". Detalhe: Jefferson pensa o contrário do candidato a presidente que diz apoiar, o ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes (PPS).

Jefferson, que tenta ser cooptado por FHC para a campanha do tucano, afirmou que Serra e Barjas "foram muito corretos com a bancada do PTB". Deputados petebistas intermedeiam convênios e verbas da Saúde para suas bases.

Depois de jantar na terça com Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT à Presidência, o presidente do PL, deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), e o bispo Carlos Rodrigues (RJ), deputado federal e articulador político da Igreja Universal, marcaram presença constrangidos.

"Não gosto do Serra, vim por causa do Barjas", disse Costa Neto. "Sou um liberal. Não faço política com ódio ou veto. Sou propositivo", afirmou Rodrigues. Além de negociar uma aliança para que o senador José Alencar (MG) seja vice de Lula, o PL também namora o PSB de Anthony Garotinho.

O petista Eduardo Jorge, secretário da Saúde da Prefeitura de São Paulo, brincou com a presença dos dirigentes do PL: "Até nossos aliados estão aí". Retomando o tom sério, disse: "Meu papel é institucional. Não quero nem saber de briga política em saúde". Ele declar ou que Serra e Adib Jatene foram os dois melhores ministros da Saúde nos últimos 13 anos. A diferença é que "Serra conseguiu dobrar a oposição do Ministério da Fazenda à concessão de mais recursos para à área".


Para Olívio, PL "não está no campo democrático" do PT
Petista critica possível aliança; Tarso já se declarou contrário a ela

O governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT), descarta o PL como partido que integre o ""leque" de aliados em potencial para o PT. ""O PL não está no campo democrático e popular definido como nosso leque de alianças", afirmou Olívio.

As declarações do governador ocorrem no momento em que o pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, reforça a tentativa de uma aliança com o PL por meio do senador José Alencar (PL-MG), cotado para ser o vice de Lula. Alencar é empresário do setor têxtil.

As alas "esquerdistas" do PT criticam a aliança, temendo que o partido siga o mesmo caminho do presidente Fernando Henrique Cardoso em 94, quando ele se aliou ao PFL. No início da semana, Lula, José Dirceu, presidente nacional do partido, e a cúpula do PL tiveram um encontro para discutir o limite das concessões que os petistas estão dispostos a fazer.

Resistência
Apesar da resistência existente no PT gaúcho a respeito das negociações nacionais com o PL, Olívio Dutra afirmou que ""a direção partidária tem de conversar com todas as personalidades políticas", incluindo as do ""campo" que ele define como ""democrático e popular" e as ""que não estão definidas ainda".

Os petistas gaúchos, salvo exceções, evitam divergir abertamente de Lula. Há, porém, fortes resistências ao acordo com o PL.

O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT), deixa clara sua contrariedade ao dizer que já se opôs ao acordo durante o último congresso nacional do partido. Afirma que apóia as articulações de Lula para um projeto nacional, mas diz que prefere não se pronunciar sobre a possível aliança.

O presidente do PT gaúcho, David Stival, afirma que o assunto ainda não foi discutido oficialmente pelo diretório regional. Ainda assim, Stival reconhece que ""a opinião majoritária é contra a aliança", afirma ter ""reservas em relação ao PL" e fala que uma aliança só seria possível a partir do projeto petista.

Outros Estados
O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PT), disse que "uma aliança com o PL só será boa numa hipótese improvável, que é a de o PL deixar de ser liberal". "Acho que temos que ganhar a eleição, mas não a todo custo."

De acordo com o prefeito, uma aliança com o PL ou PMDB pode ocorrer em determinadas regiões, onde os partidos que queiram apoiar o PT se adaptem ao programa de esquerda.

Os outros dois governadores petistas que foram ouvidos pela Agência Folha aprovam uma aliança com o PL. O governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, disse ontem que a coligação com o PL "deixa o PT mais equilibrado".

Para Zeca, "é importante a aproximação do partido com o centro" e a eventual aliança "não descaracteriza a crítica ao modelo implantado". "Há um consenso que vai além da esquerda."

