Roseana reage a críticas de bispos católicos
Roseana reage a críticas de bispos católicos
SÃO LUÍS e BRASÍLIA. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), divulgou nota em que diz não se sentir atingida pelo manifesto dos bispos do estado, que, ontem, divulgaram um documento ao povo maranhense criticando os indicadores sociais do estado e alertando os eleitores para o risco de propaganda enganosa e de políticos personalistas.
“Nos últimos sete anos todos os indicadores sociais do estado melhoraram, muitos deles em proporção acima da média brasileira. A Igreja tem sido interlocutora do governo do Maranhão na luta pela melhoria das condições de vida do povo maranhense. O governo compartilha das preocupações manifestadas pela Igreja porque acredita que as mesmas visam a colaborar com a luta pela construção de uma sociedade mais justa e mais igualitária. O governo do Maranhão espera continuar contando com a colaboração dos representantes da Igreja no estado”, diz a nota.
Ministro desconfia das intenções da Igreja
Os aliados da governadora também reagiram. Um dos principais articuladores de sua candidatura à Presidência da República, o ministro da Previdência Social, Roberto Brant, disse desconfiar da intenção dos bispos ao lançar um documento com críticas ao governo de Roseana no momento em que está sendo dada a largada para a sucessão presidencial e a candidata pefelista aparece em segundo lugar nas pesquisas.
— Fico desconfiado que haja um certo oportunismo político neste manifesto. As más condições sociais do Maranhão não são fato recente, remontam há séculos. O diagnóstico pode estar correto, mas as conclusões são equivocadas. Quero saber se as administrações de esquerda conseguiram mudar as condições sociais de Mato Grosso do Sul, Acre, Amapá e Rio Grande do Sul da noite para o dia — afirmou Brant.
Um dos bispos que assinou o documento, dom Xavier Gilles, se queixou da interpretação que foi dada ao texto. Ele destacou que o conteúdo do manifesto foi dirigido a toda a sociedade civil, a todos os poderes e todos os partidos políticos, inclusive ao PT, que, segundo ele, é extremamente dividido no estado.
— A nota não tem o objetivo de se meter na política partidária. Assinamos tranqüilamente o documento, mas não aceitamos a interpretação desonesta que alguns políticos e jornalistas fizeram, embora respeitemos o direito de cada um ter sua opinião política — contestou dom Xavier Gilles, da cidade de Viana.
“A realidade tem luz e sombras”, diz dom Affonso
Dom Affonso Felippe Gregory, presidente do Regional Nordeste 5 da CNBB, disse que no início ficou surpreso com a repercussão da carta dos bispos ao povo maranhense, mas logo se deu conta que o país está de olho no Maranhão, que já expõe ao eleitorado uma possível candidata à Presidência. Ele disse que não faz análise das pessoas públicas, pois essa não é sua missão, mas afirmou que a candidatura de Roseana foi “em boa parte levada ao ponto em que está unicamente pela mídia”.
— A candidatura foi apresentada à opinião pública nacional de forma muito simpática. Mas a realidade tem luz e sombras. Não é aquela maravilha que a propaganda eleitoral apresenta — disse o bispo.
Para o arcebispo de São Luís, dom Paulo Pontes, os avanços do governo estadual na área social são insignificantes. Foi o que disse ontem no lançamento da carta “Ao povo do Maranhão”, ocasião em que criticou o Judiciário e o Ministério Público, acusando-os de omissão diante dos conflitos de terras no estado. O arcebispo, que é amigo da família Sarney, surpreendeu ao fazer pesadas críticas ao governo do estado, embora sem citar o nome da governadora.
— Os dados que possuímos nos dizem e comprovam a situação de miséria do nosso estado — disse.
A governadora Roseana Sarney não quis comentar o teor da carta.
— O governo já se manifestou através de seu gerente de Desenvolvimento Social, Luís Fernando Silva — disse o chefe de Comunicação Social do governo, Antônio Carlos Lima.
Luís Fernando rebateu as críticas dos bispos com o relatório do IBGE do ano passado, que aponta melhoria de vida da população maranhense depois que Roseana assumiu.
