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‘Se meu pai estivesse vivo, coordenaria a campanha de Serra’, diz Renata Covas
A filha do governador Mário Covas, Renata Covas, lamentou a decisão do ex-governador Tasso Jereissati de apoiar Ciro Gomes (PPS). “Respeito o governador, mas não era o momento”, ressaltou a filha do tucano que “lançou” Tasso à Presidência, antes da escolha de José Serra. Renata afirmou que sua família, ainda muito influente no PSDB, dá total apoio ao candidato tucano: “Se meu pai estivesse vivo, coordenaria a campanha de Serra. A candidatura da minha família é a do José Serra.”

Para Renata, “todos do partido são responsáveis pelas coisas terem chegado a esse ponto”. Para ela, o partido também não deu atenção suficiente à disputa no Ceará entre Sérgio Machado (PMDB) e o tucano Lúcio Alcântara. “Sei muito bem como essas disputas locais geram desgastes, são dois palanques para um mesmo candidato.” Ela lembrou que em 98 São Paulo viveu situação semelhante na disputa pela releeição do presidente Fernando Henrique e de Covas, morto em março de 2001.

“Fernando Henrique tinha outdoor com Paulo Maluf e palanque com meu pai”, disse. “Nestas ocasiões é preciso ter maturidade, pois no dia seguinte somos todos do mesmo partido.” Por isso, Renata acha que “só o tempo dirá se Tasso agiu certo ou não.

Renata espera que a decisão de Tasso possa ser revertida, mas não vai procurá-lo. “Tasso foi um ‘companheirão’ e teve participação decisiva na reeleição de F ernando Henrique.” O governador Geraldo Alckmin, manifestou a mesma expectativa ontem.

Charutos – O presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), afirmou que foi surpreendido pela carta de Tasso. “Lamento que ele tenha tomado essa decisão por causa de circunstâncias estaduais. Logo Tasso, um líder nacional, uma figura forte do partido. Um líder assim sempre ajudaria”, afirmou. “Eu não esperava. Na semana passada, liguei para marcarmos uma conversa e ele até falou que iria me oferecer uns charutos cubanos.”

Aníbal não informou se o partido adotará alguma medida contra Tasso, mas enviou-lhe uma carta dizendo estar certo da vitória de Serra. No texto, afirmou que espera retomar o diálogo, no futuro:

“No sentido de manter o Brasil no rumo seguro, com a ação corajosa do PSDB (...) Garantimos a governabilidade do Brasil num momento de crise, após a aprovação do impedimento do ex-presidente Collor, fato que – espero – não volte a se repetir.” (Agência Estado)


Felipão admite que CBF ordenou homenagem
'Se o chefe mandar fazer uma redação você faz', diz, referindo-se à entrega de camisas da seleção a Ciro

FORTALEZA - O entusiasmo da torcida era grande, o jogo seria só de festa, mas ainda assim o técnico da seleção brasileira de futebol, Luiz Felipe Scolari, acabou declarando, logo depois do amistoso entre Brasil e Paraguai, o que todos sabiam: "Eu sou funcionário da CBF. Se o teu chefe mandar você fazer uma redação você vai fazer, não?"

O que Felipão queria dizer, justamente em sua última entrevista como técnico da seleção, é que só estava ali cumprindo ordens. E cumprir ordens, no caso, não era só fazer um jogo com o Paraguai.

Era, também, participar - como ele fez horas antes do jogo - de uma cerimônia de entrega de camisas da seleção ao candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes. Realizada no Marina Park, hotel onde ficou a seleção, a festa teve um convidado especial, o ex-governador cearense Tasso Jereissati - que para circular à vontade na festa decidiu, na véspera, mandar uma carta aos líderes de seu partido, o PSDB, anunciando sua adesão à candidatura do grande adversário dos tucanos na corrida para o Planalto.

