PT reabre diálogo com esquerdas
PT reabre diálogo com esquerdas
Petistas vão procurar os partidos de oposição para discutir as eleições, depois do Carnaval. Querem “quebrar o gelo” e acabar com as turbulências
O PT decidiu deixar a passividade e tomar a iniciativa da reabertura de diálogo com os partidos de esquerda no Estado. Passado o Carnaval, os petistas vão cair em campo e procurar os líderes do PSB, PPS, PDT e PTB, tentando montar uma pauta comum, com propostas convergentes que quebrem o “gelo” e iniciem o processo de unidade política. Alertados por seu maior aliado político – o PCdoB – sobre a falta de desenvoltura e de atitude na busca de aliados, e sobre o risco do palanque do presidenciável Lula não contar com uma base de apoio forte em Pernambuco, os petistas deram, ontem, o primeiro passo para acabar com seu isolamento.
O prefeito do Recife, João Paulo, o pré-candidato ao Governo e secretário de Saúde, Humberto Costa, e o presidente da Câmara de Vereadores, Dilson Peixoto, almoçaram, no restaurante Café do Lima, com o vice-prefeito Luciano Siqueira – principal porta-voz do PCdoB – e o presidente da legenda marxista, Alanir Cardoso. Os petistas anunciaram que concordam com a advertência do PCdoB e que estão dispostos a conversar com todos. “Vamos tomar a iniciativa. As dificuldades serão superadas”, previu João Paulo. O prefeito revelou que, após a folia, o PT inaugurará um novo momento. “Até agora foi de turbulência, mas iremos buscar o entendimento.”
O secretário Humberto Costa informou que já pensava em debater a sucessão com o PCdoB e que o PT concorda com os termos do alerta feito pelo vice Luciano Siqueira. “Concordamos com a avaliação de Siqueira, na entrevista ao Jornal do Commercio (segunda-feira - 04/02). Depois do Carnaval, eu e ele (o vice-prefeito) nos esforçaremos para conversar com as demais forças”, declarou. Humberto disse, porém, que a decisão não é uma confissão de culpa do PT. “Se a iniciativa será nossa ou de outro partido, isso é de menor importância”.
O vice-prefeito Luciano Siqueira destacou que a situação de dispersão atual “é ruim para as oposições e favorece ao adversário – governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) – e não é compreendida pela população e pelas bases da esquerda. “O que nos cobram nas ruas é que a gente converse. O povo gosta de unidade, não de divisão”, disse. O vice prometeu se esforçar para aproximar o PT das demais legendas. “É possível que os interesses do PT sejam compatíveis com os dos outros”.
Código de Ética vem com inovações na Assembléia
A pauta da Assembléia Legislativa no retorno aos trabalhos, logo após o Carnaval, não será movimentada apenas pelas eleições de outubro. O Código de Ética, promessa da atual gestão, deverá finalmente sair do papel, e trazendo uma novidade que promete esquentar o debate. O relator da matéria, deputado Augusto Coutinho (PFL), apresentou, ontem, a minuta do projeto e sugeriu, entre outros pontos, a invalidade da renúncia parlamentar depois que o pedido de cassação tiver sido encaminhado à Comissão de Ética do Legislativo.
Em outras palavras, no caso de estar sendo investigado, o deputado não poderá mais se valer do artifício da renúncia – o que ocorre em muitas ocasiões – para evitar a perda dos direitos políticos, o que o deixaria inelegível para outro mandato por oito anos. “Vamos construir um Código de Ética avançado, transparente e moderno. Para isso, mudanças como esta são essenciais”, afirmou Augusto Coutinho.
O novo código também altera as regras da eleição da mesa diretora da Assembléia. Pela proposta do relator Augusto Coutinho, os parlamentares que concorrerão aos sete cargos do colegiado terão que ser indicados pelos partidos.
