PSDB faz operação para atrair PTB e PPB









PSDB faz operação para atrair PTB e PPB
FHC também participa de "arrastão" para garantir apoio de congressistas em troca de emendas e cargos

Na sequência da decisão da Justiça Eleitoral que verticaliza as coligações e da promessa de guerra pefelista contra José Serra após a ruptura do PFL com o governo, o PSDB iniciou uma operação para atrair o apoio das bancadas do PTB, do PPB e do PMDB ao pré-candidato tucano à Presidência.

O presidente Fernando Henrique Cardoso é parte fundamental da "operação arrastão" porque ela tem também o objetivo de manter a sustentação do Executivo no Congresso -já que o PFL pode dificultar a tramitação de projetos de interesse do governo.

Os pefelistas romperam uma aliança de quase oito anos com o PSDB por pressão da pré-candidata do PFL, a governadora Roseana Sarney (MA). Roseana atribui a tucanos uma tentativa de complô político para prejudicá-la. FHC e PSDB negam.

Antes da decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que obrigou os partidos a seguirem nos Estados a coligação da eleição presidencial, FHC e Serra negociavam com a cúpula do PTB, do PMDB e do PPB. Agora, farão um corpo-a-corpo pela base, garantindo liberação de emendas, o que é vital em ano eleitoral.
O presidente e o pré-candidato tucano ao Planalto tentam convencer congressistas de que, com a decisão do TSE, é melhor procurar um "guarda-chuva" nacional de partidos para facilitar-lhes a reeleição. Com uma aliança proporcional fraca, muitos desses congressistas podem não alcançar o coeficiente eleitoral.

Serra e seus articuladores têm em mãos uma relação de congressistas do PTB que já estão procurando para minar o acordo da cúpula do partido para apoiar o ex-ministro Ciro Gomes (PPS).

FHC prometeu cargos aos petebistas, caso eles abandonem Ciro. O presidente também se reuniu no sábado com peemedebistas, como o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e marcou encontro para amanhã com a bancada do PPB (49 deputados federais e 3 senadores).

Escudeiro de Serra, o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães Jr., já falou diretamente com quase 10 dos 34 deputados federais, entre os quais Sérgio Reis (SE), Carlos Dunga (PB), Iberê Ferreira (RN), Nelson Trad (MS), Ricardo Izar (SP) e Duílio Pisaneschi (SP). O PTB tem quatro senadores.

O ministro Arthur Virgílio (Secretaria Geral), operador do troca-troca com o chamado "baixo clero" do Congresso, também atua nessa operação.

Uma eventual aliança PSDB-PTB teria ainda o efeito de compensar a provável perda do PFL para a candidatura à reeleição do governador tucano Geraldo Alckmin (SP). FHC se surpreendeu quando Alckmin reclamou recentemente da decisão do TSE, atribuindo a Serra o papel de inspirador da verticalização.
Sem o PTB, Ciro perderia tempo de TV e correria o risco de ver o PDT de Leonel Brizola também pular fora do barco. Na avaliação de FHC e de Serra, não é somente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que pode ser beneficiário de uma queda de Roseana nas pesquisas. Ciro, por ser do Nordeste, região da pefelista, herdaria votos.

Em relação ao PPB, o governo quer que o partido pense duas vezes antes de aderir à Roseana, principalmente após a operação da Polícia Federal na Lunus, empresa da governadora e do marido, Jorge Murad (gerente de Planejamento no Maranhão).

O ministro Francisco Dornelles (Trabalho), defensor da aliança com o PSDB, ajuda a fazer a ponte entre pepebistas e governo.

No PMDB, que tem 89 deputados federais e 22 senadores, o trabalho é para evitar que uma minoria da cúpula reverta a tendência pró-Serra e se alie a Roseana. O PFL oferece alianças estaduais vantajosas para o PMDB em colégios eleitorais importantes, como Rio, Minas e São Paulo.