Além de Tasso lá estava Patrícia Gomes, primeira mulher de Ciro Gomes, que faz dobradinha com Tasso na candidatura para o Senado (ele pelo PSDB, ela pelo PPS). O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, também circulava feliz, todos tirando fotos uns com os outros e a atrtiz Patrícia Pillar, namorada de Ciro, entre eles.

Três jogadores foram convocados para a homenagem: Roberto Carlos, Cafu e Kaká. Uma pergunta de outro jornalista sobre a presença dos três voltou a irritar Felipão, pois eles haviam dito, antes, que não gostam que se misture futebol com política. Os três acabaram voltando atrás, a pedido dos cartolas da Confederação.

Camisa 23 - Kaká foi personagem importante da homenagem a Ciro: ele deu ao candidato uma camisa com o número 23 - o mesmo de sua camisa na Copa do Mundo e de Ciro na campanha eleitoral. Tasso também foi presenteado. Recebeu de Cafu uma camisa de número 10, autografada por todos os pentacampeões mundiais.

Tasso negou que o gesto fosse um ato de engajamento à campanha de Ciro e que o jogo Brasil e Paraguai tivesse alguma conotação política. "Esta homenagem partiu dos próprios jogadores. Não existe aproveitamento político nenhum.

Tanto que fizemos questão, assim como o pessoal da CBF, de não fazer nada no campo de futebol", justificou. Ele reiterou que não fará campanha e nem pedirá votos para nenhum candidato à Presidência. "No palanque em que eu estiver, não vai ter candidato a presidente." (Silvio Barsetti e Carmen Pompeu)


Fifa condena uso de futebol como palanque
GENEBRA - A Fifa alerta: o futebol não pode servir de palanque para candidatos, governos ou partidos. Mas segundo a entidade máxima do futebol mundial, o uso do jogo amistoso entre Brasil e Paraguai, em Fortaleza, para promover o candidato à Presidência Ciro Gomes (PPS) não poderá ser punido pela Fifa, já que não se trata de uma partida oficial e toda responsabilidade do evento é da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

"O futebol deve ser neutro, tanto em termos políticos como religiosos", afirmou ao Estado um porta-voz da Fifa, que lembra que não está autorizada a veiculação de propaganda a favor de candidatos nos estádios. Segundo ele, a Fifa jamais aceitaria uma situação como a do jogo de ontem em uma partida organizada pela entidade.

As recomendações da Fifa, no entanto, parecem ser constantemente desrespeitadas em vários cantos do mundo. O próprio o presidente da entidade, Joseph Blatter, reconheceu, em entrevista ao Estado no ano passado, que é difícil manter políticos longe do futebol. "O futebol é um dos palanques preferidos dos políticos."

Em 1990, o então presidente Fernando Collor protagonizou um momento curioso entre os lances que misturam política e futebol. Quando a seleção brasileira se preparava para disputar o Mundial da Itália, Collor participou de um "racha" com os jogadores, e chegou até mesmo a marcar um gol, de pênalti, contra o goleiro Taffarel.

O presidente iraquiano, Saddam Hussein, não descarta o uso do esporte para se promover.

Quando a seleção de Bagdá ficou de fora do Mundial de 98, os pés dos jogadores foram chicoteados pelo filho do ditador, que é preside a federação local.


Grito de 'pé-frio' da torcida é notícia em site de Serra
Alvo do fogo tucano, Ciro Gomes é apontado como o 'responsável' pela derrota da seleção

Não é apenas no programa do horário eleitoral gratuito que o comando de campanha tucana está centrando fogo no adversário da Frente Trabalhista, Ciro Gomes. O site do presidenciável José Serra (PSDB) também continua na mesma linha. Ontem, logo após a derrota da seleção brasileira por 1 a 0 para a seleção do Paraguai, no jogo amistoso realizado em Fortaleza, o site de Serra exibiu a seguinte nota: "A torcida brasileira na despedida de Luiz Felipe Scolari, em pleno Castelão, em Fortaleza, berrava durante o jogo:

Pé-frio, pé-frio, pé-frio!"

