PTB, PL e PFL com Rigotto










PTB, PL e PFL com Rigotto
As três siglas realizaram atos políticos de adesão ao candidato do PMDB na Capital

Três partidos confirmaram ontem apoio ao candidato do PMDB ao governo do Estado, Germano Rigotto (PMDB): o PFL, o PTB e o PL.

Somados ao PPB e ao PPS, que se uniram na semana passada à coligação União pelo Rio Grande (PMDB-PSDB-PHS), chega a oito o número de siglas aliadas a Rigotto, até o momento, na disputa pelo Palácio Piratini.

Amaior acolhida foi do PTB, que reuniu centenas de filiados num jantar no galpão crioulo do Clube Farrapos. Rigotto chegou cinco minutos depois de aprovado o apoio a seu nome e no momento do discurso do senador eleito Sérgio Zambiasi.

A fala foi interrompida, e Rigotto recebeu o microfone e o abraço de Zambiasi, enquanto a platéia gritava o nome do candidato. Duas grandes faixas amarelas foram levantadas com a frase “PTB é 15”, numa referência ao registro de Rigotto na Justiça Eleitoral. Num descuido, Zambiasi chegou a referir-se a Rigotto como “o candidato do PTB ao governo”.

– Dizem que estamos fazendo uma santa aliança. Tomara que ela seja abençoada mesmo – disse Rigotto.

À tarde, no PFL, o presidente estadual do partido, Germano Bonow, que disputou o cargo de vice-governador de Antônio Britto (PPS) no primeiro turno, recebeu Rigotto e confirmou o apoio:
– Devolva o Rio Grande aos gaúchos.

Apesar de o PL fazer parte da chapa do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, o partido confirmou que no Estado apoiará o PMDB.


PDT decide liberar voto para o Piratini
Depois de três dias de debates pelo Interior e de uma reunião de quatro horas de duração na Capital, na noite de ontem, o PDT estadual irá seguir a determinação da direção nacional no segundo turno das eleições.

A orientação é o voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o Palácio do Planalto e liberdade de escolha para os filiados na disputa pelo Piratini.

Ontem, dezenas de pessoas insistiram que o apoio a Germano Rigotto (PMDB), candidato a governador, fosse votado na sede do partido. Parlamentares, prefeitos e 11 dos 37 coordenadores regionais participaram da reunião. Lembrando a decisão nacional, o presidente estadual, Pedro Ruas, encerrou o debate às 22h30min, sem abrir a votação, sob vaias da platéia. Ruas foi elogiado por uns e acusado de ser “petista infiltrado” por outros. Houve troca de empurrões.

Por telefone, de Montevidéu, o presidente nacional do partido, Leonel Brizola, disse ontem que quem insistir em fechar questão no apoio a Rigotto será submetido à comissão de ética:
– Esses que insistem no apoio a Rigotto só estão com ele porque está em primeiro lugar nas pesquisas. Isso é oportunismo. Pessoalmente, cada um pode apoiar quem quiser, mas nenhum órgão pode se comprometer no apoio ao PMDB ou ao PT.


Algoz de Collor dá apoio a Tarso
A estratégia da Frente Popular de nacionalizar a disputa pelo Palácio Piratini – vinculando o segundo turno estadual à disputa nacional entre projetos políticos antagônicos – teve mais um lance na tarde de ontem.

O governador reeleito de Alagoas, Ronaldo Lessa (PSB), esteve em Porto Alegre para formalizar o apoio a Tarso Genro (PT). Acompanhado de Beto Albuquerque e de Sérgio Peres, eleitos respectivamente para a Câmara dos Deputados e a Assembléia Legislativa pelo PSB, Lessa visitou na tarde de ontem o comitê da coligação e saudou a conexão com os petistas gaúchos.
Lessa venceu no primeiro turno derrotando o ex-presidente Fernando Collor (PRTB), que chegou a despontar como favorito no início da campanha. Tarso classificou a reeleição de Lessa como símbolo da luta contra o modelo neoliberal, implantado por Collor e que teve seqüência, segundo ele, com o presidente Fernando Henrique Cardoso.

