Suplicy protesta contra demissão do embaixador Samuel Pinheiro



O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) protestou nesta quinta-feira (dia 19) contra a decisão do ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, de demitir o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães do cargo de diretor do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais do Itamaraty.

- A decisão de Lafer foi injusta e equivocada, indigna da sua trajetória de liberal, discípulo declarado de Hannah Arendet e Norberto Bobbio. Começa mal a gestão de Celso Lafer no Itamaraty - afirmou o senador.

Suplicy disse que o artigo de Lafer publicado na Folha de S. Paulo, em que tenta justificar a sua decisão relacionando-a à questão da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), não acrescenta informações ou argumentos novos, mas confirma que a demissão teve cunho político, tendo decorrido de manifestações públicas do embaixador acerca da Alca.

- Vai ficando cada vez mais claro que Lafer e seus auxiliares cometeram não só uma injustiça, mas um erro político. Estão pagando e vão pagar o preço deste erro. O que se está tentando fazer é punir com a perda de um cargo uma voz crítica da Alca - disse o senador.

O embaixador afastado, afirmou Suplicy, tem sido nos últimos anos um dos principais analistas de temas estratégicos de política externa, como o Mercosul, a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Alca. "Todos os interessados nesses temas têm se beneficiado, e muito, com as suas contribuições", avaliou Suplicy.

Para Suplicy, o ministro Lafer não tem base para alegar que faltaria isenção e objetividade ao embaixador Guimarães para promover um verdadeiro diálogo com a sociedade ou constranger esse diálogo. Segundo o senador, nos últimos meses, o embaixador tem dado contribuições sérias e fundamentadas sobre a eventual criação da ALCA.

Segundo o senador, o embaixador não divulgou informações sigilosas ou dados obtidos em razão do exercício do cargo e deixava claro que estava se manifestando a título pessoal. "Ao fazê-lo, estava exercendo direitos constitucionais de todos os brasileiros à livre expressão e manifestação do pensamento, sem censura ou licença, garantido por cláusula pétrea da Constituição de 1988. Mas, a questão fundamental é mesmo a ALCA", assinalou.

Suplicy lembrou que o governo brasileiro, oficialmente, não tem posição fechada pró-ALCA e que Lafer costuma dizer que a ALCA é opção e não destino. "Nesse contexto, críticas como a do embaixador Guimarães são justificadas e até úteis para o governo, ou devemos supor que o discurso do ministro Lafer e do próprio presidente da República sobre a ALCA seja mera fachada?", concluiu.

19/04/2001

Agência Senado


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