“São estapafúrdias as insinuações”
Serra: “São estapafúrdias as insinuações”
BRASÍLIA e SÃO LUIS. O senador José Serra (PSDB-SP), pré-candidato à Presidência da República, reagiu ontem com veemência às afirmações de que existe relação entre os tucanos que defendem a sua candidatura e a operação de busca e apreensão da Polícia Federal no escritório de Jorge Murad, marido da governadora do Maranhão, Roseana Sarney.
“São estapafúrdias — para não dizer malucas — as insinuações de que existe alguma relação entre o episódio que envolve a empresa Lunus, ou o processo da Sudam e o PSDB. Não conhecemos os procuradores nem os juízes de Tocantins, muito menos suas representações e despachos. A idéia de manipulação política ofende o Judiciário, o Ministério Público e o nosso partido”, afirmou o ex-ministro da Saúde, em nota oficial.
Tucano defende a renovação das alianças para vencer eleições
No texto, Serra lamenta o que classificou de “apelação sistemática”, que atrapalha a discussão de idéias e projetos para o país. O tucano disse ainda que mantém a disposição de renovar alianças para vencer as eleições e garantir a governabilidade.
Preocupado com a crise, o presidente Fernando Henrique Cardoso se reuniu ontem no Palácio da Alvorada com o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, e depois jantou com o líder do PSDB no Senado, Artur da Távola (RJ). Pimenta disse que o presidente espera que os pefelistas não misturem ações da Justiça com as do governo.
— O presidente tem acompanhado o episódio, mas é bom lembrar que essa questão foi originada na Justiça. O presidente acredita que o PFL saberá distinguir a diferença — disse o ministro.
Os líderes da base governista tentam demonstrar tranqüilidade e garantem que a crise política não vai interferir a ponto de prejudicar projetos considerados importantes para a governabilidade. Essa certeza, no entanto, só será obtida após o resultado aparecer no painel eletrônico da Câmara, na terça-feira ou na quarta-feira.
— Espero que não haja problema. A CPMF é um projeto que interessa ao país. Tanto os partidos da base quanto os da oposição demonstraram bastante responsabilidade e espírito público ao aprovar o texto em plena crise política aberta pela decisão do Tribunal Superior Eleitoral de restringir as alianças. Acho que no segundo turno será a mesma coisa — afirmou o líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP).
Madeira admite, no entanto, que a crise entre o PSDB e o PFL é grave e que poderá trazer desdobramentos importantes quanto à manutenção da aliança. Madeira lembrou que, como os dois partidos têm candidatos próprios à Presidência, era previsível que mais cedo ou mais tarde surgissem conflitos como este.
— Não dá para deixar de admitir que a situação é séria. Estamos em campanha e, como cada partido continua com seu candidato, o próprio calor da disputa iria produzir situações como esta. Mas acredito que os líderes saberão acalmar os mais exaltados e mostrar que a governabilidade do país está acima desses problemas partidários — justificou Madeira.
Vice-líder do PFL na Câmara acredita em conciliação
O vice-líder do PFL na Câmara e integrante da executiva nacional do partido, José Carlos Aleluia (BA), segue a mesma linha conciliatória de Madeira. Para o deputado, as brigas partidárias entre o PSDB e o PFL fazem parte do processo eleitoral e não vão interferir em questões do governo.
— Vai haver serenidade suficiente para que os deputados do PFL entendam que, ficando ou não na base governista por conta desse episódio, a votação da CPMF é importante para o país — resumiu Aleluia.
Ala não-governista do PMDB aprova candidatura própria à Presidência
SÃO PAULO. A ala não-governista do PMDB conseguiu reunir 254 delegados na convenção extraordinária realizada ontem à tarde, em São Paulo, e, com esse quórum, garantiu os votos necessários para referendar o processo de candidatura própria do partido à Presidência. O resultado, no entanto, será ignorado pelo PMDB governista, segundo o presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP). De acordo com ele, os rebeldes terão de recorrer à Justiça para validar a convenção. Temer disse ainda que as 254 assinaturas serão examinadas, pois podem incluir nomes de suplentes de delegados.
Na sexta-feira, a direção nacional do PMDB promove outra convenção, em Brasília. Os não-governistas disseram ontem que vão boicotá-la, por considerar que se trata de uma armadilha para inviabilizar a prévia do partido, marcada para dia 17. Segundo Temer, se houver boicote, o prejuízo será dos rebeldes.
