Senado censura experiência que leve à clonagem humana



O Senado aprovou nesta terça-feira (9) requerimento do senador Tião Viana (PT-AC) de voto de censura aos cientistas Panayiotis Zavos, Severino Antinori e Brigitte Boisselier, que anunciaram o propósito de clonar seres humanos. O voto foi aprovado apesar de várias manifestações em contrário.

O objetivo de Tião Viana é exprimir a indignação dos brasileiros frente a esse anúncio, "a despeito dos riscos de tal prática, considerada moral e cientificamente inaceitável por parte da comunidade científica nacional e internacional, além de nociva ao patrimônio genético da humanidade".

A matéria suscitou intenso debate em Plenário, começando com Roberto Freire (PPS-PE), que disse não se associar a manifestações de censura.

- Não vejo no Senado autoridade nenhuma para censurar qualquer desenvolvimento da ciência, por mais inquietante que seja, como é esse caso, por mais perplexidade que cause à humanidade - afirmou.

Autor do requerimento, Tião Viana considerou inimaginável que, ante as preocupações mundiais com a questão, o Senado sobre ela se calasse.

- Vamos nos omitir num assunto que pode ser muito mais grave que a prática da violência oriunda do movimento nazista? - questionou.

Apoiando o requerimento, o senador Sebastião Rocha (PDT-AP) reconheceu que as pesquisas são eficazes na busca de soluções contra doenças, mas se disse contra a clonagem humana. Já o senador Carlos Patrocínio (PTB-TO) observou que o limite da ciência é a dignidade humana e a ética.

O Senador Bello Parga (PFL-MA) disse que todas as pesquisas científicas encontraram óbice de natureza política. Ele afirmou que o Parlamento não podia condenar o livre desenvolvimento da ciência. Leomar Quintanilha (PPB-TO) também disse que não via eficácia nesse voto de censura, porque não há como impedir o avanço da ciência.

Artur da Távola (PSDB-RJ) disse que não cabe ao Parlamento censurar qualquer forma de atividade científica. E observou que a história registra centenas de censuras dessa ordem que se revelaram inócuas. Como ele, Ney Suassuna (PMDB-PB) disse que se tivesse persistido a censura a Louis Pasteur, muitos avanços da medicina não teriam ocorrido.

No mesmo tom, o senador Ademir Andrade (PSB-PA) disse que não cabe ao Senado censurar cientistas interessados em clonagem humana. E acrescentou que não vê como impedir o mundo de avançar nessas pesquisas.

A senadora Marina Silva (PT-AC) sustentou que colocar alguns freios na clonagem humana não significa travar uma guerra fundamentalista contra a ciência. E a senadora Heloísa Helena (PT-AL) disse que a clonagem humana se relaciona com eugenia, visto que trata da seletividade de gens propícios à criação de uma raça perfeita.

09/10/2001

Agência Senado


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