Senadores apontam operações suspeitas; Vaccari nega todas as denúncias



Para ouvir explicações para as denúncias de irregularidades na Cooperativa Habitacional dos Bancários ( Bancoop ), de São Paulo, duas comissões permanentes do Senado - a de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle e a de Direitos Humanos e Legislação Participativa - se uniram em audiência conjunta. João Vaccari Neto, ex-presidente da Bancoop e atual tesoureiro do PT, compareceu juntamente com o advogado Pedro Dallari. Outros dois convidados não compareceram: o promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo José Carlos Blat e o corretor de câmbio Lúcio Bolonha Funaro.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento para a audiência, concentrou suas perguntas nas denúncias divulgadas pela revista Veja: superfaturamento, desvio de dinheiro para pagamento de propinas ou verbas para campanhas políticas do PT. Vaccari negou, peremptoriamente, todas as acusações.

Álvaro Dias perguntou sobre o escândalo do dossiê falso, de 2006, que seria usado por petistas contra o então candidato a governador de São Paulo, José Serra. O senador lembrou que Freud Godoy, assessor da Presidência da República, recebeu R$ 1,5 milhão da Bancoop. Vaccari negou relação entre o pagamento e o escândalo do dossiê. Segundo ele, Godoy efetivamente prestou serviços de segurança.

O tesoureiro do PT respondeu ainda as auditorias feitas na Bancoop provaram não ter havido superfaturamento, nem contribuições a campanhas políticas. E disse nunca ter recebido envelopes de dinheiro vivo, ao contrário do que dizem as denúncias. De acordo com Vaccari, todos os pagamentos da Bancoop foram contabilizados e a auditoria feita na cooperativa foi aprovada pela Assembléia dos mutuários.

Vaccari garantiu que um repasse do edifício no Guarujá para a OAS empreendimentos foi feito dentro da legislação vigente e que o corretor Lúcio Funaro, que não compareceu à reunião, fez declarações falsas sobre os negócios da Bancoop.

Já o senador Papaléo Paes (PSDB-AP) asseverou que o Ministério Público constatou milhares de operações fraudulentas da Bancoop, que teria tido sua falência evitada graças ao socorro dos fundos de pensão da Petrobras (Petros) e do Banco do Brasil (Previ).

- O MP classificou a Bancoop como uma organização criminosa que lesou centenas de famílias que compraram unidades para residências. Nós presenciamos depoimentos dessas pessoas lesadas, aqui no Senado - disse Papaléo, para quem ficou "claro" que a Bancoop teve acesso facilitado a recursos dos fundos de pensão. Ele perguntou, ainda, sobre "os saques milionários realizados na boca do caixa", constatados pelo Ministério Público.

Vaccari respondeu que o MP teve acesso à documentação da Bancoop, por quebra de sigilo bancário, e o promotor nunca o convocou para ser ouvido sobre irregularidades. E garantiu não haver operações fraudulentas na cooperativa, nem saques milionários em dinheiro, tampouco cheques emitidos sem destinatários.

Segundo o ex-presidente, os fundos de pensão fizeram investimentos na Cooperativa, porque seus títulos eram sólidos, considerados "triple A".

Pranto das famílias

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) concentrou suas perguntas no pranto das famílias que investiram nos apartamentos prometidos pela Bancoop e perderam seu patrimônio. Ele leu carta de um cooperado que perdeu R$ 100 mil e está ameaçado de processo e até de despejo.

Segundo o senador, muitos mutuários se sentem lesados, porque foram obrigados a pagar parcelas adicionais, sob pena de perder o imóvel. Alguns edifícios foram penhorados em função de dívidas trabalhistas e os inquilinos estão, agora, ameaçados de perder suas unidades residenciais, afirmou.

Vaccari admitiu haver dificuldades financeiras na Bancoop, bem como "um clima difícil" com os cooperados. Ele disse se preocupar com cada um deles e garantiu que, se lhe for apresentada uma lista de nomes, poderá enviar aos senadores os dados e as dificuldades de cada um.

