PT defende a prisão perpétua









PT defende a prisão perpétua
Petistas endurecem o discurso de combate à violência e, embora divididos, discutem também o uso das Forças Armadas contra a criminalidade

SÃO PAULO – Dois dias após o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), lideranças petistas endureceram ontem o discurso, pedindo a presença das Forças Armadas no combate à criminalidade e a implantação de penas mais severas, incluindo prisão perpétua. O tom mais forte foi adotado por petistas que se reuniram em São Paulo em caráter emergencial, com o objetivo de discutir as ameaças de morte sofridas por integrantes do partido e debater as propostas para área de segurança.

Um dos que defenderam o uso dos militares no combate à violência foi o governador do Acre, Jorge Viana. Em seu Governo, Viana tem procurado dar destaque ao enfrentamento contra o crime organizado. Outro que defendeu a ação em caráter emergencial das Forças Armadas foi o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh.

O tema divide o partido. O deputado federal José Genoíno (SP) defende a ampliação da pena. “Defendo que se dê penas mais duras para seqüestradores que matam a vítima. O seqüestrador que matou uma dona de casa na frente de sua casa, em Campinas, e o que executou o Celso Daniel têm que ficar no mínimo 30 anos na cadeia”, afirmou.

Por sua vez, a senadora Marina Silva (AC), que participou da reunião da Executiva Nacional do PT e líderes do partido, em São Paulo, para discutir propostas relativas à segurança, acredita que a discussão sobre a prisão perpétua deve entrar no debate. “Concordo com a idéia da prisão perpétua. O grau de violência hoje está tão grave que temos que ter toda uma reestruturação do nosso sistema de punição e dos aparatos de segurança, para que os contraventores e os criminosos não contem com a quase certeza da impunidade”, disse.

ALIADOS – Enquanto os petistas defendem medidas duras, os partidos da base aliada do Governo – PMDB, PFL, PSDB e PPB – estiveram reunidos com Fernando Henrique. Decidiram que tratarão como prioridade, após a volta do recesso, no próximo mês, dos projetos de segurança pública que tramitam no Congresso. A idéia é unificar as polícias e criar uma espécie de Proer (ajuda financeira que o Governo deu aos bancos) para a segurança pública – o Proseg.

Participaram do encontro os presidentes do PMDB, Michel Temer; do PFL, Jorge Bornhausen; do PSDB, José Aníbal; e o vice-líder do Governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PPB-PR).
Segundo a Secretaria-Geral da Mesa da Câmara, são 70 propostas em tramitação. Entre elas a que estabelece normas de investigação de seqüestro, a emenda constitucional que modifica o sistema de segurança pública nacional, unificando serviços das Polícias Civil e Militar, e o projeto que cria a comissão permanente de segurança pública da Câmara.


Laudo indica que prefeito foi torturado
SÃO PAULO – Perícia do Instituto Médico-Legal (IML) concluiu ontem que o prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), foi espancado antes de morrer. Seu corpo apresentava vários sinais de escoriações. Outra conclusão: o prefeito foi atingido por sete tiros e dois deles lhe desfiguraram o rosto. Além disso, todos os disparos foram feitos a curta distância, a cerca de 30 centímetros.
“Ele sofreu muito antes de morrer”, disse um perito que participou da autópsia. As balas que atingiram Daniel eram de calibre nove milímetros, o mesmo calibre das que mataram o prefeito de Campinas, Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, em setembro do ano passado.

Ontem o empresário Sérgio Gomes da Silva, amigo do prefeito e que dirigia a Pajero no momento do seqüestro, depôs no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Sérgio chegou ao DHPP, às 16h, acompanhado de vários policiais e do delegado Dejar Gomes Neto, titular da delegacia seccional de Santo André, além do delegado assistente e do chefe dos investigadores.
O empresário é suspeito de ter ligações irregulares com fornecedores da Prefeitura. O nome de Sérgio constou de um dossiê com denúncias de favorecimento e enriquecimento ilícito que gerou uma representação ao Procurador Geral de Justiça.

Há menos de 13 anos, Sérgio Sombra, apelido recebido pela proximidade que tinha com o prefeito, vivia do salário de assessor de gabinete de Celso Daniel, em seu primeiro mandado. Poucos anos depois, virou empresário.

A MMC Automotores do Brasil S.A., representante no Brasil da marca japonesa Mitsubishi, descarta a hipótese de qualquer tipo de problema no Mitsubishi Pajero de onde seqüestradores retiraram o prefeito Celso Daniel. O destravamento das portas foi a versão dada por Sérgio Gomes para a abertura das portas – o que possibilitou o seqüestro.