O governador do Acre, Jorge Viana, declarou ontem que encara com naturalidade a aproximação dos petistas com o PL.

"O PL ainda não é um partido carregado do ponto de vista ideológico. Ele está buscando encontrar seu próprio caminho e, por isso, deve ser respeitado pelas lideranças petistas", disse.
Para ele, o PT deve se preocupar em buscar alianças não apenas para vencer as eleições, mas também para conseguir governar.


Olívio e Tarso criaram "racha" no PT gaúcho
O governador Olívio Dutra (RS) e o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, travam uma disputa interna no PT gaúcho para decidir quem será o candidato do partido a governador do Estado.

Olívio é ligado às tendências de esquerda e tem forte ligação com Luiz Inácio Lula da Silva, da moderada Articulação -como Lula, Olívio já foi sindicalista. Já Tarso é apoiado pelos moderados.

A executiva regional do PT queria promover a unidade em torno de um nome e evitar o racha e a prévia. A Executiva Nacional pressiona Tarso para desistir, embora ele já tenha se inscrito para a prévia, como Olívio.
No início deste ano, durante o Fórum Social Mundial, Tarso acusou Olívio de ""stalinismo". Segundo o prefeito, seu oponente estaria usando politicamente o fórum. Ele se considerou discriminado pela TV Educativa, estadual, na cobertura da abertura do fórum.


Vice-presidente da CNBB critica Serra e aliança do PT com Universal
O vice-presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Marcelo Carvalheira, afirmou que a possível aliança do pré-candidato do PT à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva com a Igreja Universal do Reino de Deus "assusta" e "preocupa".

D. Marcelo também criticou o tucano José Serra, que deixou o cargo ontem, por sair do Ministério da Saúde durante uma epidemia de dengue.

Sobre a aliança, ele disse que "a gente se assusta com alianças que vão pôr em perigo os grandes valores que nós enfatizamos" -antes ele havia listado, como valores defendidos pela Igreja Católica, dignidade humana, liberdade, democracia, igualdade entre as pessoas, fraternidade e bem comum.

"Nós sabemos o risco que acontece se elementos de uma igreja que tem uma potência na comunicação tão grande buscar certos objetivos, por exemplo, exigir um ministério. Claro, isso pode preocupar alguns setores da Igreja Católica", afirmou d. Marcelo, que é arcebispo de João Pessoa (PB).

D. Marcelo afirmou que a Igreja Católica, ao contrário, não pretende ter nenhum privilégio. "Um dos aspectos característicos da Igreja Católica hoje, talvez no passado não tanto, é se interessar pelo bem do povo. Nunca pedir benefício para a instituição."

Serra
O vice-presidente da CNBB também criticou o pré-candidato do PSDB, José Serra, por ter deixado o Ministério da Saúde durante uma epidemia de dengue. "Isso nos deixa alarmados."
Para ele, seria importante que Serra estivesse no cargo "nesta hora grave".

D. Marcelo concedeu entrevista coletiva na CNBB -a principal instituição da Igreja Católica no Brasil- ao lado do secretário-geral da entidade, d. Raymundo Damasceno, e do secretário-executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Francisco Whitaker.

A entrevista foi convocada para que falassem sobre a reunião da Comissão Episcopal de Pastoral -encerrada ontem-, que discutiu três temas: Fórum Social Mundial, Campanha da Fraternidade 2002 e a 40ª Assembléia Geral da CNBB, que se realizará de 10 a 19 de abril.

D. Raymundo afirmou que a Igreja Católica, enquanto hierarquia, não interfere na política. "O seu enfoque é sempre a pessoa humana e suas condições reais de vida", disse.

Francisco Whitaker afirmou que "o PT nitidamente está assumindo riscos com esse tipo de aliança que está fazendo".


Divergências nos Estados comprometem chapa PT-PL
Em 22 Estados, coligação entre as legendas é impossível ou improvável

A controversa negociação entre PT e PL visando a uma coligação na eleição presidencial não deverá se reproduzir na maioria dos Estados, o que poderá alimentar as já existentes dissidências internas de alas petistas à aliança.

