Sermão para Lula e Serra







Sermão para Lula e Serra
Com setores aliados do PT desde a fundação do partido, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) criticou ontem pela primeira vez os petistas, condenando a possível aliança com o PL e a Igreja Universal do Reino de Deus em torno da candidatura à Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva. Dom Marcelo Carvalheira, vice-presidente da CNBB, disse que a Igreja Católica se preocupa com o risco de a Universal, que tem empresas na área de comunicação, exigir um ministério num possível governo Lula. A Igreja Universal de Edir Macedo, que já chegou a comparar o petista com o demônio em seu jornal, é dona da Rede Record e de dezenas de emissoras de rádio.

Segundo dom Marcelo, a Igreja Católica, diferentemente da Universal, nunca reivindicaria cargos porque não quer ter qualquer benefício.

— Nosso lema é se interessar pelo bem do povo, nunca pedir benefício para a própria instituição — disse dom Marcelo, lembrando que políticos ligados aos católicos “nunca pediram esmolas” para a Igreja no exercício do mandato.

Bispo lembra epidemia de dengue

Dom Marcelo disse também que ficou alarmado com a decisão do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, de deixar o Ministério da Saúde no auge da epidemia de dengue.

— Isso nos deixa meio alarmados. Seria importante que ele estivesse presente. Para fazer propaganda eleitoral, é muito mais fácil estar no Senado — disse dom Marcelo.

Já o secretário-executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB, Francisco Whitaker, disse que não é função da Igreja Católica interferir nas alianças eleitorais. Mas advertiu que o PT terá de dar explicações à sociedade por fazer aliança com um partido de centro-direita.

— O PT vai ter de se haver com isso, mas é uma questão interna do partido — disse Whitaker.

Ele divergiu de dom Marcelo quanto à decisão de Serra de deixar o cargo agora. Para Whitaker, cabe ao partido decidir em que momento o candidato deve começar a campanha.

— O problema é do partido. Serra vai ter de responder perante os eleitores também. Mas a saúde no Brasil é um drama — disse ele.

Sobre a saída de Serra, o secretário-geral da CNBB, dom Raymundo Damasceno, disse que não se pode culpar uma única pessoa pela epidemia de dengue.

— São vários fatores que provocam uma epidemia — minimizou.

Parlamentares protestam no Rio

Até dentro do PT a possível aliança com o PL vem sendo bombardeada. Hoje, no Rio, parlamentares petistas farão uma manifestação contra o acordo. Um dos organizadores do protesto, o deputado estadual Chico Alencar, lembra que, na convenção do partido realizada em dezembro, o PL não constava da lista de candidatos a uma possível coligação.

— Ficou acertado que faríamos alianças com partidos de postura claramente antiliberal e esse não é o caso do PL. Por enquanto, estamos tratando as conversas como iniciativa pessoal do Lula e do José Dirceu — disse Chico Alencar.

Para o deputado federal Milton Temer, a aliança com o PL, em vez de somar, tira pontos do PT:

— O PL está sendo malandro e quer aproveitar o interesse do Lula no senador José Alencar para exigir isso e aquilo do PT. Se fechamos aliança com o PL do bispo Macedo vamos desagradar aos setores da Igreja Católica que sempre nos apoiaram. Se quem manda no PL é o deputado Luiz Antônio de Medeiros, arrumamos problema com os sindicalistas adversários, que não vão subir no mesmo palanque.


Serra sai manifestando disposição de comprar brigas e mobilizar Congresso
BRASÍLIA. Emocionado e bem-humorado, o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra (SP), fez mais do que um balanço de sua gestão à frente do Ministério da Saúde no evento que marcou sua saída do governo. Serra fez um discurso político enumerando as qualidades necessárias para um bom governante, enfatizando a capacidade de mobilizar o Congresso e a disposição para comprar brigas e conflitos.

Em sua fala, não evitou temas difíceis, como a epidemia do dengue. Mas fez promessas de campanha e relacionou as metas que devem ser cumpridas pelo novo ministro, Barjas Negri. Aplaudido por funcionários do ministério, profissionais de saúde, ministros e políticos que lotaram o auditório do Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, Serra finalizou seu discurso de quase uma hora citando versos de Shakespeare.

“Nossos desejos e os fatos podem ir em direção tão contrárias que todas as estratégias caem por terra. Nossos pensamentos nos pertencem; nossas ambições, nem um pouco. As nossas ambições pertencem aos outros e os outros é que vão julgar”, repetiu Serra.

Pré-candidato defende o SUS das críticas do PFL

Serra também aproveitou o discurso para defender o Sistema Único de Saúde (SUS), que o PFL deseja que passe por ampla reformulação. Ele afirmou que o SUS, apesar das críticas, é irreversível. O tucano também procurou se descolar do estilo conciliador do presidente Fernando Henrique Cardoso ao destacar que uma das características que um governante deve ter é a disposição para comprar brigas.