-Temos interesse de encontrar uma solução para cada caso. Ao todo, faltam 592 unidades residenciais - reconheceu.

Ele admitiu ainda que, em alguns casos, os preços estimados para algumas unidades estavam errados. Por isso, houve acordo para que os cooperados pagassem um adicional, permitindo que os edifícios fossem concluídos, e alguns o foram, garantiu.

Vaccari destacou "não ter conhecimento de muitos fatos apontados pela revista Veja". Em especial, disse que as acusações de Lúcio Funaro são falsas, pois teve um único encontro com ele, quando se entrevistou com o deputado federal Waldemar da Costa Neto (PR-SP) e Funaro estava junto. "Nunca mais tive qualquer contato com ele", afirmou.

Arthur Virgílio perguntou se estaria disposto a participar de uma acareação com Funaro, ou com o promotor Blat, e quis saber como se sentia como tesoureiro do PT, diante de tantas denúncias.

Vaccari respondeu, de pronto, que aceitaria participar de uma acareação com qualquer um dos dois. Ele lembrou, ainda, ter sido eleito tesoureiro do PT.

- Acredito que posso ser um bom tesoureiro, porque tenho tranqüilidade de ter agido corretamente e de acordo com minha consciência. Não fui escolhido para ser o arrecadador da campanha da ministra Dilma [Rousseff] - afirmou.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) quis saber se os preços das unidades residenciais da Bancoop ficaram maiores do que os de mercado, depois do pagamento de resíduos e majorações contratuais.

Vaccari respondeu que os preços das unidades, mesmo com pagamento de adicionais, ainda são menores do que os praticados pelo mercado de imóveis. "As construtoras que aceitaram terminar os edifícios constataram isso", argumentou.

O ex-presidente disse, também, que após a entrega de todas as unidades, a Bancoop fará novos lançamentos, desta vez, "aprendendo com os erros cometidos". E garantiu, ainda, não haver recursos públicos na Bancoop: "nem federais, nem estaduais ou municipais".

Dallari

Já o advogado Pedro Dallari observou que, numa cooperativa, tudo é compartilhado. Se há 592 casos pendentes, disse, eles precisam ser resolvidos um a um. O senador João Pedro (PT-AM) disse que o caso da Bancoop está sendo politizado para prejudicar o PT. Isso não ajuda à democracia, observou.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou possuir um relatório do Ministério Público sobre a Bancoop, que mostra centenas de cheques, retirados em dinheiro, totalizando R$ 18 milhões.

-Tenho, também, dificuldade de entender como uma empresa com dificuldades financeiras resolve dar R$ 1,5 milhão, para a empresa de segurança de Freud Godoy - observou.

Vaccari respondeu que essa lista elaborada pelo Ministério Público nunca foi apresentada à Bancoop. E que os custos com segurança - feitas por Freud Godoy - eram grandes, porque havia muitos empreendimentos imobiliários sendo realizados naquele momento.

Para Jereissati, houve, no mínimo, "uma promiscuidade grande entre cooperativa, fundos de pensão e governo do PT".

Fraudes

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) quis saber se as auditorias realizadas constataram fraudes. Dallari reafirmou não existir qualquer ação pública em andamento contra a Bancoop, garantido que Vaccari não responde a nenhum processo criminal. Houve auditorias internas na cooperativa em 2005, informou, e têm havido auditorias permanentes desde então, para garantir a lisura de suas operações, não sendo constatas fraudes.

O senador Cícero Lucena (PSDB-PB) observou que, embora não haja recursos públicos diretamente aplicados na Bancoop, há operações financeiras vultosas, feitas com fundos de pensão, que são públicos.

Ao concluir a audiência, o presidente da CMA, Renato Casagrande (PSB-ES) destacou que a audiência ficou prejudicada com as ausências de Blat e Fu naro.

30/03/2010

Agência Senado


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