Rigotto lidera no Sul










Rigotto lidera no Sul
Candidato tem 41% contra 37% de Tarso Genro

PORTO ALEGRE - Com 97% das urnas apuradas, o candidato do PMDB ao governo do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, liderava as eleições no Estado com 41,18% dos votos válidos. O segundo turno deverá ser disputado com o candidato do PT, Tarso Genro, que tinha 37,18 e vinha em segundo. Antônio Britto, do PPS, estava em terceiro, com 12,29%.

- Com esse resultado, começamos uma nova etapa, com muita humildade e responsabilidade - disse Rigotto, em entrevista coletiva no comitê de campanha.
Quase sem voz, o candidato do PMDB disse que fez um trabalho sério e honesto, respeitando os outros candidatos.

- Em agosto, eu tinha 4% e cheguei a 40% nas pesquisas de boca-de-urna. Pretendo fazer uma campanha de alto nível, trabalhando duro, respeitando o adversário e sempre olhando para a frente.

O candidato da Frente Popular, Tarso Genro, agradeceu aos gaúchos, dizendo que eles deram uma demonstração cívica ao país.

- Encerramos o primeiro turno de maneira positiva, independente do resultado matemático. O índice que estamos obtendo é espetacular para quem é governo e mostrou um novo projeto político social.

O candidato do PPS ao governo do Estado, Antônio Britto, anunciou ontem, oficialmente, que votará em Germano Rigotto para o Palácio Piratini, no dia 27 de outubro.

- Tomo esta decisão com a maior tranquilidade, com a marca da convicção e da defesa dos interesses do Rio Grande do Sul. Estou certo de que as oposições vencerão as eleições no Estado - previu Britto.

Tarso Genro, candidato do PT, se disse satisfeito com os resultados iniciais que o colocavam no segundo turno.

- Apesar das adversidades e das montagens, estamos orgulhosos com a evolução de nosso partido no cenário nacional - disse Genro.


Lula e Serra vão para 2° turno
Decisão sobre quem será o novo presidente do Brasil só no dia 27 deste mês. Petista chegou perto, mas não atingiu a maioria absoluta

BRASÍLIA - A apuração dos votos, até a madrugada de hoje, mostrava que a eleição presidencial seria decidida no segundo turno, a se realizar no dia 27 deste mês, disputado entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e José Serra, do PSDB. Com 70% das urnas apuradas em todo o país, Lula tinha 46,7% e Serra 23,9% dos votos válidos.

Apesar de Lula vencer na maioria dos Estados - perdia no Ceará, para Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, e em Alagoas, para Serra - apenas em sete Estados o petista obteve mais da metade dos votos válidos, requisito fundamental para uma vitória no primeiro turno.

Em alguns Estados - Minas Gerais, Distrito Federal, Bahia, Acre e Santa Catarina - o resultado foi animador, com o petista obtendo votações significativamente maiores que 50%. Em outros, como Amapá e Paraná, a maioria foi menos expressiva, com pouco mais de 50% dos votos.

De seu lado, José Serra teve uma performance muito boa em Estados importantes, como no Rio Grande do Sul, onde teve mais de 32% dos votos (Lula teve 43%) e, especialmente, São Paulo. No maior colégio eleitoral do país, Serra também se aproximou do petista (teve 32% contra 44% de Lula), resultado bastante favorecido pela vitória do tucano na capital. Até a meia noite, Serra vencia Lula entre os paulistas por 38% a 36%. No único Estado onde foi vitorioso, Alagoas, Serra bateu Lula por cerca de 31% a 27%.

O desempenho de Ciro Gomes e de Anthony Garotinho, do PSB, em seus principais eleitorados também ajudou a frustrar os planos petistas para uma decisão no primeiro turno, impedindo-o de chegar à maioria absoluta dos votos. No Ceará, berço político de Ciro, o candidato do PPS venceu com mais de 44% dos votos, enquanto Lula, em segundo, teve 39%.

No Rio de Janeiro, Lula até ficou em primeiro - teve 44% dos votos - mas o ex-governador Anthony Garotinho apresentou entre os eleitores fluminenses o melhor desempenho de toda a votação. Ficou com mais de 35% dos votos, índice muito superior a sua média nacional. E o Rio tem o terceiro maior número de eleitores do país.

Embora pouco depois da meia-noite ainda não fosse possível nenhuma certeza sobre o resultado final, o resultado da apuração apontava para um cenário menos favorável a Lula do que o indicado pelas pesquisas de opinião um dia antes da eleição - e mesmo dos números da boca-de-urna.

Ao contrário dos 49% ou 50% que chegaram a ser apontados como votos ao petista, Lula parecia ficar com entre 46% e 47%. O tucano José Serra, que aparecia até as últimas pesquisas com entre 20% e 22%, mostrava-se nos resultados preliminares estar chegando ao segundo turno com entre 23% e 24%.

E os prováveis resultados em dois Estados podem dificultar a costura de alianças de Lula no segundo turno. Um eventual apoio de Anthony Garotinho pode ser prejudicado pela disputa no Rio de Janeiro, já que a candidata apoiada por Garotinho, sua mulher, Rosinha Matheus, deve disputar até o dia 27 com a petista Benedita da Silva.

A mesma ponderação pode ser feita pelo resultado do Ceará. Lúcio Alcântara, candidato de Ciro e de seu padrinho político, Tasso Jereissati, tinha pouco mais de 50% dos votos até a meia-noite de ontem. Pelo menos teoricamente ele ainda poderia ser surpreendido por uma disputa no segundo turno com um também petista, José Airton.


Uma eleição confusa
Problemas retardaram início da divulgação dos primeiros boletins pelo TSE

BRASÍLIA - Filas enormes, eleitores confusos na hora de marcar os votos, substituição de urnas defeituosas quebradas por outras máquinas e até por cédulas manuais. Em vários pontos do país a votação terminou até três horas depois do prazo. A primeira eleição totalmente informatizada da história do país mostrou que, pelo menos por enquanto, tecnologia não significa agilidade absoluta. Mesmo assim, o Tribunal Superior Eleitoral manteve o tom otimista.

- O número de urnas substituídas ficou dentro da margem de 1% que nós esperávamos - garantiu o relator de instruções eleitorais do TSE, ministro Fernando Neves.

O balanço divulgado pelo presidente do TSE, ministro Nelson Jobim, mostrou que, das 406 mil urnas eletrônicas utilizadas em todo Brasil, 5.198 foram substituídas, incluindo aquelas que continham módulos de impressão - que permite ao eleitor visualizar o voto dado. De acordo com Jobim, 541 desses módulos apresentaram problemas. Em 325 seções, o sistema eletrônico foi trocado por cédulas manuais.

Além das urnas eletrônicas espalhadas em todas as 335 mil seções de votação nacionais, alguns brasileiros se viram diante da novidade do módulo de impressão. Introduzido em caráter de teste no Distrito Federal, Sergipe, Maceió, Cuiabá e outros 70 municípios, ele tem como objetivo garantir a fidelidade entre o desejo dos eleitores e os votos registrados nos boletins dos tribunais.

Os módulos foram utilizados por cerca de 7% dos eleitores, ou cerca de 8 milhões de pessoas. Após digitar o número dos seis candidatos, o eleitor pôde conferir, em um visor instalado ao lado da urna, se os dados conferiam com os digitados. Em caso positivo, bastava confirmar, mais uma vez, o voto. Caso contrário, era obrigado a recomeçar todo o processo de votação.

Mesmo sem admitir problemas, o TSE se viu obrigado a mudar seus planos no decorrer do dia em virtude dos diversos problemas registrados. A idéia inicial do Tribunal era começar a divulgar os primeiros boletins parciais das eleições presidenciais a partir das 19 horas. No final da tarde, o ministro Fernando Neves, em entrevista coletiva, admitiu que o anúncio dos primeiros resultados sofreria um atraso de meia hora.

O ministro fez um apelo aos meios de comunicação para que atrasassem a pub licação dos resultados das pesquisas bocas-de-urna, autorizadas pelo TSE para as 17 horas.