– Não estamos enfrentando um Collor gaúcho, mas o mesmo projeto que enfrentaste em Alagoas – afirmou Tarso.

Protagonista de uma virada nas eleição alagoana, Lessa não quis dar dicas ao PT gaúcho para reverter o quadro eleitoral desfavorável.

– Houve o desgaste natural do PT no governo, mas o projeto ainda representa o novo – analisou.


Lula exibe apoios e Serra pede debate
O primeiro programa dos candidatos que disputam o segundo turno presidencial seguiu rumos opostos. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apostou num tom mais emocional. Num auditório, parlamentares eleitos, prefeitos e governadores batiam palmas saudando os eleitores.

Num cenário mais austero, o tucano José Serra dedicou grande parte do tempo a provocar Lula pelo fato de defender um único debate até o dia 27. Serra destacou ainda que segurança e emprego são suas priodades. Veja os principais momentos de cada programa:

SAIBA MAIS

Lula
Em seu primeiro programa de TV para o segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ocupou boa parte de seu tempo para destacar o crescimento do partido e das coligações que apoiaram suas candidaturas, as novas alianças e o agradecimento ao eleitor pela votação alcançada no primeiro turno. Derrotados na disputa à Presidência, Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS) tiveram inserções nas quais pediam votos ao petista.

– Você que votou em mim, eu lhe peço, vote em Lula pelo bem do Brasil – apelou Garotinho.
Em seu depoimento, Ciro ressaltou que o país está “de joelhos”.

– O Brasil está com o menor crescimento econômico dos últimos 50 anos – disse.

CRESCIMENTO DA LEGENDA – O programa destacou ainda que Lula venceu em 24 Estados e utilizou imagens de emissoras de TV e páginas de jornais que mostravam a repercussão da votação no primeiro turno.

Um locutor afirmou que “a mudança que o Brasil precisa já começou” ao se referir à composição da nova Câmara dos Deputados, em que o PT conseguiu 91 cadeiras, a maior bancada da Casa a partir de 2003.

REVIDE – A proposta de um debate único, defendida por Lula e criticada por José Serra (PSDB), também foi rebatida.

O locutor destacou que Lula participou de todos os debates no primeiro turno e pretende participar no dia 25 do encontro na Rede Globo.

CONQUISTA – A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), participou do programa para apontar o crescimento da bancada feminina do partido, composta por seis senadoras, 13 deputadas federais e 50 estaduais.

– A maior bancada política feminina da História brasileira – disse Marta.

APELO – Recém-operada, a ex-governadora e senadora eleita pelo PFL do Maranhão, Roseana Sarney, apareceu no programa pedindo votos para Lula.

Lula: "Gostaria de agradecer o apoio e sobretudo o caminhão de votos que deram a mim e ao meu vice, José Alencar"

Serra
Provocações a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a proposta de realização de maior número de debates no segundo turno marcaram o primeiro programa de José Serra (PSDB) no horário eleitoral ontem.

– O segundo turno é fundamental para se fazer a comparação – disse Serra ao jornalista Alexandre Machado, que fez uma entrevista com o candidato.

As mesmas críticas foram retomadas no horário da noite. O programa mostrou ainda os apoios reunidos pelo tucano, que incluem o PPB, o PFL e “líderes de outros partidos”. Serra pediu ao eleitor para comparar as falhas do governo FH com as das administrações petistas nos Estados e prefeituras comandadas pelo PT.

Também foram exibidas imagens de comícios e de Serra com o padre Marcelo Rossi.

PLANOS – O tucano reafirmou propostas feitas em sua campanha como a criação de 8 milhões de empregos, o aumento do salário mínimo para R$ 300 e a criação do Ministério da Segurança.

PRIVATIZAÇÕES – Serra se disse contrário à privatização do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.

– Você vai saber claramente o que esperar do meu governo – afirmou.

GAROTA-PROPAGANDA – A atriz Regina Duarte foi a principal novidade do programa eleitoral de Serra à noite. Regina se disse “com medo” da situação no Brasil.

– Não dá para jogar tudo na lata do lixo – afirmou.

