Reitor diz que recursos que bancaram reforma não eram para pesquisa



O reitor da Universidade de Brasília, Timothy Mulholland, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Organizações Não-Governamentais (ONGs) nesta terça-feira (4), afirmou que os recursos destinados pela Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) à reforma e decoração do apartamento funcional em que morava e aquisição do automóvel que utilizava são originários do fundo de apoio institucional. Esse fundo é formado por uma porcentagem dos contratos de serviços firmados pela fundação com outros parceiros.

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Esse montante, que não é específico para a pesquisa científica, pode ser aplicado como a Universidade de Brasília (UnB) achar conveniente, já que cabe às fundações o apoio "para que as finalidades da UnB sejam cumpridas" - e segundo o reitor, faz parte desse apoio o pagamento de pequenas despesas do "dia a dia".

- Os recursos do fundo têm aplicação ampla, não são verbas para pesquisa, apesar de poderem ser usadas para esse fim. Eles podem ser destinados a qualquer tipo de investimento que interesse à universidade - ressaltou.

O preparo da residência oficial para o reitor da universidade, informou Mulholland, foi definido em reunião do Conselho Gestor em 2006 e, por solicitação da área administrativa, os móveis e objetos foram pedidos à Finatec, "jamais em detrimento do investimento em pesquisa". Ele ressaltou que tudo é patrimônio da UnB, doado pela fundação, acrescentando que, por sentir a dificuldade de distinção entre público e privado, deixou o apartamento quando o tema surgiu na imprensa.

Questionado pelo senador Alvaro Dias (PSDB-PR) sobre o porquê da escolha de objetos caros como as cinco TVs de plasma, a lixeira de quase R$ 1 mil ou o saca-rolhas de quase R$ 400, Mulholland foi evasivo:

- O material foi especificado pela área técnica da universidade, e a Finatec tinha total liberdade para rejeitar qualquer item.

Mulholland disse ainda, em resposta a comentários dos senadores Jefferson Péres (PDT-AM) e Sibá Machado (PT-AC), que o luxuoso apartamento não foi priorizado, mas a reforma foi feita concomitantemente com outras que custaram R$ 5 milhões, como as das casas dos estudantes. Além disso, foram gastos R$ 13,9 milhões em assistência estudantil, e lançados dois editais de apoio à pesquisa no valor de R$ 2 milhões. Outros R$ 4 milhões foram captados também para apoio à pesquisa, anunciou. O senador Jefferson Péres disse, sobre os gastos da UnB:

- Engano pensar que no Brasil se gasta pouco com educação em termos de PIB [Produto Interno Bruto]. Se gasta é brutalmente mal - disse, citando frase do economista Mário Henrique Simonsen, já falecido.

O relator da CPI, senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), questionou ainda o fato de a UnB ter sido uma das principais financiadoras da Finatec, já que, de acordo com números citados pelo parlamentar, entre 2002 e 2007, foram destinados R$ 23 milhões à fundação, ou, 30% de toda a verba da universidade no mesmo período. Mais uma vez o reitor foi evasivo, dizendo que não confirmava o valor, mas que ele "se desdobra em termos formais, contratos e convênios e acordos entre as duas instituições".

Lorenzetti

O presidente da CPI, senador Raimundo Colombo (DEM-SC), lembrou que na quarta-feira (5) será ouvido Jorge Lorenzetti, ex-dirigente da instituição e amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Presença freqüente nos churrascos promovidos pelo presidente Lula, Lorenzetti foi acusado de envolvimento na compra de um dossiê com informações que prejudicariam candidatos da oposição nas últimas eleições em São Paulo. Também falará no mesmo dia o atual presidente da Unitrabalho, Arquimedes Ciloni.

Na próxima semana, também serão votados, como informou Colombo, pedidos de quebra de sigilo de entidades que estão sendo investigadas pela CPI, como a Ágora e a Unitrabalho.



04/03/2008

Agência Senado


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