Saturnino: acordo com FMI foi feito para proteger governo FHC e jogar crise para o próximo



O senador Roberto Saturnino (PSB-RJ) avaliou que o último acordo feito pelo governo brasileiro com o Fundo Monetário Internacional (FMI) "foi dimensionado milimetricamente para levar o governo, supostamente sem novas crises de pagamento e de solvência nacional, até o início de 2003". A crise foi adiada até o novo governo, "jogou-se a bomba para 2003", insistiu o senador, enfatizando sua contrariedade com a apresentação do acordo pelas autoridades econômicas, à sociedade e ao Parlamento, como fato consumado.

O senador pelo Rio de Janeiro também destacou ao Plenário nesta quinta-feira (dia 16) que dois dias após ter comparecido ao Senado, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, foi desmentido pela divulgação dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o desempenho da economia brasileira no segundo trimestre deste ano. Conforme o senador, Malan, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), repudiou que a política econômica coerente com as recomendações do FMI tenha imposto um crescimento pífio à economia brasileira. No entanto, continuou, eis que os dados do IBGE mostram que "o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou, no segundo trimestre deste ano, a primeira taxa de crescimento negativa desde 1998. O PIB caiu 0,99% em relação ao primeiro trimestre".

- O propósito fundamental é dar continuidade e aprofundamento àquela política de combate à inflação pela via da recessão e da derrubada da economia - advertiu o senador.

Saturnino enfatizou sua inconformidade com o fato de o governo apresentar os acordos que faz com o FMI como fato consumado. Segundo ele, se o governo brasileiro da época concordou com a constituição do FMI e do Banco Mundial, isso não significa que a concordância "valesse para qualquer acordo posterior". Tanto, argumentou o senador, que os empréstimos concedidos pelo Banco Mundial ao Brasil são submetidos à aprovação do Senado. Já os realizados com o FMI seriam, no entendimento de Saturnino, submetidos a uma "figura jurídica de que o acordo original vale para sempre".

Em aparte, o senador José Alencar (PMDB-MG) elogiou a análise de Roberto Saturnino e complementou-a dizendo que, com a atual política financeira, "estamos assistindo à maior transferência de reservas do mundo, oriunda do trabalho e da produção, para o sistema financeiro internacional." Para Alencar, a Inconfidência Mineira, ocorrida no século XIX, surgiu em um ambiente social em que a revolta e a indignação se tornaram intoleráveis devido à Derrama (cobrança, por Portugal, de 1/5 do ouro encontrado no Brasil), cujos prejuízos para o conjunto da população teriam sido inferiores aos produzidos pelos últimos acordos firmados com o FMI.

O senador Eduardo Suplicy (PT-AP) também apoiou Saturnino e comunicou que apresentá requerimento solicitando ao Banco Central informações sobre quantas e quais são as pessoas físicas e jurídicas, no Brasil e no exterior, que recebem os juros das dívidas interna e externa pagos pelo país.

16/08/2001

Agência Senado


Artigos Relacionados


Heráclito Fortes: governo federal usa crise da segurança para jogar povo contra governo paulista

Para Agripino, governo precisa agir rápido para proteger país da crise

Para Valadares, medidas do governo para conter a crise devem proteger mais fracos

Governo precisa diminuir gastos públicos para proteger país da crise financeira, sugere Agripino

Arthur Virgílio alerta para risco de crise fiscal no próximo governo

Lobão cobra aprovação da PEC paralela na Câmara, exigindo cumprimento de acordo feito com o governo