A estocada foi uma referência à exploração política ocorrida em torno do jogo. A decisão de
marcar o primeiro amistoso da seleção após a conquista do pentacampeonato, justamente em Fortaleza, reduto de Ciro e do ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), agora engajado na campanha da Frente Trabalhista, foi do presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Ele não esconde sua antipatia pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo PSDB.

Antes do jogo, Tasso e Ciro fizeram uma sessão de fotos com alguns jogadores. O atacante Kaká ofereceu a Ciro Gomes sua camisa, de número 23, o mesmo número do candidato na campanha presidencial. (Elizabeth Lopes)


Gros reage a Lula e entra com ação no TSE
Presidente da Petrobrás quer responder às críticas feitas por petista à licitação internacional

BRASÍLIA – A polêmica criada pelas críticas feitas pelo candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, à Petrobrás no horário eleitoral – por causa da contratação de uma empresa estrangeira para a construção de três novas plataformas – chegou à Justiça. O presidente da Petrobrás, Francisco Gros, pediu ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que conceda direito de resposta no programa do PT.

Gros afirmou que Lula demonstrou o seu pouco conhecimento sobre as sociedades de economia mista federais. “Afirmou o candidato Lula que a Petrobrás como ‘subordinada (sic) ao presidente da República’ dele deveria receber uma ordem – que no seu governo seria dada – no sentido de que a obra da P-50 e as de todas as demais plataformas fossem feitas no Brasil.”

Gros disse que, ao contrário do que Lula afirmou, os estaleiros nacionais não teriam como arcar com as obras. “Os próprios donos de estaleiros aqui sediados já haviam reconhecido que não há instalações adequadas e capazes de construir as plataformas P-51 e P-52, sem que para tanto se façam expressivos investimentos, o que implicaria, necessariamente, atrasos em toda a programação na construção dessas unidades, com a inevitável repercussão econômica provocada pela não extração do petróleo do mar”, afirmou.

Gros disse, ainda, que a empresa realizou concorrência internacional para a construção da plataforma P-50, tendo estabelecido como critério comum a todos os participantes o menor preço, oferecido pela Jurong Shipyard Pte Ltd. Segundo ele, essa empresa é associada à companhia brasileira Estaleiro Mauá Jurong, de Niterói.

O presidente da Petrobrás afirma que “por coincidência” o programa de Lula foi em parte rodado nas instalações de um estaleiro que perdeu a concorrência. Na petição, Gros alega que a empresa teria sido vítima de fatos inverídicos e difamatórios que lhe teriam sido imputados pelo candidato do PT.

Resposta – Em Cuiabá, Lula rebateu a insinuação do presidente da Petrobrás de que estaria fazendo lobby para o Estaleiro Verolme, ao defender a construção por brasileiros de plataformas da estatal destinadas a explorar petróleo em águas profundas. “Entendo de Petrobrás muito mais do que ele (Gros).” “Se dependesse dele, já teria vendido a companhia. Temos competência, engenharia, operários e estaleiro capazes de fazer a plataforma.”

Logo após desembarcar em Campo Grande, Lula disse que a resposta a Gros será dada pelo PT e criticou sua atitude. “Nós não estamos preocupados com o presidente da Petrobrás, porque ele conhece pouco do Brasil e muito de outros países”, afirmou ele. “Quem tem de dar explicação é o presidente da Petrobrás e a imprensa deveria investigar para ver se o que eu falei é verdade ou não.”

Antes do comício que faria na capital de Mato Grosso do Sul, Lula também comentou a saída do ex-governador do Ceará Tasso Jereissati da campanha do candidato tucano José Serra e seu apoio a Ciro Gomes (PPS). “Tasso nunca apoiou Serra e sempre apoiou Ciro. Se alguém quer ser enganado, que seja”, disse o petista, que não considerou o caso um fato político relevante neste momento da sucessão.

