Campanha de Serra quer FHC no palanque









Campanha de Serra quer FHC no palanque
Após mais de 2 horas de reunião do comitê, palavra de ordem é levar candidato às ruas

BRASÍLIA – O comando político da campanha do senador José Serra (PSDB) à Presidência da República quer uma presença mais agressiva do presidente Fernando Henrique Cardoso no palanque, além de ações do governo que possam beneficiar o candidato. Depois de mais de duas horas de reunião, em Brasília, o comando da campanha decidiu ainda que o candidato tucano precisa ir para as ruas, especialmente nas regiões de maior concentração de eleitores, como os Estados do Sudeste.

Por enquanto, está garantida a participação do presidente nos programas do horário eleitoral gratuito de televisão. “Certamente o Fernando Henrique estará no palanque eletrônico, mas sua ida a comícios está sendo analisada, ainda não está descartada”, contou o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL).

Preocupados com o crescimento do candidato do PPS, Ciro Gomes, que está em segundo lugar nas pesquisas, e com os desacertos no dia-a-dia da campanha, o comando da campanha de Serra reuniu ontem líderes e dirigentes do PSDB e do PMDB para tentar dar novo impulso à candidatura.

Os comandantes tabém convocaram para a reunião alguns líderes pefelistas regionais que apóiam o tucano. Além de Maia, estavam presentes o vice-presidente Marco Maciel (PE) e os governadores do Piauí, Hugo Napoleão (PI), e do Paraná, Jaime Lerner (PR).

Números – No início da reunião, muitos foram surpreendidos com notícia de que o Comitê de Política Monetária (Copom) havia reduzido a taxa básica de juros de 18,5% para 18%. “Que bom!

Essa realmente é uma boa notícia para o País e para a campanha”, comemorou o ex-senador tucano José Richa, salientando que não é compreensível que o preço do gás de cozinha suba mais de 40% a três meses da eleição.

“É claro que a redução da taxa de juros ajuda a campanha do Serra, uma vez que isso significa possibilidade de desenvolvimento”, avaliou o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).

“Setores do governo precisam parar de produzir fatos negativos, como o aumento do gás de cozinha e da gasolina”, engrossou o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL). Todos os presentes estavam confiantes nos reflexos positivos a partir da liberação de R$ 500 milhões para emendas de parlamentares, autorizada ontem pelo governo.

Mídia – A estratégia de campanha é produzir um “fato político” por dia, para que o candidato apareça com mais destaque na mídia. “O Serra precisa ‘quebrar o serviço’ do Ciro”, defendeu Renan, usando o jargão do tênis quando o jogador passa a ter a vantagem do saque.

Os aliados e o próprio Serra mostraram-se otimistas com seu desempenho, mesmo depois da consolidação de Ciro no segundo lugar. Até o comedido Marco Maciel tentou reforçar o coro sobre as pesquisas: “Pesquisas a esta altura não significam muito; ainda faltam quase três meses para as eleições.”

Apesar do esforço dos dirigentes em demonstrar que a aliança de Serra é a mais consistente e eventuais problemas são comuns em campanha, os convidados chegaram e saíram da reunião com a mesma impressão de que muito deve ser mudado no comportamento do candidato. “O Serra, por onde passar, tem de contar bem a sua história e tudo de forma maleável e sorridente; ele tem de ser mais simpático”, disse Hugo Napoleão.

O coordenador político da campanha, deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG), exibiu um estudo que credita o crescimento de Ciro à sua exposição no último mês na televisão durante os horários gratuitos de PTB, PDT e PPS. E, por isso, Pimenta continua apostando na propaganda gratuita de TV – o chamado palanque eletrônico. “Seremos beneficiados com a onda de setembro, que será vitoriosa”, afirmou o coordenador. “Vamos ocupar todo o tempo para correr o Brasil e chegar no segundo turno”, completou.

Mas, antes de ir para a rua, Serra vai participar, na semana que vem, de uma nova rodada de reuniões, em Brasília, durante dois dias, com 17 governadores e com prefeitos. Também será realizado um encontro, no início da próxima semana, com os coordenadores regionais, quando os partidos indicarão os seus representantes no conselho político da campanha.