“O sistema de trava estava e está funcionando”, afirmou o vice-presidente da MMC, Paulo Ferraz. Ele disse que a MMC não tem registro de ocorrência de destravamento de portas de veículos como o Pajero com o sistema de trava em funcionamento. Na avaliação do engenheiro Jairo Candido, presidente da Inbra Blindados, só há duas hipóteses para explicar a abertura das portas: elas não estavam travadas ou, no pânico, foram destravadas.


FHC recua da decisão de proibir celular pré-pago
Governo avalia que a proibição da venda dos telefones pré-pagos traria problemas econômicos e prejudicaria as classes mais baixas. O Planalto estuda agora a possibilidade de cadastrar todos os donos dos celulares

BRASÍLIA – O presidente Fernando Henrique desistiu de proibir a venda de celulares pré-pagos no País, apontados por ele de manhã como “instrumento do crime”. A medida, planejada para inibir a onda de seqüestros, foi descartada por motivos econômicos e por ser considerada impopular: os pré-pagos dominam o mercado de telefonia móvel do País e popularizaram o produto entre as classes sociais mais baixas.

Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações, dos 28.745.769 telefones celulares em funcionamento no Brasil, 19.544.207 são pré-pagos, o que representa 66% de toda a telefonia móvel no Brasil.

Em reunião no Palácio do Planalto para discutir a viabilidade da proposta apresentada na véspera pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o Governo decidiu estudar a alternativa de cadastrar os donos de celulares, como já é feito no Rio de Janeiro. Participaram da reunião com FHC o presidente da Anatel, Renato Guerreiro, e os ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, e das Comunicações, Pimenta da Veiga, além da secretária nacional de Justiça, Elizabeth Sussekind. No encontro também foi discutida a regulamentação e aprovação de sistemas que permitam o bloqueio de ligações de celulares em presídios, que poderá ocorrer em fevereiro.

O ministro Pimenta da Veiga levou à reunião argumentos contrários à proibição da venda de celulares pré-pagos. Segundo o ministro, “a decisão prejudicaria o sistema de telefonia celular e traria prejuízos para as operadoras e para a sociedade”. “Quem comete um ato como seqüestro evidentemente pode furtar um celular comum e usá-lo para os fins que quer se evitar agora. Se o pré-pago está contribuindo para alguma atividade ilícita, é de forma muito superficial”, disse o ministro.

O serviço móvel pré-pago começou a ser oferecido pelas operadoras em dezembro de 88. Um ano depois, este tipo de aparelho já respondia por 38% do mercado. Segundo o analista de telefonia móvel Luis Minoru, cerca de 90% dos novos usuários de celular optam pelo pré-pago.


PSDB aposta tudo na visita de Serra ao Recife
BRASÍLIA – A cúpula do PSDB aposta que a viagem do ministro da Saúde e presidenciável do partido, José Serra, ao Recife, na próxima segunda-feira, será o evento mais importante da campanha presidencial tucana, até que o candidato abandone de vez o Governo para cuidar de sua eleição. A expectativa otimista do alto tucanato tem duas explicações. Os serristas acreditam que a companhia oficial do presidente acabará explicitando a preferência de Fernando Henrique Cardoso por Serra, ao mesmo tempo em que o candidato avança rumo ao apoio do PMDB, com a boa recepção do governador Jarbas Vasconcelos.

Além da presença de Fernando Henrique e de Jarbas, o PSDB aposta no sucesso eleitoral da viagem por causa da agenda do ministro da Saúde. A assessoria de Serra está montando uma solenidade para comemorar o sucesso do Programa Agentes Comunitários – o ministério alcançou a meta de formar 150 mil agentes, cerca de um ano e meio antes do prazo previsto. Esse exército de agentes comunitários, com o uniforme do Ministério da Saúde, atua hoje em 4.786 municípios de todo País, cuidando da atenção básica de 88 milhões de brasileiros, metade no Nordeste.
O objetivo oficial da viagem é a condecoração de um agente de saúde que representará os 150 mil. O ponto alto da solenidade será a apresentação de um projeto de lei regulamentando a profissão desses agentes. O projeto, com assinatura conjunta do presidente Fernando Henrique e do ministro, será enviado ao Congresso em 15 de fevereiro.