Resultado será referendado em convenção em junho
Sem quórum, a candidatura própria fica inviabilizada, como querem os governistas, já divididos entre apoiar o PSDB ou o PFL. Segundo as regras estabelecidas pela direção nacional, caso ela seja aprovada por 50% mais um dos votantes, ainda será necessário um referendo de outra convenção, marcada para junho.
O governador de Minas, Itamar Franco, disse que já pensa em desistir da pré-candidatura. Nesse caso, apoiará o senador Pedro Simon (RS), que ainda tem quatro anos de mandato a cumprir.
— Não vejo problema em abrir mão para o Simon. Mas ainda sou pré-candidato e vou brigar até o fim para que o PMDB tenha candidato próprio — disse o governador.
Além de reafirmar sua disposição de participar da prévia e da convenção de junho, Simon fez duros ataques aos governistas do PMDB:
— O presidente do partido deve ter engordado uns quatro quilos, de tanto almoçar com os candidatos do PSDB e do PFL — discursou Simon.
Irritado com o comentário, Temer rebateu com ironia:
— Eles engordaram uns oito quilos, de tanto almoçar com o Lula e o José Dirceu. Sou presidente do partido e é normal almoçar com candidatos quando se tem esse cargo.
Ação cautelar do PMDB é negada na Justiça
Ontem à tarde, Temer tentou barrar, na Justiça, a realização da convenção, mas foi derrotado. A ação cautelar no Juizado Especial Criminal de Brasília foi negada. Foi a segunda derrota jurídica da cúpula peemedebista. Na quinta-feira, a ministra Ellen Gracie Northfleet, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já negara uma medida cautelar que tentava impedir a convenção.
Ontem, em votação simbólica, por unanimidade, os delegados aprovaram todos os pontos previstos no edital de convocação. Entre eles, o que reduz o quórum mínimo da prévia do dia 17 de 50% para 20% dos convencionais — facilitando a validação da consulta —, assegura ao vencedor a homologação de seu nome na convenção de junho e dá a ele o direito de comandar a candidatura presidencial do partido, inclusive no que diz respeito à escolha do vice e da campanha eleitoral.
Seqüestro de Daniel financiaria resgate de preso
SÃO PAULO. O seqüestro do prefeito de Santo André, Celso Daniel, teria o objetivo de arrecadar dinheiro para financiar o resgate de Antônio Carlos Pereira dos Santos, braço-direito de Ivan Rodrigues da Silva, chefe da quadrilha apontada pela polícia como responsável pelo crime. O plano era seqüestrar um comerciante e levantar o dinheiro para o resgate. O bando já tinha detalhes sobre itinerários e horários da possível vítima. No último dia 18 de janeiro, porém, o comerciante não apareceu. A Pajero onde estava Daniel foi escolhida ao acaso, por estar passando justamente na rua onde a vítima escolhida passaria. Ao perceber o engano, Ivan teria determinado que soltassem Daniel, mas a ordem foi desobedecida.
Essas são algumas das conclusões da polícia após o depoimento de Itamar Messias dos Santos, na 1 Delegacia de Homicídios. Itamar foi ouvido durante oito horas pe lo delegado Armando de Oliveira Costa Filho. Ontem, quem depôs foi Rodolfo Rodrigo de Sales Oliveira, o Bozinho. Enquanto isso, a Polícia Federal (PF) realizou diligências com Itamar.
Linha de investigação é reforçada por desenho
A linha de investigação da polícia é reforçada por objetos apreendidos na casa de José Édson da Silva, apontado por Itamar e Rodolfo como o homem que matou o prefeito. Há duas semanas, policiais apreenderam na casa de José Édson, em Capão Redondo, na Zona Sul, um croqui do Centro de Detenção Provisória do Belenzinho (CDP-2), na Zona Leste, e uma carta detalhando como é feita a troca da guarda na muralha da penitenciária, onde Antônio Carlos está preso desde setembro.
No depoimento à PF, Itamar admitiu que disparou na Pajero, mas afirmou que a rajada foi acidental. Após o seqüestro, o prefeito foi levado para a Favela Pantanal. José Édson seria um dos encarregados de cuidar de Daniel. O chefe da quadrilha, ao perceber a repercussão do crime, no entanto, teria ordenado que soltassem o prefeito. Por erro de comunicação ou simples desobediência, José Édson teria matado Daniel.