DIFERENÇAS – Com a mesma postura utilizada no primeiro turno, Serra procurou apontar diferenças entre seu eventual governo e o do presidente Fernando Henrique Cardoso. Disse que segurança e emprego terão programas diferentes. A segurança, assinalou, ficaria sob responsabilidade do governo federal e dos Estados. E a geração de empregos, hoje de competência do Ministério do Trabalho, passaria a envolver todos os ministérios.

Serra: "O segundo turno é fundamental para se fazer essa comparação. Não estou entendendo essa resistência"

Germano Rigotto
O programa do candidato a governador pelo PMDB, Germano Rigotto, destacou ontem à noite as políticas para os servidores. O locutor destaca que o peemedebista manterá o Instituto de Previdência “público e estatal”, além de oferecer qualificação.

À tarde, foram exibidas propostas para combater as desigualdades regionais.

– Vamos promover um programa de incentivo aos municípios – disse.

PROPOSTAS
• Promover um programa de incentivo aos municípios
• Criar a Secretaria do Interior
• Reduzir a diferença de renda entre as regiões

Tarso Genro
O emprego dominou o programa do candidato Tarso Genro (PT) ontem à noite.
– A geração de emprego será uma obsessão do governo – afirmou.

O candidato assegurou a manutenção do programa Primeiro Emprego e a criação do Começar de Novo.

O governador Olívio Dutra destacou a implantação do salário mínimo regional e o fato do Estado ter a menor taxa de desemprego no país.

À tarde, foram apresentadas propostas de desenvolvimento econômico.

PROPOSTAS
• Criar a Casa do Exportador
• Implementar o Gabinete de Estímulo às Cooperativas
• Incluir comércio e serviços no Programa de Extensão Empresarial


Tarso e Rigotto se enfrentam na TV
O petista vinculou o adversário ao governo Britto, e Rigotto fez críticas à atual administração

Ataques às administrações de Olívio Dutra e de Antônio Britto marcaram o debate de ontem entre os candidatos ao governo do Estado Germano Rigotto (PMDB) e Tarso Genro (PT), promovido na noite de ontem pela TV Bandeirantes.

Enquanto Rigotto visava à administração petista, Tarso criticava seu adversário, vinculando-o ao governo do então peemedebista Britto.

A previsão orçamentária do Estado e a atuação parlamentar de Rigotto dominaram o primeiro bloco. O peemedebista questionou o rombo de R$ 1,6 bilhão no caixa único e a verba destinada no Orçamento para o pagamento do funcionalismo. Tarso contra-atacou, dizendo que Rigotto votou pelo fim da aposentadoria por tempo de serviço e contra o seguro agrícola. O peemedebista exibiu documentos que, segundo ele, desmentiam as afirmações de Tarso. O petista, por sua vez, mostrou documentos que afirmava comprovarem suas declarações.

Tema do segundo bloco, a segurança pública foi motivo para a troca de acusações. Tarso questionou o peemedebista sobre projetos para a área. Como resposta, Rigotto prometeu melhorar a auto-estima dos policiais, despartidarizar a segurança e instrumentalizar os servidores, além de melhorar os salários.

– Vamos mudar o que tem aí. Vamos aproveitar boas iniciativas de governos anteriores – disse Rigotto.

A transferência do quartel-general da Brigada e a mudança na gestão do Colégio Tiradentes – que deixou de ser da BM e passou para a Secretaria da Educação – poderiam ser revistas em um eventual governo Tarso.

– Se necessário, vamos revisar – disse Tarso, ressaltando propostas como a contratação de 3 mil homens por concurso, separação da Secretaria de Segurança da de Justiça, projeto de integração comunitária e a criação de forças-tarefas regionais.

Enquanto Rigotto defendeu a concessão de incentivos para atrair investimentos, Tarso disse que só daria incentivos a empresas se o cálculo for favorável à economia gaúcha.

– Vou entrar na guerra fiscal para ganhar e desenvolver o Rio Grande do Sul – rebateu o candidato do PMDB.