As propostas do novo Código de Ética da Assembléia Legislativa – que também propõe limites à imunidade parlamentar – foram elaboradas por uma comissão especial. Integram o grupo o deputado Gilberto Marques Paulo (PSDB), o assessor jurídico da Casa, Carlos Eduardo Pugliese, e a consultora do Ipad, Zélia Castro. Os deputados têm até o dia 20 para apresentar emendas. O projeto final deverá ser colocado em votação no plenário no dia cinco de março.
PSDB intensifica campanha de Serra a partir de hoje
Reunida em Brasília, cúpula nacional decide deflagrar pré-campanha do presidenciável tucano na mídia com inserções na TV e promovendo grandes eventos que visam divulgar o nome do ministro-candidato
BRASÍLIA – O pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, ministro José Serra (Saúde), começa hoje sua pré-campanha na mídia, com inserções de 30 segundos durante a programação de TV a que o partido tem direito pela legislação eleitoral. Na reunião da executiva nacional do PSDB, realizada ontem, em Brasília, ficou acertado que Serra irá usar a metade do tempo do partido em cada Estado para mostrar suas ações à frente do Ministério da Saúde.
“Vamos mergulhar na campanha e forçar o debate para que possamos ir além do mero discurso”, disse Serra, após a reunião. O ministro deve deixar o Governo até o dia 24 de fevereiro, data marcada para a pré-convenção do partido, em que será lançada sua candidatura à Presidência. Serra disse que, em uma primeira fase, o PSDB vai definir um programa de governo com foco nos governos regionais.
Ontem, o presidente nacional do PSDB, deputado José Aníbal (SP), minimizou as declarações do governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), que defendeu a aliança dos tucanos, inclusive abrindo mão da liderança da chapa. Aníbal disse que o partido tem hoje uma unidade em torno do nome de Serra. “Essa unidade não vai suportar nenhuma dissidência”, avisou Aníbal.
Até a pré-convenção do dia 24 será definida uma grade de grandes eventos nacionais para a candidatura do ministro. “Vamos respeitar a legislação eleitoral, mas temos que aumentar a exposição do nosso candidato”, afirmou Aníbal. De acordo com o calendário eleitoral, só é possível fazer campanha a partir de 6 julho. A lei que regulamenta o funcionamento dos partidos proíbe a utilização das inserções partidárias para campanha de candidato.
Para definir o tom de sua campanha, Serra usou a metáfora da garrafa já preenchida pela metade, para representar as conquistas do atual Governo. “Os otimistas dizem que a garrafa está meio cheia e os pessimistas, que ela está meio vazia. Para mim, o importante é não desperdiçar o que já está dentro dela e alcançar novas conquistas”, disse Serra, que na reunião, esteve sentado ao lado de Aníbal e da juiza Denise Frossard. Ela apresentou propostas para um plano de segurança nacional e de combate à criminalidade. Também participaram da reunião governadores e ex-governadores, parlamentares, ministros e os presidentes regionais do partido.
Prefeito ameaçado terá escolta da PM
SÃO PAULO – O prefeito de Catanduva (SP), Félix Sahão (PT), receberá proteção da Polícia Militar durante 24 horas. Sahão e mais nove prefeitos do PT receberam, na última sexta-feira, cartas contendo ameaças de morte. As correspondências foram assinadas pela Frente de Ação Revolucionária Brasileira (Farb). Segundo o prefeito, a escolta da PM foi acertada em encontro com a cúpula da Polícia Militar.
Em Catanduva, também foi encontrada uma lista dentro de um maço de cigarros contendo nomes de cinco prefeitos do PT, entre eles, Marta Suplicy (São Paulo), que seriam supostos alvos de atentados. Ela classificou a lista como “uma conspiração contra o PT”. Na mensagem, há, além dos nomes dos prefeitos petistas de Campinas e Santo André – que foram assassinados – referência a Marta como sendo a quinta vítima. Mesmo assim, a prefeita disse não temer as ameaças. “Minha segurança é r eforçada”, comentou.