A coordenação da campanha de Lula tinha uma grande expectativa quanto ao comício de ontem.

Equipes de TV do publicitário Duda Mendonça foram destacados para registrar o evento para usar as imagens no programa eleitoral gratuito. O petista teria a ajuda da dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano, que se apresentariam no centro de Campo Grande.


Garotinho gastou tudo antes de sair, indica relatório
Repasse de R$ 59,5 milhões beneficiou 42 municípios, a maioria governada pelo PSB

RIO - Nos últimos três meses de sua administração do Estado do Rio, o presidenciável Anthony Garotinho (PSB) repassou R$ 59,5 milhões para 42 prefeituras - 67% delas administradas por seu partido. Desse valor, R$ 16,1 milhões foram liberados no mesmo despacho, em 2 de abril, três dias antes de deixar o governo para a vice-governadora, Benedita da Silva (PT).

Um documento elaborado pelo gabinete da governadora mostra que, depois da criação do Plano de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios (Paden), em maio de 2001, o governador gastou naquele ano apenas R$ 2,4 milhões com projetos.

Pelas regras, o governo deve liberar dinheiro à medida que os projetos propostos pelas prefeituras vão sendo executados. Mesmo assim, Garotinho liberou mais R$ 59,5 milhões nos três primeiros meses de 2002.

"O Paden é um plano bom, mas prevê que as prefeituras têm de provar o que estão fazendo com o dinheiro. E, para que dê tempo de executarem os projetos, o dinheiro normalmente é liberado com intervalos de pelo menos 60 dias", afirmou Marcelo Sereno, secretário-executivo do gabinete.

De acordo com Sereno, para algumas prefeituras o ex-governador chegou a liberar todo o dinheiro, que deveria ser repassado até 2003. Entre as mais favorecidas estão as de Angra dos Reis, Bom Jesus de Itabapoana, Iguaba Grande e Miguel Pereira, todas do PSB.

Outra surpresa foi os gastos com obras em estradas. Em 2001, o ex-governador gastou R$ 213 milhões. Nos três primeiros meses deste ano, liberou outros R$ 149 milhões. Houve supergastos também na área de construção de casas:

Garotinho liberou em abril R$ 22 milhões, R$ 8 milhões a mais do que o total gasto em janeiro, fevereiro e março juntos.

Auditoria - Benedita divulgou ontem outro relatório mostrando que Garotinho deixou um rombo de R$ 406 milhões apenas nos últimos três meses de sua administração, e mais R$ 1,4 bilhão em dívidas acumuladas. A auditoria foi realizada pelo grupo Deloitte Touche Tohmatsu com a Universidade de Brasília. O documento revela ainda que o caixa do governo, no último dia da administração Garotinho (5 de abril), tinha apenas R$ 28,3 milhões livres para a movimentação.


Artigos

José Serra, o genérico de FHC?
Gilberto de Mello Kujawski

Dizer e repetir que o candidato do PSDB seria o "genérico" de Fernando Henrique Cardoso vale como piada, um tanto maldosa, mas não passa disso. São ambos personalidades, estilos e programas de governo em tudo distintos um do outro, e até antagônicos em certos aspectos.

Positivamente, não compartilham o mesmo princípio ativo.

A personalidade de FHC é, antes de tudo, a do professor universitário, de trânsito internacional; um homem de estudos e de teoria, um "scholar" dos mais eminentes, douto e erudito em várias línguas, o "professor" Fernando Henrique. Não é nenhum defeito, muito pelo contrário, mas o que estou dizendo é que no atual presidente predomina o homem de pensamento sobre o homem de ação. Basta ouvi-lo falar, o que é sempre um prazer. Até na entrevista mais informal ele dá uma aula, com toda a simpatia e o charme de que é capaz. Nele o político vem depois, em caráter agregado; quem vai à frente é o acadêmico brilhante e desembaraçado, o homem de teoria, com passagem pela Sorbonne.

