Senado fará análise de pontos polêmicos da lei da concorrência



Embora consensual nas suas linhas básicas, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 6/09, em tramitação no Senado, apresenta alguns pontos sobre os quais ainda há divergências, conforme ficou claro em audiência pública realizada pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) para debater a nova lei de defesa da concorrência, nesta terça-feira (14). A matéria ainda será examinada pelas Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e Meio Ambiente e Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), antes de seguir para o Plenário.

VEJA MAIS

Os pontos mais relevantes em que especialistas e parlamentares concordam são a obrigatoriedade do exame prévio para atos, como fusões de empresas, que provoquem concentração econômica; o estabelecimento de prazos para o julgamento dos processos pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade); e a reestruturação administrativa do órgão para dar conta do novo rol de tarefas.

Entre os pontos mais polêmicos foram mencionados os poderes conferidos ao superintendente-geral do Cade - cargo que substituiria o atual cargo de presidente - chamados por alguns de "superpoderes"; a possibilidade de o Cade intereferir no poder das agências reguladoras; as restrições ao papel do Ministério Público na análise dos processos; e dúvidas quanto à diminuição do papel do Senado na aprovação do nome de conselheiros.

Participaram da audiência pública o presidente do Cade, Arthur Badin; o procurador regional da República em Brasília, José Elaeres Marques Teixeira; o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel); o presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e ex-presidente do Cadê, Gesner Oliveira; o presidente do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional (Ibrac), Mauro Grinberg; o presidente da Comissão de Estudos da Concorrência e Regulação Econômica da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção São Paulo (OAB-SP), Pedro Zanota; e o professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Carlos Ari Sundfeld.

- Existem algumas falhas nesse projeto que superam a suas vantagens - disse Mauro Grinberg, do Ibrac, o maior crítico do PLC 6/09. Ele mencionou como negativa a possibilidade de o superintendente-geral decidir sobre processos independentemente dos conselheiros que formam o plenário do órgão, por exemplo, arquivando um procedimento investigatório. Ele também acha perigoso que o Cade possa nomear um conselheiro provisório, por impedimento de outro ou término de mandato, sem a aprovação do Senado.

O presidente do Cade negou que o projeto vá dar superpoderes ao superintendente-geral. Disse que as decisões monocráticas já são a prática em 90% dos processos hoje, por uma questão de economia de recursos e tempo, mas que a possível nova lei dará a qualquer conselheiro, ao Ministério Público ou a qualquer cidadão o poder de requerer a continuidade de um procedimento investigatório.

Sobre os conselheiros provisórios, Badin observou que serão nomeados em casos raríssimos e permitirão a continuidade dos trabalhos do Cade, sem prejuízo para as empresas e a sociedade.

- Embora não seja ótimo, esse projeto é muito bom e nos coloca no patamar das legislações de concorrência mais avançadas no mundo. Vai tornar mais céleres os exames de atos contra a concorrência e eliminar o custo Brasil embutido na incerteza sobre o prazo das decisões - defendeu Badin.

Ele negou ainda que o Cade vá interferir no poder das agências reguladoras, como afirmou Sardenberg, referindo-se à obrigatoriedade do órgão de defesa emitir parecer sobre fusões de teles. Conforme Badin, o Cade encaminhará o parecer, mas a agência ficará livre para considerá-lo ou não. Ao final da audiência, Sardenberg concordou em reexaminar seu ponto de vista se houver um esclarecimento sobre como e a que instância esses pareceres serão encaminhados.

Acerca da redução do papel do Ministério Público, Badin não fez maiores comentários. Na opinião de José Elaeres, a Procuradoria não quer ficar como "mera" autora de pareceres. Antes, quer o poder de requerer diligências e providenciar provas.

A audiência pública foi coordenada pelo presidente da CAE, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN).

Nelson Oliveira / Agência Senado



14/04/2009

Agência Senado


Artigos Relacionados


Senado ouve ministro Celso Amorim sobre pontos polêmicos da política externa

Pontos polêmicos da reforma do Judiciário

Senadores questionam pontos polêmicos do Judiciário

Regulamentação do trabalho doméstico ainda tem pontos polêmicos

Senadores ouviram especialistas para discutir pontos polêmicos

Audiência pública discute pontos polêmicos do novo Código Eleitoral