Saturnino protesta contra demissão de embaixador e alerta para os riscos da adesão à Alca



O senador Roberto Saturnino (PSB-RJ) voltou a protestar contra a demissão, no último dia 27, do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que ocupava a direção do Instituto de Pesquisas e Relações Internacionais (IPRI) do Itamaraty, por emitir opiniões contrárias à adesão do Brasil à Associação de Livre Comércio das Américas (Alca). Saturnino pediu a transcrição, nos anais da Casa, de artigo do embaixador publicado no Jornal do Brasil desta sexta-feira (dia 20), alertando para o risco de o país perder sua soberania caso admita a abertura de seu mercado para os Estados Unidos.

Para Saturnino, o embaixador é um servidor público interessado na defesa dos interesses nacionais e vinha exercendo a direção do IPRI de maneira exemplar. Sua demissão, disse o senador, foi um ato lamentável do ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, já que Pinheiro Guimarães estaria cumprindo seu dever de brasileiro.

- Ele não pode ser impedido, sua boca não pode ser tapada com uma mordaça. Ele foi punido por exercer sua cidadania e exercia a tarefa de pesquisador, que tem compromisso com a verdade e não com um governo que não tem noção do que seja a soberania brasileira - criticou Saturnino.

Para o senador, o artigo demonstra que o embaixador não poderia permanecer calado. No texto, Pinheiro Guimarães afirma que a entrada incondicional do Brasil na Alca significa a eliminação da capacidade soberana do Estado brasileiro de promover o desenvolvimento econômico.

- O Brasil não poderá mais exercer políticas industriais, comerciais, tecnológicas, capazes de criar vantagens comparativas, não poderá mais utilizar o poder de compra do Estado para fortalecer a empresa nacional. Depois da Alca, o Brasil se tornará ainda mais indefeso diante do poder dos detentores de tecnologia - afirma o embaixador no artigo lido por Saturnino.

O senador anunciou que apresentou projeto de decreto legislativo para que seja feito um plebiscito, junto com as eleições de 2002, a fim de que o povo diga se quer participar do acordo internacional. Na opinião de Saturnino, o processo de criação de um bloco econômico nas Américas deve ser feito nas mesmas bases do Mercado Comum Europeu.

- A Alca, como disse o embaixador, vai acabar com a nação brasileira. A adesão do Brasil não pode ser feita por uma canetada do presidente ou do ministro das Relações Exteriores - disse, defendendo a consulta à população.

Em apartes, os senadores Tião Viana (PT-AC) e Lauro Campos (sem partido-DF) associaram-se ao protesto de Saturnino. Tião afirmou que o embaixador é um "patrimônio da intelectualidade brasileira, vítima de uma decisão autoritária, arrogante e injusta". Lauro disse ser integrante do rol de pessoas que têm alta consideração pelo embaixador. Em sua opinião, a extensão do Nafta (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio) até a Patagônia para resolver a crise de falta de mercado pode ser um desastre para o país. Já o senador Pedro Simon (PMDB-RS) afirmou que o Senado dá absoluta prioridade ao Mercosul e considera que muitos estudos devem ser feitos até que se fale na adesão à Alca. Ele alertou o presidente Fernando Henrique Cardoso, que está na reunião da Alca em Quebec, para o que chamou de "absurda pretensão americana".

Simon apela a FHC: resista às pressões dos EUA pela Alca

20/04/2001

Agência Senado


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