Foram esses dados que o arcebispo de São Luís considerou insignificantes diante dos relatórios apresentados pelas pastorais. Os números do IBGE dizem que a renda familiar per capita cresceu quase 50% entre 1991 e 1999, desenvolvimento muito acima da média do Nordeste, que foi de 25%, e do Brasil, que foi de 30%. Já a Comissão Pastoral da Terra divulgou relatório que mostra 413 áreas de conflitos de terra e um alto número de maranhenses escravizados: 403 ainda vivem como escravos e dos 2.381 libertados no Brasil e em outros países, em 2001, 70% foram no Maranhão.
Os casos de escravidão são comuns no Maranhão, principalmente na área de Imperatriz e Açailândia, onde concentram-se carvoarias e seus trabalhadores em condições subumanas.
A indignação do arcebispo ainda foi maior quando lembrou que, ao deixar o Ceará em 1985 e ir para o Maranhão, ficou encantado com as riquezas naturais do estado e sua potencialidade econômica, e, por isso mesmo, não consegue entender como essa mesma região que o encantou é hoje a mais pobre do Brasil.
Dom Paulo lamentou a situação e recomendou aos fiéis que pensassem bastante antes de escolher seus candidatos nas próximas eleições.
— Não queremos nos meter em política, mas é importante antes de votar que o eleitor observe o passado de cada candidato.
Jungmann, Itamar e Simon confirmam disputa
BRASÍLIA. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, candidato à prévia do PMDB, ocupou ontem à noite rede nacional de rádio e televisão, durante quatro minutos, para falar da ação do governo pela reforma agrária. O lançamento de sua candidatura continua causando perplexidade, mas Jungmann não pretende desistir. Ontem, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, resolveu se mexer e divulgou carta endereçada aos peemedebistas pedindo votos.
Para reforçar sua candidatura, Jungmann até já anunciou o primeiro nome de seu conselho de colaboradores: o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros.
— Minha candidatura está vencendo a fase do atropelo e vive um momento de acomodação. As primeiras reações foram naturais pois dirigente de partido é como general, tem que mostrar quem comanda a tropa — afirmou Jungmann.
Apelos dos aliados fizeram com que Itamar voltasse atrás na sua decisão de não fazer campanha para a prévia. Na carta que está enviando aos peemedebistas, pede apoio à sua candidatura.
“Não se quer qualquer partido, mas o PMDB de base” pede, numa crítica velada aos que continuam atrelados ao governo federal.
O senador Pedro Simon (RS), também enviou carta em dezembro aos eleitores do PMDB pedindo apoio na prévia. Nela Simon diz que é candidato para “retomar o crescimento, distribuir renda, criar empregos, acabar com a fome e a miséria, combater a impunidade e promover a ética”.
Rosinha parte para o confronto com o PT e Garotinho almoça com Benedita
Na véspera do almoço do governador Anthony Garotinho (PSB) com sua vice, Benedita da Silva (PT), para discutir pela primeira vez a transição de governo, a pré-candidata do PSB a governadora e mulher de Garotinho, Rosinha Matheus, acusou o PT de não ter propostas e de dar desculpas esfarrapadas para encobrir sua incapacidade de governar. Ao discursar na inauguração de um centro de idosos em Miguel Pereira, Rosinha, secretária de Ação Social, criticou as administrações do PT. Ela deverá enfrentar Benedita, também candidata a governadora.
— O PT vive criando intrigas nos jornais para ganhar espaço na mídia. Não pode mos aceitar desculpas esfarrapadas de que não poderão ou não conseguirão governar, porque só não vai governar quem não tem um projeto político para o estado. Creio que eles não têm, porque estão dando desculpas que não são verdadeiras — disse Rosinha.
Benedita e Garotinho se encontram hoje à tarde no Palácio Guanabara. Eles discutirão, entre outros temas, a situação financeira do estado e as obras em andamento.
Garotinho pretende deixar R$ 500 milhões em caixa
Garotinho dirá que, quando deixar o cargo em abril para disputar a Presidência, o estado terá cerca de R$ 500 milhões em caixa. Ele vinha sendo criticado pelos petistas porque se recusava a recebê-los. Aliados de Benedita temem que Garotinho deixe um estado quebrado para o PT. Foi Rosinha quem respondeu às críticas:
— Sofremos ataques constantes do PT, de que Garotinho vai deixar um estado falido. O PT vai encontrar um estado melhor do que o que Garotinho recebeu.