A frase mais repetida durante o debate foi “ele não respondeu à minha pergunta”. Tarso insistiu em saber de Rigotto de quais empresas estatais venderia ações, como prevê seu plano de governo, e insinuou que o candidato do PMDB estaria abrindo caminho para novas privatizações. Rigotto reagiu dizendo que as privatizações estão fora dos seus planos.

O último bloco, de tema livre como o primeiro, foi centrado nos mesmos temas: questionamentos sobre a situação financeira do Estado feitos por parte de Rigotto e a vinculação do candidato do PMDB ao governo Britto por parte de Tarso, que se referia ao governo Britto–Rigotto.
– Não sabia que fui o vice-governador de Britto – afirmou o candidato do PMDB.


TSE nega recurso de Marchezan Jr.
O advogado Nelson Marchezan Jr. (PSDB), eleito deputado federal com 61.086 votos, sofreu mais uma derrota e corre o risco de não assumir o cargo.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Nelson Jobim, negou recurso extraordinário movido pelo tucano. Com essa decisão, o TSE mantém determinação do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Estado que não reconheceu a candidatura de Marchezan Jr. por entender que sua filiação partidária foi feita fora do prazo.

Marchezan Jr. pode ainda recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas se não tomar essa medida no prazo de até três dias depois da publicação da decisão no Diário da Justiça, o registro será cancelado. A publicação está prevista para ocorrer no máximo até amanhã. O tucano já decidiu, porém, que ingressará com agravo de instrumento, ainda nesta semana.


José Dirceu admite autonomia do BC
O presidente nacional do PT, deputado federal José Dirceu, admitiu uma eventual autonomia do Banco Central (BC) no governo do PT, caso Luiz Inácio Lula da Silva seja eleito.

O petista confirmou a posição ontem no programa Atualidade, da Rádio Gaúcha.

José Dirceu, coordenador da campanha de Lula, disse, entretanto, que essa autonomia operacional não deve ser confundida com a independência da instituição e que o tema teria de ser discutido no Congresso. Dirceu disse que a sociedade brasileira sabe que a crise está relacionada ao excessivo endividamento externo, afirmando que no passado, o governo errou na condução da política econômica e que as turbulências atuais são um fenômeno internacional:
– O Chile está enfrentando desvalorização e não tem eleição.

Para ele, o BC tem elementos para combater a especulação. Na sexta-feira, o BC tomou medidas para conter a alta do dólar, e na tarde de ontem, anunciou um aumento da taxa básica de juros, de 18% para 21% ao ano.

O petista disse que o presidente Fernando Henrique precisa ser mais humilde quando analisa a sucessão. Em resposta aos pedidos de FH para que os candidatos explicitem suas propostas, Dirceu afirmou:
– O presidente está querendo dizer o quê? Que os eleitores não sabem votar?


Artigos

TV não é professora
Roberto Fissmer

Painéis de rua (outdoors) espalhados em Porto Alegre exibiam uma peça publicitária de um estabelecimento escolar particular, constando: “TV não é professora”. É muito bom verificar que até o setor privado assim pensa. A televisão é um aparelho que, acoplado e outros equipamentos, pode servir de complemento valioso ao processo ensino-ap rendizagem, é inegável. Porém, o seu uso indiscriminado pode ser um indicativo de carências com origens variadas. A falta de funcionários, ausência de professores, inexistência de opções de lazer, pouca criatividade e outros motivos podem levar ao emprego excessivo do recurso televisivo – explicações até certo ponto aceitáveis.

Nas escolas de rede pública estadual, é comum encontrarmos educadores lecionando em séries e matérias para as quais não estão habilitados. E, pior, não gostam do que fazem por não conhecerem o conteúdo com a profundidade indispensável, mas as necessidades financeiras falam mais alto. Explicam-se, assim, os casos daqueles mestres que entram em sala de aula e dizem para os alunos abrirem os livros didáticos em determinada página para que leiam o texto ali contido. Após a leitura, uma fita de vídeo é passada e, se o tempo permitir, o livro é retomado para que seja respondido um questionário. Em um outro período, um estudante com boa letra é solicitado para transcrever a matéria do livro para o quadro, enquanto outro faz a chamada dos colegas que estão copiando o texto em seus cadernos. Como o profissional não sabe muito, e pouco oferece, também restringe os níveis de exigências em suas avaliações. Existem, ainda, aqueles educadores que, sob o pretexto de proporcionarem algo mais, um plus, às suas preleções, aproveitam os recursos disponíveis para se ausentarem da sala a fim de se ocuparem com atividades estranhas ao período, turma e matéria, deixando os educandos sem o acompanhamento necessário. Tudo em nome da qualidade do ensino – lógico.

