Semestre da UFRJ só acabará em abril
Semestre da UFRJ só acabará em abril
Se as aulas forem realmente retomadas na segunda-feira, o que depende da decisão de uma assembléia dos professores que acontece depois de amanhã, o semestre letivo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) deve acabar em 8 de abril de 2002. De acordo com Ângela Gonçalves da Silva, do Conselho de Ensino de Graduação, já há um esboço de calendário, que pode ser aprovado na própria segunda-feira, caso termine a greve. Com isso, o próximo semestre letivo deve começar em 15 de abril de 2002.
— Ainda precisam ser cumpridos 78 dias letivos. Vamos ter os recessos de fim de ano e carnaval, mas a reposição de aulas será integral, sem qualquer prejuízo para os alunos — disse Ângela.
A Associação de Docentes da Universidade Federal Fluminense (UFF) fará hoje uma assembléia para decidir se continua em greve. De acordo com o presidente da entidade, Marcelo Badaró, a volta às aulas dificilmente acontecerá na segunda-feira, já que depende de uma nova assembléia a ser realizada na semana que vem.
— Amanhã, podemos aprovar um indicativo de retorno, mas uma decisão final só deve acontecer mesmo na semana que vem — disse.
Uni-Rio também acha difícil voltar segunda-feira
Na Universidade Rural, a assembléia será hoje, às 10h. Na UniRio, sexta-feira. De acordo com o presidente da associação de docentes da UniRio, Carlos Alberto Lima, também será difícil voltar segunda-feira:
--- Temos que esperar um novo calendário. Mesmo se aprovarmos o fim da greve, a volta imediata seria precipitada — disse Lima.
O coordenador acadêmico do vestibular da UFRJ, Herli Menezes, disse que até o fim da semana que vem a universidade deve marcar as novas datas para o concurso, adiado por causa dos tumultos ocorridos durante a realização da primeira prova, em 28 de outubro. Segundo ele, a previsão inicial é que as provas sejam marcadas para a última semana de fevereiro e as duas primeiras semanas de março, mas isso ainda depende da aprovação do Conselho de Ensino de Graduação.
Herli afirmou que os trabalhos da comissão de vestibular estão bastante adiantados e que as novas provas devem ficar prontas até 15 de dezembro. Na semana que vem, representantes da UFRJ devem se reunir com representantes da UFF e da Uni-Rio, que também adiaram o concurso, para discutir um calendário unificado de vestibular.
Acordo fechado
Após cem dias de greve, governo, Congresso e professores das universidades federais fecharam um acordo. Se nada mudar até amanhã, quando os professores farão as últimas assembléias para confirmá-lo, as aulas serão retomadas na próxima segunda-feira e irão, no mínimo, até março do ano que vem. Os grevistas conseguiram arrancar do Orçamento de 2002 R$ 328 milhões que serão usados para a concessão de um reajuste entre 12% e 13% do salário-base. O aumento só vai vigorar a partir de fevereiro do ano que vem. O salário de janeiro terá apenas o reajuste de 3,5% concedido pelo governo ao funcionalismo.
Além disso, a gratificação de desempenho dos professores das escolas básicas (a GID) federais passará a ter os mesmos valores da gratificação de desempenho dos professores universitários (a GED). Os professores inativos das escolas também foram beneficiados e passarão a receber 60% da GID.
O acordo foi saudado com palmas pelos presentes à última de dezenas de reuniões feitas nos últimos dias.
— Não é o acordo ideal mas é o que o momento político permitiu — comemorou Roberto Leher, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes).
Professores refazem calendário de aulas
Agora, reitores e professores começam a elaborar um novo calendário para as aulas, encaixando o currículo de quase três semestres letivos. Na maior parte das federais, o semestre deveria estar terminando até 10 de dezembro.
Algumas universidades, como a Federal do Paraná, estão em vantagem. Quando a greve começou, em 22 de agosto, os alunos já contabilizavam 27 dias de curso. Em outras, como a Federal do Rio Grande do Sul, não foram feitas nem as matrículas, o que impedirá o reinício das aulas na segunda-feira. Ainda falta decidir quando serão feitos os vestibulares, suspensos por causa da greve.