A polícia tem informações de que o descumprimento da ordem poderia ter levado Ivan a ordenar a execução de José Édson.
— Ele estaria no porta-malas de um Santana no fundo da represa Billings — disse um policial.
Como tal informação ainda não está confirmada, a polícia pode divulgar esta semana fotos de José Édson. A distribuição depende apenas de uma autorização da Delegacia Geral.
Greenhalgh se diz satisfeito com o trabalho da polícia
No sábado, após o depoimento de Itamar, o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, indicado pelo PT para acompanhar as investigações, afirmou estar satisfeito com o resultado da apuração da polícia.
— Considero tudo esclarecido e acredito que tenha sido mesmo um crime comum — disse o parlamentar.
Os depoimentos de Itamar e Rodolfo elevaram para 14 a lista de acusados de participação no seqüestro e no assassinato do prefeito. Além de José Édson — que não fazia parte da lista de suspeitos —, os dois também deram o nome de Marcos Gilberto Bispo dos Santos. Marcos teria ajudado José Édson a levar Daniel do cativeiro, na Favela Pantanal, Zona Sul, até o local da execução, uma estrada de terra em Juquitiba, às margens da Rodovia Régis Bittencourt.
Segundo a polícia, Itamar forneceu pistas que relacionam a quadrilha a outros dois seqüestros e ao assassinato de um médico na Zona Sul da capital paulista. O bando também estaria envolvido em vários roubos de carros.
Fuga em cadeia de SP deixa um morto
SÃO PAULO. Nove presos fugiram ontem de madrugada do Cadeião de Pinheiros 3, na Zona Oeste da capital paulista. Um dos fugitivos foi morto por policiais do Grupo de Operações Especiais (GOE) que faziam a guarda do muro do presídio. Seis detentos foram recapturados e dois continuavam foragidos até o final da tarde de ontem. A corregedoria da Polícia Civil esteve no local para apurar a ação e vai investigar policiais do GOE que participaram da operação e usaram um carro com parte da placa coberta para dificultar a identificação.
Presos usaram corda feita de lençóis para pular o muro
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, os presos serraram as grades e usaram uma corda feita com lençóis para pular o muro. Durante a fuga, um outro preso aproveitou a movimentação dos policiais da muralha e tentou fugir pela porta da frente. De acordo com a secretaria, ele foi advertido três vezes e acabou morto a tiros por um policial.
A fuga aconteceu às 3h30m de domingo e mobilizou mais de 20 policiais do GOE, PMs e a unidade de resgate UR-241, que chegou à cadeia às 5h50m. Uma equipe do Corpo de Bombeiros também foi acionada para atender um preso que caiu de uma altura de oito metros durante a fuga. O detento foi levado para o Pronto-Socorro da Lapa.
A Secretaria de Segurança Pública informou que a Corregedoria foi acionada para investigar os policiais do carro n 14036, do GOE, que estava com os dois primeiros números da placa cobertos. Só era possível identificar as letras BVZ e os dois últimos números: 86. Segundo a secretaria, os policiais serão identificados e poderão ser punidos por causa da irregularidade.
Policiais do GOE ainda tentaram evitar a divulgação da fuga e da morte do preso. Um delegado do GOE, que estava no 91 Distrito Policial (Ceasa), onde a ocorrência foi registrada e para onde os recapturados foram levados, negou que a fuga tivesse ocorrido.
Comerciante é libertado de cativeiro em favela
SÃO PAULO. Seis horas depois de ser seqüestrado, o comerciante Antônio Lino da Silva, de 45 anos foi libertado ontem pela polícia na Favela da Ilha, em Vila Alzira, Zona Leste de São Paulo. O cativeiro ficava a apenas quatro quilômetros da casa do comerciante. Nenhum seqüestrador foi preso.
Dono de uma lanchonete, Antônio foi abordado por quatro homens encapuzados às 18h de sábado, quando chegava em casa. Dois bandidos entraram na picape do comerciante e o levaram até um sobrado inacabado.