Fica fácil constatar que nossas autoridades agem no poder bem diferente do que pregavam

É difícil entender o motivo pelo qual o Estado, ao realizar concurso para o preenchimento de vagas no quadro de carreira do magistério, faz as inscrições dos candidatos por disciplina e área de ensino, se posteriormente o professor é compelido a lecionar matérias que nada têm a ver com sua formação acadêmica. Mas como nossas autoridades estão sempre com a razão, é possível concluir que seja para valorizar ainda mais o já “conceituadíssimo” ensino oferecido à população de baixa renda. Cabe enfocar também aquelas situações de mestres que exauriram suas potencialidades após décadas de serviços dedicados à causa educacional, porém não podem solicitar a tão sonhada aposentadoria em função das prejudiciais mudanças nas regras previdenciárias, deixando-os frustrados. Ou, ainda, não o fazem porque o salário pago aos professores pelo Estado é miserável e na inatividade não receberiam o auxílio transporte, o vale-refeição, adicional de férias e gratificações que dependem de tempo para serem incorporadas aos vencimentos, e isso representa uma grande diferença.

Fica fácil constatar que nossas autoridades agem no poder bem diferente do que pregavam e cobravam quando na oposição. Tome-se por exemplo os 190% de reposição salarial implacavelmente exigidos no passado. Revigoram o velho adágio popular: “Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço”.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Segundo turno
O segundo turno, como dizem os especialistas, é uma nova eleição. Por isso mudaram as atitudes dos protagonistas do processo eleitoral. O candidato da oposição foi buscar alianças contraditórias, mas necessárias para confirmar seu favoritismo. Inimigos de ontem no plano ideológico se tornaram aliados importantes hoje. É o caso do festejado apoio da família Sarney e do senador eleito Antonio Carlos Magalhães. Uma decisão pragmática, podem argumentar os aliados de Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo que dela discordem os líderes mais radicais do partido. Quando foi fechado o acordo PT/PL, Lula enfrentou vaias em comícios em Santa Catarina. A outra mudança relevante neste segundo turno foi relativa ao comportamento do presidente Fernando Henrique Cardoso.

O esquerdista dos anos 70/80 converteu-se à social-democracia e impôs essa marca ao seus oito anos de mandato. No primeiro turno não se envolveu na disputa. Assumiu posição de magistrado e chegou até mesmo a admitir a densidade eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva. Neste segundo turno, ao contrário de Lula que continua cada vez mais “light”, FH assumiu uma inimaginável atitude “hard” para cobrar coerência do adversário que, na sua avaliação, está plagiando o mote da campanha de José Serra, que quer “mudança com segurança”.

Na entrevista à revista Época desta semana e na matéria da Folha de S. Paulo de domingo, FH decidiu bater forte na candidatura do PT, que o próprio Palácio do Planalto considera “difícil de ser batida” nestas alturas da campanha. Se FH e seus assessores mais diretos não alimentam ilusões quanto às chances de José Serra, por que só agora o presidente decidiu arregaçar as mangas e subir no palanque de seu ex-ministro da Saúde e amigo desde os tempos de exílio? Essa é uma boa questão que talvez só no futuro possa ser respondida com precisão. O fato é que a reação de FH já teve resultados. Na entrevista dada ontem à Rádio Gaúcha, o presidente do PT, deputado José Dirceu, mostrou indignação com as críticas feitas pelo presidente da República, a quem chamou de “político da direita”. A campanha do segundo turno começou com mais excitação, pelo menos.