Já a personalidade de José Serra, em primeiríssimo lugar, é a de um home m de ação, um duro homem de ação, um executivo na plenitude do desempenho, seguro de si, capaz de grandes ousadias, mas sempre metódico e sistêmico na sua desenvolta capacidade de organização. A palavra preferida de Fernando Henrique é o "rumo". Fala muito no rumo do País, que o governo está no rumo certo, etc. Sim, mas uma coisa é acertar o rumo e outra, construir o caminho que nos permita avançar seguramente no rumo e conquistar os objetivos visados. Serra não se contenta em visar o rumo, ele quer construir e pavimentar o caminho. FHC é um magnífico supervisor estratégico, mas não é e não quer ser um gerente. Serra gosta de gerenciar de perto, e dia a dia, os projetos em execução. Fernando Henrique, mente sagaz e alerta, percebe claramente a direção dos ventos, deleita-se com as visões panorâmicas, de conjunto, mas permanece à distância dos acontecimentos, não se joga na corrente do mundo, peito a peito com as ondas em sentido contrário. Nesse ponto, Serra constitui seu antípoda. Tal como Mário Covas, ele cultiva o gosto pelo enfrentamento, o corpo-a-corpo com os acontecimentos, as pessoas, as idéias, os números, as situações adversas. "Eu cresço nas dificuldades", declarou ele em entrevista à CartaCapital.

Não é fanfarronada, é a pura verdade psicológica.

Na velha, mas não superada, tipologia de René Le Senne, Serra encarna o tipo "passional", caracterizado pela ambição realizadora, pelo senso de autoridade, pela impaciência, pela excepcional capacidade de trabalho e pela exacerbação da combatividade quanto mais obstáculos encontra pela frente.

Exemplos históricos: Dante, Michelangelo, Napoleão, Beethoven e W.

Churchill. Por essa mesma tipologia, Ciro Gomes, impulsivo e excitável, seria do tipo "colérico";
e Lula, vulnerável, com certa impulsividade eruptiva, alguma disposição para o tédio, estaria enquadrado no tipo "sentimental".

No jogo político FHC age como fino diplomata: concilia, acomoda, transige.

Serra bate de frente, parte para o confronto, o ajuste de contas, a queda de braço. Não há dois estilos tão diferentes.

Marcadas as diferenças de personalidade e estilo entre ambos, falta precisar a distinção dos programas de governo ou de ação. Serra anunciou logo nas primeiras aparições que seu programa será de "continuidade sem continuísmo".

Para alguns, o enunciado parece vago, impreciso, dando a impressão de escapismo. No entanto, essa fórmula não poderia encerrar maior clareza em sua concisa elegância. Continuidade sem continuísmo, ou seja, por um lado, Serra quer partir do ponto em que FHC parou, a fim de completar sua obra sem ruptura do projeto consensual do presidente e de seu partido; por outro, sem continuísmo, isto é, sem nenhum compromisso com as mesmas pessoas e os mesmos grupos. Não está claro? Onde é que FHC parou? Parou na estagnação da economia, no desemprego, na frustração das reformas prometidas, por exemplo.

Seu sucessor, para ser fiel ao que foi iniciado, tem de fazer outras coisas diferentes, complementares, embora sem contradições nem rupturas. E para fazer coisas distintas terá de se apoiar em outras pessoas e em outros grupos diferentes dos que estão aí, como não?

Por essas e outras, mais acertado do que insistir em que Serra seria o "genérico" de Fernando Henrique será dizer que José Serra representa o fermento que falta ao atual governo para acelerar suas trocas com a sociedade, para dinamizar o processo político e econômico, que começou dando certo, mas foi colhido por paralisia precoce. Um projeto que guarda o rumo certo, mas que ainda não consegue sustentar-se, auto-sustentar-se num caminho firme e seguro.

