Pronunciamento de Serra frustra as expectativas








Pronunciamento de Serra frustra as expectativas
O esperado guia do tucano, no qual se esperava uma grave denúncia contra o candidato petista, não passou de uma fusão de ataques feitos por Serra contra Lula durante a campanha eleitoral

SÃO PAULO – O esperado pronunciamento no horário eleitoral do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, no qual se anunciava uma grave denúncia contra o candidato do PT a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, não passou de uma fusão de ataques feitos pelo tucano durante a campanha contra o petista. Apesar do discurso duro, a acusação mais grave feita por Serra foi dizer que a eleição de seu adversário “deixaria o Brasil diante de duas possibilidades: estelionato eleitoral ou ruína”.

“Ou ele cumpriria seus compromissos recentemente assumidos com os empresários, e estaríamos, assim, diante do maior estelionato eleitoral, depois da eleição de Collor, ou, se tentasse cumprir suas promessas mágicas com a população, levaria o Brasil à ruína”, disse o tucano.

Durante mais da metade dos 10 minutos reservados a seu programa, o tucano atacou Lula por “fazer discursos diferentes, para públicos diferentes”, e disse que tais palavras “parecem promover a união, mas, na prática, só produzem frustração”.

Apesar das palavras, Serra disse que não pretendia vender Lula como “um demônio
perigoso, coisa que muitos fizeram no passado, e que não é correto, está errado”.

Segundo ele, “Lula também não é um santo, mas um candidato como ele próprio, e, por isso, deve ser questionado”, aproveitando para criticar a ausência de Lula nos debates para o segundo turno. Disse que petista “não vai para escapar dessas questões, que seriam fundamentais para que o País saiba no que estará votando”.

O ataque de Serra acabou servindo como resposta às palavras de Lula, que teve o programa exibido antes e também falou diretamente aos eleitores, ocupando também mais da metade de seu espaço. Ele disse que nesta eleição “o povo não quer mais errar, pois sempre arca com a maior fatia de sacrifício”.

Depois, afirmou que o Brasil está diante de “uma crise séria, que não é nova”, e criticou a política econômica “totalmente equivocada” do governo, citando o aumento da dívida pública “como uma tremenda bola de neve que faz faltar dinheiro para projetos sociais e investimentos de infra-estrutura”.

No momento mais contundente de sua fala, o petista disse: “Diante da possibilidade real de vencer as eleições, não posso permitir que a equipe econômica tente fugir da responsabilidade pela crise”. Lula chamou de “inaceitável” a tática usada pelo candidato do Governo, “que tenta de forma absolutamente irresponsável amedrontar o
povo brasileiro”. Disse que Serra foi responsável pela “desastrada” política de privatizações.


Lula diz iniciar semana mais comprida da sua vida
SÃO PAULO – Começou ontem a “semana mais comprida” da vida do candidato à Presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva. A definição foi dada pelo próprio petista no início de uma carreata, ontem pela manhã, por bairros da Zona Sul de São Paulo: “Companheiros, essa carreata marca o início da semana mais comprida da nossa vida.

E vamos acabar esta semana com a vitória”, foi a única frase de Lula durante a
carreata.

O candidato petista chegou à concentração do ato com uma hora e meia de atraso.

Abraçando eleitores, Lula apareceu sorridente, mas com aparência cansada, ao lado da mulher, Marisa.

No carro de som, Lula, de camisa pólo vermelha e óculos escuros, e Marisa, de camiseta branca com uma estrela vermelha e chapéu de palha, foram acompanhados pelo candidato do PT ao Governo se Sâo Paulo, José Genoíno, pelo senador eleito Aloizio Mercadante (PT-SP) e pela prefeita Marta Suplicy.

Marta não foi poupada de constrangimentos em ruas do bairro do Capão Redondo que ficaram alagadas devido à chuva do dia anterior. “Dona Marta, olha aqui esses bueiros entupidos”, gritavam transeuntes, recebendo da prefeita acenos e sorrisos.