Presidentes de PSDB, PFL e PMDB decidem priorizar a reforma política
SÃO PAULO e BRASÍLIA. Os presidentes do PSDB, do PFL e do PMDB e o vice-presidente do PPB decidiram ontem, durante reunião em São Paulo, priorizar a reforma política na pauta do Congresso para o primeiro semestre. Eles devem se reunir até o fim do mês com o presidente Fernando Henrique Cardoso e com o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), para determinar os projetos de interesse do governo na agenda do Legislativo. Segundo os líderes governistas, alguns pontos da reforma política, como a fidelidade e as coligações partidárias, podem ser aprovados até junho, quando começa formalmente a campanha eleitoral.
— Alguns temas da reforma política podem ser votados antes do recesso se os quatro partidos que estão aqui hoje (ontem) fecharem a questão. Acho que também poderemos voltar à reforma tributária e votar alguma coisa ainda neste semestre — disse o presidente do PMDB, Michel Temer.
Ele defendeu também a inclusão do projeto que estabelece novas regras para as coligações partidárias, como a mudança no cálculo de proporcionalidade nas eleições minoritárias, na pauta do Congresso do primeiro semestre.
Segundo o presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), as reformas não significam uma mudança nas regras para as eleições de outubro:
— Não votaremos nada que tenha a ver com a regra do jogo para essa eleição.
O projeto da fidelidade partidária, de autoria do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), já foi aprovado no Senado e está sendo debatido na Câmara. A proposta impede que detentores de mandato popular, no Legislativo ou no Executivo, disputem a eleição seguinte se trocarem de partido. O texto fixa que o prazo de filiação partidária para quem exerce mandato é de quatro anos.
— O fim do troca-troca, garantido pela fidelidade pelo prazo de filiação, é um complemento necessário ao Código de Ética votado na Câmara — afirmou Bornhausen.
Michel Temer diz que o PMDB é o noivo ideal
Os presidentes dos três partidos admitiram que a aliança que elegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso pode não se repetir na eleição deste ano. José Aníbal foi o primeiro a dizer que o PSDB exige a cabeça de chapa, que seria ocupada pelo ministro da Saúde, José Serra.
— Vamos buscar uma convergência em torno do nosso candidato. Mas se não acontecer (uma aliança) agora tenho certeza que na segunda volta da eleição estaremos juntos. A hipótese de abrir mão de encabeçar a chapa não existe — disse Aníbal.
— Se não tivermos a felicidade de alcançar o que desejamos, que é a candidatura única no primeiro turno, estaremos juntos no segundo — disse Bornhausen.
Já Temer admitiu que seu partido pode abrir mão da candidatura própria para ser o fiel da balança numa possível disputa entre Roseana e Serra.
— O PMDB terá candidato. O que não está definido é até onde vamos com a candidatura.
Ao responder se o PMDB seria a "noiva ideal" para PSDB ou PFL, Temer deixou escapar uma possível preferência.
— Acho que é o noivo ideal — disse, rindo.
FH vetará metade da lei antidrogas
BRASÍLIA. O presidente Fernando Henrique vai vetar metade da lei antidrogas aprovada no mês passado pelo Congresso. Dos 59 artigos, 31 serão excluídos total ou parcialmente. O presidente vai vetar os 13 artigos do capítulo III, que trata dos crimes e das penas. O capítulo previa as medidas alternativas para os usuários e permitia que um traficante fosse solto após cumprir um terço da pena. Com estes cortes, permanecerá em vigor a atual Lei de Entorpecentes, a 6.368, de 1976. O presidente deve sancionar a lei com os vetos ainda hoje.
Fernando Henrique também vai vetar integralmente o artigo 42, cuja interpretação era polêmica, porque poderia levar para a cadeia usuários e dependentes químicos que se recusassem a cumprir alguma das nove penas alternativas propostas. O fim da prisão para o usuário é a principal medida da Política Nacional Antidrogas (Pnad).
No fim do ano passado, o governo anunciou a aprovação da lei antidrogas, de autoria do deputado Elias Murad (PSDB-MG), como parte das medidas que integrariam a nova política. Mas o Executivo não imaginava tanta polêmica e resistência entre especialistas e dentro do próprio governo.