FHC avalia que Serra precisará dos peemedebistas mais do que nunca. O partido ganhará cargos com a saída do PFL do governo.


Cúpula do PFL pressiona, e presidente da CEF se demite
Emílio Carazzai alega atender a pedido de Marco Maciel

Pressionado pela cúpula do PFL, o presidente da Caixa Econômica Federal, Emílio Carazzai, pediu demissão ontem. Segundo Carazzai, o vice-presidente da República, Marco Maciel, que o indicou, telefonou para ele às 9h30, solicitando que saísse do governo.

O presidente do PFL, o senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), ficou contrariado com a tentativa de Carazzai de ficar no cargo. O presidente da Caixa, que não é filiado ao PFL, alegou ser um "técnico" para ficar no posto. Disse que atendia a pedido do ministro Pedro Malan (Fazenda).

É fato que Malan o convidou, mas também é fato que Carazzai era sustentado politicamente pela ala pernambucana do PFL.

Bornhausen divulgou nota dura na sexta. Pediu que tanto os filiados ao PFL como os indicados pelo partido saíssem dos cargos por questão de "caráter". A exceção é o secretário da Receita, Everardo Maciel, que poderia continuar.

Telefonemas
Bornhausen telefonou anteontem a Marco Maciel, chefe do PFL de Pernambuco, e disse que a permanência de Carazzai daria a impressão de um rompimento de fachada. O vice-presidente, então, ligou para Carazzai.
Carazzai disse, por meio de sua assessoria, que ficará no cargo até que Malan ache um substituto. Para o cargo está cotado o ex-presidente do Banco do Brasil Paolo Zaghen, que preside a Brasilcap. Zaghen é amigo de Andrea Calabi, economista próximo de Serra. Sua nomeação interessa tanto ao PSDB quanto à equipe econômica por suas características técnicas.

Em nota, Carazzai disse ter recebido um apelo de Marco Maciel. "Por lealdade, revejo minha decisão de continuar no cargo. (...) Com o gesto, espero contribuir para a harmonia política do país."

Bornhausen deseja manter pontes políticas com o governo, mas, como era contrário ao rompimento, quer que o partido saia mesmo dos cargos. Ele ficou sem margem de manobra depois que a governadora Roseana Sarney (PFL-MA) ameaçou abandonar sua pré-candidatura presidencial se a sigla não deixasse o governo.
Roseana atribui ao governo e ao PSDB uma tentativa de prejudicá-la a partir da operação da Polícia Federal que apreendeu documentos e R$ 1,34 milhão na empresa dela e do marido, Jorge Murad. FHC e os tucanos negam.

FHC recebeu ontem no Palácio da Alvorada o vice-presidente do Senado, Edison Lobão (MA). Ligado ao clã Sarney, Lobão disse que FHC esperava reatar com o PFL, ainda que num eventual segundo turno da eleição. O presidente pediu ajuda para convencer o PFL a votar logo a CPMF.


"Por lealdade, revejo decisão de ficar no cargo"
Leia a seguir a íntegra da nota divulgada ontem pelo presidente da CEF, Emílio Carazzai:

"Encaminho hoje ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, pedido de demissão da presidência da Caixa Econômica Federal. Recebi do vice-presidente Marco Maciel apelo pessoal neste sentido. Tenho pelo vice-presidente enorme respeito e antiga amizade. Por lealdade, revejo minha decisão de continuar no cargo que ocupei, durante três anos, com espírito público e total dedicação.

Na última quinta-feira, dia 7, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, distinguiu-me com convite para permanecer na presidência da Caixa. Meus sentimentos de admiração genuína, de profunda gratidão e de disciplina pelo apoio e deferência com que sempre me brindou, levaram-me a acatar sua decisão.

Por meio de seu porta-voz, o presidente Fernando Henrique Cardoso reafirmou a confiança em meu nome. A liderança e a orientação do presidente foram essenciais para a gestão da Caixa, resultando em superiores serviços prestados à sociedade brasileira. Sinto-me honrado por ter feito parte deste governo e sensibilizado pelas manifestações de reconhecimento e apreço.

