Serra e Lula no Estado
Serra e Lula no Estado
Lula acredita que pleito acontecerá em dois turnos
A eleição deverá acontecer em dois turnos. Essa é a opinião do candidato à presidência da República pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, cogitado para vencer o pleito ainda no primeiro turno, em função dos índices apresentados nas pesquisas de intenção de voto. "Não quero gerar expectativas nem para mim nem para os outros; por isso, não trabalho pensando nisso, mas em vencer a eleição, seja no dia 6, seja no dia 27", enfatizou.
Lula concedeu a última entrevista coletiva antes da eleição, em Porto Alegre, ontem pela manhã, após se reunir com empresários gaúchos. À tarde, o candidato participaria de um evento de agradecimento aos metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Hoje e amanhã, se prepara para o último debate da campanha, na TV Globo.
O petista comentou, ainda, a disparada do dólar neste período eleitoral. Disse esperar que o valor da moeda caia para R$ 2,90 a R$ 3,00 após a eleição. "Daqui a alguns dias, quem investiu vai quebrar a cara, porque o mercado tende a registrar calmaria. Não se trata de achar, mas de torcer para que o dólar caia", analisou.
Lula também adiantou que pretende manter uma excelente relação com o Congresso Nacional, caso seja eleito. "Terei mais competência do que eles (o atual governo) para manter as boas relações com o Congresso Nacional. Isso começa com a escolha de um bom líder de governo e com a manutenção do diálogo", afirmou.
Na reunião com os cerca de 70 empresários gaúchos, o petista explicou suas propostas de governo e falou sobre reforma agrária, taxa de juros e dívida interna. Na saída do encontro, alguns líderes empresariais avaliaram como positiva e esclarecedora a conversa.
Perguntado sobre a hostilidade do empresariado do Estado à sua candidatura, já que parte do mesmo grupo
promoveu uma caravana anti-PT na semana passada, Lula respondeu: "Não sabia disso. Se soubesse, teria vindo antes. Mas eles não foram nem mais nem menos cordiais do que em outros encontros do mesmo tipo de que participei", declarou.
Sobre o último debate, Lula afirmou que não acredita que haverá manipulação, como o PT considera que aconteceu em 1989, na edição do encontro com Fernando Collor de Mello. Destacou, ainda, que sua vitória no Brasil pode significar um avanço de setores progressistas na América Latina. E, rechaçando a pecha de socialista, o petista disse que ainda espera a "construção de um mundo mais justo, humano e fraterno".
José Serra visita Pelotas
Rio Grande e Santa Maria
Candidato tucano promete tirar Rio Grande do Sul do isolamento
O candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, fez sua última
visita ao Estado neste primeiro turno. Ontem, Serra passou pelo terminal de contêiners no Superporto de Rio Grande. Ele ainda participou de uma caminhada em Santa Maria, onde encerrou a visita pelo Estado. O objetivo à cidade universitária foi principalmente de prestigiar o presidente do PMDB gaúcho, deputado federal César Schirmer, candidato à reeleição.
Ainda pela manhã, o tucano esteve em Pelotas, onde participou de uma carreta pelo município sempre ao lado da candidata a vice-presidente, Rita Camata, e do candidato ao governo do Estado, Germano Rigotto (PMDB). Serra prometeu fortalecer as exportações de carne, ampliar a securitização agrícola e acelerar a duplicação das BRs 392 e 116, nos trechos entre Porto Alegre e Rio Grande. – O Brasil precisa ajudar o Rio Grande a voltar para onde nunca deveria ter saído, do centro de decisões políticas e econômicas do país, e não isolado do progresso e do desenvolvimento, como agora – afirmou. Ele também se encontrou com lideranças da Região no CTG Thomas Luís Osório. No discurso, elogiou os políticos gaúchos, atacou o PT e reiterou promessas de campanha, como a criação de 8 milhões de empregos. Em entrevista concedida à imprensa, o candidato destacou que a estratégia para estes últimos dias antes do 6 de outubro é fortalecer a campanha nos Estados e, ao ser questionado sobre estratégia de campanha e os ataques ao candidato do PSB, Anthony Garotinho, respondeu: – Eu acho que vocês não têm interesse sobre o Rio Grande, eu tinha coisa para falar do Rio Grande. De tititi, acho que já ficou na medida – justificou, dirigindo-se à saída. O tucano chegou a Porto Alegre por volta das 4h, dormiu na Capital e seguiu direto para o Interior.