JOSÉ BARRIONUEVO

Covatti deve ser o primeiro presidente
Definida a composição da Assembléia Legislativa, que toma posse no dia 31 de janeiro, já começaram os entendimentos para a formação da futura Mesa. As primeiras conversas apontam para um rodízio na presidência envolvendo quatro partidos – PPB, PMDB, PDT e PTB, com o cargo ocupado pelos deputados mais votados. Haveria um rodízio entre Wilson Covatti, mais votado da Assembléia e da maior bancada hoje de oposição, que ocuparia o cargo já no próximo ano, Vieira da Cunha (PDT) Iradir Pietroski (PTB) e João Osório (PMDB). Os quatro asseguram a maioria dos votos, o que não impedirá o convite ao PPS e ao PSDB para participar do acordo. A Mesa será plural, com a participação do PT, como ocorre hoje.

Nome de rua para Lenin e Marighela
Provocou polêmica no plenário da Câmara, ontem, proposta do vereador Aldacir Oliboni (PT) dando os nomes de Lenin e Carlos Marighela a duas ruas no Bairro Glória. João Carlos Nedel e Pedro Américo Leal, do PPB, divulgaram declaração de voto, que, destaca entre sete itens, o seguinte, no caso de Marighela: “Coordenou o assassinato em 12 de outubro de 1968 do capitão Charles Chandler, na frente da sua esposa e de seu filho de nove anos, na porta da sua residência no Sumaré. O assassinato foi executado por Marco Antônio de Carvalho, Pedro Loboe de Oliveira e Diógenes de Oliveira” (o mesmo do Clube da Cidadania).

Evangélicos
Não foi suficiente o empenho do vereador Aldacir Oliboni, que representa Cristo na procissão do Morro da Cruz, para assegurar o apoio a Tarso dos dois vereadores da Igreja Universal: os pastores Valdir Caetano, do PL, e Almerindo Filho, do Partido Social Liberal. Ambos seguem o capitão Medina no apoio a Rigotto, à revelia do comando nacional.

Três em um
O PT de Pelotas adotou nova tática para seduzir o eleitor: o voto 3 em 1. Os militantes sugerem que, ao votar em Tarso, o eleitor estará elegendo também duas deputadas da cidade, Miriam Marroni e Cecília Hypólito. Suplentes, assumiriam com a convocação de deputados para o secretariado.

PTB decide
Por unanimidade, o diretório do PTB decidiu apoiar a candidatura de Germano Rigotto. No caso da sucessão presidencial, mesmo que todos os oradores tenham externado apoio a Serra, o partido preferiu liberar os filiados para votar também em Lula, se assim entenderem.

Em respeito a Utzig
O colunista faz questão de reproduzir na íntegra carta de Ana Carolina Escosteguy, viúva de José Edua rdo Utzig, sobre foto publicada na coluna em que Tarso Genro aparece rezando, num dia de muitas procissões e eventos religiosos.

Porto Alegre, 14 de outubro de 2002

A José Barrionuevo
Sensibilizada pelas palavras de apreço a José Eduardo, em tua coluna de 10 de outubro, sinto-me obrigada a me pronunciar, num momento de tão grande recolhimento, a respeito de tua coluna de hoje, dia 14 – comentário “Água benta, paz e amor”.

Jornalista que sou, abrigando em mim os ideais desta profissão, vejo-me invadida na minha dor tão recente, por uso indevido, distorcido e enganador de uma imagem relacionada a uma celebração de solidariedade, exclusivamente entre amigos – entre eles, Tarso Genro – e familiares, onde reverenciávamos a integridade, o idealismo, o civismo de meu marido e juntos compartilhávamos a dor de sua ausência.

Como profissional, até posso entender que, para angariar tantos leitores, seduzi-los e mantê-los cativos, um jornalista como tu coloque, acima de tudo, sua visão pessoal e ideológica, manipulando e construindo uma versão que, neste caso, nada tem a ver com a realidade. Neste sentido, utilizas uma foto da missa de 7º dia da morte de José Eduardo para afirmar tua própria ideologia, abandonando por completo a veracidade dos fatos e o compromisso de transmiti-los com um mínimo de objetividade e dignidade. Repito, eu, pessoalmente, não posso admitir tal ato, bem como acredito que não deva ser admitido na prática do jornalismo.