- Apelamos para o bom senso dos meios de comunicação, para evitar que os eleitores que ainda estejam nas filas de votação, sejam influenciados pelos números preliminares dos institutos - pediu ele.

Uma das razões levantadas pelo TSE para justificar o atraso nas votações foi o fato de que os eleitores tiveram que votar em seis candidatos - sendo dois senadores. Um a mais do que na eleição de 1998.
Os problemas de votação registrados no Rio, onde 530 urnas eletrônicas foram substituídas - 2% do total do Estado, o dobro da média nacional - fizeram com o que o candidato do PSB à presidência, Anthony Garotinho, insinuasse que poderia pedir a impugnação das eleições deste domingo.

- É uma vergonha que, em algumas seções, pessoas estejam recebendo senhas para votar amanhã (hoje) - protestou.

Em Brasília, os mesmos boatos mobilizaram o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Marco Aurélio, que votava na Escola das Nações, localizada no Lago Sul, bairro nobre da cidade. Marco Aurélio viu uma confusão na seção ao lado da sua e alguns eleitores dizendo que estavam sendo orientados a ir para casa e justificar o voto posteriormente.

- Quando fui verificar, descobri que a sugestão era para que eles retornassem ao longo do dia para ver se a urna eletrônica voltava a funcionar. Ponderei para que a máquina fosse substituída por cédulas de papel, o que acabou acontecendo - concluiu o ministro.


Tucano votou e pediu voto
Serra foi advertido pelo presidente da mesa por fazer propaganda na seção eleitoral

SÃO PAULO - José Serra chegou animado para votar, mas levou um pito público: foi duas vezes advertido pelo presidente da 69ª seção, Luciano Barbosa Massola, por ter declarado que o seu número era o 45 - e que votaria na reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo paulista. O presidente da mesa repreendeu o candidato, dizendo que era proibido dar entrevistas no local. O candidato tucano voltou para casa logo em seguida. Com febre, foi cuidar da gripe e da rouquidão que o perseguem há dois dias. Não quis dar entrevistas, nem quando os resultados que apontavam para a realização do segundo turno foram divulgados.

- Hoje quem deve falar é o povo, através do voto - disse.

Serra permaneceu 40 minutos no Colégio Santa Cruz, no bairro de Alto de Pinheiros. Levou cerca de 15 minutos na sala de votação e um minuto e 15 segundos para registrar os votos na urna eletrônica. O candidato se atrapalhou ao colocar os óculos e ler a cola com os números escritos para os candidatos a governador, senador, deputado federal e deputado estadual. Entrou e saiu da cabine de votação fazendo o V da vitória, sempre com Alckmin.

- Vou votar em mim. Mas não esqueçam do Alckmin - gritou Serra, ao entrar na cabine e receber a primeira advertência do presidente da mesa.

Depois de votar, recebeu a segunda advertência ao gritar ''45'', o número do PSDB.

Serra acordou cedo, tomou café da manhã com o comando da campanha e ensaiou uma caminhada em direção ao colégio. Chegou a andar 10 metros, mas desistiu, alegando que a filha, Verônica, estava grávida.

No café da manhã, acertou uma estratégia de emergência. Como soube do crescimento do candidato do PSB, Anthony Garotinho, Serra determinou aos assessores de fora de São Paulo, que fossem votar nos Estados de origem. Às 6h da manhã, o deputado Jutahy Magalhães (BA) telefonou para o vice-presidente do PSDB, Alberto Goldmann, alertando que, para garantir segundo turno, era preciso intensificar a ação dos militantes.
- A situação está apertada. Coloquem Isordil (remédio contra pressão alta) no kit de segurança - brincou o coordenador de marketing Nelson Biondi.

Um pedido de socorro foi feito aos candidatos a governos estaduais com chances de vencer no primeiro turno, como Aécio Neves (MG) , Jarbas Vasconcelos (PE) e Marconi Perillo (GO). Goldmann atribuiu as dificuldades de Serra a ''erros naturais'' na campanha e ao fato de o tucano ser alvo preferencial dos adversários.

Serra só parou de pedir votos quando voltou para casa no início da tarde para almoçar e tirar um cochilo. Ele segurava a muda de arruda que lhe foi dada pelo advogado Marcos Edgard Arruda Camargo, de 38 anos.
- Me deu vontade de comprar a planta e dar a Serra para espantar o mau olhado - explicou o advogado.


PT quer evitar clima de derrota
Partido aposta na larga margem contra Serra para animar militantes

SÃO PAULO - Com o resultado das eleições no primeiro turno levando a decisão das eleições brasileiras para uma segunda etapa, no próximo dia 27, contra José Serra (PSDB), o comando de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou ontem à noite mesmo um movimento para evitar que uma vitória por larga margem do candidato acabasse parecendo derrota. Embora não admitam, os petistas trabalharam incessantemente nas últimas semanas pela vitória no primeiro turno e uma sensação de decepção podia ser percebida ontem no comitê de Lula na Vila Mariana, em São Paulo.

A prioridade agora é evitar que o banho de água fria passe ao eleitorado a imagem de que Lula novamente morreu na praia. E insistir na tecla de que, com tamanha vantagem sobre Serra, o petista tem toda a condição de finalmente conquistar a Presidência.

Um dos primeiros a fazer um chamado aos eleitores e militantes do partido foi o economista José Graziano, um dos principais estrategistas da campanha.

- A situação é favorável para nós. É muito difícil que Serra consiga reverter a vantagem que abrimos. Mas é bom lembrar que ainda há uma eleição inteira pela frente - declarou.

O economista disse que o fato de candidatos do partido terem inesperadamente passado para o segundo turno em Estados importantes, caso de São Paulo, servirá como antídoto para um possível desânimo da militância. O próprio Lula, em seu primeiro pronunciamento pós-eleição - que deve ocorrer hoje - colocará a convocação aos militantes como tema principal.

Pouco antes das 23h, o porta-voz da campanha, André Singer, afirmou que o cenário ''mais provável'' era a realização de segundo turno.

- Lula considera que o PT obteve um desempenho admirável e, apesar de haver ainda possibilidade de vitória no primeiro turno, estará preparado para vencer na segunda etapa - afirmou.

O partido inicia imediatamente a busca pelo apoio de Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB). Um dos primeiros a ser procurados pelo presidente do PT, José Dirceu, será o presidente do PDT, Leonel Brizola. No final da tarde de ontem, Lula admitiu estar ''um pouco apreensivo''.

- Hoje (ontem) me sinto sereno e tranqüilo como nunca. É óbvio que há uma certa apreensão, mas quem tem de estar preocupado é o Serra e o Garotinho, que estão disputando dedo a dedo quem irá comigo para segundo turno, se houver - disse.


Partidos buscam apoios
Começam articulações em torno do segundo turno ou do governo Lula

BRASÍLIA - Mesmo antes de qualquer resultado anunciado, os partidos estavam cuidando da sobrevivência pós-primeiro turno. As reuniões, marcadas para esta semana, decidirão quem irá aliar-se no segundo turno ou quem fará parte de um governo de Luiz Inácio Lula da Silva. No PT, as conversas começam hoje mesmo. Ainda não há nada de oficial, mas mensageiros do partido já tinham sido orientados a procurar os opositores para articular os encontros e apoios, seja para o segundo turno, seja para compor o governo.

O PFL reúne-se em Brasília na quinta-feira. O apoio a Lula está descartado. O partido discutirá se adota a independência ou se apóia o adversário do PT. No caso de Lula ser eleito, o PFL não tem dúvidas: ocupará espaço entre os opositor es do governo. O PPS de Ciro Gomes também estará em Brasília esta semana. Amanhã, o presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE), discute o futuro do partido com a Executiva. Ciro Gomes ainda não foi confirmado na conversa. Segundo Freire, ele deve estar muito cansado.

- A tendência do PPS é seguir Lula no segundo turno, se houver. Caso ele ganhe, vamos esperar ser convidados para compor o governo. Mas a oposição ao PT está descartada - afirmou o senador, antes de saber o resultado.

Depois de pedir a renúncia de Ciro, o PDT poderá finalmente apoiar Lula na eleição. O deputado Vivaldo Barbosa (RJ) garante que esse é o caminho natural do partido. As idéias e planos do PT estão próximas das propostas do PDT. No caso de um governo de Lula, o partido de Brizola não esperará por um telefonema do petista.

