SENADO ATUALIZA LEGISLAÇÃO SOBRE DIREITOS AUTORAIS



O Senado aprovou, dependendo agora de sanção presidencial, substitutivo da Câmara dos Deputados ao projeto de lei Luís Viana Filho que atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais no Brasil. A votação foi acompanhada por vários artistas e, a pedido deles, os senadores suprimiram os artigos 36, 37 e 38 do texto oriundo da Câmara. O Senado entendeu que esses preceitos retiravam do titular do direito autoral ou do direito a ele conexo o benefício exclusivo de utilizar-se dessa garantia.

Relator da matéria na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania o senador Romeu Tuma (PFL-SP) explicou que, mantendo-se esses artigos, se daria proteção ao empregador, pois este, para celebrar contrato de trabalho, poderia compelir o artista a ceder de antemão os direitos patrimoniais sobre a obra.

Tuma resumiu assim a decisão do Senado: "Estamos atendendo a antiga aspiração de todos que vivem, de alguma forma, do produto de seu trabalho intelectual - na literatura, na música, nas artes plásticas, nas atividades audivisuais, enfim, em todos os campos onde o criador e o difusor da arte devem gozar de proteção legal".

A nova lei protege como obras intelectuais as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro. E define o autor como a pessoa física criadora de obras literária, artística ou científica. Dispõe ainda que pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou. E assegura que cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica.

O relator reconheceu que a lei aprovada, apesar de situar o Brasil na tendência internacional de proteção do direito autoral, ainda encontrará críticas. Uma delas, admitiu, deverá ser contra o artigo que mantém o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). "Alguns gostariam de vê-lo extinto, enquanto outros pretendiam fossem criados vários organismos arrecadadores por área de atividade ou por regiões", afirmou. Tuma preferiu manter a estrutura do Ecad, deixando por conta da classe artística a mobilização necessária para corrigir eventuais deficiências.

Ao discutir a matéria, o senador José Fogaça (PMDB-RS) disse que o Ecad é eficientíssimo na arrecadação do direito autoral. Na hora de distribuir o produto dessa arrecadação, no entanto, parte de um critério totalmente injusto, em que a aferição é baseada apenas no que tocam as emissoras FM do Rio de Janeiro e São Paulo. "Se lá no interior de Pernambuco há autores sendo executados diariamente em rádio e TV, o Ecad os desconhece para fins de distribuição de direito autoral, só os reconhece para fins de arrecadação", criticou o parlamentar.

Já o senador Pedro Simon (PMDB-RS) censurou a forma como a matéria estava sendo votada, dizendo que o projeto Luís Viana Filho ficou engavetado na Câmara durante anos, sendo aprovado agora sem grande discussão. "Lamento que os líderes considerem a matéria de urgência urgentíssima, pois poderia haver um debate maior", assinalou.

O presidente da Casa, Antonio Carlos Magalhães, concordou com ele quanto à exiguidade do tempo para votação da matéria, mas ressalvou que muitos interessados debateram o projeto com os senadores.

A senadora Emília Fernandes (PDT-RS) sugeriu que, após sancionada, essa lei possa ser aperfeiçoada, principalmente em relação aos co-autores da obra artística. Em sua opinião, o que estava em jogo era "o interesse coletivo da cultura nacional". José Roberto Arruda (PSDB-DF) agradeceu ao relator por ter suprimido do projeto os artigos 36, 37 e 38 que, em sua opinião, representavam uma inconstitucionalidade.

O senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) definiu o projeto como um esforço de modernização do país, lembrando que nessa direção foram aprovadas as leis de Patentes, de Cultivares e de Software - todo um conjunto destinado a modernizar o Brasil ante as exigências da globalização. O senador Artur da Távola (PSDB-RJ) também destacou como mérito do Legislativo a votação daquelas leis, acrescentando que a aprovação do projeto de lei do direito autoral fecha um círculo de alta relevância para o país.

O senador O Bernardo Cabral (PFL-AM) destacou a votação histórica que o Legislativo estava realizando. E o senador Ramez Tebet (PMDB-MS) pediu que a votação fosse consagrada ao seresteiro Sílvio Caldas.

Assistiram à votação no plenário os seguintes artistas: Beth Mendes, Francisco Cuoco, Irving São Paulo, Stephan Necercian, Lígia de Paula, Chrysóstomo Faria, André Luís "Gaeta", Teresa Mascarenhas, Fernando Brandt, Victor Neto e Marcus Vinicius Mororó.



04/02/1998

Agência Senado


Artigos Relacionados


Projeto do Senado sobre direitos autorais vira lei

Congresso aprova MP que atualiza legislação sobre patentes

Comissão de Educação analisa substitutivo que atualiza legislação sobre tráfico de drogas

SENADO VOTA AMANHÃ (DIA 4) LEI DE DIREITOS AUTORAIS

Senado analisa projeto que reconhece direitos autorais da ABNT

Artistas divergem sobre arrecadação de direitos autorais