Respeito, como meu marido, as diferenças políticas e religiosas, mas considero inaceitável o comentário emitido em tua coluna e tenho certeza de que permitirás a teus leitores conhecerem, de forma integral, o conteúdo desta nota em respeito à memória e trajetória de José Eduardo Utzig.
Ana Carolina Escosteguy

Em tempo
O colunista escolheu as fotos para a página temática de ontem (Rigotto beijando a santa, Tarso rezando, Olívio na romaria e Hohlfeldt na procissão dos motoqueiros) sem se dar conta de que uma delas era da missa de sétimo dia de José Eduardo Utzig. Por isso, pede sinceras desculpas à família por algum constrangimento que a publicação possa ter causado.
O colunista espera que, com o pedido de desculpas, o lapso não sirva para exploração política da memória de José Eduardo.

Por um ideal
O respeito pelo ser humano deve estar acima de eventuais diferenças na “visão pessoal e ideológica”. No dia seguinte à morte, a Página 10 publicou o seguinte comentário sobre o coordenador da campanha de Tarso Genro:
“Tive oportunidade de conhecer mais de perto José Eduardo Utzig, um idealista, apaixonado por política, estudioso, conciliador, que respeitava a divergência. Um homem que lutou por um ideal a ponto de dar sua vida. São figuras assim que fazem a diferença na história de uma comunidade, de uma cidade, de um país”.

Caminhada pela paz no RS
As mulheres dos partidos que apóiam a candidatura Germano Rigotto realizam hoje uma caminhada para marcar o 15, número do candidato a governador. Será realizada no dia 15 a partir das 15h, desde o diretório do partido, na João Pessoa, 931, deslocando-se por Salgado Filho, Doutor Flores até o Largo Glênio Peres.
É a Caminhada pela Paz no RS.

Clube de opinião debate
Está marcado para amanhã, às 16h, o encontro dos candidatos ao governo com o Clube de Editores e Jornalistas de Opinião. Os candidatos serão entrevistados separadamente, Rigotto das 14h às 15h, Tarso em seguida, das 15h às 16h.

Cabo eleitoral
O deputado Marcos Rolim, que não recebeu os votos necessários para continuar exercendo seu excelente trabalho na Câmara, foi ao encontro de Caetano Veloso, nos camarins, para agradecer o apoio dado a sua campanha pelo baiano, que assinou manifesto nos jornais.


ROSANE DE OLIVEIRA

O juro e a campanha
Se a diferença entre Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra fosse menor, o aumento dos juros anunciado ontem poderia fazer diferença no resultado da eleição. Como Lula tem o dobro das intenções de voto de Serra nas pesquisas divulgadas no fim de semana, a crise na economia é só mais um percalço na já difícil campanha do candidato do governo. Com a elevação do juro, o governo tenta segurar o dólar, já que o pacote anunciado na sexta-feira se mostrou insuficiente.
A alta dos juros, mesmo que necessária, terá efeitos perversos na economia e nas contas públicas. Em outras oportunidades, o aumento do juro conseguiu derrubar a cotação do dólar. Se não surtir efeito desta vez, a bomba que o presidente eleito terá de desarmar ficará ainda mais potente. Ninguém, exceto os especuladores, ganha com a crise.

No bolso do consumidor, o efeito será imediato, traduzido em crédito escasso e caro. Mesmo assim, as conseqüências eleitorais da medida devem ser mínimas, porque a maioria dos eleitores já decidiu seu voto, e os críticos da política econômica do governo já estão na trincheira oposta. Também não tem funcionado a associação, feita pelos aliados do governo, do agravamento da crise ao crescimento de Lula nas pesquisas. O eleitor tem seguido o raciocínio do deputado Delfim Netto, do PPB, de que se Lula não compra nem vende dólares, a responsabilidade é de quem está no comando da economia.