- Não vamos esperar que nos procurem. Ligarei para Lula para dar parabéns pela vitória ou pela primeira colocação no primeiro turno. No embalo, conversaremos sobre apoio - adiantou o parlamentar na tarde de ontem.

No PTB, as coisas não são tão simples. O presidente do partido, deputado José Carlos Martinez (PR), explicou que convivem no partido as mais variadas tendências. Os aliados do parlamentar encontraram-se na casa dele em Brasília, terça-feira à noite. O partido está dividido.

- Nos lugares onde o PT governa, a relação com os políticos do PTB é de animosidade. No resto do Brasil pode até ser que haja alianças - disse Martinez, garantindo que, em um governo do PT, o partido não fará oposição.

O PMDB e o PSDB não perderão tempo. Segundo o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), logo depois da proclamação do resultado, começam as articulações. Com José Serra (PSDB) indo para o segundo turno, os dirigentes da coligação procurarão PTB e PFL. Os eleitores de Ciro e Anthony Garotinho, do PSB, também serão alvo do assédio de Serra.

- Se Lula ganhar a eleição vamos conversar bastante. Mas isso depois que o PT nos procurar. Sem coalizão, será difícil governar - disse Temer, antes de saber se haveria segundo turno.

PSTU e PCO também conversarão esta semana sobre o que fazer no segundo turno.


Rita chora de saudade da família
VITÓRIA - A deputada Rita Camata (PMDB-ES) chorou ao dizer que a campanha para vice-presidente na chapa de José Serra (PSDB) a privou do contato com a família, principalmente com o filho Bruno, de dois anos.

- Ele (Bruno) sente muito a minha falta, mas eu abri mão do contato com a família por um projeto maior - disse a candidata.

A deputada chegou para votar com o filho no colo, vestido com uma blusa da campanha e com um adesivo de José Serra colado na barriga. Incitado pela mãe, o menino repetia que ia votar ''na mamãe, no papai e no Serra''. Também acompanharam a deputada a filha Enza, 16, que votou pela primeira vez, e o marido, senador Gerson Camata (PMDB), candidato à reeleição.

Rita demorou 15 minutos para achar sua seção eleitoral, pois não sabia que o número havia mudado. Depois de votar, percorreu todas as seções cumprimentando os mesários. Ela repetiu o gesto na zona eleitoral onde votaram seu marido e a filha. Antes de votar, a deputada foi com o marido à missa na paróquia de Santa Rita de Cássia, padroeira das causas impossíveis.

- Agradeci a Deus pela caminhada por todo o país com harmonia e paz, durante a campanha, e pedi para que o Brasil continue avançando e com justiça social - disse ela.

Sempre apostando no eleitorado feminino, Rita disse que agradecia a Deus ter lhe dado a graça de ser a representante ''da mãe, da operária, da trabalhadora, da mulher que se angustia pela falta de emprego do marido ou do filho''.


Um voto mais moderno

ANÁLISE ELEITORAL
As eleições de ontem em todo país, levando às urnas quase 100 milhões de pessoas, mostraram a necessidade urgente de a Justiça eleitoral modernizar o processo de votação para evitar as aflições que angustiaram milhões de pessoas. Não é possível que o avanço da informatização não seja acompanhado por grau equivalente de racionalização. Efetivamente, não se pode expor milhões de pessoas aos constrangimentos que ocorreram.

Vamos esperar que daqui a três semanas, no segundo turno, no plano federal e em diversos Estados em que houver novas eleições, os eleitores encontrem condições bem mais favoráveis do que as de ontem. Basta dizer que, no Rio de Janeiro, em muitos locais, a votação tinha seqüência às 21 horas. Esta é uma situação inadmissível, capaz até de influir para aumentar níveis de abstenção pela desistência. Todos temos de admitir que há um número muito grande de pessoas que, por problemas físicos, não podem ficar horas na fila. Os eleitores precisam ser mais bem tratados pelo poder público.

Claro que, no segundo turno, os problemas vão ser mínimos, já que o número de votos a ser digitado é muitíssimo menor. Mas esta é outra é outra questão.

Pela lei, as campanhas recomeçam 48 horas depois de proclamar-se o resultado do primeiro turno. Haverá na televisão 20 minutos à tarde e outros tantos à noite até o dia 25. Haverá debates certamente e os confrontos vão partir de novos marcos. Em vários casos, as situações podem se manter. Em outros casos não.

Vejam só o que aconteceu no Rio de Janeiro e São Paulo. As pesquisas , inclusive as de boca-de-urna, falharam. Em São Paulo, Genoíno ultrapassou amplamente Maluf e vai decidir com Geraldo Alckmin. Poucos esperavam o desfecho no Rio de Janeiro. De acordo com as pesquisas, era ainda menos provável um encurtamento tão veloz da distância entre Rosinha Matheus e Benedita da Silva. Segundo turno entre as duas com resultados imprevisíveis. É preciso inclusive levar em conta como o prefeito Cesar Maia vai se posicionar. Em São Paulo, o que fará Paulo Maluf ?

A verdade é que cada vez mais uma parcela substancial do eleitorado deixa para se definir só no dia da votação. Isso não justifica os equívocos das pesquisas, mas pode explicar mutações de última hora. O fato é que os eleitores vão ser novamente chamados às urnas e, desta vez, espera-se que os candidatos, especialmente os dos Estados, apresentem programas de conteúdo mais concreto. É o que os eleitores aguardam: sentirem-se mais bem representados por aqueles cuja atribuição é exatamente representá-los.


Ciro diz que país terá dias difíceis
Para candidato, qualquer que seja o vencedor, será preciso administrar uma 'bomba' na economia

O candidato da Frente Trabalhista à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou ontem que, qualquer que seja o vencedor destas eleições, terá que administrar ''tempos muito difíceis''. Para ele, a razão é a situação econômica do país, com ''o rombo nas contas externas, o câmbio flutuante e a indexação da dívida interna ao cambio''.

- Isso provoca uma bomba de mil megatons, como ameaça para a economia brasileira. É um conserto difícil e 2003 será um ano muito difícil.

No Rio, enquanto acompanhava sua mulher, a atriz Patricia Pillar, que votou na Pontifícia Universidade Católica (PUC), na Gávea, Zona Sul, Ciro queixou-se das pesquisas que, segundo ele, representaram ''o maior abuso desta eleição''.

- Eu acho que ficou demonstrado nesta eleição o abuso que tem sido a manipulação dos institutos de pesquisa. Basta que você veja a discrepância profunda de números. Isso desorientou muita gente. Foi um dos maiores abusos do processo eleitoral.

Líder nas pesquisas na capital cearense, Ciro votou à tarde no colégio Santo Inácio, no bairro Dionísio Torres, em Fortaleza, em clima de euforia e assédio. Ele provocou uma correria de eleitores e jornalistas na seção 196 da 1ª Zona Eleitoral. Os filhos do candidato, Iuri e Lívia, também votaram no mesmo local, acompanhando o pai.

- Estou confiante na vitória. Deus está abençoando o povo brasileiro para que escolha o melhor - disse Ciro na entrada do colégio.

Depois de votar, Ciro descansou em seu apartamento, de frente para o mar na Avenida Historiador Raimundo Girão, no bairro da Praia de Iracema, com a mulher, amigos e assessores.

Quem protagonizou o momento de maior otimismo ontem foi Patrícia Pillar. Depois de enfrentar uma fila de 40 minutos na PUC, assim que se aproximou da urna eletrônica, ela se virou para a porta da sala, onde o candidato a esperava, e jogou-lhe um beijo. Quem estava na sala pôde ouvir quando ela disse ''yes'' (sim, em inglês), em um sinal de empolgação, logo que terminou.

- Jamais me perdoaria se não tivesse feito o que eu fiz (na campanha), disse.


Garotinho deve apoiar Lula
Ex-governador seguirá decisão do PSB

O presidenciável do PSB , Anthony Garotinho, deverá anunciar o apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno. O ex-governador do Rio preferia ficar neutro na disputa, mas se comprometeu a seguir a decisão da direção nacional do partido. O apoio a Lula será anunciado oficialmente pelo presidente nacional do PSB, Miguel Arraes.