Oposição 'fala do que não sabe', diz presidente
Em solenidade no Itamaraty, ele defende avanços sociais alcançados durante seu governo

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem os avanços sociais alcançados pelo País durante seu governo e reagiu à crítica, feita por adversários, de que a concentração de renda praticamente continuou a mesma nos últimos oito anos. "Quando se diz que não houve redistribuição de renda, fala-se do que não se sabe", discursou ele, na entrega do prêmio Gestão Fiscal Responsável a 45 prefeitos, no Itamaraty.

A defesa veemente da ação social do governo foi recebida pelos tucanos, no comitê eleitoral do senador José Serra, como um fato positivo, num momento em que sua campanha está abalada pela ascensão do rival Ciro Gomes (PPS).

Enfatizando que as conquistas sociais só foram possíveis graças à responsabilidade fiscal, o presidente afirmou que o governo não abrirá mão da austeridade por causa das eleições. "O exercício de uma administração virtuosa não é fácil. Mas esses limites serão respeitados pelo governo federal doa a quem doer", disse.

O presidente destacou que o governo repassa cerca de R$ 30 bilhões por ano diretamente à população mais pobre, por meio de sua rede de proteção social - que inclui a aposentadoria rural e programas como o Bolsa-Escola e o Bolsa-Alimentação. Mas esse tipo de repasse, lembrou, não é considerado no cálculo da concentração de renda (coeficiente de Gini). "O governo federal, com a ajuda dos governos estaduais e municipais, constituiu pela primeira vez, na história do Brasil, mecanismos regulares de certo vulto para distribuir renda. E esta renda, como não é renda de trabalho, não é computada no coeficiente de Gini", completou.

Outro tema explorado com freqüência, disse ele, é o crescimento da dívida pública. "Dívida essa que, repito, herdei e cujo esqueleto expusemos no Tesouro. Mostramos ao País que (os esqueletos) já estavam lá escondidos, apenas não se os mostrava", disse ele, lembrando que a União assumiu dívidas dos Estados e municípios.

Qualidade - O presidente dedicou boa parte do discurso a explicitar algo que, segundo ele, não fica claro quando se fala em concentração de renda no Brasil: que a qualidade de vida de toda a população pode ter melhorado, apesar do aumento da distância que separa os ricos dos pobres. É o que ocorre nos Estados Unidos e na Inglaterra, exemplificou. "E será que o povo americano piorou? Não", disse ele. E concluiu: "Apesar de ter melhorado, os mais ricos melhoraram mais depressa do que os mais pobres." Fernando Henrique citou como exemplos a redução da mortalidade infantil, a diminuição do número de mortos por aids desde 1995 e a ampliação das equipes do Programa de Saúde da Família, que atende a 50 milhões de pessoas.

"Isso foi feito sem que houvesse diminuição do salário mínimo, ao contrário do que alguns apregoam. Na verdade, o salário mínimo triplicou depois do lançamento do real e a elevação da cesta básica foi de 40%", discursou. E acrescentou que, entre 1994 e 2000, o nível de pobreza caiu de 43% para 30% da população.

A entrega do certificado de Gestão Fiscal Responsável aos prefeitos que melhor cumpriram a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) transformou-se numa disputa entre o governo, o PSDB e o PT pela ocupação dos melhores espaços, tudo na presença do presidente Fernando Henrique Cardoso e do vice Marco Maciel.

O PT tinha o melhor trunfo, o prefeito de Concórdia (SC), Neodi Saretta, eleito campeão da gestão fiscal responsável do País pelo Conselho Federal de Contabilidade, o Ministério do Planejamento, o Instituto Ethos de Responsabilidade e a Trevisan Auditores.

"Pedidozinho" - O PSDB, no entanto, conseguiu impor Primo Menegalli, nono colocado, para falar em nome dos ganhadores.

Menegalli, prefeito de Araranguá (SC), não perdeu tempo. Lembrou que era do PSDB e que tirou o município do caos financeiro, de uma folha de pagamento com seis meses de atraso e de um déficit de R$ 17 milhões para uma receita de R$ 800 mil.

Em seguida, pediu licença ao presidente para um "pedidozinho": "Presidente, não se esqueça da BR-101, lá no Sul, que tem muita necessidade". O presidente retrucou: "A BR-101 está pronta até Florianópolis e já assinei a ordem para dupkicá-la até o Rio Grande do Sul".