Com este gesto, espero contribuir para a harmonia política e par a o engrandecimento do país."


Papéis da Lunus são levados para Brasília
Os documentos apreendidos há dez dias na sede da empresa Lunus, da governadora Roseana Sarney (PFL-MA) e de seu marido, Jorge Murad, serão transportados hoje de São Luís para Brasília por determinação do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Segundo o superintendente da PF (Polícia Federal) no Maranhão, delegado Augusto César Serra Pinto, o R$ 1,34 milhão encontrado no escritório durante a busca e apreensão feita por determinação da Justiça Federal do Tocantins continuará em São Luís. O dinheiro foi depositado na Caixa Econômica Federal e ficará à disposição da Justiça.

Ontem, Roseana passou a tarde reunida com o advogado da Lunus, Vinícius Berredo Martins. Recebeu e estudou documentos de seu advogado Luiz Carlos Bettiol, que fica em Brasília.

A governadora marcou uma reunião com seus assessores mais próximos para amanhã. Quer traçar um plano de comunicação para a fase inicial da campanha.

Ao mesmo tempo, os advogados estão trabalhando em conjunto -e com a consultoria de Saulo Ramos, advogado amigo da família Sarney- para cumprir a promessa da governadora ao PFL de, em 15 dias, apresentar uma explicação para as atividades da Lunus e, principalmente, para o dinheiro encontrado no cofre da empresa durante a operação policial. Já foram seis versões.

A apreensão dos documentos, comandada pela PF em cumprimento ao mandado judicial, foi realizada no último dia 1º e está relacionada às investigações de desvio de verbas da extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia).

Na semana passada, o ministro do STJ Ruy Rosado determinou a suspensão do inquérito criminal que gerou a ordem de busca e apreensão na Lunus e ordenou o envio para o tribunal de todos os documentos apreendidos. O argumento é que a governadora tem foro privilegiado.

Só o STJ pode processar e julgar governadores acusados de cometer crimes, enquanto o STF é o foro de ações penais contra o presidente, ministros e congressistas.


PSDB faz operação para atrair PTB e PPB
FHC também participa de "arrastão" para garantir apoio de congressistas em troca de emendas e cargos

Na sequência da decisão da Justiça Eleitoral que verticaliza as coligações e da promessa de guerra pefelista contra José Serra após a ruptura do PFL com o governo, o PSDB iniciou uma operação para atrair o apoio das bancadas do PTB, do PPB e do PMDB ao pré-candidato tucano à Presidência.

O presidente Fernando Henrique Cardoso é parte fundamental da "operação arrastão" porque ela tem também o objetivo de manter a sustentação do Executivo no Congresso -já que o PFL pode dificultar a tramitação de projetos de interesse do governo.

Os pefelistas romperam uma aliança de quase oito anos com o PSDB por pressão da pré-candidata do PFL, a governadora Roseana Sarney (MA). Roseana atribui a tucanos uma tentativa de complô político para prejudicá-la. FHC e PSDB negam.

Antes da decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que obrigou os partidos a seguirem nos Estados a coligação da eleição presidencial, FHC e Serra negociavam com a cúpula do PTB, do PMDB e do PPB. Agora, farão um corpo-a-corpo pela base, garantindo liberação de emendas, o que é vital em ano eleitoral.
O presidente e o pré-candidato tucano ao Planalto tentam convencer congressistas de que, com a decisão do TSE, é melhor procurar um "guarda-chuva" nacional de partidos para facilitar-lhes a reeleição. Com uma aliança proporcional fraca, muitos desses congressistas podem não alcançar o coeficiente eleitoral.

Serra e seus articuladores têm em mãos uma relação de congressistas do PTB que já estão procurando para minar o acordo da cúpula do partido para apoiar o ex-ministro Ciro Gomes (PPS).