— Imagino que tenhamos aulas até 15 de dezembro. Depois, paramos para os vestibulares e recomeçamos em janeiro — disse Carlos Roberto Antunes, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
A maior parte das instituições terá de levar o semestre até a metade de abril. Por lei, as universidades são obrigadas a dar 100 dias de aulas por semestre. Com isso, as férias de verão e de julho estão comprometidas. As instituições são obrigadas a ter um pequeno recesso entre cada semestre para a realização de vestibulares, de matrículas e para a revisão das grades horárias. Férias mesmo, só entre 2003 e 2004.
Presidente tenta desfazer mal- estar
O presidente Fernando Henrique procurou ontem desfazer o mal-estar criado no meio acadêmico por declarações feitas na véspera, quando chamou os professores de coitados. Em nota oficial, o presidente destacou que “a referência aos professores que, pela idade já mais vetusta e sem ainda ter produzido teoria famosa renunciavam à glória e iriam apenas dar aulas (”coitados“) incluiu ele próprio”.
Já o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, decidiu trocar o salário de ministro pelo de professor universitário. A troca tem explicação: Paulo Renato escolheu o vencimento maior. O salário bruto de ministro é R$ 8 mil. Professor da Unicamp com 25 anos de serviço público, o ministro poderá receber cerca de R$ 12 mil, mesmo estando afastado da instituição. O valor elevado do vencimento na Unicamp é explicado pelo fato de o ministro ter direito a receber uma gratificação por ter sido reitor na década de 80.
Servidores reduzem gratificação e governo beneficiará mais 11.300
BRASÍLIA e FORTALEZA. Os servidores do INSS cederam de um lado e o governo federal, do outro. Na madrugada de quarta-feira, depois de oito horas de reunião, os servidores concordaram com a necessidade de reduzir os novos valores da gratificação de desempenho da categoria de forma a atender a todos os funcionários do INSS. Com isso, o governo concordou em incluir no acordo 11.300 funcionários — 5.600 da ativa e 5.700 inativos — que passaram a receber os benefícios conquistados.
Auxiliares terão direito a gratificação por desempenho
Pelo documento, servidores auxiliares — motoristas, vigilantes, porteiros — terão direito também à gratificação de desempenho e ao reajuste de 11,05% que serão dados aos demais funcionários.
Como o governo só poderá gastar R$ 186 milhões com as gratificações e o reajuste no salário-base, e mais pessoas foram incluídas no acordo, o valor da gratificação terá que ser menor.
— Nós cedemos de um lado e o governo, de outro. Isso é negociação — disse Wladimir Nepomuceno, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social.
Os sindicalistas ainda não receberam do Ministério do Planejamento os novos valores da gratificação. O ministério fará os cálculos para a nova tabela. Fora acertado inicialmente com o governo que ela seria de R$ 644 para funcionários de nível superior, R$ 249 para nível intermediário e R$ 130 para nível auxiliar. Um cálculo preliminar aponta para uma redução em torno de 20% nesses valores.
— Esperamos que o Planejamento nos passe as tabelas e também as planilhas para que a gente veja como foi feito o cálculo — disse Nepomuceno.
Ontem, os servidores também começaram a receber os salários referentes a outubro , bloqueados desde o início deste mês. Apesar de as agências já estarem funcionando desde segunda-feira, o governo ainda não tinha começado a processar os pagamentos. Os funcionários do INSS chegaram a ameaçar voltar à greve hoje se não recebessem.
— Hoje de manhã, a maior parte dos salários estava nas contas. Os que não receberam ainda, foi por causa de um problema de processamento do Bando do Brasil — disse Nepomuceno.
O ministro da Previdência Social, Roberto Brant, lamentou ontem, em Fortaleza, no Ceará, o atraso na liberação do salários de outubro. Ele explicou que a demora no pagamento ocorreu por problemas administrativos do órgão e também dos bancos que atrasaram a liberação dos créditos. Brant disse que mandou uma mensagem pedindo desculpas aos servidores pelo atraso.
O acordo fechado pelos trabalhadores do INSS deverá beneficiar cerca de 77 mil servidores. Nos próximos três meses, as agências ficarão abertas 12 horas por dia para tentar recuperar o atraso na concessão de cerca de benefícios a cerca de um milhão de pessoas que não poderam recebê-los nos 106 dias de greve. Como cada um dos benefícios terá que ser concedido retroativamente e com correção, o governo federal terá prejuízo. O valor do gasto extra ainda não foi calculado.