O ministro do Planejamento, Guilherme Dias, discursou para atacar o candidato a presidente pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que já anunciou que, se eleito presidente, fará a renegociação das dívidas de Estados e municípios. Dias lembrou que Lula atendia, naquele momento, a um pleito da prefeita petista de São Paulo, Marta Suplic. Segundo Dias, a Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe essa renegociação. Colaborou Liliana Lavoratti)


Acordo com FMI é só depois da eleição, diz Aníbal
Tucano garante que Fraga não discutirá com oposicionistas idéia de ampliar acerto com Fundo

BRASÍLIA - O presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), disse ontem que qualquer acordo de transição para o próximo governo só será negociado depois da eleição presidencial. A declaração foi feita após um encontro, ontem à tarde, com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga.

O tucano descartou a idéia de que Fraga vá discutir o tema - referindo-se à ampliação do acordo vigente com o Fundo Monetário Internacional (FMI) - com representantes dos partidos que disputam a Presidência. A idéia havia sido sugerida pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, para acalmar o mercado.

Indagado sobre a viagem de Fraga aos Estados Unidos, na semana passada, Aníbal procurou seguir as novas orientações da direção de campanha do tucano José Serra. Ou seja, afastar avaliações de que o presidenciável está fragilizado.

Aníbal garantiu que um eventual acordo de transição não foi assunto dos encontros do presidente do BC com assessores do presidente norte-americano George W. Bush, banqueiros, técnicos do Fundo e investidores internacionais.

O tema central das conversas, explicou, foi a governabilidade de um presidente que ainda tem pouco mais de cinco meses de mandato.

"Não há tentativa de negociar acordo de transição. Isso só poderá ocorrer entre a eleição definitiva do candidato e a sua posse. Até lá, é missão do presidente do Banco Central cuidar para que o País permaneça nos eixos certos e combater as turbulências", repetiu Aníbal.

Exagero - Fraga, pelo contrário, vinha manifestando nos últimos dias a intenção de discutir um acordo com os presidenciáveis, dizendo que via uma boa chace de esse acerto ser firmado.

Tanto que marcou conversas com o deputado Aloízio Mercadante (PT-SP), para hoje, e com o candidato Ciro Gomes (PPS), em data que ainds será definida.

Aníbal acredita que até o dia da eleição - o primeiro turno ocorre dia 6 de outubro - o País terá de conviver com as turbulências políticas. Depois, quando o mundo tiver conhecimento de quem será o próximo presidente do Brasil, haverá calmaria.

O deputado fez coro ao principal executivo do banco de investimento Merrill Lynch, Jacob Frenkel, para quem o risco Brasil está exagerado. "Do ponto de vista do ajuste fiscal e das metas de inflação, da garantia do superávit primário e da responsabilidade fiscal, não existe nada que possa justificar o aumento das turbulências."

Compromisso - Na opinião do presidente do PSDB, o que deve haver é um compromisso de todos candidatos em manter as metas de estabilidade. Ele ressaltou ter ouvido de Fraga que a situação internacional é ruim e há sinais de recessão no ar. De qualquer modo, avalia que o Brasil está fazendo a sua parte, quando mostra para o mundo que não vai fraquejar na luta para manter a estabilidade econômica e política, as metas de inflação e o superávit primário. "Temos de manter a confiança no Brasil, porque só isso pode trazer investimentos", opinou Aníbal.


Lula promete reforma tributária e dobrar mínimo
Petista diz também que vai propor mudança na Previdência assim que tomar posse

RECIFE – O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu ontem dobrar o salário mínimo, em termos reais, em quatro anos de governo. Isso significa duplicar a capacidade do poder aquisitivo do mínimo. O petista garantiu também que, se eleito, vai encaminhar ao Congresso, já no primeiro ano, as reformas tributária – ele espera que seja o mais próximo de um consenso nacional – e previdenciária – sem mexer nos direitos adquiridos –, além de mudanças na estrutura sindical e legislação trabalhista.

As reformas agrária e política estarão na pauta de discussão e, segundo Lula, o Brasil deverá ser mais ousado na área da política exterior, com a criação de uma secretaria específica para tratar do assunto, com um representante comercial em cada embaixada. “É preciso vender melhor os nossos produtos, o Brasil não pode continuar sendo visto como o país do carnaval, do futebol, do desmatamento ou das crianças de rua”, afirmou em visita ao Recife.