FHC prometeu cargos aos petebistas, caso eles abandonem Ciro. O presidente também se reuniu no sábado com peemedebistas, como o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e marcou encontro para amanhã com a bancada do PPB (49 deputados federais e 3 senadores).

Escudeiro de Serra, o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães Jr., já falou diretamente com quase 10 dos 34 deputados federais, entre os quais Sérgio Reis (SE), Carlos Dunga (PB), Iberê Ferreira (RN), Nelson Trad (MS), Ricardo Izar (SP) e Duílio Pisaneschi (SP). O PTB tem quatro senadores.

O ministro Arthur Virgílio (Secretaria Geral), operador do troca-troca com o chamado "baixo clero" do Congresso, também atua nessa operação.

Uma eventual aliança PSDB-PTB teria ainda o efeito de compensar a provável perda do PFL para a candidatura à reeleição do governador tucano Geraldo Alckmin (SP). FHC se surpreendeu quando Alckmin reclamou recentemente da decisão do TSE, atribuindo a Serra o papel de inspirador da verticalização.
Sem o PTB, Ciro perderia tempo de TV e correria o risco de ver o PDT de Leonel Brizola também pular fora do barco. Na avaliação de FHC e de Serra, não é somente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que pode ser beneficiário de uma queda de Roseana nas pesquisas. Ciro, por ser do Nordeste, região da pefelista, herdaria votos.

Em relação ao PPB, o governo quer que o partido pense duas vezes antes de aderir à Roseana, principalmente após a operação da Polícia Federal na Lunus, empresa da governadora e do marido, Jorge Murad (gerente de Planejamento no Maranhão).

O ministro Francisco Dornelles (Trabalho), defensor da aliança com o PSDB, ajuda a fazer a ponte entre pepebistas e governo.

No PMDB, que tem 89 deputados federais e 22 senadores, o trabalho é para evitar que uma minoria da cúpula reverta a tendência pró-Serra e se alie a Roseana. O PFL oferece alianças estaduais vantajosas para o PMDB em colégios eleitorais importantes, como Rio, Minas e São Paulo.

FHC avalia que Serra precisará dos peemedebistas mais do que nunca. O partido ganhará cargos com a saída do PFL do governo.


País pode crescer 4,5%, diz Serra a banqueiros
O presidenciável tucano José Serra (PSDB) fez campanha eleitoral para um grupo de banqueiros, formado na maioria por estrangeiros, e prometeu, em seu discurso, alcançar um crescimento anual para o país de 4,5% até 2006, caso seja eleito. O evento, promovido pelo Citibank, ocorreu ontem à noite em um hotel de Fortaleza, cidade que abriga encontro do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Além da meta de crescimento, Serra afirmou que será possível chegar a uma inflação anual de 2,5% ao ano, como nos países desenvolvidos, e a uma taxa de juros anual de 6%, até a metade da década. "Vamos unir crescimento econômico e justiça social." Esse foi o slogan usado pelo tucano.

O discurso tinha como objetivo tranquilizar os investidores de que o governo brasileiro terá uma continuidade, mas, ao mesmo tempo, mudanças, como definiu o próprio Serra após sua fala.
Além da reforma fiscal, considerada pelo tucano como fundamental para se chegar a esses números, outra prioridade é o crescimento das vendas para o mercado externo. "A conquista dos mercados externos exigirá uma nova mentalidade a ponto de tornar-se uma verdadeira obsessão."

Pelo menos 60% da platéia de banqueiros -estavam presentes cerca de cem pessoas- teve de usar fones de ouvido para ouvir a tradução simultânea da fala de Serra, que preferiu falar em português. O seu currículo, porém, foi lido anteriormente em inglês.

"Só vim falar sobre economia para um público que gosta do tema", explicou o presidenciável.