Levantamento feito pela Folha mostra que em 22 das 27 unidades da Federação (26 Estados e o Distrito Federal) uma aliança local entre as duas legendas, reproduzindo a nacional, é virtualmente impossível ou pouco provável. Somente em cinco unidades da Federação há afinidade política.

Dos 22 Estados em que os partidos estão distantes, em 14 uma aliança é virtualmente impossível. São casos em que os partidos são adversários históricos.

Nos o utros oito, a relação é distante mas pouco radicalizada, o que deixa uma porta aberta para eventual negociação, caso o casamento entre Luiz Inácio Lula da Silva e o senador José Alencar (PL-MG) se concretize.

O cenário mostra que, apesar da troca de acenos entre as cúpulas dos dois partidos, as bases de PT e PL têm trajetórias políticas bastante diferentes.

O PL, controlado em grande parte pela Igreja Universal do Reino de Deus, nunca esteve no arco de alianças natural dos petistas.

Em busca da ampliação de seu espaço, Lula foi buscar no PL um aliado que o ajudasse em termos de estrutura de campanha, tempo de televisão e acesso a fatias do eleitorado a ele normalmente refratárias. Vem daí a predileção por Alencar para seu vice, um empresário bem-sucedido.

Nesse esforço, o PT relevou rusgas passadas com segmentos do PL e procura caracterizar o partido como de centro.

Em vários Estados, no entanto, o PL se comporta como uma legenda de direita, não raro sendo linha auxiliar do PFL.

Na Bahia, por exemplo, o PL é umbilicalmente ligado ao grupo político do ex-senador Antônio Carlos Magalhães, inimigo dos petistas. No Maranhão, o partido está na base de apoio de Roseana Sarney (PFL). No Paraná, costuma dar apoio a Jaime Lerner (PFL) e, em Santa Catarina, a Esperidião Amin (PPB).

No Amazonas, o PL tem o prefeito de Manaus, Alfredo Nascimento, que até recentemente era aliado do governador Amazonino Mendes (PFL). Apesar de agora rompido com Amazonino, o PL continua rival dos petistas locais.

Já no Acre, o PL é próximo de políticos acusados de ligações com o crime organizado, como o deputado federal José Aleksandro (PSL). Em Alagoas, muitos de seus líderes têm relações com o ex-presidente Fernando Collor.

Antagonismo light
Em oito Estados, PT e PL têm projetos políticos que inviabilizam a aliança no primeiro turno. Mas, ao mesmo tempo, as duas legendas não têm antagonismos exacerbados, o que poderia permitir uma aproximação caso a coligação nacional se confirme.

O caso emblemático é São Paulo, em que o PT apresenta a candidatura ao governo de José Genoino, e o PL, a de Francisco Rossi. Os dois partidos, no entanto, conversam, e uma junção já no primeiro turno não pode ser totalmente descartada.

No Rio, o PL está mais próximo do PSB de Anthony Garotinho, mas também vem mantendo contatos esporádicos com os petistas.

"O partido definiu que o PL faz parte de nosso arco de alianças. Sempre que possível, essa coligação deve ser feita também nos Estados, mas não haverá imposição por parte da direção nacional", diz o novo líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP).

Para ele, as diferenças estaduais dos partidos não criarão dificuldades para o projeto nacional. "Há entendimento no partido de que a aliança com o PL é importante para eleger o Lula", afirma.

Mesmo assim, só em cinco Estados a coligação entre os dois partidos está bem encaminhada.

No Espírito Santo, os dois partidos integram um fórum de oposição ao atual governo. Em Minas, terra de José Alencar, PT e PL devem estar juntos na disputa estadual. Já em Mato Grosso do Sul, o PL já apóia o governo do PT e deve continuar com ele na campanha à reeleição.

Padronização
O quadro nos Estados revela também que a coligação PT-PL terá problemas caso a Justiça Eleitoral determine que os palanques locais não podem ser diferentes do nacional. A decisão, que forçaria as legendas a conviverem em todo o país, deverá ser tomada no começo de março.