Todas essas mudanças serão possíveis a partir da construção de um pacto social que, segundo o petista, será firmado com toda a sociedade organizada. “Fernando Henrique disse que ia fazer um pacto numa cópia do Pacto de Moncloa, de Felipe González, da Espanha, mas não conseguiu porque só se faz um pacto se se tiver interlocutores sérios, éticos e com muito moral da sociedade”, avaliou. “Ninguém tem mais isso que eu – um dos mais importantes sindicalistas da história do Brasil, que criou o mais importante partido da América Latina e meu vice José Alencar, um dos maiores empresários do País.”

Lula destacou que não poderá resolver os problemas brasileiros em quatro anos. “Alguns são crônicos”, afirmou, ao citar a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), criada em 1959 para acabar com o desequilíbrio regional do País, objetivo que, para ele, continua no sonho.

Num ato em prol da extinta autarquia, leu mensagem do presidente Juscelino Kubitschek ao Congresso, propondo a criação da Sudene, e uma carta do economista Celso Furtado – fundador do órgão. Lula prometeu recuperar o órgão e atacou a extinção da autarquia sob o pretexto de acabar com a corrupção.

Lula propôs a criação de um Conselho Nacional de Políticas Regionais, ligado diretamente e presidido pelo presidente da República, e a criação de um Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR).

Collor – O petista reafirmou a promessa de fazer uma campanha sem “picuinhas” e disse não poder confirmar nem desmentir o PSDB, que tem identificado Ciro Gomes (PPS), como um “novo Collor”. “Não vou ficar falando do que o PSDB pensa ou não do Ciro. São frutos da mesma árvore.”

Lula garantiu que o governador mineiro Itamar Franco está com o PT e se engajará na campanha.

“Falamos com ele por telefone, antes de sairmos de João Pessoa, e ele disse que na quinta-feira quer conhecer nossa agenda e participar.”

FMI – À noite, em comício no no Recife Antigo, Lula reafirmou que não se subordinará aos interesses do Fundo Monetário Internacional (FMI) nem à “lógica globalizada” dos países ricos.

José Alencar frisou que “há até agiotas dizendo ao povo em quem ele deve votar”, referindo-se ao que chamou de “terrorismo” do sistema financeiro nacional e internacional.


Candidato segue moda e leva a mulher a comício
Em João Pessoa, petista apresenta Marisa como a nova companheira de palanque

JOÃO PESSOA - Pouco antes das 23 horas de terça-feira, o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentou ao público que se espremia no comício em Mangabeira, na periferia de João Pessoa, sua mais nova companheira de palanque: a mulher, Marisa. "Aqui está minha cara-metade, que me agüenta há 28 anos", brincou para a platéia, calculada pela Polícia Militar em 20 mil pessoas.

O reforço na campanha tem motivo. Assim como Ciro Gomes (PPS) desfila com a atriz e namorada Patrícia Pillar e José Serra (PSDB) exibe a deputada Rita Camata (PMDB) como vice, Lula aparece com Marisa. Na prática, duas Marisas começam a ter uma agenda de caça aos votos separadas dos maridos. É que a mulher do vice de Lula, o senador José Alencar (PL-MG), também se chama Marisa. "Ela é muito simpática", elogia a xará.

Pesquisas indicam que a mulher ganhou importância no cenário político. Não por acaso o PFL tentou emplacar a candidatura da ex-governadora Roseana Sarney. De olho nas pesquisas, a cúpula do PT decidiu agir ao identificar o pior desempenho de Lula entre o eleitorado feminino.

Marisa Letícia Lula da Silva acompanha o marido em todos os compromissos, como no comício de João Pessoa. Bonita e discreta, age como cabo eleitoral e, mesmo sem discursar, atrai atenções.

Na bolsa, leva sempre uma infinidade de remédios, para socorrer algum necessitado. "Lula mesmo não gosta de tomar remédio", conta.

No comício, Lula dedicou parte do discurso à defesa dos direitos da mulher.

"Precisamos ter respeito por nossas companheiras", disse. Depois, confessou que já foi machista.

"Mas a Marisa me pôs na linha. Um dia, quando cheguei tarde da noite em casa e perguntei sobre o jantar, ela virou e disse: cai lá e esquenta você."

"Ovelha negra" - Com a bandeira do PT, o pernambucano Ricardo Brindeiro ria muito com as histórias de Lula. Não é um militante desconhecido: arquiteto e teólogo, Ricardo é irmão do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro. Também é primo do vice-presidente Marco Maciel, e do secretário da Receita, Everardo Maciel.

"Acho que sou a ovelha negra da família", resumiu.