Distrito Federal vai ter feriadão dos evangélicos
BRASÍLIA. Os funcionários da administração pública federal, de autarquias e de fundações que funcionam no Distrito Federal não vão trabalhar amanhã. O governo decidiu estender para o serviço público federal o feriado do Dia do Evangélico, comemorado amanhã na capital. A decisão foi anunciada ontem pelo Ministério do Planejamento, que ressalvou a obrigatoriedade de pleno funcionamento dos serviços essenciais.
O Dia do Evangélico foi instituído por uma lei do Distrito Federal em dezembro de 1995. Por coincidência, este ano o feriado caiu numa sexta-feira, dia tradicionalmente de pouco movimento na Esplanada dos Ministérios. O Congresso também fica vazio, porque os parlamentares normalmente estão em seus estados.
Amanhã o presidente Fernando Henrique Cardoso estará em Osasco, com o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, participando da cerimônia de entrega de cartões magnéticos do programa Bolsa-Escola.
Roseana diz que comparação com miss foi elogio
BRASÍLIA. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), pré-candidata à Presidência de República, disse que ficou lisonjeada com a declaração feita anteontem pelo governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), também pré-candidato, de que a eleição é para presidente do Brasil e não para miss.
— Aos 48 anos, sendo mãe e avó, só posso ficar lisonjeada com essa declaração ainda mais num país onde existem tantas mulheres bonitas — disse a governadora.
Roseana gravou novo programa para o PFL
Depois de estrelar nos programas políticos do PFL vendendo a imagem de ser uma mulher moderna e empreendedora, Roseana gravou ontem inserções para o programa regional do partido destacando a sua boa relação com outros partidos, incluindo os de oposição.
No programa do PFL do Maranhão, que vai ao ar na segunda-feira, Roseana faz elogios à administração de Tasso Jereissati (PSDB) e Ciro Gomes (ex-PSDB, atualmente no PPS) no Ceará, e também ao petista Jorge Viana, governador do Acre. A governadora afirma que sua vida política sempre foi suprapartidária. E que já foi simpatizante do PCdoB.
Garotinho quer inspeção externa para seu governo
Na expectativa de que seja feita uma devassa em seu governo, quando deixá-lo de herança a Benedita da Silva (PT), vice-governadora do Rio, o governador Anthony Garotinho resolveu se antecipar. Ele informou ontem, ao participar de um chat no Globo OnLine, que vai contratar uma auditoria para inspecionar sua gestão, que estará pronta quando deixar o cargo, em abril.
Garotinho fez referência ao fato de que Benedita da Silva vai apoiar o pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e que, por isso, tem que tomar cuidado para deixar o governo estadual saneado.
— Eu não seria louco de deixar o governo, temendo qualquer investigação ou fazendo qualquer coisa errada, nas mãos de uma pessoa que vai apoiar outro candidato. Todo mundo deveria pedir uma avaliação externa, até para evitar qualquer tipo de especulação — afirmou o governador.
Ciro defende Collor e diz que, como ele, é discriminado por ser nordestino
MACEIÓ. O pré-candidato a presidente da República pelo PPS, Ciro Gomes, defendeu ontem o ex-presidente Fernando Collor de possíveis ataques tucanos na campanha eleitoral de 2002, criticou Lula e atacou o presidente Fernando Henrique, a quem acusou de estar levando o Brasil a uma situação pior que a da Argentina.
Ciro participou de um café da manhã, em Maceió, com empresários, industriais, sindicalistas e intelectuais alagoanos. Entre os presentes estavam dois filhos de Collor: o empresário Joaquim Francisco e Arnon Affonso, candidato a deputado federal.
— Este garoto é muito bom. Ele tem futuro — disse Ciro.
Os dois rapazes trabalham como cabos eleitorais do pai, que tentará se eleger senador por uma coligação de centro, em Alagoas
Ciro ajudou a tirar Collor do poder em 92
Ao explicar a razão da defesa do ex-presidente Collor, a quem ajudou a tirar do poder no processo de impeachment em 1992, e ao qual afirma que ainda faz oposição, Ciro disse que sofria das mesmas coisas que o ex-presidente sofre:
— Sofremos esta discriminação odienta pelo fato exclusivo de sermos nordestinos. Collor pagou muito caro por suas penas, tem o direito de ser, pelo menos, esquecido. Ficar todos os dias satanizando no passado, esquecendo o que acontece hoje, só interessa ao atual governo.