Serra aproveitou para criticar os "frequentes abusos protecionistas", ao referir-se à medida tomada pelos EUA sobre o aço. "O Brasil está pagando o preço porque tem uma indústria mais competitiva que os EUA", disse.
Ele chegou a criticar a crise energética vivida no ano passado pelo país chamando-a de "gargalo", mas destacou os esforços que já estão sendo feitos para multiplicar a oferta de energia.

Ele chegou a Fortaleza no mesmo vôo do presidente Fernando Henrique Cardoso e assistiu à palestra de FHC sobre democracia na América do Sul, com a presença de Alejandro Toledo (Peru) e Gustavo Noboa (Equador).

"Isso não é uso da máquina?", brincou o senador tassista Lúcio Alcântara (PSDB-CE), ao ser informado de que Serra chegara a Fortaleza no mesmo vôo de FHC.


PSB recorrerá de decisão do TSE, diz Garotinho
O governador do Estado do Rio, Anthony Garotinho (PSB), anunciou ontem que o partido recorrerá esta semana ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de proibir os partidos de firmarem nos Estados alianças diferentes das estabelecidas nas candidaturas à Presidência.
"Foi um golpe desferido especialmente contra a minha candidatura, não tenho dúvidas disso. Não foi contra o Lula, porque ele já está em queda nas pesquisas, nem contra a Roseana [Sarney", que está com a candidatura já complicada, mas contra uma candidatura que já vinha crescendo. Subi de 7% em setembro para 15% em fevereiro", afirmou.

O governador, que se reuniu à tarde com cerca de 60 prefeitos e 16 deputados (estaduais e federais) fluminenses, reafirmou sua candidatura à Presidência -ele deixa o governo do Estado no dia 4 de abril para disputar a eleição- e descartou a possibilidade de alianças com o PT.

Garotinho criticou a atitude do governo no tratamento dado à ação da Polícia Federal na Lunus, de propriedade de Roseana e de seu marido, Jorge Murad.

"Os fatos são graves, envolvem dinheiro público e devem ser apurados. Mas há quanto tempo essas coisas são de conhecimento do grupo palaciano que governa o país há tanto tempo?", afirmou.

Ele disse ainda que tomou conhecimento de uma suposta espionagem a que Roseana e parentes estariam sendo submetidos, mas que não chegou a receber um dossiê. "Quando me trouxeram umas informações, liguei para o ex-presidente José Sarney [senador do PMDB e pai de Roseana] e disse: "olha estão circulando documentos muito sérios, acho que você deve tomar providências"."

O governador não revelou o nome de quem lhe teria trazido as informações. "Eu disse a ele [Sarney] quem era."

Garotinho ratificou a candidatura de sua mulher, Rosinha, ao governo do Estado. "Foi lançado um vice para ela, o ex-prefeito Luiz Paulo Conde." Conde disse à Folha que aceitou o convite.


Artigos

Por uma sociologia da bandalheira
Vinicius Torres Freire

SÃO PAULO - É compreensível que os episódios recentes e os que hão de vir na campanha eleitoral provoquem desprezo entediado ou repugnância. Mas tais reações não deveriam limitar a compreensão e a crítica da bandalheira à psicologia da elite, a legalismo ingênuo ou a moralismos.

É ruim que vazem trechos escolhidos a dedo de processos inconclusos? É. Como a Justiça funciona muito mal, carnavalizaram os processos, em tribunais ou CPIs. A figura pública objeto de "denúncias" nem bem é absolvida nem condenada à cana dura. Paira no limbo dos "envolvidos" nisso ou naquilo, num ostracismo moral que pode durar meses ou anos. Essa é a nossa Justiça real, não a dos manuais de direito.

Mas fingir que denúncias de rolos e bandalhas não existem, jamais publicá-las, é limitar o conhecimento dos negócios e da política reais do país a grandes empresários, à elite da burocracia e da política e a jornalistas, entre os quais as notícias de mamatas começam a circular. Por que o povo não pode saber também, depois de as informações terem passado por uma peneira técnica?