- Está muito claro para nós que teremos uma responsabilidade com a governabilidade. Não vamos direto para a oposição, embora possamos seguir (este caminho) mais tarde, caso o PT não cumpra com os ideais de um governo de esquerda - disse o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral.

No último dia 1º, Amaral e Arraes se reuniram com Garotinho, em Recife. No encontro, o ex-governador disse que seguirá a decisão da sigla de fechar com Lula. Ontem, Garotinho disse que vai entrar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com pedido de impugnação da eleição no Rio, caso o número de votantes tenha sido baixo no Estado. Ele lançou suspeitas de que José Serra (PSDB) poderia estar por trás dos problemas registrados em urnas eletrônicas no Rio.

- Isso é muito estranho e acontece logo no Estado onde o Serra não tem voto? Em todas as pesquisas, o máximo que ele alcançou aqui foi 9% e o meu mínimo ficou entre 35% e 39%. Há uma diferença de 30 pontos - disse.

O candidato do PSB disse que no sábado havia sido informado por um funcionário do TSE de que poderia haver problemas na votação no Estado. Pelas contas de Garotinho, o Rio é o Estado que poderia lhe dar os 3 milhões de votos a mais que esperava ter sobre Serra, para disputar o segundo turno contra Lula (PT).


O mundo observa as eleições
Brasil é destaque no noticiário

A proximidade da vitória do candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva, ainda no primeiro turno, foi destaque entre os principais meios de comunicação nos cinco continentes.

Entre as repercussões está um artigo do presidente venezuelano Hugo Chávez, no qual ele faz referência à reportagem exclusiva do Jornal do Brasil, publicada sábado, sobre a tentativa de a extrema-direita adiantar para este domingo um golpe de Estado planejado para a próxima quinta-feira. Segundo o presidente, ''a conspiração visava às eleições no Brasil''.

Nos EUA, o receio quanto ao crescimento da esquerda dá o tom do noticiário. Segundo The New York Times, quem perderá nas eleições brasi-leiras será ''a receita norte-americana de globalização''.

O The Washington Post, um dos mais influentes dos Estados Unidos, destaca que a possível vitória do candidato do PT à Presidên-cia, Luiz Inácio Lula da Silva, representa a derrota do modelo neo-liberal.

''O Brasil vai às urnas hoje, e as previsões mostram que os mais de 110 milhões de pessoas vão eleger um homem que já vendeu amendoim nas ruas'', diz o jornal britânico Guardian em sua versão eletrônica.


PT supera PSDB no mundo
Lula é o preferido no exterior

BRASÍLIA - O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conquistou a maior parte dos votos dos brasileiros que moram no exterior. Em Nova York, onde se concentram os eleitores não apenas do Estado, mas também de Nova Jersey, Pensilvânia, Delaware e Connecticut, ele recebeu 2.361 votos e José Serra (PSDB), 1.165 votos. O número de eleitores registrados foi de 8.507.

Em Londres, onde estão inscritos 2.729 eleitores, Lula obteve 65% dos votos (1.137 no total), enquanto que, em Paris, que conta com 1.999 cidadãos registrados, conseguiu 68,24% do total (722 votos).

Lula obteve também 58% da preferência do eleitorado brasileiro residente na Bélgica e em Luxemburgo. Em Roma, o petista conquistou 67% dos votos; em Berlim, 64,6% e em Munique, 57%. Os brasileiros que vivem em Portugal, concentrados em Lisboa e Porto, deram 53,8% de seus votos a Lula.

Na Argentina, segundo informações do consulado brasileiro em Buenos Aires, Lula recebeu 56% dos votos das urnas instaladas em todo o país. O petista perdeu, porém, para Serra em Caracas, na Venezuela: teve 24 votos contra 77 do tucano.

No total, 70 mil brasileiros votam fora do Brasil, em 37 cidades de 25 países, desde que tenham se inscrito previamente nos consulados e embaixadas.


PFL e PT devem eleger mais senadores
Desempenho petista surpreende

BRASÍLIA - Até a meia-noite de ontem, a disputa para o Senado estava acirrada em alguns Estados. Mas já era possível saber que o PT teve um desempenho surpreendente nas eleições. O PFL também deve sair fortalecido. As estimativas apontam para a eleição de 14 senadores do partido. Em Minas Gerais, com 56% das urnas apuradas, três candidatos disputavam as duas vagas ao Senado. Eduardo Azeredo, do PSDB, tinha 25,3% dos votos. Era seguido de perto por Hélio Costa, do PMDB, com 22,7%. Apenas 100 mil votos atrás, estava o candidato do PT, Tilden Santiago, que tinha 21,47%.

O resultado mais tranqüilo era o de Alagoas. Depois da apuração de 81% dos votos, os senadores Renan Calheiros, do PMDB, e Teotônio Vilela Filho, do PSDB, estavam eleitos com mais de 40% dos votos cada um. Na Bahia, também não houve suspense. Os dois candidatos do PFL estavam praticamente eleitos. Com 60% dos votos apurados, Antônio Carlos Magalhães voltaria ao Senado com pouco mais de 30%. Logo atrás, vinha o ex-governador do Estado, César Borges, com 27% dos votos.

Em São Paulo, com 38% dos votos apurados, o deputado federal do PT Aloizio Mercadante era presença garantida no Senado, com 29,8%. Do PFL, Romeu Tuma garantiria a reeleição, com 22%.

O PT deve eleger dez senadores, número superior às estimativas mais otimistas da direção do partido, que apontavam oito eleitos. No Rio Grande do Sul, Paulo Paim tinha 19% dos votos, depois de apuradas 96% das urnas. Após apurados 95,8% dos votos do Paraná, Flávio Arns tinha 21,76% e estava eleito. No Distrito Federal, o ex-governador Cristovam Buarque estava em primeiro lugar na disputa para o Senado, depois de apurados 32,5% dos votos.

O PMDB pode eleger nove senadores. Com a 99% das urnas apuradas, Gerson Camata garantia sua reeleição no Espírito Santo. O presidente do Senado, Ramez Tebet, também estava com vitória certa depois da apuração de 96,8% das urnas do Mato Grosso do Sul. Tebet tinha mais de 38% dos votos.

O PSDB fazia, até a meia-noite, sete senadores. O PDT não elegeria o presidente do partido, Leonel Brizola, mas conseguia garantir outras quatro vagas. O PSB de Anthony Garotinho vinha logo atrás no número de senadores eleitos, com três novos nomes. O PL e o PTB elegiam dois parlamentares cada um. O PPS de Ciro Gomes e o PSD elegiam um senador cada um.


O 'efeito vinculante' de Lula
Dora Kramer

BRASÍLIA - Ainda que Luiz Inácio Lula da Silva não tenha conseguido vencer as eleições presidenciais no primeiro turno - como indicavam os resultados iniciais divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral - , o desempenho positivo exibido pelo PT em alguns estados será um fator expressivo na eventualidade de uma nova disputa daqui a 20 dias.

Até por volta das 21h, as urnas indicavam que a força da candidatura presidencial de fato teve peso nas eleições estaduais, notadamente no Rio e em São Paulo, onde Benedita da Silva e José Genoino respectivamente, obtiveram votações surpreendentes. Muito melhores do que as intenções registradas pelas pesquisas.

No caso de São Paulo, a ponto de indicar fortemente a possibilidade de Paulo Maluf ficar de fora do embate final. O cenário confirma uma tendência de queda do patrimônio eleitoral de Maluf que, embora mantenha um público fiel, a cada eleição vem perdendo votos em números absolutos.

Considerando que nada aconteceu de extraordinário em São Paulo nas últimas semanas, a mudança do quadro pode ser, com boa margem de segurança, atribuída à ''puxada'' provocada pela candidatura nacional.

No Rio, onde Rosinha Garotinho liderou praticamente todo o tempo como provável vencedora no primeiro turno, a expectativa era a de que o agravamento das ações do crime organizado prejudicasse ainda mais a governadora Benedita da Silva. Não foi o que se viu nas urnas.