Ontem, a polícia de São Paulo encontrou um Santana azul que pode ter sido utilizado no sequestro do prefeito de Santo André, Celso Daniel. O carro foi localizado em São Lourenço da Serra, região metropolitana de São Paulo. Os seis presos sob a suspeita de participação no sequestro e na morte do prefeito disseram à polícia que conhecem os autores do crime. Porém, negaram ter envolvimento com os seqüestradores. “Eles afirmam que sabem quem participou, mas não confessaram, não assumiram nada”, disse o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, indicado pelo PT para acompanhar as investigações da polícia.
Empresas formam consórcio para informatização de secretaria
A Prefeitura do Recife poderá economizar R$ 5 milhões se aceitar que empresas locais realizem a informatização da Secretaria de Saúde. O consórcio formado por dez empresas vinculadas à Softex já encaminhou à PCR o projeto e aguarda uma audiência com o prefeito João Paulo (PT) para apresentar oficialmente a proposta. Atualmente, o Instituto de Curitiba de Informática (ICI) é o mais cotado para executar o processo. No entanto, além de ser de outro Estado, o instituto está cobrando R$ 21 milhões pelo serviço, enquanto o mercado local orçou em R$ 16 milhões. O montante será aplicado em três anos.
O presidente da Softex/Recife, João Luiz Perez, assegurou que a proposta é de “alta complexidade tecnológica” e, além do que a PCR solicitou, também será disponibilizado um software para dados epidemiológicos e a instalação de uma ouvidoria. Ainda segundo Perez, o projeto será desenvolvido de forma integrada e a Emprel participará de todo o processo. Após três anos os softwares e hardware passarão à Emprel.
A idéia do consórcio local é informatizar, em quatro meses, o controle do almoxarifado, dos medicamentos e a central de regulação - apontados pela Secretaria de Saúde como essenciais.
“Em oito meses, as dez maiores unidades de Saúde estariam informatizadas e a cada dois meses informatizaríamos outras dez unidades de Saúde”, declarou Perez. A PCR não tem prazo definido para analisar a proposta.
Artigos
Colcha de retalhos
FÁTIMA QUINTAS
A minha condição de estar-sendo me arrasta a uma ciranda de antagonismos, palco de infinitas contradições. Vivo a conjugação do gerúndio. Um estado pleno, permanente busca do é de mim mesma. Estando, sendo, sou. Sentir-me-ei completa? Não. Absolutamente não. Uma inteireza carregada de fragmentações. Rendilhados que se imbricam numa construção inacabada. A colcha de retalhos revela a imensa diversidade que me encoraja. Partículas invisíveis. Fatias assimétricas. Porções ínfimas que se agigantam em essencialidade. Cresço na medida da minha pequenez. Não adianta enganar-me. Trago a consciência exata do meu tamanho. Não me faz bem esse excesso de consciência. Dói-me. Fere-me. Dilacera-me. “Tudo que é vivo, fere de vida”.
Serei somente eu indefinida? Não sei. Carrego dúvidas. Vejo-me num carrossel de hesitações. O meu ir tem retorno breve. Acabo não me deslocando do lugar, epicentro que me suga com formas de esfinge, a engolir-me impiedosamente. Fujo dos dragões do mundo. Sou uma trapezista solta no ar, evitando contato direto com a areia movediça que atapeta o chão lá em baixo.
Por incrível que possa parecer, abrigo uma imensa saudade de mim mesma. Uma viuvez estranha que me leva a repetir: “Quando a alma é viúva do que não sabe, o sentimento é cego”. E qualquer loucura pode atirar-me ao abismo. A cegueira me ajuda a lançar-me em poços subterrâneos.
Enxergo na escuridão. A penumbra favorece a irrupção de atos desatinados. Não sou capaz de levantar o véu da pudicícia sob a forte luz do sol. A claridade ofusca os desejos até reduzi-los à morte. Escapo ferozmente dos holofotes porque tenho medo da sua soberba exibição. Opto pelo lusco-fusco a invocar-me jorros confessionais e passionais.