Num recado direto para os tucanos, Ciro pediu um basta aos ataques ao ex-presidente Fernando Collor:
— Chega de responsabilizar o ex-presidente por tudo o que acontece de ruim no país.
Ciro atacou o projeto de Lula de tributar as grandes fortunas. Para ele, a proposta não passa de uma “mistificação própria de quem não domina matéria tributária”:
— Tributar grandes fortunas não vai arrecadar nada pelo simples fato de que não há grandes fortunas no Brasil. As grandes fortunas estão organizadas em holding.
Criticando Fernando Henrique, lembrou que no Brasil dois terços dos impostos incidem sobre a cadeia produtiva e sobre o salário. Moderno, para Ciro, seria tributar o consumo e os ganhos de capital:
— Temos de desonerar os salários e a cadeia produtiva, pois isso forma a poupança que o Brasil não tem hoje.
Ciro confirmou que o seu PPS está aliado ao PTB que, em Alagoas, abriga toda a base de sustentação política do ex-presidente Fernando Collor, confirmou estar discutindo alianças com o PDT e assumiu que quer dialogar com o PMDB de Itamar Franco e com as forças de centro-esquerda como PT e PSB. Ele admitiu que, no segundo turno, tenderá a buscar alianças com gente do PSDB ligada ao governador cearense Tasso Jereissati e ao falecido governador de Mário Covas, em São Paulo.
— Fui fundador do PSDB, fui o primeiro governador eleito pelo PSDB, rompi por causa da incoerência entre o que nós pensamos e prometemos à nação e o que está fazendo o governo de Fernando Henrique.
Ciro é contra a privatização do setor elétrico do país. Se isso acontecer e se ele for eleito, promete desfazer tudo:
— Privatizar o setor elétrico é um crime. Nem os Estados Unidos fazem tal coisa.
A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL-MA), não escapou das críticas:
— Roseana está na fase da novidade. Depois ela vai ter de explicar nos palanques o que pensa sobre economia, corrupção, governo, inflação, e sobre o pró prio PFL.
Itamar aceita adiamento, mas exige inclusão de vereadores nas prévias
BRASÍLIA. O governador de Minas, Itamar Franco, concordou com o adiamento das prévias do PMDB, de janeiro para março do ano que vem. Itamar comunicou sua decisão ao ex-governador Orestes Quércia, que repassou a informação ao presidente do PMDB, Michel Temer. Itamar, porém, condicionou sua decisão à inclusão dos 11.374 vereadores entre os eleitores das prévias.
— O importante é que estamos tirando a tensão do partido. Tenho a maior simpatia pela inclusão dos vereadores nas prévias — disse Temer.
O presidente do PMDB marcou para terça-feira uma reunião em Brasília com os dois pré-candidatos do partido — Itamar e o senador Pedro Simon (RS) —, Quércia e líderes do partido para tratar dos detalhes do adiamento. Eles devem escolher uma nova data, provavelmente 24 de março, e acertar a ampliação do colégio eleitoral de 3.850 filiados para cerca de 15 mil.
— Prevaleceu o bom senso e acredito que vamos chegar a um entendimento sobre as prévias para que os vereadores sejam incluídos entre os eleitores — afirmou Simon.
Com o embate interno adiado, a cúpula do PMDB vai concentrar seus esforços agora na elaboração de uma proposta de programa de governo. O presidente do Instituto Ulysses Guimarães, Moreira Franco, acredita que até o fim de dezembro terá um documento base para ser submetido ao debate interno. O capítulo econômico, por exemplo, foi elaborado pelo ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, mas o partido ainda tenta compatibilizar estas idéias com suas propostas para a área social.
— Com essa proposta, vamos buscar a unidade interna e, depois, disputar a cabeça de chapa no nosso campo, o do governo — afirmou Moreira Franco.