"Se a padronização das coligações for aprovada, será um escândalo", diz o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. "Vários nós terão de ser desatados", diz. Uma das idéias, para não inviabilizar a coligação em torno de Lula, é fazer o PL sair sozinho, como no caso da Bahia.

Já o coordenador político da Universal, Bispo Rodrigues (PL-RJ), acredita que a maioria das diferenças nos Estados é "contornável". "Mas há problemas de difícil solução, como no Rio, na Bahia, no Pará e no Amazonas."


Garotinho diz que não desistiu do PL
O governador do Rio de Janeiro e pré-candidato à Presidência, Anthony Garotinho (PSB), busca, a exemplo do petista Luiz Inácio Lula da Silva, obter o apoio do PL.

De acordo com Garotinho, dez diretórios regionais do PL já se manifestaram a favor de sua pré-candidatura e contra a de Lula.

O governador diz que o PT tem mais dificuldades em ganhar o apoio do PL. "A dinâmica interna deles é muito complicada. Nós [PSB" somos um partido mais unido. O PL, conosco, não tem dificuldade de ter uma aliança, porque não somos exclusivistas. Nós sabemos compartilhar o poder. O PT é um partido exclusivista."
Garotinho disse ainda que não pretende abrir mão de sua candidatura e que considera impossível uma aliança com o PT no primeiro turno. "O Lula não está buscando a união das esquerdas. Ele está buscando a união em torno dele. Aí não tem o que discutir."

O PSB pretende procurar o PMDB para compor uma aliança pró-Garotinho. "A tendência do governo é fazer uma aliança PSDB-PFL. Por isso, vamos procurar o PMDB, que será excluído dessa aliança."

A decisão foi tomada ontem durante reunião entre Garotinho, o presidente do PSB, Miguel Arraes, e o presidente regional do partido no Rio, deputado federal Alexandre Cardoso. Cardoso ficará encarregado de contatar o presidente do PMDB, o deputado Michel Temer (SP), e outras lideranças.

Durante a reunião, foi feita uma relação dos Estados onde a composição PSB-PMDB é possível, como Santa Catarina (o PSB apóia a candidatura de Luiz Henrique, do PMDB), São Paulo (Luiza Erundina para o governo e Michel Temer para o Senado), Espírito Santo (Paulo Hartung para o governo e Gerson Camata para o Senado) e Rio Grande do Norte (Wilma Faria para o governo e Henrique Alves para o Senado).

No Rio, PSB e PMDB aguardam a decisão da primeira-dama, Rosa Matheus, que ainda não definiu se será candidata a governadora.

Antes de encontrar-se com Arraes, Garotinho reuniu-se com Sérgio Cabral, com o presidente regional do PMDB no Estado, Moreira Franco, e o secretário-geral, Jorge Picciani para tratar, segundo disse, da aliança nacional.

Foi decidido que a candidatura de Garotinho será homologada em 10 de junho, já no início do prazo legal. O objetivo é deixar que a Executiva Nacional possa fazer alianças até o fim do prazo de formalização de candidaturas.

"Entendemos que colocar a candidatura e delegar à Executiva a possibilidade de alianças me dá mais tempo, mais 20 dias úteis, para fazer campanha."


Artigos

De sonhos e vitórias
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Há uma contradição insanável entre as duas fotos publicadas ontem por esta Folha em sua página A4. Na primeira, Luiz Inácio Lula da Silva, o presumível candidato presidencial do PT, aparece cercado pela turma do PL, incluindo o deputado federal Luiz Antônio de Medeiros (SP), com o qual Lula tem divergências inconciliáveis desde o tempo em que eram apenas líderes sindicais, não figuras políticas.
Na foto mais abaixo, Lula aparece com Apolônio de Carvalho, uma das raras personalidades brasileiras que merecem o título de revolucionário -no que isso tem de bom para alguns e de ruim para outros.

A contradição se dá no seguinte: Lula critica os petistas que se opõem a uma aliança com o PL, dizendo que eles não querem ganhar.