De volta à política, o senador Serra tratará de defender a proposta, que tem arrancado aplausos insistentes dos agentes, sempre presentes em todas as solenidades do ministério. Hoje, esses profissionais participam das 13.168 equipes do Saúde da Família, participando de visitas para verificar as condições de saúde e de vida da população mais carente, orientando sobre nutrição e prevenção de doenças. Até o fim do ano, é prevista a contratação de mais 50 mil deles.

A data em que o ministro deixará o Governo ainda não está acertada. Mas mesmo que Serra consiga cumprir o cronograma que planejou, saindo no dia 20, não terá outra chance de desfilar como ministro, com o apoio de Fernando Henrique, pelo Nordeste – principal reduto da candidata do PFL e governadora do Maranhão, Roseana Sarney.


João Paulo avalia projeto do ICI
Prefeito discute com empresários locais e admite licitação para a informatização da Secretaria de Saúde. Hoje, ele faz reunião com o secretariado

No primeiro dia de atividades na Prefeitura do Recife, depois das férias, o prefeito João Paulo (PT) se reuniu, ontem, com representantes do mercado local de informática para discutir a informatização da Secretaria de Saúde. A polêmica sobre o possível contrato de R$ 21 milhões com o Instituto de Curitiba de Informática (ICI) foi apresentado ao empresariado como “uma possibilidade e não como uma definição.”

Os empresários saíram animados da reunião e, na próxima semana, apresentarão uma proposta com prazos e custos para o projeto. Eles deixaram claro, porém, que só participam do processo se forem responsáveis pelo sistema de informação. Não aceitam ser simples revendedores de equipamentos.

Segundo o secretário Waldemar Borges (Desenvolvimento Econômico), a possibilidade de abrir um processo licitatório também não foi descartada. “A PCR só irá decidir após ouvir todas as propostas. Não há nada acordado”, comentou.

Hoje, João Paulo se reúne com todo o secretariado municipal, no Mar Hotel, em Boa Viagem, no seminário Gestão Estratégica. Os trabalhos prosseguem amanhã e vão nortear as principais ações da PCR este ano. A grande esperança do prefeito é a participação da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), da Universidade de Brasília. A empresa foi contratada por cerca de R$ 5 milhões para, no período de um ano, prestar consultoria à administração direta. Ela será responsável pela consolidação do planejamento estratégico da Prefeitura.

João Paulo pretende virar a página dos equívocos cometidos no ano passado e que, provavelmente, ajudaram na queda de sete pontos percentuais na aprovação de sua administração. Ele caiu da quinta para a sétima posição no ranking Datafolha dos prefeitos de nove capitais. Para isso, o prefeito usará um discurso de união e também de incentivo. Conselheiros de bastidores asseguram que já disseram ao prefeito que não adianta chorar sobre o leite derramado.
Cada secretário terá 20 minutos para apresentar seus projetos. Na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, por exemplo, uma das prioridades a ser abordada é a implementação do Conselho do Fundo de Desenvolvimento da Economia Popular e Solidária do Recife, que permite a liberação de capital de giro para setores informais.


Prefeito descarta aumento da segurança
O prefeito João Paulo (PT) não aceitou ampliar sua segurança pessoal, em razão dos assassinatos dos colegas petistas Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, de Campinas, e Celso Daniel, de Santo André. Numa reunião realizada ontem com o assistente da Casa Militar, coronel José Ramos, João Paulo explicou que não pretende dar maior dimensão aos fatos ocorridos em São Paulo e que vai continuar realizando as atividades de rotina, como mergulhar na praia de Boa Viagem e visitar as comunidades.

“Nem mesmo colete à prova de balas o prefeito aceitou usar. Admito que estou bastante preocupado, porque os criminosos que agiram em São Paulo são ousados e a segurança do prefeito é de minha responsabilidade”, declarou o coronel José Ramos.

Ele disse que a decisão de João Paulo, no entanto, não inviabilizará a nova estratégia de segurança criada pela Casa Militar. “Não posso aumentar o número do efetivo sem a aprovação do prefeito, mas já estou colocando em prática estratégias que garantem a sua segurança e da sua família. Durante 24h João Paulo contará com segurança pessoal”, assegurou.

Quanto à proteção da primeira-dama, Luzia Jeanne, o coronel José Ramos disse que não poderá disponibilizar efetivo permanente por não ter sido autorizado.

“João Paulo disse que não vai mudar o seu jeito de governar, nem a rotina da sua família. Mesmo assim, já disponho de estratégias de proteção sigilosas - que não se caracterizam como aumento de efetivo - mas que também garantirão a segurança da primeira-dama e da sua família”, garantiu Ramos.


