Sarney defende Mercosul e pede a candidatos que façam o mesmo



Dizendo que cumpria um dever de consciência e político, o senador José Sarney (PMDB-MA) fez nesta quarta-feira (2) uma defesa veemente do seu principal projeto na política internacional quando presidiu o país: o Mercado Comum do Sul (Mercosul), que engloba Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Citando críticas feitas ao bloco pelo pré-candidato à Presidência da República, José Serra, o senador pediu que o Mercosul fosse inserido nos programas de governo de todos os pré-candidatos.

- Nessa sucessão presidencial, quero apenas pedir ao presidente Lula que continue a defender o Mercosul. Quero pedir aos [pré] candidatos que continuem a defender o Mercosul e ao ex-governador e candidato à Presidência [da República] José Serra, que tenha confiança no Mercosul, que jamais vacile em relação ao Mercosul, não dê declarações que possam parecer que ele seja contra o Mercosul, porque eu não acredito que ele possa ser contra o Mercosul - afirmou.

Sarney fez um relato dos passos políticos que deu, como presidente (1985-1989) para a criação do Mercosul. Sua estratégia incluiu a derrubada de preconceitos e a superação de intrigas diplomáticas e desconfianças. O senador mencionou especialmente o resgate do que chamou de "hipotecas históricas" entre Brasil e Argentina decorrentes das Guerras Cisplatinas (1825-1828); da Guerra do Paraguai (1864-1870); e dos esforços de navegação no Rio da Prata.

Data também dessa época, uma outra hipoteca, deixada pela princesa do Brasil e rainha de Portugal Carlota Joaquina (1775-1830). Filha de um rei de Espanha e casada com D. João VI, ela teve a pretensão de criar na região o Reino do Prata, da qual seria a rainha.

Num período histórico mais recente essas antigas escaramuças se desdobraram em suspeitas de parte a parte, que levaram as Forças Armadas brasileiras a se concentrarem na fronteira do Rio Grande do Sul, e as escolas militares a desenvolverem hipóteses de guerra com o país vizinho.

- Existia uma corrida nuclear entre os dois países para ver quem conseguiria dominar primeiro a tecnologia da bomba atômica. Chegamos quase à beira de um confronto nuclear - revelou.

O senador disse que, ao assumir o cargo de presidente da República, em 1985, guiou-se pelas palavras ditas, em 1910, pelo presidente eleito da Argentina, Roque Sáenz Peña, em visita ao Brasil: "Tudo nos une, nada nos separa". A política externa de Sarney teve como um fato marcante, segundo o próprio ex-presidente, a viagem do chanceler Olavo Setúbal a Buenos Aires para propor mudança substancial nas relações entre os dois países. Ao retornar, Setúbal disse que os argentinos estavam preparados para esse passo adiante no relacionamento, pois eram presididos por um homem excepcional, Raul Alfonsín (1927-2009).

- O primeiro passo que precisávamos estabelecer era tirar toda e qualquer névoa sobre o problema nuclear. E assinamos então, coisa inédita no mundo, o primeiro acordo de cooperação entre o Brasil e a Argentina em matéria nuclear. Logo em seguida, assinamos muitos outros acordos - lembrou.

Sarney disse que no momento em que o mundo se preocupa em evitar a proliferação nuclear na Coreia do Norte e no Irã é bom salientar que Brasil e Argentina resolveram esse problema sem qualquer mediação de outro governo, porque o presidente Alfonsín convidou o então presidente brasileiro para ir à usina nuclear de Pilcaneyeu, na Patagônia, acompanhado de técnicos brasileiros.

Em contrapartida, Sarney retribuiu a confiança convidando Alfonsín, acompanhado de todos os seus técnicos, para inaugurar a fábrica secreta de Aramar, aonde a Marinha do Brasil conduzia o desenvolvimento da tecnologia de centrífugas para enriquecimento de urânio.

O senador assinalou que todo projeto de integração tem seus problemas e que as lideranças políticas não devem se preocupar com interesses particulares contrariados, mas com o interesse coletivo e com o futuro. Ele salientou que o Mercosul é a garantia da independência latino-americana, pois deu início à maior onda de democratização no mundo desde o fim da 2ª Guerra Mundial.

- Vivíamos de costas para os nossos vizinhos. Hoje, 90% das nossas exportações são destinadas ao Mercosul e aos outros países da América do Sul. Nossas exportações cresceram 340%. O ministro argentino [de Relações Exteriores], Jorge Taiana, disse que o acordo está vivo e tem uma grande projeção no futuro. Eu acho que o Mercosul é o futuro da América Latina na busca de um mundo que será um mundo só. Porque esse, sem dúvida, é o destino do gênero humano - afirmou.

Apartes

O senador Edison Lobão (PMDB-MA) disse que países menores não têm muito interesse em política internacional, mas o Brasil já tem "um porte maior" e por isso está se interessando mais pelo tema. O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) disse que a contribuição de Sarney para a integração da América Latina é extraordinário. Ele afirmou que o Mercosul é a maior obra de política externa do Brasil no século 20.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que a União Europeia dá um exemplo de integração ao permitir o livre trânsito dos seus cidadãos, que podem escolher onde viver, estudar e trabalhar. Ele defendeu a adoção da liberdade de movimento dos seres humanos dentro do Mercosul.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse que foi Sarney quem teve a grandeza de tornar realidade o Mercosul. Para o parlamentar gaúcho, a fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai pagou um preço muito alto pelas desconfianças do passado, como a diferença no tamanho das bitolas das ferrovias e a proibição, ainda hoje, de instalação de indústrias na região.

02/06/2010

Agência Senado


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