A carreata durou quase três horas. Segundo os organizadores, reuniu mais de mil carros e percorreu cerca de 40 quilômetros por quatro bairros da Zona Sul. Em cima do carro de som, ao microfone, Genoíno animava os militantes. Alternava com um clone da voz de Lula, o presidente do diretório petista da Zona Sul, Glauco Piai, 30 anos. “Cadê as buzinas, cadê as bandeiras, companheiros?”, Gritava Glaucom imitando a voz do presidenciável.

A certa altura do trajeto, os petistas se encontraram com partidários da candidatura do governador e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB), que participavam, nas proximidades, da festa de inauguração da linha 5 do metrô, que liga o Largo Treze de Maio, em Santo Amaro, ao bairro Capão Redondo, também na Zona Sul de São Paulo.

Embora muitos participantes de ambos os lados tenham trocado gestos obscenos, o
encontro das carreatas foi pacífico, marcado apenas por um buzinaço.

Lula seguiu da carreata direto para sua casa, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, para almoçar com a família.


Ciro diz temer que petista “se torne um De la Rúa”
FORTALEZA – Recém-aliado a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, o candidato derrotado a presidente Ciro Gomes (PPS) afirmou que teme que o petista “se torne um De la Rúa”, caso decida manter o modelo econômico vigente, referindo-se ao ex-presidente da Argentina Fernando de la Rúa, que renunciou no ano passado com a explosão da crise financeira.

“Tenho medo de que, quando ele olhar o rosto dessa crise, quando ele olhar a complexidade dela, haja uma variante de conciliação com essa turma que dominou o eixo do Governo Fernando Henrique. O risco é De la Rúa. De la Rúa no aspecto político”, afirmou Ciro ao jornal cearense O Povo.

“A crise do modelo que está aí é estrutural e precisa uma audácia monstruosa para ser desarmada. Exige uma noção de tempo e uma capacidade de correr riscos, que eu espero muito que ele tenha. Por isso que eu estou apoiando Lula”, disse o ex-ministro.

Na entrevista, Ciro ainda criticou o petista, por ele “querer ver o tempo passar para não discutir a crise financeira do País”. “Tudo o que Lula deseja, e eu não acho essa a melhor atitude, é ver o tempo passar. Isso para não discutir, porque tem fragilidades conceituais graves, que talvez não dê a ele a oportunidade de enfrentar bem essa discussão”, disse. “Eu espero que ele faça isso apenas como processo eleitoral, mas que para governar seja capaz de perceber isso”, completou.


Fome atinge cerca de 54 milhões de brasileiros
O grupo Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela Vida começou ontem em todo o País a campanha Natal sem Fome. Somente no Rio de Janeiro foram doadas cerca de 115 toneladas de alimentos

RIO – Na abertura da décima campanha Natal sem Fome, organizada pela Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela Vida, 115 toneladas de alimentos foram doadas ontem no Aterro do Flamengo. O lançamento teve uma mesa de um quilômetro de frutas e biscoitos, distribuídos à população depois da uma rápida solenidade em que organizadores e autoridades cantaram o Hino Nacional e soltaram bolas brancas nas pistas de lazer do parque.

Vinte e oito cartazes indicavam o número de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza em cada um dos 27 Estados e no País. Segundo o coordenador da Ação da Cidadania, Maurício Andrade, citando dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), hoje são 54 milhões de brasileiros sem condições de comer adequadamente. O coordenador lembrou que, em 1993, quando o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, deu início à campanha Na tal sem Fome, os miseráveis eram 32 milhões. Atualmente Daniel de Souza, filho do falecido Betinho, é um dos coordenadores da campanha.

As doações serão recolhidas em 300 pontos a serem instalados a partir desta semana na cidade. A expectativa dos organizadores é de ultrapassar as 4 mil toneladas de alimentos arrecadadas em todo o Brasil no ano passado, distribuídos para 2 milhões de pessoas. No Rio, foram mil toneladas que garantiram a ceia de Natal de 500 mil pobres.

Do total arrecadado ontem, 5 toneladas foram de doações espontâneas da população. A maior parte veio de duas empresas, uma de alimentos, Kraft Foods (60 toneladas), e outra farmacêutica, Altana Pharma (50 toneladas).