As penas alternativas para os usuários — prestação de serviços à comunidade, suspensão de habilitação e multa, entre outras — enfrentaram resistência no Ministério da Justiça. Os técnicos do ministério consideraram inconstitucional o artigo, por não prever o tempo que os usuários teriam de cumprir as medidas. Além disso, os técnicos consideraram que a lei em vigor já prevê essas penas.
Vetos foram sugeridos por setores do próprio governo
Com os vetos, o governo atendeu a parte das reivindicações dos procuradores da República. O texto previa a possibilidade de o advogado pedir ao juiz o arquivamento do inquérito. Pela Constituição, a atribuição é do Ministério Público. Os vetos foram sugeridos ao presidente por setores do governo como Secretaria Nacional Antidrogas, ministérios da Justiça e da Saúde e Advocacia Geral da União.
O presidente vetou o artigo que diminuiria a pena para lavagem de dinheiro proveniente do tráfico, hoje de três a dez anos, para dois a oito anos de prisão. A lei contra a lavagem de dinheiro, do Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf), é mais dura com o narcotraficante. Para o Coaf, seria um retrocesso.
Ao vetar o artigo 24, que reduzia a pena em regime fechado de traficantes para um terço da sentença, o presidente mantém o tráfico de drogas como crime hediondo, como previsto na Constituição.
Fernando Henrique derrubou também o artigo que proibia os meios de comunicação de divulgarem os valores de drogas apreendidas em ações da polícia. O presidente mantém em vigor a atual Lei de Entorpecentes ao vetar o artigo 59 do projeto aprovado no Congresso, que a revogava integralmente.
Autor do projeto, o deputado Elias Murad disse que é favorável a alguns vetos, como o que permitia que o usuário fosse preso e o que reduzia a pena de regime fechado para os traficantes.
FH recomenda a tucanos a unidade e pede o fim dos ataques a Roseana
BRASÍLIA. Em conversa com o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), na noite de anteontem, o presidente Fernando Henrique recomendou que o partido busque a unidade antes do lançamento oficial da candidatura de José Serra à Presidência. O presidente teria condenado as críticas do prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), à pré-candidata do PFL, a governadora Roseana Sarney. Um dos coordenadores da campanha de Serra, Vellozo Lucas dissera que a polarização da campanha deve ser entre o ministro da Saúde e a governadora, o que não agrad ou ao presidente.
— Esse entorno de Serra pode provocar dificuldades. Não é possível lançar uma campanha já excluindo tucanos dela ou atacando aliados. Não se trata apenas de Tasso e Roseana. Mas do eleitorado do Nordeste, do fantasma da dissidência — advertiu Fernando Henrique numa conversa.
Fernando Henrique teria reclamado especialmente da tentativa de Vellozo Lucas e de outros serristas de isolarem o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB). Na expectativa de que Serra melhore o desempenho nas pesquisas eleitorais até maio, quando será escolhido o candidato do governo, ele teme que gestos prematuros inviabilizem uma futura aliança.
— Maio é um mês importante. É quando o jogo começa para valer. E tenho certeza de que Serra terá sucesso até lá — apostou Aécio.
Ontem, um dia depois de ter jantado com Fernando Henrique, Aécio foi porta-voz da disposição do presidente de deixar a reconciliação com Tasso nas mãos de Serra e de não buscar confrontos com os aliados.
— Que não se esperem do presidente atos heróicos em defesa de qualquer candidato. Ele vai ter um candidato, do partido dele. Mas não vai ser um xiita, não vai retaliar — disse Aécio.
Tucanos insistem para Serra telefonar para Tasso
Aécio, o presidente do PSDB, José Aníbal, e ministros tucanos ainda insistiam para que Serra telefonasse para Tasso. O governador do Ceará, que anteontem dissera a Aníbal que é um homem de partido e que respeitará a escolha do PSDB, afirmou:
— Só vou a Brasília quando o candidato estiver oficialmente escolhido.
Para o secretário-geral da Presidência, Arthur Virgílio, cabe a Serra fazer o primeiro gesto político.
— A vez (de procurar) é do Serra e é simples: é só discar 085 e começar a falar. Se cair a ligação, Tasso disca 011 — disse Arthur Virgílio.