Sei que falar é perigoso, mas vale a pena. Dizendo-me, escuto-me. As palavras me atropelam, mas conduzem-me à reflexão. Então percebo-me vocacionada para o mistério. O mistério da própria penumbra. Há fantasmas paramentados de feitiços no murmúrio de minha alma. Que importa que os delírios abrolhem?! Eles fazem parte integrante da imaginação. Sou exatamente isto: uma ficção esculpida por mim mesma.
Cada pedaço da colcha de retalhos se desdobra. Fabrico-os um a um com zelos artesanais. Afinal, a construção da minha identidade depende do que se passa nesse eu que anseio desvendar. Será que algum dia conseguirei apalpá-lo? Que bobagem! Como poderei tocar no meu eu? Por mais que me abstraia, conservar-me-ei etérea, difusa. Intangível. Igual a toda gente.
O que sei de mim?
Quem disse que almejo definições? Repudio traçados concretos. Os subjetivismos preenchem os vazios na invenção da minha existência. Cultivo o prazer de imaginar-me das mais variadas maneiras. Quando volto ao passado, recolho nacos dos ancestrais. Quando me entrego ao futuro, arrebento as amarras e acredito na força do meu querer. Destroço as frustrações, reedito imagens, inscrevo no corpo desejos postergados. Encerro a conta dos débitos. Assino a promissória de créditos. Careço de somas e multiplicações. Relego a planos de só-menos importâncias as perversas subtrações que me fizeram menos. Existo na imaginação. Isso me basta. “Há tanta coisa que, sem existir,/ Existe, existe demoradamente,/ E demoradamente é nossa e nós...”
Minha memória se alia à grandiosidade do idealizar. Se posso me inventar, que me invente para além de possíveis delimitações. Por que não? Hei de juntar os fragmentos numa adição infinita. A matemática da alma me assusta. Qualquer matemática me intimida. Sempre precisei de contar nos dedos para conseguir efetuar operações básicas. Mas, persistirei nessa soma sem resultados. Acomodo os desejos na fileira do centro; ao lado, fortaleço as vontades para assegurar o destino a quem me arvoro. Numericamente, a equação está pronta.
Quão longe me percebo das configurações geométricas!
Não existo. Sou uma invenção de mim mesma. Pura ficção.
Colunistas
Pinga-Fogo - Inaldo Sampaio
Lula fora do 2º?
Entre os políticos que formam opinião no Congresso Nacional e fora dele prevalecem dois consensos em torno da eleição presidencial. Primeiro, Lula já está no segundo turno, pois consegue se manter há cerca de dois anos com um porcentual de aceitação que gira em torno dos 30%. Segundo, quem for para o segundo turno com o candidato do PT será o próximo presidente da República.
Ontem, no Recife, o deputado peemedebista Maurílio Ferreira Lima passou a defender a seguinte tese depois do assassinato do prefeito petista Celso Daniel (Santo André) e do sequestro do publicitário paulista Washington Olivetto: Lula não irá sequer para o segundo turno. A seu ver, quando a população brasileira tomar conhecimento de que um ex-segurança do prefeito virou sócio de empresas de ônibus em Fortaleza e em Cuiabá e que foi o senador Eduardo Suplicy quem pediu a extradição para o Canadá dos sequestradores de Abílio Diniz o candidato do PT estará “rifado”.
A consequência disto, segundo o deputado, é que o quadro sucessório presidencial ficará ainda mais embolado. Têm chances concretas de ir para o segundo turno, e consequentemente de chegar ao Planalto, Serra, Roseana, Ciro Gomes e Garotinho.