Filiado ao PT desde 1981, ele coordena o Projeto Beira da Linha, que atende crianças carentes na periferia de João Pessoa. E qual a reação do procurador-geral da República ao saber que o irmão estava no comício de Lula? "Ah, não sei", respondeu Ricardo. "Sobre política, não dá para conversar com ele, senão sai discussão."


Petista perde terreno no 2.º turno
BRASÍLIA – Nas simulações da disputa de segundo turno realizadas pelo Vox Populi, Ciro Gomes (PPS) é também quem apresenta o melhor desempenho no embate com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O resultado corresponde àquilo que os especialistas consideram empate técnico, com 43% para o petista e 41% para o candidato do PPS. Uma pesquisa do Ibope divulgada na véspera registra um resultado ainda melhor para Ciro, que supera por pouco o adversário: 44% a 43%.

Lula mantém certa folga em relação aos outros oponentes nas simulações. Bate José Serra (PSDB) por 46% a 34%, de acordo com o Vox Populi, e por 48% a 37%, segundo o Ibope. Na comparação com Anthony Garotinho (PSB), a vantagem é ainda maior: 50% a 27%, pelo Vox, e 50% a 32%, pelo Ibope.


Partido de Ciro anula aliança com Collor
Intervenção do PPS sobre diretório em Alagoas também é seguida pelo PTB

BRASÍLIA – O PPS e o PTB de Alagoas decidiram ontem abandonar a coligação que apóia a candidatura do ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB) ao governo do Estado. O que ocorreu foi uma “intervenção branca” da direção nacional dos partidos. A saída achada pelo PPS foi anular a convenção realizada em Alagoas para a aliança majoritária. O PTB deve seguir o exemplo.

No sábado, o candidato Ciro Gomes (PPS), que não havia aceitado as explicações de que o arranjo em Alagoas serviria só para a eleição proporcional, exigiu que a decisão do diretório estadual fosse anulada. Segundo o presidente do PPS alagoano, Anivaldo de Miranda Pinto, a composição seria uma forma de atingir os votos exigidos pelo coeficiente eleitoral para eleger deputados. O presidente nacional do PPS, senador Roberto Freire (PE), endossou a posição na segunda-feira, mas não resistiu aos apelos de Ciro.

Os partidos vão agora repetir a Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) no Estado, apoiando o candidato do PDT ao governo, Geraldo Sampaio. Todos os acertos foram previamente combinados com os diretórios regionais dos partidos.

A maior complicação ficou com o PTB, ao qual pertence o vice de Collor, Antonio Carlos, o Cacalo.

O partido enviaria ofício ontem ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Alagoas. Antes da decisão, houve uma negociação entre Collor e o presidente nacional do PTB, deputado José Carlos Martinez.

“Não era possível que casássemos a figura do Collor com a do Ciro. Descolamos e sepultamos a idéia falsa que os partidários de Serra tentaram levar à sociedade, de que éramos uma sombra do Collor”, disse ontem o líder do PPS na Câmara, João Herrmann (SP). Herrmann afirmou que o presidente do PTB e seu líder na Câmara, Roberto Jefferson (RJ), disseram a Fernando Henrique Cardoso que não têm problemas em relação ao presidente. “Apostamos na governabilidade.

Queremos deixar tranqüilidade para o presidente. Não nos interessa criar crise.”

Nota – Martinez divulgou nota ontem alertando que “pessoas não autorizadas estariam procurando empresas, constituindo comitês e expedindo convites para jantares” de apoio a Ciro. Segundo a nota, só ele, Walfrido Mares Guia, Márcio de Lacerda e Lúcio Ferreira Gomes teriam autorização para arrecadar verba.

Mas, no mesmo dia, um Comitê Independente Pró-Ciro Gomes enviou convites para um jantar na segunda-feira em São Paulo. “Martinez, que era da turma do Collor, quer colocar o pessoal esperto para controlar o dinheiro”, afirmou o presidente do comitê, Antônio Pedreira, que disse ser filiado ao PDT. (Colaborou Eduardo Nunomura)


Artigos

Fraudes empresariais nos EUA e no Brasil
Roberto Macedo

Os escândalos empresariais ou corporativos nos EUA estão na ordem do dia, com mais de uma dezena de grandes empresas envolvidas em fraudes contábeis, em particular no exagero de lucros, favorecimento de executivos e prejuízos para os acionistas. Na seqüência, tanto o presidente Bush como o vice-presidente Cheney foram acusados de delitos semelhantes, de dimensão menor, mas politicamente explosivos.