Ele citou como exemplos os confrontos com a indústria do fumo, que resultou em restrições na publicidade do cigarro e derivados, e com a indústria farmacêutica, que provocou o estímulo à produção de medicamentos genéricos e a quebra de patentes de remédios usados no combate à Aids.

— O Brasil se acostumou ao entendimento. A negociação é muito importante, e no Congresso sempre fui um negociador. Por isso, fui quem mais aprovou propostas na Constituinte. Mas quando se tem objetivos a conquistar é preciso fazer com que aconteçam, contra as forças do “deixa como está” ou do “vamos deixar para mais adiante”. Quando Bush assumiu, me disseram para adiar o debate das patentes, mas ganhamos porque dificuldade não é sinônimo de impossibilidade — afirmou.

O tucano disse ainda que um bom governante precisa ter uma atuação competente no Congresso e a capacidade de mobilizar os parlamentares independentemente de partidos e ideologias.

— No governo é preciso somar forças. Tenho horror de perder tempo com caraminholas, com tititi. Sem Congresso não se governa, e é importante que ele seja mobilizado pelas boas causas. Nós aprovamos a vinculação de recursos para a saúde com o apoio da oposição — lembrou.

Criticado sobretudo pelos pefelistas, por não ser um aliado do Nordeste, Serra também comentou que sua gestão na Saúde foi sensível às desigualdades regionais. O tucano afirmou que a ação do ministério está voltada para atender aqueles que não tem recursos e condições para se tratar, citando os programas Agentes Comunitários de Saúde e Saúde da Família. Ele disse que, empenhado em combater a desigualdade, destinou mais recursos para as regiões Norte e Nordeste.

Redução da mortalidade infantil, a maior vitória

O ex-ministro contou que treinou para não se emocionar na despedida, mas sua voz ficou embargada quando disse que este tinha sido o cargo mais gratificante que ocupara em seus 40 anos de vida pública. Serra bateu três vezes no púlpito ao dizer que o sarampo tinha sido eliminado e voltou a se emocionar quando afirmou que a redução da mortalidade infantil, de 50 para 30 casos em mil, foi sua maior realização como ministro.

À vontade, Serra foi muito espirituoso e provocou risos em diversos momentos de seu discurso. Ao citar sua capacidade para reduzir custos, brincou que o ministro do Planejamento, Martus Tavares, tinha dado um pulo na cadeira após ele ter dito que havia economizado R$ 2 bilhões com a redução do preço dos remédios.


Tucano é ouvido até por adversários políticos
BRASÍLIA. Depois de rece ber flores e um álbum de charges dos funcionários e até as bênçãos do cacique Raoni, José Serra se despediu do Ministério da Saúde para mergulhar, a partir de hoje, na campanha eleitoral que poderá levá-lo ao Palácio do Planalto. A solenidade, no Centro Cultural Banco do Brasil, que custou ao PSDB cerca de R$ 20 mil, reuniu 500 pessoas, entre elas ministros e até um petista, o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Eduardo Jorge.

Quando deputado federal, Eduardo Jorge chegou a ser punido pelo PT por ter apoiado a aprovação da CPMF. Ontem, entrou discretamente no auditório lotado. Ficou de pé durante boa parte da solenidade, num canto à direita do palco. Mas não adiantou. Foi mencionado nos discursos tanto de Serra como de seu sucessor, Barjas Negri. Saiu antes do fim da cerimônia:

— O Brasil teve dois ministros da Saúde: Adib Jatene e José Serra — elogiou o petista.

O governador Tasso Jereissati, do Ceará, e outros tucanos ilustres, como o presidente da Câmara, Aécio Neves (MG), não estavam presentes. Serra chegou a citar Aécio e o secretário-geral da Presidência, Arthur Virgilio, mas os dois não foram vistos. O único governador presente era Albano Franco (Sergipe).

A presença do presidente do PL, deputado Waldemar Costa Netto (SP), e do deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ) provocou frisson. Tanto é que os dois deixaram o auditório antes do começo da solenidade.

— Sinto que a igreja está dando suas bênçãos — brincou o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA).

Reclamando do atraso, do calor e do assédio dos tucanos, os dois saíram.

— Não há dúvida de que Serra é um homem preparado para administrar o país. Mas estamos em campos opostos — alegou Rodrigues.

Os petebistas Fernando Gonçalves (RJ), Nelson Marquezelli e Duílio Pisaneschi (SP) — amigo de Serra — também estavam lá.

Até alguns pefelistas engrossaram a platéia. Estavam lá a deputada Laura Carneiro (RJ), da bancada da Saúde, e o senador Edison Lobão (MA), aliado de Roseana Sarney.


Brindeiro: TSE não pode mudar lei
BRASÍLIA. O procurador-geral eleitoral, Geraldo Brindeiro, disse ontem que não é dever do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) obrigar os partidos a repetirem nos estados as coligações feitas para concorrer à Presidência da República. O relator da proposta, o corregedor-geral do TSE, Garcia Vieira, deverá submetê-la ao exame dos colegas na próxima semana.