A Ação da Cidadania entregou aos candidatos à Presidência da República uma proposta de erradicação da fome, por meio da expansão da lavoura do feijão, o que permitiria, em um ano, distribuir uma cota mensal para cada família que vive abaixo da linha da pobreza. “Os candidatos se comprometeram a tentar implementar. Espero que não fiquem na promessa”, disse o coordenador.

A governadora Benedita da Silva esteve no lançamento da campanha e lamentou o fato de que, mesmo com uma campanha de alcance nacional, o problema da miséria continue crescendo no país. A secretária municipal de Habitação, Solange Amaral, representou o prefeito Cesar Maia no evento e lembrou que a prefeitura tem compromissos com a erradicação da fome na cidade, por meio de projetos em creches, escolas e cozinhas comunitárias.


Governo fará licitação para rádios e TVs
BRASÍLIA – O Governo federal fará licitação para emissoras de rádio FM e geradoras de TV. O edital com o preço mínimo deverá ser publicado nesta semana e, pela primeira vez, empresas podem participar do processo de compra dos canais. São 16 canais de rádio FM e sete geradoras de TV.

A participação de empresas nesse processo será possível devido à emenda constitucional, aprovada no primeiro semestre no Congresso, que permite a participação em até 30% de capital estrangeiro em jornais, revistas e emissoras de TV e rádio. A emenda permite ainda que pessoas jurídicas nacionais possam participar de até 100% dessas empresas.

Antes da aprovação da emenda, apenas brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos podiam ter jornais, revistas e emissoras de rádio e TV.

As geradoras de TV serão licitadas para Rio Branco (AC), Manaus (AM) e cidades no
interior do Acre, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Amazonas e Pará.

As rádios FM irão para cidades no interior de Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Rondônia, Acre, Amazonas, Goiás e Pernambuco.

No segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, foram abertos processos de licitação para 1.038 canais de rádio FM e 53 geradoras de TV. A maior parte dos processos foi aberta entre 2000 e 2001. Foram 253 processos de canais de rádio FM em 2000 e 674 no ano passado. Já de TVs foram seis em 2000 e 29 no ano passado.


Colunistas

PINGA FOGO – Inaldo Sampaio

Reforma política
Toda vez que acaba uma eleição, a “reforma política” entra na ordem do dia. Diz-se ser necessário mudar isso, que é preciso reformular aquilo outro, a fim de dar mais legitimidade à nossa representação político-parlamentar, porém a verdade é que ninguém sabe precisar direito o que é que deve ser mudado em nosso arcabouço jurídico-eleitoral. Há muitos projetos em tramitação no Congresso mas a finalidade da maioria deles não é aperfeiçoar a democracia. É acabar com os pequenos partidos para que restem apenas os partidos grandes.

Analisando-se superficialmente o resultado das eleições deste ano, conclui-se: nossa representação parlamentar, com raras exceções, é produto de uma dessas quatro coisas: apoio da máquina governamental, poder econômico, Igrejas Evangélicas e corporações sindicais (aqui incluídas as duas polícias). Algumas exceções são Paulo Rubem, Roberto Magalhães, Arraes, Joaquim Francisco, Roberto Freire , Fernando Ferro e Gonzaga Patriota. São todas pessoas de classe média, que conseguiram chegar à Câmara Federal sem depender daquelas estruturas.

Conclusão: ou se faz uma reforma política para que pessoas de classe média possam disputar, com chance, mandato de federal ou de estadual, ou qualquer mudança que se fizer nessa área será falsa.

Emissários de Deus
A bancada evangélica na Câmara Federal saltou de 23 para 42 parlamentares.

Pernambuco mandou dois para lá - Francisco Olímpio, do PSB, e Marcos de Jesus, do PL - e outros dois para a Assembléia Legislativa: Manoel Ferreira, do PPB, e Dilma Lins, do PL. Olímpio e Ferreira são da Assembléia de Deus e Marcos de Jesus e Dilma Lins da Igreja Universal. O 2º representante da Assembléia de Deus era Salatiel Carvalho (PPB), que não conseguiu ser reeleito. É o 1º suplente.