Artigos
Falsos profetas
Fernando Lopes
Em artigo publicado ontem no GLOBO, o prefeito do Rio de Janeiro volta a falar sobre “a grave situação financeira do estado”, tema de profecias suas desde o ano de 2000. Provavelmente, estará contando com o esquecimento da opinião pública sobre declarações semelhantes no passado, e que não se concretizaram.
A esse respeito, é preciso deixar claro, em primeiro lugar, que na renegociação da dívida do estado com a União não houve nenhuma facilidade. Foram longos dez meses de reuniões, propostas e contrapropostas. Foi assim que viabilizamos a criação de uma receita própria para o Rio-Previdência, a partir de receitas futuras de royalties transformados em títulos com vencimentos mensais até 2014. Antes, o pagamento dos inativos dependia completamente do Tesouro estadual; hoje, dispõe de expressiva parcela de recursos próprios.
O acordo da dívida dá, também, previsibilidade aos pagamentos do estado, e as regras são as mesmas para o atual governo e os futuros, ao longo de 30 anos. O acordo da dívida não deu ao estado nenhuma concessão, e foi um bom acordo para as duas partes: para o estado, porque a negociação com o governo anterior tinha produzido condições que ninguém poderia honrar, e para a União, porque produziu regras idênticas para um período de 30 anos, honráveis pelos governos futuros.
O acordo da dívida deu-nos, portanto, previsibilidade. A chave do sucesso da atual administração estadual foi a conjugação do controle dos gastos com a recuperação das receitas do estado.
O prefeito busca, ainda, confundir os leitores ao tratar das questões de pessoal. Em primeiro lugar, omite que parte do acréscimo da folha vem se dando em cumprimento a decisão judicial, depois de esgotados todos os recursos, que mandou pagar a servidores acima do teto salarial de 9.600 reais. Em segundo lugar, o prefeito aponta como condenável uma prática tradicional da administração, inclusive quando ele ocupou a Secretaria de Fazenda. Trata-se da concessão de reajustes com parcelas distribuídas ao longo do tempo, o que dá à categoria a certeza de quanto vai receber, e ao estado as condições de prover os recursos para esse pagamento. O próprio governador Garotinho herdou situações desse tipo da administração anterior.
Além disso, embora o prefeito cite o relatório do conselheiro Sérgio Quintela no tocante ao primeiro semestre de 2001, omite o fato de que a arrecadação de ICMS do estado cresceu mais de 22% naquele período, comparado ao primeiro semestre de 2000. As receitas estaduais tiveram, portanto, naquele período, um crescimento excepcional.
Mais adiante, o prefeito cita dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal, dando a entender que o governo estadual estaria agindo em discordância com ela. O prefeito pode dormir tranqüilo (ou intranqüilo?), porque antes de essa lei ser aprovada já tínhamos implantado mecanismos de controle de gastos que, depois, vieram a ser explicitados naquela lei.
Finalmente, o prefeito incorre em outro erro quando diz que o decreto de execução orçamentária de 2 de janeiro passado retarda expedientes relativos à execução do orçamento. Ao contrário disso, em 2002, tanto o orçamento quanto o decreto foram publicados mais cedo, para não afetar a continuidade administrativa nesta fase final do governo Garotinho.
Se ele fosse mesmo um técnico preocupado com o gasto público, não poderia deixar de notar que o governo FH, que apóia com tanto entusiasmo, multiplicou a dívida pública por dez, desde que assumiu, por causa dos juros abusivos. A maior parte da dívida dos estados, hoje, foi causada pela política de juros elevados do governo FH, e isso onera enormemente as despesas mensais com as prestações da dívida.
É sempre bom lembrar que, na administração anterior, o Estado fazia caixa vendendo suas empresas, à exceção da Cedae, para pagar seus compromissos. Ainda assim, quando o governador Garotinho assumiu, parte do 13 salário não havia sido paga, o funcionalismo recebia na segunda quinzena do mês seguinte, as obras estavam paralisadas havia oito meses e os fornecedores também recebiam com muitos meses de atraso.
Hoje, como se vê, o quadro é completamente diferente. O governador Garotinho inaugura obras diariamente, nas diversas regiões do estado. Aliás, nunca um governo estadual investiu tantos recursos, distribuídos pela cidade do Rio de Janeiro, a Baixada Fluminense e o interior do estado. Da mesma forma, esses investimentos distribuem-se pelos diversos setores de atividade.