Pitada de sal
Se o relacionamento de Luiz Piauhylino com Inocêncio Oliveira já não era bom por causa da disputa de espaços em Serra Talhada, tende a ficar pior ainda. Ontem, a pedido do deputado tucano, o ministro Pimenta da Veiga (comunicações) assinou uma portaria quebrando o monopólio do rival, naquele município, na área da radiofusão. Vai para o ar uma “emissora educativa”, sob controle do PSDB, para concorrer com as duas rádios de propriedade do líder pefelista.
Em nome pessoal
Do dirigente do PPS, Byron Sarinho, sobre Ranílson Ramos ter declarado que o único líder de oposição capaz de “unir” as esquerdas pernambucanas nas próximas eleições é Miguel Arraes: “Ele falou em nome do PSB e não do nosso partido, que não concorda com essa opinião”. O deputado é tido no PPS como “arraesista enrustido”.
Cabeça cortada
Através de decreto publicado ontem, Jarbas mandou prender e afastar de suas funções o ex-comandante da 2ª secção da PM-PE, major Paulo Dantas. O militar baixou o sarrafo em alguns dos seus chefes através de uma entrevista dada ao jornal “Vanguarda”, de Caruaru. Deu-se-lhe um prazo de 24 horas para devolver farda e armamento.
Ministro do PMDB defende o líder do MST
Jungman vive às turras com o MST mas reprovou o gesto do prefeito de Presidente Prudente (SP), Agripino Filho (PTB), que ameaçou matar “no tapa” o líder José Rainha Júnior. A ameaça, segundo o ministro, é “inaceitável”.
Prova dos nove será tirada na próxima sexta
A cúpula do PPS desconfia que Carlos Wilson (PTB) não está empenhado nem um pouco na campanha de Ciro Gomes para presidente da República, e sim na de Lula. Próxima 6ª, quando o ex-ministro chegar ao Recife, saberemos.
No palco da luta
Deputado Augusto César, presidente regional do PSDB, participou em Brasília ontem da reunião de dirigentes do partido com a executiva do tucanato para definir os rumos da campanha do ministro José Serra. Pernambuco foi o 2º estado visitado pelo ministro na condição de pré-candidato. O 1º foi o RN (Mossoró).
Topou o desafio
O deputado distrital Rodrigo Rollemberg (DF) será o candidato do PSB ao governo de Brasília, atendendo a convite de Anthony Garotinho (RJ). Incluindo Eduardo Campos (PE), o PSB já tem 16 candidatos a governador espalhados pelo Brasil. Nesse particular está muito à frente do PT, PSDB, PMDB e PFL.
Em Nova York, Tasso (CE) destoou completamente do que disse no Recife, 10 dias atrás, o presidente do PSDB José Aníbal (SP): que o partido não abrirá mão de ter candidato próprio à sucessão de FHC. A tese do governador é a mesma de Bornhausen: se Serra não crescer o candidato do governo será Roseana (PFL).
Casinhas, pequeno município do agreste pernambucano, a 130 km do Recife e com apenas 13 mil habitantes, mandará para o Rio uma pequena caravana para desfilar na Império Serrano durante os dias de carnaval. É para prestigiar Ariano Suassuna, agraciado há um ano com a cidadania daquele município, projeto do vereador Wálter Borges.
Em se tratando da conquista de votos, Inocêncio Oliveira (PFL) é insaciável. Acaba de conquistar Catende, na zona da mata sul de Pernambuco, onde o prefeito Manoel Ramos (PSDB) fez uma grande festa para recepcioná-lo. Em troca, o líder do PFL entregou ao município duas ambulâncias e uma viatura policial.
Já se diz abertamente em áreas influentes do PFL que o secretário Sérgio Guerra (PSDB) não pretende ser senador na chapa de Jarbas Vasconcelos e sim candidato a vice. Mendonção por hora está calado. Mas se porventura desconfiar que o PSDB quer a vaga de Mendoncinha, o “espalha brasa” na aliança será inevitável.