Artigos
Sem respostas
FERNANDO COCCHIARALE
É impossível tomar uma posição sobre a vinda do museu Guggenheim para o Rio de janeiro sem que conheçamos todos os aspectos da negociação e do contrato a ser firmado entre a prefeitura da cidade e esta instituição americana. Tudo o que foi dito e escrito até agora a respeito das vantagens ou malefícios da abertura de uma sucursal do Guggenheim no país não passa de especulação.
Aqueles que defendem a abertura do novo museu provavelmente acreditam nos benefícios automáticos da vinda de uma entidade do Primeiro Mundo para a cidade. Consideram que sua simples presença no país, não importa em que condições, é suficiente para que fiquemos em igualdade de condições, pelo menos no que se refere à infra-estrutura artística, com as cidades mais desenvolvidas do mundo. Outros, críticos em graus variados da hegemonia americana e do caráter excludente da globalização, descartam, por razões opostas às dos primeiros, mas movidos pela mesma paixão, qualquer associação com os “interesses americanos”. As duas posições podem ser ou não legítimas. Dependem, repito, das condições contratuais a serem acordadas entre o governo municipal e a Fundação Guggenheim.
Algumas perguntas, ainda sem qualquer reposta, são indispensáveis no momento. Como e quem pagará pelo projeto, pela construção e pela manutenção do museu, caso venha para o Rio de Janeiro? Seu acervo é comum a todos os Guggenheim, ou não? Serão feitos gastos na aquisição de obras nacionais? Quem as pagará? No caso de problemas incontornáveis com quem ficará a coleção (caso não seja comum aos outros museus da rede)? Será o futuro curador uma pessoa ligada à arte brasileira? Como serão organizadas suas exposições? Virão pacotes fechados do exterior ou poderemos organizar mostras de nosso interesse direto?
Sem as respostas a essas perguntas nenhuma posição efetiva pode ser tomada. O vazio de informações concretas a respeito das condições negociadas para a vinda do Guggenheim para o Rio de Janeiro é, atualmente, o maior obstáculo para sua eventual implantação na cidade.
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL
Morreu na praia
Para confirmar novembro como um mês de perdas para o governo — inclusive da ofensiva reconquistada desde julho — até o painel eletrônico da Câmara enguiçou ontem na votação das mudanças na CLT. A pane é rara, precisa ser esclarecida. Sua ocorrência forçou a votação nominal, em que o deputado expõe a cara e o voto. Os governistas jogaram a toalha, retiraram-se.
E o governo havia movido uma guerra para ganhar. Talvez tivesse ganhado na votação eletrônica, cujo resultado o painel recusou-se a mostrar. Talvez tivessem perdido, de todo modo. Mas na votação nominal fica a imagem do voto, que pode ser explorada pelos adversários na campanha.
Mas novembro e os astros que o regem têm culpa. O governo é que comprou brigas infrutíferas, como a urgência para o projeto da CLT, que dificilmente o Senado votaria mesmo este ano. E lá, segundo todas as avaliações, dificilmente passaria. Em novembro o governo tentou esmagar duas greves e peitar o Judiciário. Lançou um pacote antigreves amplamente repelido. Desgastou os aliados com a imposição da urgência e irritou até o presidente da Câmara, Aécio Neves, aliado tão importante, ao atropelar-lhe a pauta. Derramou muito leite e na semana que vem, também por intransigência, corre o risco de sofrer mais uma derrota na votação da correção da tabela do Imposto de Renda.
Da noite de terça-feira, quando teve que adiar a votação da CLT para não ser derrotado, até o início da noite de ontem, quando o painel enguiçou na primeira votação, os operadores do governo lançaram mão de todos os recursos para dobrar os aliados recalcitrantes. Numa reunião com líderes no Alvorada, FH recusou-se a atender a ligação de Geddel Vieira Lima, líder do PMDB, que queria explicar a posição contrária de seu partido. Ministros e auxiliares do presidente passaram o dia ao telefone. Emendas foram liberadas, cobranças e ameaças foram feitas.
Em caso de derrota, prometeu FH, a base seria redesenhada, e os que votassem contra seriam tratados como adversários. Um partido inteiro, o PMDB, votou contra, mas o governo não está ainda em condições de romper com ele. Não tivessem os líderes desistido de participar da votação nominal, defecções no PSDB e no PFL também ficariam expostas.