Após o primeiro debate, na TV Bandeirantes, ocorreu a polarização ostensiva entre o candidato do PSDB e o do PPS. Serra provocou Ciro, este aceitou a provocação e se arranhou. Saiu cabisbaixo do programa e até agora não pára de explicar-se - "não sou mentiroso", "não sou Collor" -, posto na defensiva, a pior coisa para o político. A despeito das diferenças nas pesquisas, a polarização Serra x Ciro já começou. Lula ficou meio que para trás. O combate entre o gavião do Nordeste e o touro do Sudeste será cada vez mais renhido. As metáforas não são ocasionais. O gavião é muito garboso, mas vive no ar. O touro é feio e mal-humorado, mas tem as quatro patas solidamente plantadas no chão. Lula, que até há pouco era um tigre rugidor, foi transformado por Duda Mendonça num gatinho de colo.


Editorial

UMA AGENDA VITAL PARA O MERCOSUL

A visita do presidente Fernando Henrique Cardoso a Montevidéu repôs o Mercosul nas páginas da imprensa.

Nos quatro países do bloco, o debate público está concentrado na crise financeira. Brasil, Uruguai e Paraguai negociaram novos programas com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A Argentina, enfraquecida por quatro anos de recessão, continua à espera de um acordo. Não é de estranhar que os problemas de curto prazo dominem as atenções. Mas o Mercosul é demasiado importante para ficar esquecido, enquanto a maioria das pessoas, dentro e fora dos governos, se ocupa de questões imediatas.

O bloco tem de cumprir uma agenda complexa, ditada em boa parte pelo mundo exterior. Exemplo disso é o calendário da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A próxima reunião ministerial de outubro, prevista para Quito, no Equador, é um dos marcos importantes desse calendário. Os quatro países do bloco, sejam quais forem seus problemas internos, devem estar preparados para se entender, a qualquer momento, com os 30 outros participantes do grande projeto hemisférico.

O presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu, no Uruguai, o fortalecimento institucional do bloco. Mencionou duas iniciativas aprovadas na última reunião de cúpula do Mercosul: a valorização da secretaria administrativa, com sede em Montevidéu, e a criação de um tribunal para solução de controvérsias.

O governo brasileiro sempre demonstrou certa resistência às duas iniciativas, principalmente à segunda. As grandes diferenças no Mercosul sempre foram resolvidas ou politicamente, às vezes com participação de chefes de governo, ou por meio de painéis temporários, criados para cada ocasião. Sempre se soube que em algum momento seria preciso montar uma estrutura de gestão mais sólida, ainda que ao custo de um pouco mais de burocracia. Parece haver chegado, enfim, a hora de cuidar do assunto com maior empenho.

Mas também é preciso avançar em duas outras grandes frentes. Externamente, a agenda inclui não só as negociações da Alca e de um acordo comercial com a União Européia, mas também entendimentos com países da América Latina e de outras áreas.

Foi assinado com o México, no começo de julho, um acordo de complementação econômica, passo inicial para a discussão, bem mais complexa, de um regime de livre comércio.

Ainda em julho, os governos do Mercosul decidiram tentar a conclusão, até o fim do ano, de um acordo de livre comércio com o Grupo Andino, um objetivo longamente retardado.

Acordos com países latino-americanos são importantes por mais de uma razão.

Justificam-se, em primeiro lugar, pelas vantagens que normalmente advêm dos pactos comerciais: maiores transações, maior produção, maior criação de bem-estar. Em segundo lugar, servem para apressar a criação de um espaço econômico regional há muito desejado. Os processos de integração comercial e de integração física poderão sustentar-se mutuamente. Se andarem juntos, serão muito mais eficientes os programas que venham a ser montados com a participação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e de outras entidades multilaterais.

Finalmente, será útil que os latino-americanos tenham o maior número possível de acordos comerciais antes do fim das negociações da Alca. N


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