Fraudes como essas não são novidades na história empresarial dos EUA, mas chamam agora a atenção pelo porte das empresas envolvidas, pelo impacto no mercado de capitais e na economia americana em geral e pelos desdobramentos políticos. E, ainda, porque, não constituindo novidades, essas fraudes deveriam ter sido coibidas há muito tempo. Vendo a coisa daqui, outra questão interessante é a possibilidade de que práticas semelhantes surjam no Brasil.

Que os delitos empresariais americanos não são novidade o demonstra a preocupação com eles há um século, ao ocuparem espaço importante num discurso de posse presidencial. Conforme mostrou Eric Rauchway, professor de História na Universidade da Califórnia, em artigo publicado no jornal Valor (15/7), o presidente Theodore Roosevelt, ao tomar posse em 1901, abordou como um dos dois temas principais de seu discurso a campanha interna que propôs mover contra a corrupção empresarial. A cois a não teve êxito permanente e tanto assim foi que o primo de Theodore, Franklin, eleito presidente em 1932, logo depois da crise de 1929, denunciou a "geração de egoístas" que na década anterior havia desmantelado as regulamentações introduzidas pelo Roosevelt que o precedeu.

Conforme o mesmo professor e outros analistas têm assinalado, o problema é que o sistema empresarial norte-americano, muito fundamentado no mercado de capitais, estimula o comportamento desonesto, pois as regras do jogo premiam ganhos nas cotações de curto prazo das ações, e não a estabilidade dos lucros no longo prazo. Isso aumenta a tentação de trapacear por meio da manipulação do mercado, em particular via balanços maquilados. Como, no dizer de Alan Greenspan, presidente do Banco Central americano, a ganância é infecciosa, até as empresas de auditoria foram também contaminadas.

A infecção da ganância alcançou até as páginas da Playboy americana, pois vi notícias de que produziu um número com as "garotas da Enron". Estas encontraram na revista outra forma de ganhar dinheiro com as cotações da empresa, mesmo em baixa. Segundo notícia publicada na Folha de ontem, logo em seguida a revista recebeu ligações de funcionárias da WorldCom e da Arthur Andersen, também interessadas em faturar com o desprestígio das patroas.

O debate põe novamente em foco uma questão antiga, a da auto-regulamentação do mercado versus um maior grau de intervenção governamental. Nos EUA, há muito de auto-regulamentação, com forte papel das empresas de auditoria. Na esteira dos escândalos, o Senado daquele país aprovou um projeto de regulamentação, mais duro do que um outro que corre na Câmara. Será preciso aguardar um acerto das duas Casas Legislativas para ver a tônica das novas regras, certamente mais duras, mas ainda duvidosamente quão duras. Uma complicação é que Bush só se aproxima dos dois Roosevelts na retórica e reluta em ser mais duro, até porque, aparentemente, andou sujando as botas fora de seu rancho. Americanos fazem até campeonato para ver quem come mais cachorros-quentes por minuto, mas não chegariam a um de cuspir para cima.

Aqui, no Brasil, em princípio as coisas estariam algo distantes desse quadro, por várias razões. Primeiro, porque, infelizmente, não temos uma forte tradição empresarial no uso do mercado de capitais na captação de recursos. Como corolário, as cotações das ações não têm o mesmo papel na determinação dos salários e outros benefícios dos executivos. De qualquer forma, como, apesar dos pesares, é fundamental apostar num mercado de capitais bem mais forte, seria bom acompanhar o que se passa nos EUA e fazer desde já uma nova regulamentação, preventivamente mais forte.

Haveria também outra razão pela qual os problemas não seriam tão importantes aqui. Conforme lembrou um leitor, que já foi presidente de uma multinacional americana no Brasil, nossa cultura contábil é derivada da européia, em que os artifícios, quando feitos, são usualmente voltados para diminuir lucros e pagar menos impostos, ao contrário das maracutaias americanas, mais voltadas para inflar lucros e cotações.

De qualquer forma, lá como cá há gente tirando coelhos de cartolas contábeis, ainda que com objetivos diversos. As mágicas americanas também podem chegar aqui e ambos os casos justificariam desde já um aperto das regras legais, com o que esses coelhos criados por empresários e contadores seriam atacados com uma só cajadada.