Apesar de faltarem apenas dois meses e meio para a saída do governador, os serviços públicos continuam funcionando normalmente e as obras espalhadas por todo o estado estão prosseguindo no ritmo programado. Como se sabe, especialmente em final de governo, os empreiteiros e fornecedores só trabalham normalmente se estiverem recebendo normalmente.
O problema que o Estado do Rio de Janeiro tem hoje, e não só ele, mas todos os demais, decorre da incompetência do governo FH, que Cesar Maia e o PFL, seu partido, apóiam. A economia do Estado do Rio de Janeiro estava em franca recuperação, pelos estímulos financeiros e fiscais do governo estadual, quando foi atropelada pelo racionamento de energia. Esta é a única questão que vem afetando profundamente as receitas de todos os estados, e que temos conseguido, com trabalho sério e criatividade, minimizar.
Ainda assim, e antes que o prefeito tente outras profecias, podemos afirmar que aquele que ficar no lugar do governador Garotinho, a partir de abril, vai receber o estado com seus pagamentos em condições normais e bem mais recursos em caixa do que recebemos em janeiro de 1999.
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO – Diana Fernandes
O próximo lance
A 11 meses da eleição presidencial, as análises e as previsões dos políticos e de seus partidos refletem seus desejos. O PT diz que Roseana Sarney é problema para o PSDB. Os tucanos dizem que seu adversário é o PT, mas atacam Roseana. Olhando de fora a disputa entre os grandes, o PPS de Ciro Gomes decidiu apostar que o cenário favorece o crescimento de um nome de centro-esquerda.
Partem os aliados de Ciro do seguinte raciocínio: a disputa hoje está entre Lula e Roseana, candidatos de campos ideológicos díspares, portanto, com um vazio no meio. Além disso, a candidatura Roseana mostrou, muito antes do que nas eleições anteriores, que Lula pode ser derrubado facilmente pelas forças governistas. Seja pela própria Roseana ou pelo tucano José Serra. Se já está claro que o PT terá dificuldade para derrotar o governo, cabe, então, uma alternativa.
Quem expressa esse pensamento do PPS é o deputado João Herrmann, que está em contato direto com Ciro Gomes, Roberto Freire e outros nomes do partido. O grupo planeja a retomada do diálogo com o PDT, o PTB e o PSB, partidos de oposição ao governo e que não deverão compor com o PT. Está na dependência apenas de uma decisão do PMDB, na prévia de 17 de março, e do destino de Itamar Franco.
— O grande fator novo da candidatura Roseana é o vírus de destrutibilidade da candidatura Lula. Como a derrubada da candidatura de Lula é plausível, surge espaço para a verdadeira centro-esquerda — diz João Herrmann.
Para ele, claro, Ciro Gomes é o nome que melhor representa esse segmento político. Mas ressalva que o PPS não irá para a discussão com os outros partidos impondo candidato e sim uma proposta que tenha mais condições que a do PT de vencer o governo.
Como fazem os outros partidos, o PPS analisa a situação pelo ângulo que favorece seus interesses, como foi dito no início. Gerar a expectativa de um fato novo, neste momento em que o seu candidato está em declínio nas pesquisas, faz parte da tática política.
FH estará no exterior em dois grandes momentos do PSDB: o anúncio da candidatura de Serra e a convenção. Mostra que o projeto é do partido e não do governo, dizem os serristas.Bate e assopra
Ex-tucano e com o estilo mineiro cada dia mais aguçado, o ministro pefelista Roberto Brant (Previdência) pondera sobre o risco de se estabelecer, nesta eleição, abismos ideológicos entre parceiros. Refere-se ao discurso do prefeito de Vitória, o tucano e serrista Luiz Paulo Vellozo Lucas, que pregou a polarização entre José Serra e Roseana Sarney com o argumento de que um é moderno e o outro é conservador. Sem piedade, Brant usa para essa situação a expressão “os bolsões sinceros mais radicais”, uma referência aos militares de linha dura da ditadura:
— Temos que conter esses bolsões, conter a linha dura. Dos dois lados.
Brant diz ainda que o prefeito ataca o PFL sem saber o dia de amanhã e pensa que os tucanos são superiores e incomparáveis.
— Se eles são tão melhores, têm mesmo é que ir sozinhos. Mas tenho certeza que esse não é o pensamento da maioria do PSDB.