Quem avisa...
Cacique do PFL está receoso de um possível fracasso da passeata pró Serra que se realizará no Recife na próxima 3ª feira. “Deveríamos fazer esse ato num recinto fechado e não em praça pública. Não há entusiasmo em nossa militância, o que pode transformar essa passeata numa coisa burocrática, fria, insossa e sem qualquer emoção”.

Sexto colocado
Ao contrário do que se imaginava, não foi o Recife que deu a Lula no 1º turno o maior percentual de votos dentre as capitais brasileiras, e sim Salvador: 73,69%. O 2º maior percentual foi de Teresina (60,39), o 3º de João Pessoa (60,08), o 4º de Florianópolis (59,87) e o 5º de Belo Horizonte (58,42). O Recife ficou na 6º colocação: (50,50).

Garotinho ficou em terceiro na capital de PE
Os maiores percentuais de Serra no 1º turno foram obi por Porto Alegre (31,52), São Paulo (30,66), Campo Grande (25,26), Goiânia (23,71), Curitiba (22,77) e Recife (21,74). Garotinho foi o 3º no Recife (19,83) e Ciro o 4º (7,60).

Médico troca o PT pelo PPS e não renova mandato
O médico pernambucano José Augusto Ramos, que era deputado estadual em São Paulo pelo PPS após ter sido prefeito de Diadema e deputado federal pelo PT, não foi reeleito. Atribui-se a sua derrota à troca do partido.

Campeão de votos
Um dos deputados federais eleitos por Alagoas foi o usineiro João Lyra (PTB), pai de Teresa Collor. Ele foi o campeão de votos no Estado (112.949). Em 1990, durante o reinado “collorido”, ele tentou ser senador por Roraima com o apoio do então presidente mas não deu. Sobrou grana mas faltaram votos.

Donos dos votos
Além de Carlos Eduardo Cadoca (211.826), o PMDB teve mais quatro candidatos como campeões de voto nos seus estados para a Câmara Federal: o paraibano Wilson Santiago (99.941), o gaúcho Eliseu Padilha (190.392), o rondoniense Confúcio Moura (39.559) e o paraense Jáder Barbalho (344.018).

Do prefeito do Cabo, Elias Gomes (PPS), sobre ter sido chamado de “oportunista” pelo deputado Lula Cabral (PMDB) por estar apoiando Lula no 2º turno: “O meu partido é muito incompreendido, mas se há um pessoa que não tem autoridade para falar mal dele é o Sr. Lula Cabral. Não passa de uma barata tonta!”

De João Lyra Neto (PT), ex-prefeito de Caruaru, sobre o endurecimento do guia de Serra em relação à figura de Lula: “a tática de Serra não é construir sua candidatura e sim destruir a dos outros. Vai perder por uma diferença histórica, pois além de ser um candidato chato e antipático, tem o apoio de um governo desgastado”.

Em relação a 98, os cinco partidos da base de sustentação de FHC tiveram suas bancadas diminuídas em 2002. PFL caiu de 105 para 84 (-21), o PMDB de 83 para 74 (-9), o PSDB de 99 para 71 (-28), o PTB de 31 para 26 (-5) e o PPB de 60 para 49 (-11). Se a tradição da Câmara for mantida, o futuro presidente será do PT.

À exceção do PDT, todos os pa rtidos esquerdistas ampliaram suas bancadas na Câmara Federal em relação a 98. O PT saltou de 59 para 91, o PPS de 3 para 15, o PCdoB de 7 para 12, o PSB de 18 para 22 e o PV de 1 para 5. O PDT caiu de 25 para 21 e o PL, graças à aliança com o PT, pulou de 12 para 26. O Prona elegeu 1 em 98 e 6 em 2002.


Topo da página



10/21/2002


Artigos Relacionados


Malan frustra mercado e dólar fecha a R$ 3,015

César Borges diz que reforma tributária frustra a sociedade

Para Marcon, unidade partidária frustra oposição

JÚLIO CAMPOS: SEGUNDO TURNO FRUSTRA VONTADE POPULAR

Fórum Democrátivo/Reunião em Frederico Westphalen frustra debate sobre orçamento

ARLINDO LEMBRA PRONUNCIAMENTO DE FHC