Requerimento contra atos de retaliação ao terrorismo vai para CRE



O requerimento para que o governo brasileiro manifeste às "nações amigas" posição contrária à prática de atos de retaliação aos atentados terroristas perpetrados em Nova York no último dia 11 será votado primeiramente pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Após muita discussão em Plenário, o presidente interino da Casa, senador Edison Lobão (PFL-MA), decidiu-se pelo exame prévio da CRE, conforme solicitado pelos líderes do PFL, Hugo Napoleão (PI), e do PMDB (em exercício), Nabor Júnior (AC).

Encabeçado pela senadora Heloísa Helena (PT-AL), o requerimento considera que atos de retaliação serão prejudiciais à paz mundial e ao destino da humanidade. Em sua defesa, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) leu um manifesto apresentado no domingo em ato que reuniu centenas de pessoas na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. O manifesto tem como primeiro signatário o frei Leonardo Boff. Suplicy afirmou que, para que se possa debelar o terrorismo internacional, é preciso "inteligência, preparo e tecnologia, jamais violência".

- É importante que o maior país da América Latina não aprove ações do governo americano de retaliação armada - afirmou o senador.

Em seguida, o senador Gerson Camata (PMDB-ES) criticou a política externa brasileira, em especial em relação aos países sul-americanos, para então se posicionar contra o requerimento. De acordo com ele, o Brasil sacrificou seu mercado interno e desempregou brasileiros para comprar produtos argentinos. Acrescentou que, no Paraguai, o roubo é institucionalizado, já que é a polícia paraguaia que legaliza carros brasileiros roubados e as autoridades brasileiras não protestam. Também não protestaram quando o traficante Fernandinho Beira-Mar foi preso na Colômbia, disse.

- O Brasil é um pais frouxo, covarde, na defesa dos brasileiros. Não podemos deixar que nossa covardia se estenda aos demais países. Os cidadãos americanos que cobrem do governo americano e os cidadãos brasileiros que cobrem de seu governo uma atitude mais máscula, menos frouxa - disse Camata.

Debate A senadora Marina Silva (PT-AC) afirmou que o governo do país que estiver por trás de atos terroristas não pode ser confundido com seu povo. O senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), por sua vez, considerou que o requerimento "traduz a disposição" de todos os senadores, já que uma retaliação pode desencadear uma nova guerra, se os países da Ásia se empenharem na defesa do fundamentalismo. Tião Viana (PT-AC) disse não entender como alguém possa se opor ao requerimento e lembrou que seu partido sempre defendeu encaminhamento pacífico para todas as questões.

Já Sebastião Rocha (PDT-AP) se disse pessimista, por considerar que "a nação americana não abdicará, lamentavelmente, de dar uma resposta ao mundo", para mostrar que mantém sua hegemonia. Ademir Andrade (PSB-PA) afirmou não ver precipitação nem desejo de aniquilar pessoas inocentes, já que as nações têm discutido o assunto "com muito equilíbrio".

- Mas se o Afeganistão protege um terrorista que já praticou mais de dez atos, como devem reagir outros países? O cidadão tem de pagar pelo que fez. Se não for entregue, o governo dos Estados Unidos, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e nós temos de fazer efetivamente alguma coisa, ainda que seja buscar a guerra - afirmou Ademir.

Para o senador Paulo Hartung (PPS-ES), o que está em jogo é um aprendizado de como combater o terrorismo, o que não se faz dizimando populações inocentes. Para ele, se a militarização tomar conta de qualquer lugar no mundo, os terroristas terão sido vitoriosos. Lindberg Cury (PFL-DF) considerou o requerimento "bastante oportuno", pois, a seu ver, o terrorismo deve ser combatido, mas não às custas da paz mundial. Já o senador Maguito Vilela (PMDB-GO) disse que o requerimento era "extremamente equilibrado" e que parlamentos do mundo inteiro deveriam seguir o exemplo.

Eduardo Suplicy protestou contra a decisão de Lobão de enviar a proposição para exame da CRE, porque requerimento de solidariedade e pesar ao povo americano foi apresentado e aprovado pelo Plenário. Ele pediu que os líderes fossem ouvidos, quando os líderes do PMDB e do PFL defenderam o envio à comissão.

Nabor Júnior justificou que a matéria alterava a política externa do país, mas foi contestado pelo senador José Eduardo Dutra (PT-SE), para quem o requerimento reitera a política externa brasileira em episódios semelhantes.

18/09/2001

Agência Senado


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