Da mesma forma, esse efeito, digamos vinculante, fez o PT assumir o segundo lugar em estados como a Bahia (Jaques Wagner partiu com 40% no início das apurações), Santa Catarina, Pará, Ceará e Pernambuco.

Em algumas dessas localidades, como Bahia e Ceará, ainda que haja decisão no primeiro turno favorável aos adversários dos petistas, o partido de Lula conquista um espaço que sem sombra de dúvida significa uma vitória política. E isso, obviamente, contará pontos a favor do candidato a presidente na provável segunda rodada.

Tomemos o caso de Brasília, por exemplo. Na capital, a vitória do governador Joaquim Roriz no primeiro turno nunca foi motivo de dúvida. Pois abertas as urnas, o candidato petista, Geraldo Magela partiu na dianteira.

Lá, é verdade, Roriz foi alvo de denúncias pesadas nas últimas semanas, mas a situação dele era de tal forma consolidada que a probabilidade do segundo turno não deixa de ser surpreendente.

Há casos, no entanto, como o Rio Grande do Sul, onde a surpresa traduziu-se num cenário adverso para o PT. Ali o que houve, porém, parece guardar relação mais com as circunstâncias regionais que propriamente com a eleição presidencial.

O esperado era que Tarso Genro fosse ao segundo turno com Antônio Brito, que em certo momento chegou a assumir a liderança nas pesquisas. Deu-se, porém que, como Paulo Maluf, foi parar no terceiro lugar.

Concorrendo pela Frente Trabalhista, é bastante provável que Britto tenha sido vítima da derrocada de Ciro Gomes - em efeito oposto àquele provocado pela dianteira de Lula em algumas candidaturas estaduais.

No caso de Tarso Genro, não se pode deixar de considerar o peso do desgaste das várias administrações petistas e dos embates internos do partido no estado.

Fosse Lula eleito no primeiro turno, seus candidatos a governador que conseguirem passar para a etapa final teriam uma grande ajuda. Liberado da própria eleição, poderia trabalhar pelos companheiros.

Mas, confirmada a tendência de realização do segundo turno _ apontada pela apuração de mais de 30% dos votos a presidente _, os candidatos locais é que servirão de suporte para Lula da Silva.

Esta será uma das grandes vantagens dele em relação ao oponente, além, óbvio, do patamar elevado do qual parte o PT para conquistar a vitória ou amargar a derrota.

Por mais que vigore o dogma segundo o qual o jogo, quando recomeça, não contabiliza o placar anterior, dificilmente se pode falar agora em zero a zero.

Primeiro porque, objetivamente, os eleitores de Lula _ em número extraordinariamente superior _ não mudarão seus votos para José Serra.

E, em segundo lugar, os eleitores de Anthony Garotinho e Ciro Gomes podem até se movimentar em direção ao tucano, mas nenhum dos dois candidatos eliminados dispõe de discurso ou condições morais de declarar apoio ao candidato do governo depois de passarem a eleição relacionando-se com ele como se lidassem com a encarnação do satanás.

O que poderá haver é o recuo de alguns setores, como por exemplo parte do empresariado, e todos aqueles que aderiram a Lula apenas porque consideravam que ele, e apenas ele, representava a expectativa imediata de poder.


FH diz que segue na vida pública
Participação, diz ele, não será pela política eleitoral

SÃO PAULO - O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que não pretende deixar a vida pública após o término do seu mandato. Em entrevista à imprensa, depois de comparecer, pela manhã, à sua zona eleitoral na Zona Sul de São Paulo, FH falou sobre seu futuro aos jornalistas.

- Não vou desistir da vida pública. Não cabe mais vida política partidária eleitoral, mas cabe presença na vida pública - afirmou o presidente.

Ele disse não ter tomado a decisão a respeito do convite que recebeu para ser conselheiro da Organização das Nações Unidas (ONU).

- Quero terminar de escrever alguns trabalhos, cumprir compromissos internacionais, mas sempre mantendo minha base em São Paulo.

Até lá, Fernando Henrique pretende descansar.

- Mas presidente aqui não tem aposentadoria. Então, no dia seguinte tenho que trabalhar - ressaltou.

Fernando Henrique disse estar disposto a colaborar com o próximo governo, seja quem for o futuro presidente. Perguntado se poderia ajudar uma eventual administração de Luiz Inácio Lula da Silva, FH indagou:
- Por que vocês não me perguntam sobre o governo Serra?

Logo depois, ressaltou:
- Colaboraria com qualquer governo, esse é o dever de qualquer brasileiro.

O presidente afirmou também estar satisfeito com o processo eleitoral deste ano.

- Pelas notícias que tenho até o momento, as eleições estão transcorrendo com absoluta tranqüilidade em todo o país. No Rio, as tropas federais estão lá para garantir a paz. Fico satisfeito como presidente e como cidadão - declarou.

Apesar de o voto ser secreto, Fernando Henrique revelou seus candidatos, depois de digitar os números na urna eletrônica.

- Votei no Serra (José Serra, candidato à presidência do PSDB) e no Alckmin (Geraldo Alckmin, candidato à reeleição ao governo do estado de São Paulo), além de senadores e deputados do meu partido - disse o presidente, que foi aplaudido por eleitores que aguardavam na fila da seção eleitoral.

No fim da tarde, o presidente Fernando Henrique retornou a Brasília, onde acompanhou a apuração dos votos.


Alckmin deve enfrentar Genoino
Até agora, Maluf é o grande derrotado e Enéas pode ser o deputado federal mais votado do país

SÃO PAULO - Com 44% das urnas apuradas no Estado de São Paulo, o candidato do PSDB à reeleição Geraldo Alckmin contava com 40.52% dos votos. O candidato do PT José Genoino seguia em segundo lugar com 31,10%. Os resultados revelaram cenário diferente do que se esperava para o segundo turno em São Paulo: o pepebista Paulo Maluf contava com 21,50% ficando em terceiro lugar.

A pesquisa de boca-de-urna feita ontem pelo Ibope já apontava para um segundo turno entre o atual governador de São Paulo e Genoino.

De acordo com o instituto, Alckmin aparecia em primeiro lugar com 34% das intenções de voto, enquanto Genoino tinha 33%. O candidato do PPB, Paulo Maluf, estaria com 25%, em terceiro lugar.

Nas primeiras pesquisas, Maluf aparecia em primeiro lugar. Um dia antes da eleição, pesquisa Datafolha mostrava que Maluf e Genoino mantinham empate técnico, mas o pepebista ainda estava na frente. Pelos números, Alckmin tinha 39% dos votos válidos, enquanto Maluf estava com 27%, e Genoino com 24%.

A diferença entre os candidat os a senador Aloizio Mercadante (PT) e Romeu Tuma (PFL) estava em 7%, com 48% das urnas apuradas no Estado de São Paulo. Mercadante tinha 29,56% dos votos e Romeu Tuma, 21,84%.

Em terceiro lugar, aparecia Orestes Quércia (PMDB), com 15,26%, seguido por José Anibal (PSDB), com 15,21%.

Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, Mercadante aparecia com 37% das intenções de voto, e Romeu Tuma com 36%. Orestes Quércia estava com 32%.

Ainda não dá para saber se Enéas Carneiro vai ser o deputado federal mais votado do país, como chegaram a apontar algumas pesquisas. Mas um primeiro lugar ele já garantiu: o do voto mais cedo. Sua vasta barba negra e o par de óculos fundos e quadrados abriram as portas do Centro Universitário Ibero-Americano, em São Paulo, quase 20 minutos antes das 8h, horário do início das votações.

Calça, paletó e gravata pretos, o candidato do Prona se plantou na frente da 52ª seção eleitoral, onde vota. Quando abriram os portões da universidade, para os demais eleitores, estava na pole position.

Enéas votou tão rápido quanto fala em seus programas de TV, espécie de marca registrada de sua incomum carreira política. Hoje, se esquivou das perguntas dos jornalistas enquanto subia a avenida Brigadeiro Luís Antonio (região central de São Paulo) em direção ao velho edifício Gisela, onde mora e mantém a sede do seu partido.