Muito bem. Como então saudar Apolônio de Carvalho, que, pela lógica de que o feio é perder, é um perdedor? Perdeu na Intentona Comunista de 1935, perdeu com a República na Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 39, perdeu com a ocupação nazista da França (para ganhar, depois, como membro da Resistência), perdeu com o golpe militar de 1964 no Brasil e perdeu, de novo, na lu ta armada contra o regime de força.
Perdeu? Há um par de anos, Apolônio almoçou aqui na Folha com a mulher. Parecia tudo, menos um perdedor. Bem ao contrário, exalava vitória, talvez por ter tido, como poucos, a coragem de arriscar a vida por um sonho. Não para ficar rico, poderoso ou para subir na vida.

Dirão os práticos -e terão razão- que melhor seria perseguir e alcançar o sonho. Dirão os sonhadores -e terão razão- que alcançar o sonho à custa de concessões insuportáveis é, aí sim, perder o sonho.

No fundo, esse é o dilema e a contradição do PT em sua busca de alianças com antigos adversários. Ou sonha o sonho, certo ou errado ao gosto de cada qual, e talvez perca, ou sonha a vitória e perde o sonho.


Colunistas

PAINEL

Caça ao mosquito
Sucessor de José Serra na Saúde, Barjas Negri foi instruído por FHC a priorizar a prevenção a outras epidemias, além da dengue. A proliferação de novas doenças poderia ser fatal para a decolagem da candidatura do PSDB à Presidência.

Novas dengues
O governo teme o avanço de doenças transmitidas por insetos, que estariam propagando-se em várias regiões do país. Entre as maiores preocupações estão a malária e a leishmaniose.

Inimigo poderoso
O PSDB chegou à conclusão de que o grande problema de Serra não são as pesquisas, não é Roseana e, muito menos, Lula. O seu maior adversário chama-se são Pedro. Explicação: em 2001, choveu pouco e houve a crise energética. Neste ano, choveu muito e veio a dengue.

Lente de aumento
O cerimonial da Saúde pretendia fazer o ato de saída de Serra do ministério em um ginásio para 1.500 pessoas. Mas o PSDB preferiu usar um auditório menor, para 300 pessoas, que ficou lotado e passou uma imagem de sucesso às câmeras de TV.

Contra o relógio
A pasta dos Transportes tenta ser excluída da MP de FHC que limita a 31 de março o desembolso dos "restos a pagar" de 2001. Os R$ 180 mi destinados à manutenção de estradas não poderão ser usados a tempo.

Interesse político
Técnicos dos Transportes dizem que as obras não foram iniciadas antes em razão das chuvas. Se o dinheiro tiver de ser devolvido, o ministério prevê um "apagão nas estradas". Em pleno ano eleitoral.

Sem autorização
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do MA diz que processará Roseana (PFL) pelo uso da imagem, num comercial de TV, de um líder da entidade. A federação prepara um ato "contra a pobreza".

Contra-ataque
Garotinho (PSB) reagiu ontem à investida de Lula para obter o apoio do PL. Mandou um emissário à cúpula liberal para pedir-lhe que não feche com o PT. Quer mais tempo para convencê-la de que é a melhor opção.

Barulho petista
A Executiva do PT reúne-se na segunda em SP. Militantes da esquerda petista levarão um manifesto contra a aliança da sigla com o PL e a Igreja Universal.

Mau exemplo
Em defesa da aliança com o PL, José Dirceu (PT) citou duas prefeituras petistas como exemplos da boa convivência entre os partidos: Ribeirão Preto e Cabedelo (PB), onde os vices seriam do PL. Detalhe: o vice da cidade paulista é, na verdade, do PMN.

O outro lado
Não é só o PT que enfrenta problema interno para selar aliança com o PL. Segundo Magno Malta (PL-ES), dez diretórios regionais do PL e 15 deputados federais (de 21) preferem apoiar Garotinho (PSB-RJ).

Boquinha
Explicação dada ao comando da campanha de Ciro Gomes para o fato de o PTB paulista não aceitar outra alternativa que não seja apoiar o tucano Geraldo Alckmin em SP: os petebistas paulistanos têm cerca de 1.800 cargos no governo estadual.