Denúncia anônima revelou local do cativeiro
Enquanto a família ainda negociava com os seqüestradores, a Polícia Militar recebeu uma ligação anônima informando sobre a localização de um cativeiro na Favela da Ilha. PMs do 19 Batalhão foram até o lugar à meia-noite e acabaram trocando tiros com seis seqüestradores, que conseguiram fugir por uma viela.
O comerciante, que estava com as mãos algemadas, aproveitou-se da situação e saiu do cativeiro. Ao ver que todos os policiais tinham ido atrás dos bandidos, Antônio correu algemado em direção à Avenida do Oratório, percorrendo um trecho de pelo menos 500 metros. Na altura do número 5.800 da avenida, o comerciante pediu que o porteiro de um prédio ligasse para a PM.
— Ele ainda estava bastante abalado e não conseguia falar direito — disse o soldado Josenildo Carlos da Silva.
Seqüestrado levou os policiais até o sobrado
Antônio voltou com os policiais até o cativeiro, onde ficara sentado no chão da cozinha por seis horas. No local foram encontrados um colchonete e uma caixa com metade de uma pizza. Sobre a pia do cômodo, os seqüestradores deixaram papéis de seda retirados de maços de cigarros.
Segundo um policial militar que não quis se identificar, os seqüestradores passaram a madrugada fazendo ameaças de morte por telefone para a família do comerciante.
— Como os bandidos são vizinhos da vítima, a única solução é mudar de endereço — observou.
Juros em baixa, expansão maior
A inesperada redução dos juros em fevereiro, de 19% para 18,75%, e a afirmação do Banco Central, na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), de que será menos rígido em 2002 criaram entre os analistas a expectativa de que a economia brasileira poderá atingir este ano crescimento de 3%, o dobro da taxa registrada em 2001 (1,51%). Mesmo sem revisarem oficialmente seus números, que ainda rondam os 2,5%, uma evolução dessa magnitude já não é descartada pelos economistas, que estimam ritmo acelerado no segundo semestre, como reflexo de novas quedas da taxa Selic até junho. Para o Ipea, no quarto trimestre, já estaremos crescendo 5,1%, a maior variação desde o segundo trimestre de 2000.
— De fato, a sinalização do BC ao mexer nos juros já em fevereiro é de que, no mínimo, vai antecipar as reduções da Selic, o que aumenta o impacto na economia já no segundo semestre deste ano — afirma Eustáquio Reis, diretor de estudos macroeconômicos do Ipea. — Tranqüilamente, o PIB pode crescer 3%.
O principal motivo do novo horizonte para a economia foi a mudança de rota do BC, que deixou claro que abandonou a .perseguição ao centro da meta de inflação estipulada para 2002, de 3,5%. Na prática, i sso significa que a autoridade monetária vai afrouxar a política de juros, estimulando a retomada da produção industrial e a redução do custo dos financiamentos e crediários. Numa economia que já emite sinais de recuperação (vendas maiores de bens duráveis, saldo positivo entre contratações e demissões e maior confiança de consumidores e empresários), uma política expansionista dá ainda mais gás ao setor produtivo.
— O BC alterou a forma de ver o cenário, o que dá um alento ao nível de atividade. Além disso, a economia mundial vai deslanchar no segundo semestre e existe possibilidade de a América do Sul, hoje capenga, começar a se recuperar, o que empurra as exportações. Com tudo isso, crescer 3% está hoje no front — afirma Odair Abate, economista-chefe do Lloyds TSB.
Taxa maior poderia gerar 450 mil empregos
Segundo Alexandre Schwartsman, economista da BBA Corretora, o novo rumo do BC é compatível com juros em dezembro na casa de 15%, e abaixo de 18% já no primeiro semestre. A opinião sobre a velocidade da redução é compartilhada por Fernando Ferreira, sócio da consultoria Global Invest, que projeta porém juros em 16,5% no fim do ano. Ferreira acredita que este movimento é compatível com expansão de 2,7% do PIB ou até um pouco mais, embora considere que “esse crescimento não é nada, o Brasil não pode dar-se a esse luxo: tem que entrar num ciclo sustentável”.
Além dos cenários interno e externo jogarem a favor, os analistas são unânimes em afirmar que a perspectiva positiva em que a agência classificadora Moody's pôs o Brasil — sugerindo uma elevação de sua avaliação em breve — é uma influência positiva sobre a política monetária. Isso porque o mercado internacional tende a acompanhar essas revisões e a reduzir o prêmio de risco-país cobrado pelos títulos brasileiros que negocia. O prêmio é um componente informal da taxa de juros doméstica e, quando cai, abre espaço para a Selic seguir a mesma trajetória.