Ali, na frente do prédio, talvez esteja o sinal do futuro desse cardiologista de 63 anos: uma placa de 'vende-se'. Candidato derrotado a presidente em 1989, 1994 e 1998 e a prefeito em 2000, sempre com votações expressivas, o acreano radicado no Rio está definitivamente a caminho de representar São Paulo em Brasília.


Dias é o primeiro no Paraná
CURITIBA - Com apuração quase encerrada no início da madrugada de ontem, incluindo com 96,7% das urnas, Álvaro Dias (PDT) tinha 31,4% dos votos válidos, enquanto Roberto Requião (PMDB), tinha 26,2%. Dias e Requião disputarão o segundo turno. Beto Richa (PSDB) estava em terceiro, com 17,3%. O Estado tem 6.663.381 de eleitores e os votos brancos e nulos no Paraná totalizaram 7,26%.

Em Curitiba, onde 40 urnas precisaram ser trocadas. Em todo o Paraná 104 urnas apresentaram problemas até o meio da tarde. Até o candidato ao governo pelo PMDB, senador Roberto Requião precisou esperar para votar. A seção onde Requião vota, no Colégio Júlia Wanderlei foi uma das que apresentou defeito. Requião esperou mais de uma hora para dar os seus votos. A demora para substituir a urna irritou eleitores, além do candidato.


SC terá segundo turno
FLORIANÓPOLIS - O governador Esperidião Amin (PPB), que concorre à reeleição em Santa Catarina, tinha, na noite de ontem, com 96% das urnas apuradas, tinha 40,15% dos votos válidos. Luiz Henrique da Silveira (PMDB), com 29,79% irá disputar o segundo turno com Amin. José Fritsch (PT) que chegou em certo momento da apuração a surpreender, ocupando o segundo lugar, estava em terceiro, obtendo 27,34% dos votos.

Os resultados acabaram frustrando a expectativa de Espiridião Amin de vir a se eleger já no primeiro turno. No levantamento com 3 mil eleitores em 17 municípios, Amim aparecia com 41% dos votos válidos. Na pesquisa de boca de urna era o candidato do PMDB, Luiz Henrique da Silveira, que vinha em segundo, com 30%. Em terceiro vinha José Fritsch, do PT, com 25%. Os outros candidatos somavam 4% dos votos válidos.


Aécio nos passos do avô Tancredo
Parciais mostram tucano como o novo governador de Minas Gerais com cerca de 57% dos votos

BELO HORIZONTE - Apuração dos votos em Minas Gerais mostra que o candidato do PSDB, Aécio Neves será o novo governador do Estado. Com 65% das urnas apuradas, Aécio tinha 57,03% dos votos, contra 31,48% do segundo colocado, Nilmário Miranda (PT). Newton Cardoso (PMDB), tinha 6,4%.

A pesquisa Ibope de boca-de-urna já mostrava, mais cedo, que Aécio - apoiado por nove partidos, três informalmente (PPS, PTB e PDT) - seria eleito já no primeiro turno. Na boca-de-urna, ele recebeu 58% dos votos válidos. Nilmário Miranda, 27%.

Aécio afirmou que estará à disposição do novo presidente, qualquer que seja o eleito:
-Tenho consciência da responsabilidade do cargo de governador e estou disposto a trabalhar pela construção da tela da governabilidade.

Ele disse que começará articulações em busca de um pacto para garantir a estabilidade econômica e social do Brasil.

- Vou conversar com Tasso Jereissati dentro de uns dois dias e procurar o presidente Fernando Henrique daqui a uma semana.

O candidato votou pela manhã, no Colégio Estadual Central, em Belo Horizonte, e seguiu para Juiz de Fora, onde acompanhou a votação do governador Itamar Franco. Ele estava com a filha Gabriela, de 11 anos, de uma sobrinha e da ex-mulher, Andréa Falcão .

Apesar da euforia, Aécio perdeu um voto certo, ontem. Sua avó, Risoleta Neves, viúva do ex-presidente Tancredo Neves, tentava votar no colégio Loyola, na Zona Sul da capital, quando descobriu que teve o título cancelado por não votar e nem justificar nos três últimos pleitos. Com mais de 65 anos de idade, seu voto é facultativo.

- Ele dará continuidade aos ideais de Tancredo - disse.

O candidato do PT ao governo de Minas, Nilmário Miranda, demonstrou, durante todo o dia, confiança em sua participação no segundo turno.

- Só vou desistir se as urnas disserem que eu não fui para o segundo turno. Vou até os 45 minutos do segundo tempo - declarou.

Já o candidato do PMDB, Newton Cardoso, voltou a criticar os gastos de Aécio Neves.

- Foi uma campanha bilionária. Acredito que foram gastos mais de R$ 100 milhões.

No total, foram presas 83 pessoas na capital por fazerem boca-de-urna. Os prefeitos de Capitão Enéas, Norte de Minas, e Cachoeira da Prata foram presos transportando e distribuindo irregularmente material de campanha.


Marconi reeleito em GO
No Mato Grosso pode não haver segundo turno

GOIÂNIA, CAMPO GRANDE E CUIABÁ - O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), deve ser reeleito já no primeiro turno. Com 88,26% dos votos apurados, ele tinha 51,56% dos válidos. Atrás dele, Maguito Vilela (PMDB) tinha 32,56%, e Marina Sant'anna (PT), 15,05% - maior percentual já obtido pelo PT para o governo do Estado, segundo o TRE. A média do partido, até então, era de 8,5% dos votos válidos.

A corrida pelas duas vagas para o Senado também parece consolidada, com a eleição de Demóstenes Torres (PFL), ex-secretário da Segurança Pública de Perillo, e da deputada Lúcia Vânia (PSDB).

Cerca de 100 das 10.107 urnas eletrônicas apresentaram problemas. O número, embora considerado insignificante, chamou atenção porque as urnas falharam em locais de grande fluxo de eleitores o que resultou em filas enormes e demoras de até 3 horas em algumas seções eleitorais.

Até o final da tarde, as prisões se multiplicaram em Goiânia, num total de 60, Anápolis (27) e Aparecida de Goiânia (3). Mas os números foram considerados baixos, pelo delegado Isidoro Franciosco, da Polícia Federal. Entre os casos mais graves, estão a prisão de cinco cabos eleitorais, em Anápolis, que foram presos quando tentavam comprar votos por R$ 200 visando favorecer uma candidata a deputada federal.

Já falando como candidato eleito, Marconi Perillo disse que está pronto para trabalhar mais quatro anos por Goiás.

- O trabalho à frente do governo do estado foi reconhecido pelos eleitores.

Maguito Villela, que passou a maior parte da campanha criticando os números e os institutos de pesquisa, disse que se houver o segundo turno é ele quem vencerá as eleições.

- Vou aguardar os votos serem totalizados, em pelo menos 80% para comentar este assunto - disse.

No Mato Grosso do Su l, haverá segundo turno. Com 96% das seções totalizadas , o candidato Zeca do PT liderava na apuração do TRE, com 48,35% dos votos. Ele deve disputar com a candidata do PSDB, Marisa Serrana, que tinha 42,38%. Para as duas vagas do Senado, lideravam os candidatos Ramez Tebeb (PMDB), com 38,75%, e Delcidio (PT), com 26,17%.

Já no Mato Grosso, com 59% das seções totalizadas, o candidato do governo ao estado Blairo Maggi (PPS) liderava com 52,51% dos votos. Antero Paes de Barros (PSDB) tinha 29,5% e Alexandre Cesar (PT), 16,82%.
Apesar da possibilidade de um segundo turno, Blairo Maggi falou como governador eleito do estado, ontem. Ele disse, em entrevista dada em Rondonópolis, que deverá participar de uma reunião quarta-feira pela manhã com o atual governador Rogério Salles (PSDB). A reunião já trataria da transição de governo. Após votar em Rondonópolis, a 210 quilômetros de Cuiabá, Maggi voou para a capital, onde participou de uma caminhada pelas ruas da cidade. Ainda ontem, ele voltou a Rondonópolis, onde mora, para acompanhar a apuração ao lado da mulher, da mãe e das filhas.