Enquanto dure
Saudação de José Carlos Martinez (PTB) a Leonel Brizola (PDT), ao falar da aliança das siglas em torno da candidatura Ciro Gomes (PPS): "Até que enfim", referindo-se ao racha histórico entre os partidos.

Hora de trabalhar
Em campanha à presidência da França, Lionel Jospin convidou Marta Suplicy para participar de um ato em homenagem às mulheres, no dia 8 de março. A prefeita de São Paulo recusou o convite, mas gravou um vídeo para ser exibido no evento.

TIROTEIO

De Roberto Teixeira da Costa, vice-presidente do Conselho de Administração do banco Sul América, sobre Lula convidar o senador-empresário José Alencar (PL) para ser o seu vice:
- É um sonho de uma noite de verão achar que o empresariado vai apoiar Lula pelo fato de José Alencar ser o seu vice.

CONTRAPONTO

Sexo frágil
O senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) e a deputada federal Zulaiê Cobra (PSDB-SP) participaram anteontem de um debate sobre segurança pública na TV Senado. Nos camarins, um maquiador da emissora quis passar batom na deputada, que reagiu.
- Deixa isso para lá. Você já viu batom dar certo em mulher forte? - ironizou a deputada.
No debate, os dois fizeram um apelo para que FHC ouça mais o Congresso, já que haveria muitos parlamentares especialistas em segurança pública.
Após a gravação, os dois caminhavam juntos rumo aos seus gabinetes quando Zulaiê contou a Lúcio que iria se inscrever nas prévias tucanas ao governo de SP, contra Geraldo Alckmin. A deputada perguntou, então, ao senador se ele achava que Alckmin ficaria bravo com ela. O senador balançou a cabeça:
- Acho que não. Ele tem medo de mulher forte!


Editorial

SEQUESTRO DO DIÁLOGO

A tomada de um avião seguida do sequestro de um senador colombiano pela guerrilha pode ser o gesto que faltava para sepultar as negociações de paz entre o governo e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

É verdade que o diálogo já não caminhava bem até ser oficialmente suspenso ontem. As perspectivas para o futuro são ainda mais sombrias, pois o candidato favorito a suceder o presidente Andrés Pastrana é o liberal Alvaro Uribe, que defende uma solução de força para o problema das guerrilhas. Pesquisas de opinião pública indicam que Uribe pode vencer já no primeiro turno, em maio.

O principal responsável pelo fracasso das negociações é a própria guerrilha. O governo Pastrana concedeu às Farc uma zona desmilitarizada do tamanho da Suíça, mas a organização, que se proclama marxista, mostrou-se incapaz de oferecer contrapartidas às concessões do governo. As Farc não apenas seguem sequestrando e sabotando a infra-estrutura do país como se mantêm em estreita associação com o narcotráfico. É cada vez menor o número de colombianos que ainda vê o diálogo como uma alternativa viável.

Para completar o quadro de desalento, desde o 11 de setembro, os EUA vêm reforçando sua pressão para que a Colômbia se engaje numa solução militar para a questão da guerrilha. Sempre que tem a oportunidade, o Departamento de Estado classifica as Farc como organização terrorista. Os EUA concedem à Colômbia um pacote de ajuda de US$ 1,3 bilhão, que está sendo usado na modernização das Forças Armadas. Em princípio, o auxílio se destina a combater o narcotráfico, mas Washington já sugeriu que não se oporia ao uso da verba contra a guerrilha. Diante do alto grau de imbricação entre os dois, a tese faz sentido.

Ao que parece, o país vizinho vai experimentar significativa escalada militar nos próximos dias e meses.


Topo da página



02/22/2002


Artigos Relacionados


PT e PL negociam os termos da coligação

PPB e PFL estudam coligação

Uma coligação de dúvidas

PPB e PSDB não farão coligação

CCJ vota fim de coligação em eleições proporcionais

Vai ao Plenário fim de coligação em eleições proporcionais