Por último, juros mais baixos fazem par com expansão maior e também com criação de novos empregos. Se o Brasil conseguir crescer 2,5%, a média ainda em vigor, isso significa 300 mil vagas a mais, nas contas do economista Marcio Pochmann, da Unicamp. Se realmente avançar outro meio ponto e chegar a 3%, tem potencial para gerar outros 150 mil postos.
Na avaliação dos economistas, os setores de comércio e serviços — que abriram o ano com o nível de ocupação 1,5% maior do que em janeiro de 2001 — devem contratar primeiramente. A indústria, com muita mão-de-obra ociosa, deve admitir apenas pontualmente, em especial no segundo semestre.
Artigos
Discutindo os transgênicos
Luiz Antonio de Castro
Acomercialização de plantas geneticamente modificadas começou em meados da década de 90 com o tomate de maturação lenta, produzido pela Calgene, e a soja resistente ao herbicida glifosato, da empresa Monsanto. Outras plantas foram, em seguida, desenvolvidas e liberadas para uso comercial no mundo, tendo como características a resistência a insetos, vírus e fungos, e melhor qualidade nutricional, como no caso da canola e da soja, cuja composição lipídica foi alterada para diminuir o possível efeito do óleo no nível de colesterol no organismo humano.
Outros produtos geneticamente modificados com benefícios diretos para os consumidores se seguiram, como o chamado golden rice, rico em caroteno efetivo, e eficaz para reduzir os efeitos da avitaminose A, que causa cegueira noturna em centenas de milhares de pessoas em todo o mundo, e plantas que expressam antígenos contra doenças, como diarréias virais, de grande interesse para o Brasil do ponto de vista social.
Dados do ISAAA (International Service for the Acquisition of Agribiotech Application) informam que a área cultivada com plantas transgênicas aumentou em nível mundial de 1,7 milhão de hectares em 1996 para cerca de 52,6 milhões de hectares em 2001, cultivados por 5,5 milhões de agricultores, sem que até o momento tenha sido constatado qualquer efeito danoso ao meio ambiente ou à saúde humana.
Atualmente plantas transgênicas de soja, milho, algodão e canola já têm participação relevante na agricultura dos Estados Unidos, do Canadá, da Austrália, da China e da Argentina. A soja transgênica tolerante ao glifosato já ocupa 54% da área cultivada com essa leguminosa nos Estados Unidos e a totalidade da área cultivada na Argentina. Quarenta e seis por cento da área cultivada mundialmente com soja utilizam soja transgênica. Vinte por cento da área cultivada mundialmente com algodão utilizam algodão transgênico. Dez por cento da área cultivada mundialmente com milho utilizam milho transgênico.
A livre escolha dos agricultores por esta tecnologia foi obviamente motivada por vantagens econômicas que ela oferece sobre as tecnologias convencionais. Vantagens traduzidas principalmente por uma redução no uso de agrotóxicos. Produtos e derivados das espécies citadas, e outras como tomate, batata e abóbora, estão nos mercados desses países sem nenhuma restrição. Estima-se que nos supermercados dos Estados Unidos cerca de 600 produtos transgênicos ou derivados, destinados à alimentação humana e animal, estejam sendo consumidos pela sociedade americana, sem que se tenha constatado nenhum caso comprovado indicando que qualquer destes produtos tenha provocado efeito danoso ao ser humano.
No Brasil, ao agricultor brasileiro foi judicialmente negado o acesso a esta tecnologia comprovadamente vantajosa do ponto de vista financeiro, e cujos produtos liberados, repito, são inócuos ao homem e ao meio ambiente. Na história da agricultura brasileira, este é um caso único.
Desde que a cana-de-açúcar se estabeleceu no Brasil, em meados do século XVI, pelas mãos de Martim Afonso de Souza, até o início deste novo milênio, nunca foi negado ao agricultor brasileiro escolher as tecnologias que precisa e prefere. Mesmo quando estas tecnologias degradam o meio ambiente, como as queimadas, ou contribuem para o efeito estufa, como a queima da cana antes da colheita, ou acidentalmente matam milhares de pessoas, como o uso de agrotóxicos. É sempre do agricultor a palavra final.