Artigos

Sociedade de ninguéns
Fátima Quintas

Sorriso forçado, a moça atendia delicadamente. Mãos tratadas, unhas pintadas, esmalte incolor, cabelos arrumados, maquiagem perfeita, havia pouco de humano naquela pessoa sentada ao pequeno birô, a receber carnês de prestações, pagamentos em atraso, contas com juros e correção monetária... A artificialidade capitaneava os gestos que deveriam seguir a orientação do chefe imediato. Ainda que alguns clientes a questionassem, o rosto permanecia aparentemente impassível. Nada abalava as lições recebidas. A moça aprendera a lidar com um público diversificado. A irritação morava na fila à sua frente. Depois da faixa amarela, tudo se transformava no falso riso de quem cumpre, com fiel obediência, as obrigações.

O potente aparelho de ar-condicionado não dava conta do enorme saguão cheio de clientes. Por certo, a contenção de energia mexera com os padrões normais dos gastos elétricos/eletrônicos, e a agência bancária se ressentia no item da aclimatação. Era preciso, portanto, aumentar a dose de afabilidade para contornar o desconforto involuntariamente provocado. O mundo não se constrói em bases de generosidade. Infelizmente, há sempre um projeto em vista a rubricar o efeito custo-benefício. E os empregados dobravam a eficiência, de modo a atenuar as conseqüências de uma desastrosa política federal.

As filas aumentavam à medida que a tarde se fazia mais próxima. A moça não mudava o tratamento. Ao contrário, aperfeiç oava-o. Como de costume, atrasei-me. Fui a última a entrar no estabelecimento. O segurança da porta principal consultou, em dúvida, o horário, hesitou diante da minha chegada, mas aquiesceu afavelmente. A hora-limite não lhe permitia à aplicação irredutível da norma prescrita. Preferiu ceder e não discutir. No mundo capitalista, importa a circulação do vil metal. E eu estava ali, para, de alguma forma, ao pagar impostos, contribuir na acumulação do capital. Uma engrenagem tão complicada que não vale a pena discorrer sobre o assunto.

Vinte e três pessoas se postavam, em ordem numérica, na fila indicada para o atendimento dos meus débitos. A princípio, pensei em desistir. Depois, adveio-me o senso de responsabilidade. A ocasião era única, estava de férias e me cabia ajudar nas cansativas diligências familiares. Decidi cooperar nesse mutirão desgastante. Com uma calma política, aguardei a minha vez. Ah, tudo isso poderia ser feito através da Internet! Claro que sim. Pouparia tempo. Que bobagem, essa minha! No mínimo, nas insólitas máquinas eletrônicas. Mas..., a verdade é que não me apetece lidar com robôs. Gosto de gente, de trocar um dedo de conversa, de saber-me individualizada, de ingenuamente acreditar que sou importante na seqüência numérica de uma instituição amorfa... Elenquei inúmeras razões para estabelecer a relação interpessoal. E fiquei. Não abriria mão dessa minha derradeira possibilidade humana. Não capitularia facilmente. Insistiria. Queria sentir até onde iria a minha capacidade de resistência. Sei que sou um dinossauro. E gosto de gente. Que mal há nisso?

Esperei largos cinqüenta minutos. Conversei com os meus companheiros. Contaram-me histórias, falaram dos filhos, emitiram opiniões políticas, anunciaram datas de casamentos, esmiuçaram cotidianos... Ouvi com atenção. Havia um tom de saudável bisbilhotice naquela fila. O ato da espera leva a confissões. Nunca tinha atentado para isso. Enriqueci-me com vozes estranhas. Gente tão igual e tão diferente. Com dramas e comédias.

A moça me olhou com o riso de sempre. O expediente terminava, mas a feição harmoniosa permanecia. Tentei indagar um pouco da sua vida. Delicadamente, pisando em ovos, esquivou-se. Ateve-se às respostas burocráticas. Ali, Maria Jussara exercia um papel do qual não deveria se afastar. Não era ela. Apenas o fragmento de uma personalidade social.

Cumprimentei-a. Parabenizei o grau de profissionalismo. Lamentei profundamente as distorções que a sociedade impõe aos indivíduos. Naquele birô, Maria Jussara não era realmente ninguém.
Quantas vezes não sou ninguém?