O debate das questões econômicas, que poderia permitir o aprofundamento da discussão, será restrito. No programa eleitoral de ontem, Lula antecipou que participará de apenas um debate – o da Rede Globo, no último dia da campanha. Sem tempo, portanto, para utilização das imagens na propaganda eleitoral.

Se a esperança de Serra de melhorar seus índices nas pesquisas era a propaganda no rádio e na televisão, o primeiro dia foi quase perdido. O programa da tarde conseguiu ser pior do que todos os do primeiro turno – sonolento, sem atrativos, sem emoção. O da noite melhorou um pouco. Na reestréia, a equipe do publicitário Duda Mendonça, responsável pelos programas de Lula, ganhou de goleada, com a exibição das adesões de Ciro Gomes e Anthony Garotinho.

Mesmo que tente disfarçar o desânimo, Serra entra na segunda das três semanas de campanha do segundo turno em desvantagem. Além do resultado desanimador das pesquisas, tem contra si a paralisia dos tucanos. Eleito governador de Minas no primeiro turno, o deputado Aécio Neves entrou em férias para descansar da campanha, em vez de jogar seu prestígio na busca de votos para Serra no segundo maior colégio eleitoral do país.


Editorial

HORIZONTE SOMBRIO

O gigantesco aumento das despesas financeiras, decorrente do incremento já quase insuportável da dívida, levou o presidente Fernando Henrique Cardoso a legar a seu sucessor um Orçamento Geral da União extremamente rígido para 2003. Muito provavelmente, o futuro ocupante do Planalto sequer poderá descansar da campanha eleitoral: já no dia 28 terá de começar a articular com o Congresso uma descompressão da Lei de Meios que assegure ao próximo governo um mínimo de recursos para a decolagem.

A míngua de investimentos programados para a área social e a de infra-estrutura dificultará a reativação da economia, compromisso prioritário de Luiz Inácio Lula da Silva e de José Serra. Áreas como Comunicações, Gestão do Meio Ambiente, Transportes, Saneamento, Habitação, Cultura, Esportes, Defesa dos Direitos da Cidadania viram suas dotações reduzidas. O horizonte não é melhor para os setores de Educação e Saúde, nos quais houve elevação de verbas, mas em níveis inferiores à demanda projetada. E seguramente o ungido das urnas terá de defrontar-se com forte tendência de alta da inflação.

É preciso que os candidatos à Presidência saibam dosar suas expectativas para o Brasil

Não foi outro aliás o recado da reunião de ontem do Comitê de Política Monetária (Copom), ao jogar a taxa básica de juros de 18 % para 21% – o maior patamar desde julho de 1999 –, em razão da escalada dos preços, decorrente da depreciação acentuada do real. Isso significa dinheiro mais caro para os tomadores finais e novos obstáculos para o relançamento da atividade produtiva. Já na última semana o Banco Central lançara mão de um pacote de medidas endereçado aos bancos que na prática antecipava a resolução ontem adotada. Nesse cenário sombrio, não chega a soar animador o anúncio do secretário do Tesouro segundo o qual o novo mandatário encontrará pelo menos R$ 83 bilhões em caixa.

De acordo com Eduardo Guardia, haverá fundos suficientes para arcar com a folha de pessoal, a conta da Previdência e o custeio da máquina estatal. Mais: como, do total, R$ 26 bilhões correspondem a uma provisão para que o país honre seus compromissos, o escolhido dos eleitores, pelo menos nos três meses iniciais, não teria por que se preocupar com o espectro de um calote do débito. É certamente tranqüilizador que as autoridades que deixarão o poder tratem de facilitar a transição, inclusive no minado caminho da crise que avassala a nação.

Diante do agravamento da conjuntura, claramente sinalizado pelo Copom, os dois homens públicos que concorrem ao Planalto precisam no entanto estar conscientes de que as dificuldades com que se defrontarão muito possivelmente ultrapassarão seus prognósticos mais pessimistas. Por isso mesmo, é preciso que saibam dosar suas expectativas para o Brasil, para não frustrarem cidadãos exaustos de esperanças abortadas.


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10/15/2002


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