Por esse caminho, o sucesso da agricultura e da pecuária colocou o Brasil entre as maiores potências do mundo em competitividade. Particularmente nos últimos três anos, as safras batem recordes sucessivos e estão prestes a alcançar a marca histórica de 100 milhões de toneladas de grãos. Poderia ser ainda melhor, se há três anos não convivêssemos com uma moratória branca judicial contra os transgênicos, que tem origem em ações do Greenpeace e do Idec, e que gradualmente estão diminuindo a competitividade da agricultura brasileira no contexto mundial.
A quem interessa o retrocesso da nossa agricultura, que já observamos no algodão este ano, incapaz de concorrer com o algodão transgênico da China e dos Estados Unidos, que eliminaram os inseticidas de suas lavouras? Quem perde por outro lado é a Embrapa, apesar do apoio praticamente exclusivo do Ministério da Agricultura para pesquisa em biotecnologia e genoma.
Há vinte anos investimos e desenvolvemos competência em engenharia genética, mas estamos impedidos de colocar os nossos produtos no mercado para servir à agricultura. Com a moratória, não há mais recursos disponíveis nas agências de financiamento para a pesquisa em engenharia genética de plantas, fenômeno que também ocorre na Europa. Quem pagará por esse atraso científico e tecnológico?
Há três anos pergunto a que interesses servem essas campanhas. Que razões existem para justificar este crime contra o estado democrático?
Em 1998 se dizia que o momento exigia cautela. Depois de três anos e 7,5 bilhões de dólares de agrotóxicos vendidos no Brasil, volto a perguntar: onde estão as vítimas dos transgên icos?
A Lei de Biossegurança brasileira é tão moderna e completa quanto as mais exigentes do mundo. O Brasil, no exercício desta lei, tem sido mais cauteloso que qualquer país do mundo. Por que negar ao agricultor brasileiro o que não foi negado aos agricultores dos Estados Unidos, do Canadá, da Argentina e da China?
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO – Diana Fernandes
Razão ou emoção?
A noite de ontem para hoje deve ter sido das mais longas para o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen. Pressionado por todos os lados, a começar pela presidenciável Roseana Sarney, pelos que desejam o rompimento imediato com o governo e por aqueles que não conseguem imaginar uma vida longe do poder, o alemão, como é conhecido, terá que dosar frieza e emoção.
Não que caiba exclusivamente a ele decidir se o PFL desembarca ou não do governo Fernando Henrique. Ele está desde sexta-feira ouvindo líderes importantes do partido. Especialmente o vice-presidente da República, Marco Maciel. Se dependesse exclusivamente da vontade de Maciel e Bornhausen, um jeitinho para contornar essa crise seria prontamente arranjado.
Mas nenhum dos dois menospreza a força de Roseana hoje no partido. Pensam com a razão e assim gostariam de agir, fazendo o possível para evitar que questões familiares ditem o rumo do PFL.
Os pefelistas que estão fazendo política com mais emoção que qualquer outra coisa deixam claro que se a governadora Roseana Sarney tiver que sair da disputa presidencial, tudo será feito para impedir a vitória do tucano José Serra num eventual segundo turno com o petista Luiz Inácio Lula da Silva. O que significa dizer que, por vingança, o PFL apoiaria Lula.
Quase impossível. Poderia ocorrer, claro, apoios isolados dos pefelistas, na Bahia de ACM e no Maranhão dos Sarney, por exemplo. Os profissionais do PFL, mesmo em situação delicada como a atual, agem inteiramente com a razão e o pragmatismo, e medem todos os passos para evitar justamente o que foi dito acima: o fortalecimento das forças de esquerda ou de centro-esquerda no país.
É esse o grande desafio que os comandantes do PFL têm até quinta-feira: demonstrar apoio integral e inarredável à presidenciável Roseana Sarney sem quebrar de uma só vez todas as possibilidades de o partido continuar exercendo sua tradicional maneira de fazer política.
Romper com o governo é ruim, mas deixar tudo como está pode ser pior ainda. É o dilema do PFL. Ao deixar a decisão para quinta-feira, Bornhausen aposta que até lá a carga emocional estará mais baixa.José Sarney discursará no Senado quarta-feira. Por enquanto, está em silêncio sobre o último golpe na candidatura da filha. O tom do discurso está sendo bem pensado.
