SATURNINO DEFENDE REATIVAÇÃO DA MARINHA MERCANTE BRASILEIRA



Aplaudindo iniciativa do ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, de criar dez fóruns de discussão sobre políticas de desenvolvimento específicas para setores estratégicos da economia, o senador Roberto Saturnino (PSB-RJ) assinalou a falta de um décimo-primeiro fórum que deveria discutir a reativação da Marinha Mercante brasileira e do setor de construção naval. "O Brasil já teve a segunda indústria naval do mundo e chegou a empregar 40 mil trabalhadores. Hoje, emprega um pouco mais de quatro mil", ressaltou. O senador defendeu a participação do Senado Federal nesses fóruns para, futuramente, poder legislar em consonância com as soluções derivadas das discussões.
Saturnino lembrou que o Brasil já teve uma Marinha Mercante importante com a empresa de navegação Lloyd, que foi responsável pelo transporte marítimo de 30% das mercadorias importadas e exportadas pelo país. Além disso, continuou o senador, todo o setor de cabotagem era mantido por empresas de capital nacional.
- Todas desapareceram. Hoje, temos apenas os navios da Petrobrás, uma ou outra companhia com apenas um navio e a Vale do Rio Doce, que não tem navios com bandeira brasileira e utiliza bandeira de conveniência - lamentou.
Ressalvando que a manutenção do Lloyd "seria um crime contra o país", pois o que restou da empresa estatal foi apenas "um cabide de empregos", o senador Edison Lobão (PFL-MA) defendeu a recuperação da Marinha Mercante, mas nunca através de uma estatal. Saturnino esclareceu que não estava pretendendo recuperar o Lloyd brasileiro, mas sim sugerindo a reconstrução de um setor importante para economia do país e lembrou que, além do Rio de Janeiro, existiam e ainda existem estaleiros nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Ceará.
DESIGUALDADESSaturnino também criticou a falta de políticas e programas de redução das desigualdades regionais e as recentes declarações dos dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird) em defesa de investimentos em políticas sociais e a criação de programas de erradicação da pobreza. "Tudo tem ficado ao sabor do mercado, uma espécie de divindade que toma todas as decisões, favorece apenas a quem tem dinheiro e poder e não promove o desenvolvimento em países atrasados", avaliou.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que também apoiou a criação de um fórum para o setor de marinha mercante, criticou a "ausência de vigor" do governo de Fernando Henrique Cardoso em relação às desigualdades sociais. Suplicy observou que o FMI e o Bird resolveram detonar uma campanha de combate à pobreza no mundo, baixando novos mandamentos e metas de erradicação da miséria. Para o senador, seria o momento oportuno para o governo brasileiro negociar o escalonamento do pagamento da dívida que tem com esses organismos.
O senador Gerson Camata (PMDB-ES) destacou a atuação do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, quando apresentou projeto de lei para erradicar a miséria no Brasil. "Logo atrás veio o FMI", afirmou. O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) também destacou a iniciativa de ACM, o apoio que recebeu do Bloco Oposição e a criação de uma comissão mista para avaliar todos os projetos e ações já realizadas com o propósito de erradicar a miséria. O senador também disse estar surpreso com o que chamou de "conversão do FMI" e lembrou que o diretor-geral do fundo, Michel Camdessus, disse que é preciso ouvir o grito dos pobres.
A mudança de opinião do FMI e do Bird também recebeu críticas da senadora Heloísa Helena (PT-AL). Para ela, a postura se deve à crise do capitalismo internacional. Heloísa disse que agora tem ouvido frases que, há poucos meses, "eram ditas por nós, os dinossauros", e lembrou que países como a China e a Malásia, que não seguiram a cartilha da globalização, foram os que obtiveram os melhores resultados.

29/09/1999

Agência Senado


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