De fato, vários tucanos, inclusive FH, condenaram ontem o tom do discurso de Vellozo Lucas.
Conselho
Nos últimos dias, com essa pendenga toda em torno da candidatura do ministro José Serra, o presidente Fernando Henrique Cardoso expressou pessoalmente ao tucano seu palpite:
— Você tem que mostrar, deixar claro que eles (o PSDB) vão ganhar a eleição com você. Caso contrário, eles não o apoiarão.
Em outras palavras, o presidente entende que o ministro precisa passar para todo o PSDB que o projeto de poder é de todos. E evitar a prática de se concentrar em pequenos grupos.Intramuros
O anúncio formal da candidatura do ministro José Serra, que deverá ser feito na quarta-feira, seguirá um roteiro estritamente partidário. Será na sede do PSDB, em Brasília, em reunião da executiva nacional, e, se possível, com a presença de suas figuras ilustres. Se for mesmo no dia 16, o presidente Fernando Henrique estará na Rússia. Inicialmente, o anúncio de Serra seria durante um ato do Ministério da Saúde.
— Será um ato do partido, com a marca exclusiva do PSDB — diz Márcio Fortes.
PUBLICITÁRIOS e dirigentes do PFL decidiram que será deflagrado ainda este mês o chamado “Move BR”, um movimento, que o partido garante que será patrocinado por setores da sociedade civil, em defesa de Roseana Sarney. Serão faixas, adesivos de carros e broches com o nome da governadora. Apenas o nome. Sem qualquer referência às eleições. Advogados do partido sustentam que tudo será feito sem ferir a lei eleitoral.
O GOVERNADOR de Tocantins, o pefelista Siqueira Campos, não tem meias palavras. Em um almoço com políticos ontem, por ocasião da visita do ministro dos Transportes, Alderico Lima, ao estado, ele disse que só se manifestará sobre a sucessão presidencial depois que o presidente Fernando Henrique o fizer. Para deixar mais claro, disse: “Apoiarei o candidato do presidente”. O PFL não se abalou. Dizem seus dirigentes que Siqueira Campos é assim mesmo, “está sempre com quem está no poder”.
Editorial
AJUDA AO MERCADO
O Brasil vem quebrando, um a um, todos os tabus na área de petróleo. A flexibilização do monopólio estatal não significou o fim da Petrobras, como previam os críticos da abertura; ao contrário, a companhia nunca produziu tanto e nem obteve tamanhos lucros como nos dois últimos anos. Os investimentos se multiplicaram e a tão sonhada auto-suficiência já tem data para ser alcançada (2005), pois as reservas disponíveis asseguram o necessário aumento de produção para isso, o que tornará o país mais protegido contra crises internacionais.
Agora uma nova etapa das mudanças está começando, com a liberação total dos preços dos combustíveis no mercado interno. Infelizmente o país ainda não reúne todas as condições que levariam a uma concorrência perfeita no setor. O resultado foi uma frustração do consumidor, animado com as previsões de que os preços cairiam em média 20%. Na realidade, a queda ficou em 8,1%, levando o governo a intervir.
Devido ao longo período de monopólio, boa parte da infra-estrutura e da logística de distribuição dos combustíveis depende da Petrobras. As demais empresas podem usar a capacidade ociosa dos terminais e dutos das estatais, mas esses volumes seriam relativamente irrisórios diante do consumo. Dessa forma, para que efetivamente os preços internos dos derivados de petróleo possam sofrer a concorrência direta de produtos importados, a infra-estrutura usada pelos distribuidores terá que ser ampliada — e com investimentos que eles próprios precisarão fazer.
Nesse caso, estaríamos naquela situação em que não se sabe o que vem primeiro, se o ovo ou a galinha: a liberação dos preços no mercado interno é fundamental para viabilizar esses investimentos, sem os quais não teremos de fato um setor mais competitivo. Até que essas condições passem a existir, o mercado terá de sofrer alguma intervenção para proteger o consumidor. Mas se este também fizer a sua parte, deixando de abastecer nas redes e postos que estejam cobrando pelos combustíveis preços acima das expectativas do próprio mercado, certamente a gasolina e o diesel rapidamente passarão a custar bem menos.
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01/11/2002
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