Colunistas

RACHEL DE QUEIROZ

Na trilha de Herodes
Acho que todos os brasileiros estamos sentindo uma espécie de complexo de Herodes; co-responsáveis nesse morticínio espantoso de recém-nascidos do qual diariamente jornais, radio e TV dão notícia.

A epidemia (será mesmo epidemia?) ocorre nos locais mais distantes uns dos outros, como Boa Vista em Roraima, Fortaleza, Vitória, Niterói, etc. Os recém-nascidos morrem por infecção hospitalar, explica-se. A capacidade dos hospitais infantis é excedida de longe e não há tempo para higienizar os berços entre um e outro ocupante.

Ontem me dizia um velho cético que o mal é que nascem crianças demais no Brasil e no mundo. Crianças demais para recursos cada vez menores, pois que as crianças que escaparem de morrer de infecção hospitalar morrem mesmo em casa, mal paridas e maltratadas.

Todo criador de animais reduz o rebanho quando verifica que não dispõe de alimentos suficientes para os sustentar. O homem, não. Aliás, quero dizer, a gente pobre, porque os ricos têm os seus meios de reduzir a prole: ninguém vê um miliardário deixar 10, 12 filhos: "Um casalzinho ou, máximo, três crianças", diz a madame num suspiro. "Imagine a dificuldade que já é arranjar três babás!"

Os animais irracionais, como já foi dito, sabem como reduzir a prole, de acordo com os seus recursos naturais. O homem, animal racional, não o sabe. A causa principal nos países mais pobres é a religiosidade. As igrejas, por inegáveis motivos, têm mais força sobre os pobres do que sobre os ricos - não me atrevo a discutir aqui esses motivos que levam quase todas as confissões cristãs a condenar os anticoncepcionais. O mais alegado é que o ato do amor não deve ser gratuito, pura luxúria; é destinado a dar frutos; para isso o Senhor o concebeu e o permite. E como exigir isso seria exigir o impossível, os casais mais renitentes, ou se amam em liberdade e no dia da confissão acusam-se do pecado; ou simplesmente deixam de lado a abstenção, como obsoleta.

No interior do Brasil, por exemplo, a reprodução humana se faz como a dos pássaros ou dos sagüis. Os caboclos nem compreendem bem os sermões dos pastores, com suas palavras difíceis, ou não os freqüentam. (Cada vez diminui mais o número do clero católico no nosso interior. São substituídos pela invasão pregadora dos "crentes" ou "protestantes", que têm posições diversas a respeito de controle de natalidade, contra ou a favor.

Mas mesmo um casal que sente a necessidade de limitar os filhos não tem como o fazer. O anticoncepcional mais conhecido por eles, talvez o único, é a pílula, cujo preço exorbitante é inacessível para os seus recursos. Toda mulher sertaneja, com mais de quatro ou cinco filhos, já tem noção de que existe a laqueação das trompas, e sonha em realizá-la, mas tanto a lei dos homens com a de Deus a proíbem. Conheço um hospital mantido por religiosos (que aliás presta preciosos serviços à comunidade) que, durante os partos, deixa sempre uma freira acompanhando os movimentos do médico parteiro, vigiando se ele vai executar a atadura (que a parturiente lhe suplicou fizesse) alegando: "O senhor bispo proíbe que se faça isso aqui..."

Que fazer então? A rede hospitalar do País, é fácil ver nas estatísticas, é dolorosamente insuficiente para atender à população adulta, quanto mais os berçários, sobrecarregados de bebês, pondo-se até de dois num berço único...

Certa vez consegui de uma instituição americana o fornecimento gratuito de pílulas para as mulheres da nossa região. Em poucos meses inscreveram-se 90 mulheres e era um alívio vê-las menos sobrecarregadas de crianças, na barriga ou escanchadas nos quadris. Mas aí uma autoridade eclesiástica da cidade de onde provinham as pílulas soube do fato e imediatamente conseguiu sua proibição; ainda neste mês, uma das antigas freguesas das nossas pílulas morreu de parto, junto com a criança, ao dar à luz o sétimo filho - e eram apenas sete por causa da bendita interrupção daqueles três anos...

A questão é de dinheiro, de cultura, de governo, de política? Não se sabe. Enquanto isso, continuam todos como o velho Herodes, matando criancinhas com poucos dias de vida, como se já não bastasse as que morrem pelas outras causas, que também vitimam os adultos.