Os caminhos do PFL
A nota do presidente do PFL, Jorge Bornhausen, divulgada anteontem à noite, é um recado ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Centrou as críticas no ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, que teria, na avaliação interna, tripudiado sobre o PFL.
Um gesto do presidente, que pudesse reparar esse incômodo, determinaria o rumo do partido. O PFL tem três caminhos: ficar, ir para a oposição ou assumir a postura de independente.
A primeira opção é hipótese quase remota a esta altura. A segunda não é o que deseja a cúpula. A independência seria a saída menos traumática para os dois lados. Votações de interesse do governo no Congresso ainda dependem do PFL.
Tumulto geral
A semana política será das mais agitadas em Brasília. O governo concentrará suas forças na Câmara para a aprovação, em segundo turno, da emenda que prorroga a cobrança da CPMF.
Ao mesmo tempo, amanhã, o Tribunal Superior Eleitoral estará publicando a resolução com as regras para as eleições, inclusive a polêmica uniformização das alianças.
Some-se a isso a grave crise do PFL com o governo e o resultado das votações poderá ser pífio esta semana.
E mais essa
No meio da confusão, a frente dos municípios realizará no Congresso esta semana a quinta Marcha dos Prefeitos, aquele encontro que eles realizam todos os anos para fazer os seus pedidos. Desta vez, o ponto principal é a criação de um piso para a tributação do Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISQN). Sem esta alíquota mínima, o imposto tem alimentado a guerra fiscal entre os municípios. Vão pressionar politicamente, já que são os cabos eleitorais de deputados e senadores nas eleições.
SE LÁ NA FRENTE for possível uma composição entre PT e PSB para o primeiro turno da eleição presidencial, o partido de Garotinho terá para vice de Lula um nome diferente, sem votos, mas que acrescentará credibilidade à chapa: o do presidente do Superior Tribunal de Justiça, Paulo Costa Leite, que se filiará ao PSB em 6 de abril, dois dias depois de se aposentar. É a última fofoca política da capital.
TRÊS DEPUTADOS apresentam-se como opção do PFL paulista para a disputa ao governo do estado: o empresário Eduardo Moreira Ferreira, o dirigente local do partido Gilberto Kassabi e o professor de economia Marcos Cintra. O PFL já estava combinadinho para apoiar o tucano Geraldo Alckmin. Com a regra da uniformização de alianças, tudo mudou.
O TEMPO na política pode ficar mais quente ainda. Em primeiro lugar na disputa pelo governo paulista, Paulo Maluf sofrerá novo revés nos próximos dias. Mais confusão no caso Eucatex.
Editorial
COISA PÚBLICA
A Universidade Federal do Rio de Janeiro entra em processo de substituição do seu reitor: a consulta à comunidade acontecerá na próxima semana, e dessa consulta surgirá a lista tríplice a ser encaminhada ao MEC.
Dado o processo dolorosíssimo que foi a greve do ano passado, com todos os seus reflexos negativos sobre a vida da universidade, seria importante que a atual deliberação coincidisse com uma reflexão da própria universidade sobre os seus destinos e a sua realidade de hoje. Equívocos demais foram se acumulando ao longo do percurso — um deles, o de acreditar que uma consulta à comunidade é uma eleição direta. Por conta disso, a escolha do reitor ainda em exercício desembocou num clima de beligerância permanente que não podia fazer bem à vida acadêmica.
A consulta é importante; é um indício expressivo do que pensa a comunidade. Mas não é uma eleição comum: a universidade faz parte do sistema público de ensino, e, assim, deve satisfações não só ao MEC como ao contribuinte que a financia. Isso é tanto mais verdadeiro quanto a educação pública, no Brasil, é questão vital. O dinheiro é escasso para o ensino fundamental — e há quem questione a facilidade com que estudantes das classes mais favorecidas ganham a corrida pela universidade pública (gratuita).
Ninguém imagina que o governo vá abrir mão de um ensino superior público; mas os responsáveis por essa área têm severas contas a prestar à opinião pública. Por causa disso, a administração da universidade precisa ser regida pelo princípio do mérito, nunca por impulsos corporativos. E não pode ser um corpo estranho no contexto mais amplo do ensino público.
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03/04/2002
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