Segundo turno, surpresa no DF
Magela, do PT, cresce na reta final e ameaça reeleição do governador Joaquim Roriz

Com o atraso de pelo menos três horas no encerramento do processo de votação, o resultado das eleições no Distrito Federal será conhecido somente na madrugada. De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), algumas seções só encerrariam o trabalho por volta das 22h.

A possibilidade de ocorrer segundo turno, desconsiderada pelo governo e por parte da oposição, cresceu nos últimos dez dias com a queda nas intenções de voto, devido a denúncias de grilagem de terras públicas, do governador Joaquim Roriz (PMDB), candidato à reeleição e líder nas pesquisas. Gravações feitas pela Polícia Federal com autorização judicial envolvem integrantes do governo do DF, inclusive Roriz, com grileiros de terras públicas.

Às 23h51, com 41,4% da apuração, o candidato do PT, Geraldo Magela, tinha 44% dos votos e Roriz, 38,3%. Por volta das 21h30, o petista chegou à sede do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal, visivelmente irritado, afirmando estar ''sendo roubado no processo de votação''.

Acompanhado do candidato ao Senado Cristovam Buarque (PT) e de advogados, Magela informou ter recebido informações de que o juiz eleitoral de uma das zonas, na cidade de Recanto das Emas, permitiu a entrada de eleitores após às 17h, quando encerrou-se a distribuição das senhas.

- Só não existirá segundo turno se nós estivermos sendo roubados, como aconteceu em 98, e isso eu não vou permitir - disse o candidato.

Durante o dia, Magela se disse confiante em disputar o segundo turno com Roriz.

- É o que eu sinto nas ruas - afirmou, depois de uma hora e 40 minutos na fila de votação.

Quando chegou ao local de votação, uma escola pública de Samambaia, cidade-satélite de baixa renda, Roriz disse que pesquisas internas apontavam sua vitória no primeiro turno.

- Eu não gosto de ganhar pulverizado. Gosto de ganhar de todos juntos. É o que vai acontecer - afirmou.
Roriz furou a fila, o que causou a reclamação de alguns eleitores que estavam há várias horas esperando para votar. Até as 18h, segundo o TRE, nenhuma seção do DF havia concluído o processo de votação.

O eleitor do DF gastou em média dois minutos para votar, mas alguns chegaram a levar 30 minutos na cabine de votação. Além do atraso dos eleitores, 149 urnas eletrônicas apresentaram defeito e 37 tiveram de ser substituídas pelo processo manual.

O governador Roriz ficou acima da média. Gastou aproximadamente cinco minutos para votar e pediu auxílio ao mesário da seção para concluir seu voto. Roriz esqueceu de apertar a tecla ''confirma'' para imprimir o voto. Ele disse que demorou a votar porque estava em dúvida quanto ao candidato a deputado distrital, que escolheu somente na hora em que votou.

Apesar de estar em um de seus principais redutos eleitorais, Roriz recebeu vaias, mas foi bastante aplaudido quando deixou o local.

Por ordem do promotor eleitoral Bernardino Urbano, um outdoor ambulante com propaganda de Roriz foi retirado da frente da escola em que o governador votou. Urbano também ordenou o fechamento de uma casa no mesmo local que funcionava como comitê da coligação de Roriz.

Magela gastou 25 segundos para votar na seção 74 de uma escola pública na Asa Norte, bairro de classe média de Brasília. Ele chegou às 10h45, acompanhado da mulher Socorro Aquino, dos candidatos ao Senado Cristovam Buarque (PT) e Fredo Ebling (PC do B) e da vice Katea Puttini.

Foi recebido com festa na 316 Norte, quadra onde morou até quatro anos atrás. Levou 15 minutos para percorrer cerca de 200 metros entre a entrada da quadra e a escola, acompanhado de militantes. Para Magela, num eventual segundo turno entre PMDB e PT, o Distrito Federal ficará dividido e os candidatos que fazem oposição a Roriz deverão se unir.


Collor perto de sofrer derrota humilhante
Ronaldo Lessa, na frente, afirma que ex-presidente só ganharia em Miami

A volta de Fernando Collor à política deve terminar numa derrota humilhante. O governador Ronaldo Lessa (PSB) estava, no início da madrugada de hoje, a um passo de ser reeleito no primeiro turno, em Alagoas, batendo o ex-presidente, que teve seus direitos políticos cassados à época do impeachment, em 1992. Com 88,2% das urnas apuradas, Lessa tinha 52,2% dos votos válidos, suficientes para garantir sua reeleição no primeiro turno. Collor estava estacionado em decepcionantes 41,5%.

- Collor não vai ser eleito em Alagoas, só se for em Miami. Ele vai perder em por causa da nossa brava gente. Os alagoanos conseguiram entender este momento histórico e a necessidade de derrotar os políticos que representam o atraso - festejou o governador, após votar.

Ainda durante a votação, Collor disse desconfiar da lisura das pesquisas de boca-de-urna e das apurações. Novamente, admitiu que seu maior sonho é voltar à Presidência da qual renunciou para não ser cassado:
- Primeiro vamos vencer a eleição aqui em Alagoas, recuperar o caos administrativo, e depois traçar os nossos planos para voltar a disputar a Presidência da República - planejou.

No Ceará, com 86,9% das urnas apuradas, Lúcio Alcântara (PSDB) estava muito próximo de vencer no primeiro turno, porque tinha 50% dos votos válidos, contra 27,7% de José Aírton (PT). Logo atrás aparecia o candidato do PMDB, Sergio Machado.

Na disputa para o Senado, o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB) e Patricia Gomes (PPS), ex-mulher do presidenciável Ciro Gomes, estavam praticamente empatados em primeiro, com 31,6% e 30,8% dos votos, respectivamente. Tasso e Ciro serão apoios-chave, caso haja segundo turno da eleição presidencial.

O prefeito de Maracanaú, Júlio César Lima (PSDB), foi preso ontem acusado de usar servidores municipais para aliciar eleitores. Cerca de 40 pessoas foram detidas pela PF em Fortaleza por envolvimento em boca-de-urna.


Artigos

Liberdade e possibilidade
Samuel de Almeida Filho

Muito já foi dito e escrito sobre a liberdade. Muito mais já foi feito em seu nome - de sangue derramado e consciência silenciada a explosões populares e revoluções individuais que alteraram o curso da história.

Hoje se põe à nossa frente o conflito entre dois conceitos que não devem ser excludentes, por complementares: a liberdade do indivíduo e o direito da coletividade. Esse choque provém de uma grave crise vivida pela democracia representativa no mundo inteiro, pelo advento à liberdade de várias nações, com a queda do Muro de Berlim, e pela agudização do processo de globalização (paradoxal em sua essência, ao mesmo tempo qu e integra e realça as diferenças entre os povos da Terra).

De maneira simplificada, os direitos individuais poderiam ser assim classificados: na liberdade de pensamento, em que o único vigilante é a própria consciência; na liberdade de expressar o que se pensa, por meio das palavras ou outros símbolos, ou seja, o direito de racionalizar, estruturar, compartilhar e debater o pensamento; na liberdade de agir e comportar-se de acordo com determinados ideais, concepções e modelos de pensamento, com os quais se simpatize e identifique.

Na prática, a última tipologia tem sofrido conseqüências pesadas: a liberdade traduzida em atos muitas vezes afronta, choca, desafia. É a espécie de liberdade que desejaram grupos étnicos e religiosos massacrados pela intolerância. É aquela liberdade perseguida por agremiações políticas e sociais achatadas pela tacanhez de homens públicos e de elites incapazes de compreender a democracia e o livre arbítrio. Foi a liberdade cuja proibição pura e simples, cuja negação incondicional, proporcionou os piores momentos coletivos, ao tolher o florescimento individual e de grupos (e até nações), e colocar em seu lugar, através da repressão, bombas de efeito retardado de tristeza, calamidades, mais intolerância, sem falar nas guerras.