Editorial
Centenário de Nelson Ferreira
O início das comemorações do centenário do nascimento do maestro e compositor Nelson Ferreira, nas vésperas do Carnaval de 2002, é um bom momento para reflexão sobre os que fizeram e fazem a cultura popular em Pernambuco. O autor de Evocação nº 1 (seguida de outras), que marcou época, fazendo sucesso até no Rio de Janeiro, em 1957, deu uma grande contribuição a essa cultura, fazendo letras e músicas da melhor qualidade, e insistindo na preservação e propagação de nossas raízes artísticas. Sem preconceitos, contudo, também compôs valsas, foxes e outros gêneros musicais. Aos 14 anos, já compunha. Depois, começou a tocar piano profissionalmente, em cabarés, cafés, cinemas (era ainda o tempo do cinema mudo). Foi diretor artístico da pioneira Rádio Clube de Pernambuco e fundador de vários grupos e orquestras, entre as quais a famosa e disputada Orquestra de Nelson Ferreira.
Mais tarde, nos anos 50, foi diretor artístico da Rozenblit, produtora de discos que, antes da monopolização dessa produção por selos estrangeiros no Sudeste, tornou-se conhecida em todo o Brasil com seu selo Mocambo, dedicado à música regional. No tempo em que Pernambuco exportava música (inclusive carnavalesca) para o Sul-Sudeste, fez sua primeira gravação com Borboleta não é ave. Terminou sendo um dos artistas nordestinos que mais músicas deixaram gravadas. Suas valsas também se inscrevem na memória pernambucana, tocadas em cinemas, bailes, festas familiares. Lembramos tudo isso para mostrar como é importante para o nosso Estado e a região a obra vasta, multifacetada e de excelente qualidade de Nelson Ferreira.
Para frisar essa importância, transcrevemos o que sobre ele escreveram dois falecidos mestres. Do professor, escritor e jornalista Nilo Pereira, ex-editorialista, colunista e articulista deste Jornal do Commercio, citamos: “Se meia hora antes de sair o meu enterro, tocarem as valsas de Nelson, velhas valsas tão íntimas do meu mundo, irei em paz, sonhando”. De Gilberto Freyre, após a morte do artista (21.12.1976): “O vazio que deixa é o que nos faz ver como era grande pela sua música, pelo seu sorriso, pela sua fidalguia de pernambucano”.
Como outro grande compositor, Capiba, ele foi pioneiro na preservação da memória carnavalesca pernambucana, relembrando figuras populares do nosso Carnaval, como na já referida Evocação nº 1: Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon, Raul Moraes; inspirando assim blocos como o da Saudade, Flor da Lira, Aurora de Amor, Lili, Cordas e Retalhos. Ecumênico, também cantou as glórias do Carnaval carioca: “Recife, neste Carnaval, / rende homenagem ao sambista brasileiro, / a Noel, Sinhô e Chico Alves, / aos ranchos e escolas do Rio de Janeiro”. Não esqueceu Chiquinha Gonzaga, Lamartine. Foi num tempo em que o Carnaval oficial da Cidade Maravilhosa ainda não havia sido engessado no Sambódromo, para turista ver (para inglês ver, como se dizia nos tempos da Great Western, da Pernambuco Tramways).
Que, durante este ano do centenário do nascimento de Nelson Ferreira, se multipliquem as homenagens à sua memória. E que tais tributos de reconhecimento e admiração não sejam apenas retóricos. Vamos contar sua história e lembrar seu trabalho na rede escolar, e relembrar, aos seus contemporâneos, sua trajetória, seu valor para a cultura pernambucana e regional; e também sua visão larga, que lhe permitia, ao mesmo tempo que defendia e propagava os nossos valores, transcender as fronteiras de Pernambuco, do Nordeste, do frevo, compondo e tocando valsas, por exemplo, e homenageando os grandes nomes do Carnaval e da cultura do Rio de Janeiro. Exemplo de grandeza.
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02/06/2002
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