Fogaça defende referendo para decidir sobre a Alca
"A realização de um referendo é a maneira mais pragmática e mais consciente de a população brasileira decidir se deseja que o País se integre ou não à Alca." A opinião foi manifestada pelo senador José Fogaça, candidato à reeleição, durante palestra para alunos da Fargs (Faculdades Rio-Grandenses) na noite de segunda-feira. Fogaça acentuou que o referendo tem a característica de ser uma posição tomada a partir do conhecimento da proposta, que será definida a partir das negociações. "Conhecidos os termos, comparando as perdas e os ganhos, o povo brasileiro terá mais condições de avaliar se as condições são vantajosas ou negativas para o País".
Ainda no entendimento de José Fogaça, caberá ao próximo presidente da República tomar uma decisão seríssima: se o Brasil vai entrar nas discussões da ALCA sozinho, com assento próprio na mesa de negociações, ou se vai entrar com a cara coletiva do Mercosul. Segundo o senador, a posição mais recomendável é o Brasil unir-se aos demais integrantes do Mercosul e negociar em bloco as suas exigências.
Arroio Dilúvio pode ficar livre de poluição em cinco anos
O Riacho Ipiranga, principal arroio canalizado de Porto Alegre, poderá ficar totalmente despoluído em até cinco anos. A previsão é do diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), Carlos Atilio Todeschini. Segundo ele, a limpeza do Arroio Dilúvio - como também é conhecido -, ocorreria simultaneamente a um programa socioambiental concebido pela prefeitura, destinado a ampliar o tratamento dos esgotos na Capital, que passaria dos atuais 27% para 77%. Com isso, a orla do Guaíba até a Praia de Ipanema, ficará propícia para banho.
Para as obras serem executadas, serão necessários cerca de R$ 300 milhões, a serem financiados pela Caixa Econômica Federal (CEF). O programa, elaborado por técnicos do Dmae, consiste no tratamento dos esgotos coletados nos sistemas Ponta da Cadeia e Cavalhada. O primeiro é responsável pelos esgotos sanitários de 500 mil habitantes, em mais de 35 bairros. No segundo sistema, são lançados esgotos de 200 mil habitantes, principalmente em sete bairros da Zona Sul. Estão previstas obras em redes coletoras, além da reforma e implantação de estações de bombeamento.
Mas só as políticas públicas não são suficientes. Os hábitos da população também precisam ser modificados.
"A primeira lei de limpeza urbana que o Município teve, por volta de 1770, recomendava 'que o cisco fosse jogado no Guaíba'", explica Todeschini. "Daí a resistência de grande parte da população em não querer parar de atirar dejetos no Dilúvio e em outros arroios."
União faz convênio com escolas estaduais para combater as drogas
O Grêmio Náutico União intensificou o engajamento de combate às drogas entre os estudantes da rede pública de ensino. Ontem, o clube lançou o projeto "União contra as drogas". Cerca de mil pessoas, entre crianças, adolescentes e adulto,s lotaram as arquibancadas do ginásio da sede do bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Durante a cerimônia, o União apresentou seus departamentos esportivos, atletas e suas conquistas nos últimos anos.
O projeto de combate às drogas prevê, numa primeira etapa, a participação de quatro escolas estadua is de ensino fundamental e médio da Capital, em um convênio desportivo com o União: Daltro Filho, Olegário Mariano, Piratini e Uruguai. O intercâmbio consiste em promover atividades de aperfeiçoamento aos professores de Educação Física das escolas envolvidas, sobre as modernas técnicas de treinamento esportivo em basquete e vôlei, cessão de material esportivo, além da premiação para os alunos de melhor aproveitamento escolar de cada colégio com uma semana de prática desportiva nas dependências do clube.
O presidente do Grêmio Náutico União, Carlos Alberto Pippi da Motta, anunciou que, a partir de agora, todo o material esportivo do clube levará estampado nos abrigos e camisetas o símbolo do projeto "União Contra as Drogas". Outras instituições de ensino deverão se incorporar ao programa, como as escolas estaduais Ildo Meneghetti, Timbaúva, Mário Quintana e Morro da Cruz.