Colunistas

PINGA-FOGO - Paulo Sérgio Scarpa (interino)

Palavras vazias
O assassinato do prefeito Celso Daniel (PT) está obrigando a Nação a ouvir, mais uma vez, uma série interminável de discursos oficiais sobre a criação de pacotes anticrime, planos de segurança, reforma das polícias. Todos se juntando no palanque do salvacionismo ineficaz que caracteriza o País em momentos de crise e comoção pública.

Mas é videoteipe desfocado daquele que o Governo FHC lançou, em julho de 2000, como sendo “um plano de ações” - o mofado Plano Nacional de Segurança Pública. Um imenso compêndio de 124 itens que o presidente FHC resumiu em horário nobre da TV como uma resposta à indignação provocada com a morte de uma refém no Rio, por pura incompetência policial.

Mas o que se vê, hoje, são propostas lançadas sob as luzes das câmaras de TV. Na prática, pouco ajudam no combate ao crime. Há até quem fale em prisão perpétua, como o presidente do Senado, Ramez Tebet, com um sistema penitenciário falido, corrupto e abrigo do comando da marginalidade. E volta-se a pregar a unificação das polícias como se funcionassem. Palavras vazias até porque os governadores não extirparam a banda podre da PM e da Polícia Civil, nem conseguiram submetê-las a um comando único. E não cumprem direito nem o trivial.

Eu sou o samba
João Paulo (PT) vai desfilar na Marquês de Sapucaí, no Rio, como convidado da Estação Primeira de Mangueira, que homenageará o Nordeste com o tema Brasil com z é pra cabra da peste, Brasil com s é Nação do Nordeste. Para não dar vexame, o prefeito já está tomando aulas de samba-no-pé para suportar os 90m de desfile. Logo depois, na mesma noite, Ariano Suassuna entra com a Império Serrano para falar da Aclamação e Coroação do Imperador da Pedra do Reino.

Atentos do PFL
Mendonça Filho conversou, ontem, por telefone, com Roseana Sarney sobre segurança. Ele acredita que as mudanças estruturais que o setor precisa não passam por uma política nacional de segurança, mas por alterações constitucionais que permitam aos Estados legislar sobre crime e a edição até de seus próprios códigos penais.

Sem resposta
De São Luiz (MA), o marqueteiro Antônio Lavareda passa para Nizan Guanaes, ideólogo do marketing político do PFL, a tarefa de responder ao presidente do PT, José Dirceu, que acusa o PFL de instigar “o ódio e a violência” contra o PT. Na frente da Prefeitura do Recife, uma faixa já adverte: “A violência neoliberal não vai nos intimidar”.

Freire tem projeto para fabricação exclusiva de arma
O senador Roberto Freire (PPS) promete apresentar projeto permitindo que no Brasil se fabrique apenas armas para as Forças Armadas. Assim, não haveria armas para serem vendidas aos cidadãos. Pelo menos legalmente.

Exposição virá ao Recife, Brasília e São Paulo
O secretário Raul Henry vai a Copenhaguen dia 3 de fevereiro para ver as obras de Albert Eckhout, que pintou Pernambuco no século 17. A mostra chegará ao Recife em setembro para ficar no Instituto Ricardo Brennand, na Várzea.

Bases ampliadas
Enquanto a maioria dos deputados permanece em férias, Inocêncio Oliveira (PFL) não perde uma boa conversa. E abre espaços importantes, além do Sertão, para ser o mais votado, este ano, para a Câmara dos Deputados. Inocêncio já ampliou suas bases em Correntes, Lagoa do Ouro, Jupi e Garanhuns.

Mais atos do PT
O PT realiza, amanhã, ato público no Recife contra o assassinato de Celso Daniel. Deve sair do Monumento Tortura Nunca Mais em direção ao Marco Zero. O PT realizará atos nos municípios e capitais onde detém o poder, ordem da executiva nacional. Mas os petistas não irão pedir paz, só justiça e segurança.

Roseana Sarney já tem novo comercial para ser exibido dia 31 na TV. Será referência satírica ao programa Casa dos Artistas, com participantes fazendo força para tirar a governadora da campanha. E com a atriz Núbia Ólive, a grande vilã do programa, dizendo: “Temos de tirá-la do páreo. Ela é forte”.

Eduardo Campos, em campanha para governador pelo PSB, conseguiu em Catende, sexta-feira passada, o que muita gente considerava impossível: levou para seu palanque os três grupos oposição no município. Quer agora fazer a mesma coisa em Santa Cruz do Capibaribe, onde os socialistas ainda continuam divididos.