Editorial < BR>
UM LANCE OUSADO A FAVOR DA ECONOMIA

Num lance ousado, o Comitê de Política Monetária (Copom) baixou de 18,5% para 18% os juros básicos da economia, a Taxa Selic. No setor financeiro, a maioria dos analistas ouvidos pela imprensa, nos dois dias anteriores, dava como certa a manutenção dos juros. Mesmo quem apostava em redução mencionava um corte de apenas 0,25 ponto porcentual. Imediatamente subiu o Índice Bovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo, mas no mercado de câmbio a primeira reação foi desfavorável. O dólar, já em alta, passou a valorizar-se mais velozmente, chegando em pouco tempo a R$ 2,921 e, recuando depois, para fechar em R$ 2,897. O risco Brasil voltou a elevar-se. Ao mesmo tempo, caíam os juros futuros, um bom sinal para a maior parte do empresariado, que desde março vinha reclamando novos cortes no custo do dinheiro.

A decisão do Copom, segundo os críticos, poderá resultar em maior pressão sobre o câmbio. Com juros mais baixos, segundo esse raciocínio, tenderá a minguar o ingresso de dólares e aumentará a procura de moeda americana. Essa hipótese ainda vai ser testada nos próximos dias, depois de passado o impacto inicial da novidade. Dada a enorme distância entre os juros brasileiros e as taxas em vigor nos principais mercados, parece pouco provável que a redução de meio ponto na Taxa Selic faça tanta diferença para o mercado cambial.

Esse mercado tem sido afetado principalmente pelo ambiente eleitoral. Os demais fatores têm sido secundários. Ainda esta semana, o executivo principal da Merrill Lynch, o conhecido economista Jacob Frenkel, disse que a economia brasileira, por seus fundamentos, merece melhor classificação do que a que tem recebido, ultimamente, das agências de risco. Nada garante, portanto, que a intranqüilidade no setor financeiro, que se reflete na desvalorização do real, seja muito maior, nas próximas semanas, do que seria, se não houvesse a redução dos juros brasileiros.

A redução da Taxa Selic também não deve prejudicar o controle da inflação.

Os preços dos setores competitivos, como os de alimentos, do vestuário e da maior parte dos produtos industriais, continuam com pouca variação, porque a demanda é baixa e a oferta, de modo geral, é satisfatória. No caso dos produtos agropecuários, as variações mais importantes têm sido as sazonais ou aquelas provocadas, ocasionalmente, por alguma quebra de safra. Esses efeitos, no entanto, são corrigidos sem muita dificuldade pelo próprio mercado, sem reflexos duradouros nos indicadores de inflação. Mesmo a alta do dólar tem afetado de forma limitada os preços ao consumidor, porque o repasse é difícil.

A inflação tem sido alimentada principalmente pelos preços administrados, como as tarifas de serviços de utilidade pública. Como esses aumentos não dependem do mercado, a política de juros altos é ineficiente para contê-los.

Nessas condições, manter a Taxa Selic em 18,5% faria pouca ou nenhuma diferença para a política antiinflacionária. Este é um dado que muita gente, no mercado financeiro, parece ainda subestimar ou mesmo desconhecer. O Copom está certo, ao indicar que sua decisão é compatível com a meta de inflação fixada para 2003. Todas as projeções, não só do Banco Central, mas também do mercado, apontam para o próximo ano uma alta de preços contida na faixa fixada pela política oficial. Além disso, de acordo com a nota distribuída ontem pelo Copom, os fundamentos macroeconômicos dão espaço à redução de juros. Essa redução, de fato, pode até reforçar esses fundamentos, contribuindo para aliviar os compromissos financeiros do governo e para ampliar a arrecadação nos meses finais de 2002, se houver uma reação favorável da produção e do consumo.

"Essa queda poderá ser um alento para a indústria no último trimestre do ano, pois os juros do mercado futuro, que balizam as operações de crédito, tendem a cair", disse ontem à tarde o economista Fernando Barbosa, do Banco BBV. As análises mais ponderadas apresentadas por outros técnicos foram na mesma direção.

A ousadia do Copom, em resumo, consistiu em levar em conta as projeções de inflação, nada preocupantes, e em dar ao empresariado um sinal encorajador há muito tempo esperado - mesmo contra a expectativa conservadora de boa parte dos analistas financeiros.


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07/18/2002


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