Regina: "Não lemos a lista e nem tiramos cópia. Até o disquete foi apagado"



O momento de maior suspense do depoimento surgiu de uma pergunta da senadora Heloísa Helena (PT-AL), citada pelo senador Antonio Carlos Magalhães como exemplo de quem votou contra a cassação do ex-senador Luiz Estevão, conforme reportagem da revista IstoÉ e declarações do procurador da República Luiz Francisco de Souza. A ex-diretora do Prodasen Regina Célia Borges garantiu que não tirou qualquer cópia da lista de votações da sessão secreta.

- Não lemos a lista e nem tiramos cópia. Até o disquete foi apagado. Aquilo queimava as nossas mãos. Pusemos num envelope pardo e fechamos - sustentou Regina Célia, referindo-se a outro funcionário do Prodasen, Ivar Alves Ferreira, que também é seu marido.

Assim, por não ter lido a folha impressa, Regina Célia disse que não saberia responder sobre como havia votado Heloísa Helena. Ela repetiu que o disquete "foi deletado na mesma hora". A cópia foi feita na noite de 28 de junho do ano passado, mesmo dia da sessão que cassou Luiz Estevão.

Regina Célia assumiu toda a responsabilidade pela violação dos computadores do painel de votações do Senado. Disse que seu marido Ivair Alves Ferreira teve a ajuda de outras três pessoas na operação, realizada na madrugada do dia 27, na noite do dia 28 e três dias depois, a última vez para recolocar a programação anterior que impedia a feitura de cópias dos votos secretos. São eles Heitor Ledur, o técnico responsável pela manutenção do sistema, Hermilo Gomes da Nóbrega, técnico do Prodasen, e Sebastião Gazola, da empresa Panavídeo, que presta serviços de manutenção do painel. De todos eles, conforme a ex-diretora, só Gazola não sabia a razão da mudança no programa de computador. Todos eles foram convidados a depor ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar a partir das 17h de terça-feira (dia 24).

Por várias vezes, Regina Celia afirmou que os funcionários só resolveram participar da operação por que se tratava de uma ordem do então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), "um homem bravo que nenhum funcionário tinha coragem de contestar". Heitor Ledur, ex-militar, foi o primeiro a confirmar no depoimento à comissão de investigação do Senado que o painel havia sido violado. "Acredito que ele só cumpriu a minha ordem por sua formação militar. Para ele, ordem tem de ser cumprida, ainda mais quando ela vinha do presidente do Senado", observou. Depois que a Unicamp descobriu a violação, a ex-diretora disse que teve "de distribuir Lexton entre eles, tal a tensão, o verdadeiro pânico que se instalou".

Durante todo o tempo em que mobilizou a equipe, junto com seu marido Ivair, para mudar o programa do computador do painel, Regina Célia disse que tinha "total consciência da gravidade" do ato que praticavam. E mais: eles só admitiram a operação no momento em que os técnicos da Unicamp fizeram suas descobertas e aí todos que depuseram à comissão de inquérito refizeram seus depoimentos.

- Eu não gosto de mentir, mas fui levada a isso. Me dói profundamente saber que essa lesão afeta o Prodasen, uma instituição séria e de credibilidade, e até a imagem do Senado - disse a funcionária.

Questionada pelos senadores, Regina Célia colocou seu sigilo telefônico à disposição do Conselho de Ética do Senado e concordou, se necessário em fazer uma acareação com os senadores José Roberto Arruda e Antonio Carlos Magalhães. Com a quebra de sigilo, proposta pelo relator do processo no conselho, senador Saturnino Braga (PSB-RJ), os senadores querem confirmar as declarações da funcionária com os senadores e assessores.

19/04/2001

Agência Senado


Artigos Relacionados


ACM: "Li a lista e tranqüilizei a dra. Regina pelo telefone"

Jader: cópia de lista viola Constituição

Ex-diretora do Prodasen diz que cumpriu ordens, entregou lista de votos a Arruda e não guardou cópia

Declaração do IR é feita via internet ou por disquete

Relatório Azul é editado em braile e em disquete para deficientes visuais

Simon saúda eleição de Ana Amélia Lemos, lamenta saída de Zambiasi e elogia Dilma