A observação dos princípios básicos da liberdade do indivíduo - já ancorada, por exemplo, na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento francês de 1789 - é, portanto, fundamental para assegurar o equilíbrio da coletividade. O indivíduo livre deve ser o elemento fundador de uma sociedade justa, assim como os direitos da coletividade devem servir de norte para a liberdade pessoal no limite entre a responsabilidade de cada um para com todos e a responsabilidade de todos para com cada um. Nesse sentido é que os dois conceitos se complementam. Quando, ao contrário, eles se batem de frente, a balança transforma-se em pêndulo inconveniente e insatisfatório para ambos os lados. Ninguém se entende nem quer se entender, todos estão certos e todos estão errados na polêmica vazia de qual direito se sobrepõe ao outro - como na discussão estéril de qual o melhor, o garfo ou a colher... Não há foco possível desse ângulo do problema.

O melhor entendimento para o equilíbrio da balança da liberdade está na idéia de que ela é, sempre e antes de mais nada, a possibilidade de tudo - da discórdia e do assentamento, do não e do sim, do fazer e da omissão, da crítica e do aplauso, do branco e do preto (com os infinitos matizes de cores entre eles). O que é bem diferente da garantia cega de que tudo é permissível e lícito.

Neste novo milênio, o respeito às liberdades individuais tomam impulso a cada dia. É hora de renascer e admitir que o desafio da convivência pacífica entre as pessoas deve ser perseguido a todo momento.

Liberdade não é escravidão, como sentenciou Orwell no célebre 1984. Liberdade é possibilidade, com consciência e responsabilidade.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA- Dora Kramer

O que será do amanhã
Abertas as urnas logo mais à noite, a expectativa nacional não será sobre quem terá o maior número de votos. Isso já se sabe.

A questão é se mais tarde um pouco, já virando a madrugada de segunda-feira, Luiz Inácio Lula da Silva fará discurso de presidente eleito ou se conclamará a militância a não se dispersar para enfrentar o segundo turno.
Contra quem? Esta é a outra dúvida, embora a respeito dela haja uma suposição mais firme de que o finalista seja José Serra.

Os outros dois candidatos, Anthony Garotinho e Ciro Gomes , mantêm suas tropas de prontidão para a eventualidade de uma grata surpresa.

Na verdade, essa esperança, como sentimento coletivo, prospera mais na campanha de Garotinho. Na de Ciro, apenas ele ainda não desanimou.

Mesmo assim, ao final do debate da TV Globo, Ciro despediu-se pontuando francamente a hipótese da derrota: ''Que os brasileiros me escolham para ser presidente da República ou líder da oposição.''

E é na construção dessa trajetória oposicionista, seja o eleito quem for, que Ciro começa a trabalhar já no dia seguinte à eleição.

A idéia é permanecer no PPS e assumir, no lugar de Roberto Freire, o posto de grande liderança do partido em ritmo de preparação para a disputa presidencial de 2006. Ciro terá, então, 48 anos de idade. Dois a mais que Anthony Garotinho que, mesmo na hipótese de ver frustrado hoje o sonho de passar para o segundo turno com Lula, sai da campanha integrando a lista de vencedores.

Quando renunciou ao governo do Rio para se candidatar a presidente não escondeu que seu plano era evitar o desgaste de um segundo mandato, firmar-se como político de projeção nacional e disputar a Presidência daqui a quatro anos.

Conseguiu um desempenho muito melhor que o esperado, tendo em vista as resistências a ele no PSB, nos setores mais informados e politizados da sociedade, por causa de seu discurso de cunho fortemente religioso e propostas consideradas demagógicas.

Não é exagero dizer que Garotinho se impôs a tudo isso e venceu por méritos próprios - goste-se ou não deles - os obstáculos que, a certa altura, pareceram intransponíveis.

Além da projeção, obteve considerável patrimônio eleitoral e ainda contará com a vantagem de ter o governo do Rio - tudo indica a ser ocupado pela mulher, Rosinha - como tribuna para seu projeto de também firmar-se como o grande líder de oposição ao próximo governo.

Não pretende ocupar nenhum cargo formal, até para pode cuidar da consolidação do PSB, expandido em sua representação parlamentar, base sobre a qual montará a candidatura à Presidência em 2006. Depois de perder a parada para Leonel Brizola dentro do PDT, Garotinho finalmente conseguiu o que queria: um partido para chamar de seu.

Convicto de que seu day after será o segundo turno com Lula, José Serra iniciou, há algum tempo, as articulações políticas com vistas a recompor alianças importantes perdidas no curso da campanha e tentar fazer com que a bola volte ao meio do campo.

A aliança PSDB-PMDB aposta que Serra recupera o apoio de uma parte do empresariado que aderiu a Lula e joga com o fato de as eleições parlamentares, decididas hoje, liberarem candidatos a deputados e a senadores para integrar o contingente de cabos eleitorais.

Nele estariam também figuras de peso com eleição garantida no primeiro turno, como Aécio Neves no governo de Minas, para ajudar na operação desta que hoje parece ser uma missão impossível.

Mas os serristas não acham que seja assim tão difícil. Na diferença abissal que há entre o primeiro e o segundo colocados em intenções de votos, eles acreditam que existam três tipos de eleitores a serem conquistados: o que vota pautado pela expectativa da vitória, o que responde a pesquisa de um jeito e vota de outro, e aquele que não gosta do governo, mas tem medo de provocar mudanças para pior.

A certeza dos tucanos de que o jogo recomeça do zero para o segundo turno, não é compartilhada pelo PT. No partido, considera-se inabalável o patrimônio de 30% de votos, o que seria o patamar mínimo de Lula para a disputa final.

Ainda assim, a preocupação entre os petistas era a de não deixar que se dissemine o clima de frustração caso haja segundo turno.

Para isso, Lula está preparado para, assim que se confirmarem os resultados, discursar como presidente ou convidar seus eleitores a festejar o primeiro turno numa convocação simultânea à mobilização para a disputa de 27 de outubro.

O ambiente no PT, no fim de semana, era o de todo cuidado é pouco. Pois, como se sabe, a véspera da eleição não é exatamente a data ideal para se tomar posse.


Editorial


O VOT O DA MUDANÇA

A troca do presidente da República, mesmo em sólidos regimes democráticos, produz sempre inquietação. Sobretudo quando se prenuncia a real possibilidade da passagem do poder a partidos de oposição. Ainda assim, os brasileiros fizeram deste 6 de outubro uma festa cívica. Espera-se, por isso, que o Brasil surgido das urnas venha a ser melhor que o da véspera.

Nossa jovem democracia esbanjou vitalidade. E o eleitorado admitiu com naturalidade uma eventual alternância de governo, tão comum nas nações civilizadas quanto a chegada da primavera. Qualquer grupamento político legalmente constituído tem o direito de chegar ao poder (e o dever de disputar a chance de exercê-lo). Se esta for a hora do PT, não há razão para temores. O mesmo se aplica a José Serra. Ambos representam, cada um a seu modo, a vontade de mudança.

Nos últimos anos, o Brasil registrou avanços relevantes, mas perduram sérios problemas estruturais. Não se livrou de graves distorções em áreas estratégicas. Não corrigiu perversões intoleráveis na distribuição da renda nacional. Não obteve sucesso no combate à violência urbana e muito menos em atacar as origens desta violência. O cidadão sente-se inseguro nas ruas e, em casa, assusta-se com os altos índices de desemprego.

''Mais que pobre, o Brasil é um país injusto'', afirma o presidente Fernando Henrique Cardoso, lastimando a impossibilidade de revogar por decreto a miséria e outros tormentos crônicos da nação. O eleitorado tem consciência de que cinco séculos de desajustes não se resolvem com meia dúzia de despachos presidenciais. O tempo varreu os homens providenciais, assim como as facções ainda internadas em cavernas ideológicas.
O Brasil pede mudanças. Exige reformas mais profundas. Agudas. Audaciosas. E acima de tudo, anseia pela retomada do crescimento econômico .

Foi esta, em essência, a mensagem das urnas.

O primeiro ano do futuro mandato desenha-se duríssimo. Certamente haverá conflito entre a vida real e as expectativas geradas ao longo da campanha. A margem de manobra do novo governante - seja quem for - se revelará por demais restrita. O segundo turno tem o mérito de favorecer o entendimento essencial a uma profícua agenda de trabalho político, como recomendam as boas normas democráticas.


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10/07/2002


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