Sem mencionar Lula, Marco Maciel disse que faz política 'com P grande'




Em pronunciamento de mais uma hora nesta terça-feira (31), o senador Marco Maciel (DEM-PE) resumiu as ações de seus sucessivos mandatos na vida pública e disse que "a divergência é prova da vitalidade política e da natureza apaixonada de nossas convicções". Em apartes, alguns senadores consideraram o discurso de Marco Maciel uma resposta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, no último dia 27, em comício no Recife, afirmou que Marco Maciel era senador desde o tempo do Império e que pouco acrescentou ao estado nesse tempo de poder, de acordo com notícias veiculadas na imprensa.

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Candidato à reeleição, Marco Maciel disse que ao longo de sua vida pública constatou que a política só pode ser exercida com realismo, sem que isso implique deixar de ser idealista. Ele foi secretário de estado, deputado estadual, duas vezes deputado federal, presidente da Câmara dos Deputados, governador de Pernambuco, três vezes senador e vice-presidente da República em duas ocasiões.

Ao fazer uma análise do Brasil, Marco Maciel disse: "Não podemos ser e nem queremos ser o país da injustiça e da exclusão, o da fartura em que ainda sobrevive a miséria, a sociedade próspera individualmente e pobre coletivamente".

- A política, portanto, não pode ser o meio da conservação, antes deve ser o instrumento da transformação. O Estado brasileiro tem, necessariamente, de transformar-se numa estrutura democrática capaz de proteger os fracos, dar condições de sobrevivência com dignidade a todos, corrigir as injustiças, coibir os abusos e punir os excessos - afirmou.

Reforma política 

Marco Maciel disse ainda que o Brasil não se modernizará apenas com reformas econômicas nem progredirá somente com mudanças sociais. No cenário atual, o processo de transformação do país passa, sobretudo, pela reforma política, afirmou o senador, para quem as modernas definições de democracia preocupam-se exatamente com a operacionalização dos mecanismos decisórios da política.

- A democracia, sabemos e devemos repetir, é um regime político que se deve caracterizar pela contínua necessidade de dar respostas às preferências dos seus cidadãos, considerados politicamente iguais. São esses os requisitos que ainda nos faltam, porque poucas vezes houve no Brasil compatibilidade entre discurso e ação política - afirmou.

Como senador, Marco Maciel lembrou que participou, ao lado do senador Petrônio Portela, dos assuntos que culminaram na edição da Emenda Constitucional 11/78, que permitiu o início do processo de retorno do país ao Estado democrático de Direito, com a revogação dos atos institucionais e complementares do regime militar, entre eles o AI-5, que suspendeu diversas garantias constitucionais.

Marco Maciel registrou que ao lado de Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Aureliano Chaves dedicou-se ao processo de redemocratização, com a elaboração conjunta do Compromisso com a Nação, documento que instituiu a Aliança Democrática e o pacto político que permitiu a transição pacífica para a plena democracia, com a eleição de Tancredo Neves e a posterior convocação da Assembléia Nacional Constituinte e o restabelecimento das liberdades e do Estado democrático de Direito.

- Esse pacto é considerado por muitos como o mais importante da vida republicana brasileira, pois lançamos as bases da democracia de forma sólida e irreversível, sem apelos autoritários ou arroubos de personalismo - afirmou.

Realizações

Marco Maciel também citou diversas ações desenvolvidas em Pernambuco ao longo de seus mandatos eletivos e que contaram com a sua participação, como a expansão da rede pública de ensino de 1º e 2º graus; concessão de bolsas escolares; criação de laboratórios de apoio didático com audiovisuais; obras voltadas à interiorização da saúde; construção e reforma de hospitais; implantação inédita de pensão para os portadores de hanseníase; construção de casas populares; urbanização de favelas; e início da implantação do complexo industrial portuário de Suape, entre muitas outras.

Apoios

Em aparte, o senador João Faustino (PSDB-RN) disse que poucos homens no país têm uma pauta com tantas realizações e iniciativas em favor de Pernambuco e do povo brasileiro.

Em nome da bancada do DEM, o senador Antônio Carlos Júnior (DEM-BA) solidarizou-se com Marco Maciel e disse que ele é uma das grandes expressões da política brasileira, tendo ocupado cargos de alta relevância como governador de estado, vice-presidente da República e ministro de Estado.

Já o senador Papaléo Paes (PSDB-AP) disse que "o cidadão que hoje ocupa a Presidência da República sente-se o dono do universo, o professor de Deus, e fica falando um monte de bobagens por aí". Disse ainda que "jamais imaginou que um presidente da República, que tem que manter a postura no cargo, pudesse de maneira sóbria, conhecendo a historia do país, ser indelicado para ganhar voto no palanque".

Em resposta a Papaléo Paes, Marco Maciel citou uma expressão latina segundo a qual "a consciência vale por milhões de testemunhos".

Por sua vez, o senador Augusto Botelho (sem partido-RR) disse que Marco Maciel sempre foi elogiado como sendo um homem sério que conta com o reconhecimento até dos seus próprios adversários, que o apontam como uma pessoa honrada, honesta e trabalhadora.

Na presidência dos trabalhos, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) disse que é testemunha da trajetória de Marco Maciel, tido como exemplo para toda uma geração de nordestinos e brasileiros pela postura e capacidade de se renovar e acompanhar a atualização do mundo.

Heráclito Fortes disse ainda que Marco Maciel será beneficiado pela "infelicidade do gesto e do pronunciamento inadequado" do presidente, que agiu de maneira jocosa e imprópria para quem ocupa o cargo de presidente da República, conforme afirmou.

- As paixões eleitorais não podem de maneira nenhuma fazer com que o detentor do maior cargo da nação enverede por caminhos dessa natureza - afirmou Heráclito, lembrando que Marco Maciel teve papel relevante no primeiro mandato de Lula, ao defender um caminho para a manutenção da governabilidade em um momento que os escândalos afloravam e o governo estava fragilizado.

Ao concluir seu discurso, Marco Maciel citou Joaquim Nabuco e disse que faz política "com P grande" no Senado, "com a visão de que estamos aqui para melhorar os níveis de governabilidade, fortalecer as instituições e criar condições para que o país seja o país com o qual sonhamos".



31/08/2010

Agência Senado


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