São os tempos mudando. É o fim do caminho, o início do fim do mandato, que recomenda moderação e adequação dos governantes à perspectiva de poder que ainda têm.O governo vetou ontem a aprovação do projeto que revoga a velha e caduca Lei de Segurança Nacional. José Genoino, co-autor, é indulgente: “Efeito colateral do surto de arrogância, mas passa”.Vilmar Farias, sociólogo
O professor Vilmar Farias, falecido inesperadamente ontem, foi o artífice intelectual de toda a política social do governo FH. Dele é o marco filosófico central, de substituir o velho assistencialismo por programas de parceria, desenvolvimento sustentado e programas de compensação de renda, tais como bolsa-escola, renda, alimentação, seguro contra a seca etc. O documento apresentado por FH no ano passado em Florença, naquele encontro que discutiu a terceira via, tem uma forte marca dele, assim como o discurso pronunciado na Assembléia francesa. Mas como todo bom assessor, Vilmar era discreto, arredio à imprensa e não disputava espaço. Quem viu o presidente ontem registrou o grau de seu abalo com a perda. Do amigo, seu e de dona Ruth, e do auxiliar. Vilmar era também amigo dos ministros José Serra e Paulo Renato desde o exílio no Chile. Nos últimos dias, após a reforma ministerial, era apontado como o último serrista no Palácio. Além do chefe.
Congresso resolve
Acabou sendo resolvida ontem pelo Congresso a greve dos professores universitários que o governo judicializara. O deput ado tucano Nelson Marchezan foi incansável na busca de recursos. Ao esforço final de encontrar ontem os R$ 328 milhões somaram-se o relator da Comissão de Orçamento, Sampaio Dória, e os deputados Gilmar Mendes e Sérgio Miranda.
Em matéria de greve, seguiu rota própria o ministro José Serra, evitando que a da Funasa virasse tempestade.Expectativas
Apesar das divergências circunstanciais, o deputado Nilmário Miranda reconhece os avanços da política de direitos humanos nas gestões de José Carlos Dias e José Gregori no Ministério da Justiça.
— Com eles, a pasta foi da Justiça, não serviu a interesses da política partidária. Espero que Aloysio Nunes Ferreira, portador de todas as credenciais, não mude a rota.
Mas lamenta que Aloysio esteja mudando todo o quadro da pasta na qual ficará apenas até abril. Sempre há descontinuidade com a mudança.NA GUERRA que o governo moveu ontem contra os aliados recalcitrantes valeu até telefonema do secretário da Receita, Everardo Maciel. Um telefonema do Leão é sempre algo inibidor.
Editorial
Bom negócio
Enquanto não se esclarece onde e quando será construída a filial do Guggenheim no Brasil, é sempre oportuno insistir que a Fundação Salomon R. Guggenheim só tem a ganhar se escolher o Rio de Janeiro.
Nenhuma outra cidade do país apresenta condições tão favoráveis a um projeto dessa natureza. Vale repetir que é inegável a vocação cultural do Rio, tradicional centro de irradiação de idéias e comportamentos. Poucas manifestações artísticas e culturais alcançam repercussão nacional sem passar pelo crivo — e pela caixa de ressonância — da opinião pública carioca. O museu fortaleceria essa vocação, ao mesmo tempo em que ganharia a mais alta visibilidade.
Não se pode esquecer também que, tão importante quanto o gosto do Rio pela agitação, pelo debate e pela novidade, é a sua condição de porta de entrada do turismo internacional. O Guggenheim funcionaria como uma atração a mais, entre as muitas já amplamente divulgadas e conhecidas, para estrangeiros, especialmente latino-americanos. E uma nova razão para os turistas de fora visitarem o Rio é por definição boa notícia para o turismo nacional. Uma vez aqui, é mais fácil convencê-los a conhecer mais profundamente o Brasil.
Construído na Praça Mauá, como está previsto, o museu traria o benefício adicional de impulsionar o projeto, há muito acalentado, de recuperação daquela área do Centro. Ali estão tesouros históricos e arquitetônicos que o crescimento urbano, aliado à pura e simples desídia, deixou para trás. E que, especialmente numa cidade turística, seria criminoso e pouco inteligente não aproveitar.
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11/29/2001
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