Presidente do BC diz que desvalorização do dólar é fenômeno global



O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, defendeu a política de câmbio das críticas feitas pelos parlamentares que participaram, nesta quinta-feira (24), de audiência pública na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO). Diante das cobranças por soluções urgentes para conter a valorização da moeda nacional, Meirelles procurou demonstrar os ganhos obtidos pelo país com o câmbio flutuante e enfatizou que a desvalorização do dólar não ocorre somente no Brasil, sendo na realidade um fenômeno global, associado à crise na balança comercial dos Estados Unidos.

De acordo com Meirelles, o BC não subestima as dificuldades que segmentos exportadores possam estar enfrentando com o impacto da desvalorização. Porém, salientou que o papel do governo é examinar o país por inteiro na adoção de suas políticas. Com relação ao câmbio, observou, o sistema de livre flutuação hoje é adotado por quase todos os países. No caso do Brasil, avaliou, o regime cambial é um dos ingredientes do conjunto de políticas que, no seu entendimento, explicam a boa fase da economia.

- Na tentativa de resolver problemas de setores específicos, não podemos estragar conquistas que geram benefícios para a maioria da população - reforçou.

Há cerca de uma semana, a cotação do dólar caiu abaixo de R$ 2,00, apesar das compras elevadas da moeda americana realizada pelo BC, nos mercados à vista e futuro. Com a valorização do real, que encarece os produtos brasileiros no exterior, empresas brasileiras estão perdendo capacidade de exportação. Ao mesmo tempo, as importações ficam mais baratas e tendem a crescer. Assim, de acordo com os parlamentares, as empresas nacionais podem ficar enfraquecidas e o país ser levado a crescente "desindustralização".

Balança comercial

Meirelles observou que as exportações continuam demonstrando dinamismo e que a balança comercial (diferença entre exportações e importações) deve fechar esse ano com superávit ao redor de US$ 47 bilhões, voltando a repetir o bom desempenho dos últimos anos. Salientou que mais da metade desse montante resulta das vendas de manufaturados, para mostrar que o câmbio não tem sido obstáculo absoluto para as empresas industrias que operam no exterior.

- O Brasil voltou a recuperar fatia maior das exportações mundiais, o que significa que nossas exportações estão crescendo mais que a média mundial - acrescentou.

Juros

Outro foco das críticas foram os juros praticados no país, por contribuírem para atrair recursos especulativos para o mercado brasileiro e, assim, reforçar a tendência de valorização do câmbio. Chegou a ser lembrado que o Tesouro Nacional "sangra" por dia, com juros, quantia suficiente para a construção de 45 mil casas populares. A cobrança foi por uma redução mais rápida da taxa Selic, a taxa referencial de juros fixada pela diretoria coletiva do BC, agora situada em 12,5% ao ano.

Meirelles, em resposta, afirmou que os juros têm caído de forma consistente desde que ele chegou ao BC, quando a Selic estava no patamar de 25% ao ano. Salientou que a responsabilidade da instituição é fixar taxa adequada para que a inflação fique dentro da meta fixada - para este ano, 4,5%, mesma meta do ano anterior, quando o resultado ficou ainda abaixo, com o IPCA (IBGE) ficando em 3,1%.

O presidente do BC disse que a estabilidade explica a melhora de todos os indicadores da economia brasileira, como a queda do risco-país e, em conseqüência, a redução dos custos de financiamento interno e externo, tanto para o governo como para as empresas, a melhoria da renda e também do nível de emprego, que teria chegado em abril a resultado líquido de 300 mil novos postos, segundo ele o melhor resultado para o mês em todos os tempos.

Tarifas bancárias

O presidente do BC foi também cobrado a adotar medidas para a redução das tarifas bancárias no país, depois de alertado que os valores já estão permitindo a vários deles pagar integralmente as folhas de pessoal com as receitas arrecadadas. Meirelles afirmou que a instituição não está legalmente habilitada a fixar tabelas, mas cumpre a obrigação de divulgar os valores cobrados pelos bancos, informações disponibilizadas em sua página na Internet.

Com base nos dados sobre as tarifas,salientou Meirelles,a população poderá escolher a instituição com custos mais favoráveis e até, se achar conveniente, questionar os valores junto aos órgãos de defesa do consumidor, uma vez que o Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu que os serviços bancários estão enquadrados nas relações de consumo.

A audiência, em cumprimento a dispositivo da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), foi realizada em conjunto por comissões temáticas da Câmara e do Senado. Por esta Casa, participaram as comissões de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor, Fiscalização e Controle (CMA) e a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).



24/05/2007

Agência Senado


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