O presidente estadual do PT, Paulo Santana, garante que não cabe à executiva estadual do partido divulgar nota sobre qualquer administração municipal. Isto é tarefa dos diretórios municipais, diz. Santana conta que ninguém da executiva estadual prometeu divulgar nota oficial sobre as contratações da PCR.

O governador de São Paulo é acometido de mais uma idéia salvadora: quer o fim dos celulares pré-pagos para resolver seqüestros e violência. Proposta lançada no meio de uma comoção pública, ameça o comércio de milhões de reais e impede milhares de pessoas de ter acesso à comunicação.


Editorial

TEMPO DE OSWALDO CRUZ

Poucas vezes na história da saúde pública brasileira foi tão necessária e urgente a participação da sociedade no combate a um mal que ameaça a todos . Curiosamente – para não dizer tragicamente – a ameaça se faz nos mesmos moldes da que levou à guerra empreendida há quase um século por Oswaldo Cruz.

Talvez não tanto quanto no começo do século 20, persiste, contudo, uma enorme incapacidade da população de atender a uma convocação que, tal e qual naquela época, bem poderia ganhar os contornos de uma campanha militar, como fez o ousado sanitarista.

Surpreende, ainda mais, a coincidência do vetor; Como nos primeiros anos do século 20, o nosso País se vê ameaçado pelo Aedes Aegypti. Na época de Oswaldo Cruz a população riu do cientista e o hostilizou porque ele havia ousado associar uma epidemia de febre amarela a um mosquito. A coragem do homem público – ele era o diretor-geral de Saúde Pública, ministro da Saúde hoje – e do cientista se sobrepôs à ignorância.

Mas foi preciso escrever capítulos da História da República. Em 1907 Oswaldo Cruz era considerado o grande vencedor com a erradicação da febre amarela e logo teve que enfrentar uma nova frente de batalha, com a Revolta da Vacina, quando uma epidemia de varíola sacudiu o Rio de Janeiro.

A epidemia de dengue que volta a se espalhar pelo Brasil traz ao século 21 o clamor de Oswaldo Cruz e nos leva a imaginar se não chegou a hora de dar ao mal de hoje o mesmo enfrentamento radical do passado. Em particular porque as campanhas se sucedem, o Ministério da Saúde gasta o que pode se a população parece distante, como se ainda não percebesse a gravidade da dengue, principalmente quando se constata um novo tipo de vírus, com alto potencial de disseminação.

É preciso ficar bem claro na cabeça das pessoas que a dengue é um problema gravíssimo de saúde pública e que todos precisam colaborar, eliminando os focos onde se proliferam os mosquistos. A dengue do tipo 3, esse que começa a se espalhar pelo País, é considerada das mais graves e pode evoluir para dengue hemorrágica.

A história desse mal está associada à pobreza no século 20, quando o vírus foi identificado como endêmico em parte da China, no Vietnam, Laos, Camboja, Tailândia, Índia, Sri Lanka, Indonésia, Singapura, brotou em países africanos e se espalhou como uma grande epidemia pela América do Sul. No ano passado, durante o congresso mundial de enfermidades infecciosas em Buenos Aires, foi dado um alerta assustador: as mudanças ambientais vão se somar à pobreza e provocar aumento dos casos de dengue no século 21.

Esse seria, pois, um problema associado ao grau de desenvolvimento dos países. Quanto mais pobre, mais potencialmente hospedeiro de quadros epidêmicos graves. Contudo, já se admite a globalização da dengue, com o rompimento das fronteiras entre subdesenvolvidos e desenvolvidos. As migrações fazem surgir bolsões de pobreza nos países desenvolvidos, até pouco tempo inoculados, gerando a expectativa de que haverá propagação do vírus.

A Organização Panamericana de Saúde está pedindo a todas as pessoas nas Américas que colaborem para eliminar os focos de mosquito. As lições dadas pelas mais altas autoridades dessa organização internacional são as mesmas que temos repetido: é preciso eliminar os focos como poças d’água, reservatórios, água nos jarros, recipientes que podem se transformar em focos, como pneus velhos.

Tudo muito simples, mas tem que ser encarado como um combate sistemático, porque o que está sendo pintado pelos meios científicos é um quadro muito sombrio, para o qual deverão ser drenados enormes recursos públicos, que só terão resultado se o povo se convencer de que um mosquito é o culpado e tem como ser vencido. De outro modo, estaremos condenados a reproduzir a mesma ignorância dos tempos de Oswaldo Cruz.


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01/23/2002


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