Brindeiro argumentou que a lei eleitoral, de 1997, não pode ser modificada a menos de um ano das eleições. Se fosse o caso, a tarefa caberia ao Congresso, não ao Judiciário. Para o procurador-geral, a legislação não restringe as coligações. Ao contrário, defende a diversidade das alianças em âmbito regional e nacional.

— Não há vedação nenhuma na lei — afirmou.

Miro Teixeira não pretende retirar consulta ao TSE

Autor da consulta sobre o que é chamado de verticalização das alianças, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) vem sofrendo pressões para retirar a questão do TSE. Ele, no entanto, mantém-se irredutível. A posição dele traduz a defesa feita pelo presidente do PDT, Leonel Brizola, para quem as coligações nacionais devem ser repetidas nos estados.

— Eu não retiro assinatura nem de nota promissória e não acredito que haja algum senador com coragem de me pedir isso — disse Miro.

Ontem, ele recebeu dois telefonemas do presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), que também demonstrou preocupação com a questão. Aécio, no entanto, disse que não estava pressionando Miro, mas que apenas queria saber se ele iria retirar a consulta. Miro também conversou sobre o assunto com o senador José Sarney (PMDB-AP), pai da candidata do PFL, Roseana Sarney (MA).

Se, a princípio, o PFL e o PT pareciam ser os mais preocupados com a nova interpretação da lei eleitoral, agora é o PMDB também que revela muita irritação.

Bornhausen diz que Roseana ganhará com qualquer regra

Ontem, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, reforçou sua posição contrária à medida, mas garantiu que isso não atrapalhará os planos do partido de lançar Roseana candidata.

— Roseana vai ganhar a eleição com qualquer regra. O problema da eleição não é de regra, e sim de votos — disse Bornhausen.

O pefelista destacou que uma vez publicada a medida, dificilmente poderá haver uma mudança da decisão por meio de recurso. Isso, segundo ele, porque o Supremo Tribunal Federal (STF) quase nunca contraria as decisões do TSE, por se tratar do órgão especializado em legislação eleitoral.

Mas, na avaliação da cúpula do PMDB, a medida poderá inviabilizar uma aliança nacional. O medo do partido é que com a nova regra o PMDB acabe repetindo 1998, quando apoiou o presidente Fernando Henrique mas não houve uma coligação formal.

— Isso é devastador. Em Alagoas, por exemplo, simplesmente acaba com a representação política. Temos nove deputados de partidos diferentes. Sem coligação ninguém alcançaria o coeficiente eleitoral — explicou o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).

Para o ministro das Minas e Energia, José Jorge (PFL), a regra vai produzir uma espécie de coligação branca.

— As coligações estaduais vão acabar predominando . Na prática os partidos que tiverem candidatos a presidente ficarão sozinhos, sendo apoiados informalmente por outros partidos, e o tempo de TV dos partidos que não se coligarem não será usado — disse.

O ministro reafirmou ontem que pretende permanecer no governo até o fim do mandato de Fernando Henrique.

Bornhausen vai discutir Ministério com FH

Bornhausen disse ainda que irá conversar com Fernando Henrique sobre o assunto a partir do dia 15 de março. O pefelista se licencia hoje do cargo para se dedicar à campanha da governadora Roseana Sarney. Ele anunciou a agenda da candidata no mês de março: dia 11, Roseana estará em Minas, em seguida passará três dias em Brasília recebendo as bancadas por regiões. No dia 14, ela participa de reunião da executiva do partido. No dia 25, a governadora estará em Salvador e no dia 5 de abril se desincompatibilizará do cargo.


PDT e PTB dão a palavra: vão apoiar Ciro
BRASÍLIA. O ato de criação da Frente Trabalhista, formada por PPS-PTB-PDT, de apoio à pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência, foi festejado em Brasília, mas frustrou a cúpula do PPS. Apesar da festa preparada para o lançamento da aliança, não houve consenso entre os três partidos para a assinatura de um manifesto preparado pelo presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE). Segundo Freire, o texto anunciava o compromisso da frente com as propostas de governo defendidas por Ciro. Mas os líderes do PTB e do PDT nada quiseram assinar antes das convenções.

— Realmente fiz um manifesto, mas acharam que não era o momento de divulgá-lo. Não porque havia uma divergência em relação ao texto. Mas não vou fazer uma aliança e ficar achando que todos os partidos vão pensar sempre da mesma forma. O importante é que as executivas dos três partidos aprovaram por unanimidade o lançamento da frente — disse Freire.

Já Ciro e os presidentes do PDT, Leonel Brizola, e do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), sequer admitiram que eles tenham discutido o lançamento do manifesto.

— A palavra basta para os homens de bem — desconversou Ciro.

Durante um café da manhã, antes do lançamento da frente, o grupo conseguiu apenas afinar os discursos. Brizola, por exemplo, que na véspera havia condenado as negociações entre o PT e a Igreja Universal, ontem amenizou o discurso. Já Ciro, que na véspera havia considerado positivo o fato de os petistas perceberem que ninguém pode governar sem alianças, ontem mudou o tom das declarações:

— Misturar pol


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