Por falta de publicidade (que hoje chamam de "transparência", essa tolice) é que eleições se lutam na lama. Sudans, agências, conselhos de fundos públicos, a todos falta publicidade de seus atos e controle popular e democrático. É por isso que em reuniões escusas se aprovam verbas para amigos, negociatas etc.

Como falta publicidade, o caldo da bandalha engrossa até que um interessado poderoso destampe a panela de pressão. É na disputa de neocoronéis, de grandes negócios públicos ou de eleições renhidas que o caldo entorna. Como não temos publicidade sistemática de atos públicos, dependemos desses duelos. Essa é a nossa "accountability" (prestação de contas, em tucanês) real.

O país real ainda é pouco institucionalizado, democrático e nada popular, como se vê nos momentos em que se rasga nossa fantasia de civilização. Mas criticar só a "baixaria" é psicologizar, em caldo moralista, um problema do país real, e não apenas do caráter de fulano ou beltrano.


Colunistas

PAINEL

Chega de inimigos
Conselho de FHC para José Serra: se o pré-candidato tucano não melhorar sua articulação política, ouvindo menos o grupo que o estimula a pôr lenha na fogueira com o PFL, pode naufragar na eleição. Ou, na melhor das hipóteses, ter dificuldade para governar, se ganhar.

Novo Arruda
FHC também está preocupado com a proximidade de Serra com Márcio Fortes, secretário-geral do PSDB e deputado federal do Rio, acusado por Garotinho de estar operando na perigosa área de dossiês. Fortes é um peso que precisa ser, sutilmente, retirado da linha de frente da campanha serrista, crê FHC.

Freio de mão
O Planalto não vai fazer nenhuma nomeação importante nem substituirá ninguém na máquina do governo enquanto não for votada a CPMF. Para evitar novas confusões.

Rota de fuga
Preocupado com o futuro da candidatura Roseana Sarney, um dirigente do PFL procurou Aécio Neves (PSDB), presidente da Câmara, para dizer ao tucano mineiro que ele é o plano B do partido. O PFL não aceita apoiar o ex-ministro José Serra.

Esperar para ver
Aécio respondeu ao pefelista que não há possibilidade de candidatar-se à Presidência. O dirigente do PFL ouviu, mas não se convenceu. Acha que o presidente da Câmara apenas não quer dar a impressão de que torce pela inviabilização de Serra.

No fígado
A divulgação das imagens do dinheiro apreendido na empresa de Roseana é considerada pelo núcleo da campanha da pefelista como o golpe mais duro contra a candidatura da governadora. Mais do que a própria ação da Polícia Federal no MA.

Alvos maranhenses
Roseana tem chamado a grupo de Serra de "banda irada" do PSDB. Seus líderes são chamados de "José Inábil [José Aníbal], Terrorista [Aloysio Nunes] e Motosserra [o próprio Serra].

Inimigos íntimos
O PFL registra duas dissidências no partido: os governadores Siqueira Campos (TO) e Jaime Lerner (PR) trabalhariam por Serra e contra Roseana.

Prazo de validade
FHC tem um desempenho pior do que o de José Serra (PSDB) quando incluído em pesquisa do Instituto GPP (contratado pelo PFL) como candidato à Presidência. O atual presidente tem apenas 8,3% das intenções de voto. Já o presidenciável tucano alcança 10,4%.

Intenção de voto
Lula lidera nos dois cenários pesquisados pelo GPP. Tem 29,7% quando confrontado com FHC e 28,7% contra Serra. É seguido por Roseana (26,3% ou 23,6%), Anthony Garotinho (13,1% e 11,8%) e Ciro Gomes (10,3% ou 10,8%).

Hit de campanha
Sábado, Eduardo Suplicy (PT), que disputará a prévia do PT para a Presidência, abriu sua palestra no 1º Congresso da Rede da Renda Básica nos Estados Unidos cantando "Blowin" in the Wind", de Bob Dylan.

Mãos dadas
A escolha de Ricardo Barros (PR) para a liderança do governo no Congresso praticamente selou o apoio do PPB, partido de Paulo Maluf, a Serra. A sigla ainda pode ganhar mais um ministério depois de abril.

Conta própria
O PTB calcula que a aliança trabalhista terá 22 candidatos a governador: dez petebistas, seis do PPS e seis do PDT. Se o partido tivesse se coligado ao PSDB, teria apenas dois candidatos.

Vida nova
Chico Amaral, ex-prefeito de Campinas, vai cursar Jornalismo. Está com 79 anos.


TIROTEIO
De Geddel Vieira Lima (BA), líder do PMDB na Câmara, sobre ACM, que disse que não valia reunião do PFL sem ele, não ter participado dos encontros do PFL que decidiram pelo rompimento com o governo:
- Está definitivamente comprovado que as reuniões do PFL que têm validade e decisão são justamente aquelas sem a presença de ACM.


CONTRAPONTO
Vôo de carreira
Na semana passada, o PFL anunciou sua saída do governo FHC após receber um ultimato de Roseana Sarney.
A governadora exigiu que o partido deixasse o governo em resposta à ação da PF na empresa Lunus, de sua propriedade. No local, foram encontrados mais de R$ 1,3 milhão.
Para a pefelista, a operação da PF tinha uma motivação política. Teria sido preparada por tucanos para prejudicar a sua candidatura. Serra e o próprio FHC seriam os responsáveis.
Depois do rompimento, Inocêncio Oliveira, líder do PFL, voltou para Pernambuco. No avião, foi abordado pelo senador Carlos Wilson (PTB):
- Como é voltar pela primeira vez na vida para Pernambuco como um deputado de oposição -provocou o senador.
Inocêncio respondeu, irônico:
- Para falar a verdade, ainda não me acostumei...


Editorial

PROTEÇÃO IMPERIAL

O protecionismo norte-americano, reiterado no caso do aço, é mais uma ducha de água fria sobre os adeptos ingênuos das supostas virtudes da globalização.

Nessa globalização, a liberalização dos fluxos de comércio é receita para país pobre e dependente. No centro do império, a receita é outra.

A lição é importante também para fazer baixar o entusiasmo de alguns economistas e políticos que vinham defendendo a adesão quase incondicional do Brasil à Alca, a Área de Livre Comércio das Américas.
Mas não se trata de um impasse que afete apenas a posição brasileira.

É a própria viabilidade do sistema multilateral de comércio que está agora ainda mais ameaçada, depois de um período em que não faltaram guerras comerciais e medidas protecionistas adotadas por praticamente todos os países industrializados.

O sintoma desse fracasso é evidente no discurso do próprio Mike Moore, diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), que já recebeu as primeiras queixas formais contra as medidas dos EUA de elevação das tarifas de importação de aço. Diante das evidências de desregramento global, Moore prefere reafirmar-se neutro na disputa, pedindo aos países que resolvam tudo por si próprios. Afinal, é "sempre preferível que as questões sejam solucionadas entre os membros" da OMC.

Se o principal espaço multilateral para a resolução de conflitos é retirado da disputa, na prática vingará o interesse do mais forte, que é, indiscutivelmente na situação atual, o governo dos EUA.

O Brasil corre o risco de ser afetado de modo muito mais grave do que supõem os cálculos mais simplistas. Enfrentando negociações em várias frentes (OMC, Alca, União Européia e Mercosul), o tabuleiro sobre o qual se movimenta o Itamaraty torna-se mais complexo, turvo e conflituoso.

Afinal, o protecionismo dos EUA tende a provocar novas reações igualmente protecionistas em outros países, a começar da União Européia e do Japão. O impacto sobre os fluxos de comércio internacional pode gerar dificuldades até agora inimaginadas pela diplomacia brasileira.


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03/11/2002


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