A iniciativa do G.N. União tem o apoio da Fundação Tiago Gonzaga e da Subcomissão Mista de Valorização da Vida e Combate às Drogas da Assembléia Legislativa. O empresário Anton Karl Biedermann foi escolhido o patrono.
Petrobras reajusta em 9,7% o preço do óleo
A Petrobras confirmou ontem o reajuste de 9,7% sobre o preço do óleo combustível. Neste ano, a estatal já reajustou o preço do produto em 76%. O reajuste não tem efeito direto para o consumidor, mas tem forte impacto na indústria, principalmente as de alimentos e bebidas, metalurgia, secagem de grãos, pneus, de cerâmica e mineradoras.
O coordenador do Grupo Temático de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Carlos Faria, informa que o Rio Grande do Sul consome cerca de 500 mil toneladas de óleo combustível por ano, mais da metade utilizado pelos setores químico e de alimentos e bebidas.
Faria argumenta que o preço do óleo combustível, que é utilizado por caldeiras e fornos industriais, está condicionado ao dólar e ao mercado internacional. "Não há como a Petrobras não repassar o aumento. Caso contrário, a estatal sofreria uma defasagem muito grande em relação ao mercado", afirma Faria.
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação do Estado do Rio Grande do Sul
(Ftiars), Darci Pires da Rocha, explica que o setor de alimentos e bebidas repassa os aumentos do insumo de forma indireta ao consumidor final. "O problema é que são vários aumentos acumulados de outros insumos como, por exemplo, o da eletricidade", diz o dirigente.
Os demais setores que utilizam o óleo combustível não deverão sofrer grande impactos com aumento.
Segundo a área de compras da Klabin Riocell, que também utiliza óleo combustível, como cerca de 80% da celulose produzida é importada, e o seu preço aumenta com o dólar. Ou seja, normalmente quando o óleo combustível sobe, a celulose também está valorizada.
O diretor da Metalúrgica Nunes, Renato Nunes, relata que o óleo combustível representa apenas 2% das despesas da companhia. São de 5 mil a 6 mil litros consumidos por mês e gastos de R$ 12 mil a R$ 15 mil. "O aumento só seria um problema se fosse utilizado inúmeros fornos", pensa Nunes. Muitas metalúrgicas também utilizam o Gás Liquefeito do Petróleo (GLP) e a eletricidade para suprir suas necessidades.
Aumento é o terceiro que atinge o setor industrial em dez dias
O aumento do preço de óleo combustível é o terceiro repassado pela Petrobras em menos de dez dias e que atinge o setor industrial. Na semana passada, a Petrobras tinha aumentado em 5,7% o preço do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) para indústrias. Esta semana, a estatal repassou novo aumento no preço do GLP que vai para as indústrias também na casa dos 5%. A expectativa é de que este impacto seja repassado para o consumidor até do final do ano.
Nenhum aumento ainda foi anunciado para a gasolina e óleo diesel, que teriam impacto direto no bolso do consumidor. Segundo cálculos do setor, com base no preço do barril de petróleo a US$ 30,00 e o dólar a R$ 3,70 em média, a defasagem no preço dos dois combustíveis acumulada desde o início de julho está entre 20% e 30%.
Dólar cede e retorna para R$ 3,61
O dólar despencou pelo segundo dia consecutivo, com os bancos decidindo vender dólares. O mercado espera que a queda se mantenha nos próximos dias, mas o clima de tensão deve continuar. O câmbio oscilou forte durante todo o tempo e acabou cendendo 3,99%, para R$ 3,61. Na máxima, o dólar chegou a ser cotado a R$ 3,89. Em dois dias, a moeda recuou 7% em relação a seu fechamento recorde, R$ 3,88 na sexta-feira.
Ajudaram as atuações do Banco Central que, além de vender a moeda, comprou C-Bonds. A cotação dos títulos brasileiros mais negociados no exterior subiu 4,06% para 51,25% do valor de face. Na sexta-feira, o C-Bond chegou a ser vendido por 48,375% do valor de face, o pior nível desde 1995. O risco-país brasileiro (Embi+) calculado pelo JP Morgan caiu quase 6% para 2.225 pontos.
Ao contrário dos dias anteriores, o movimento não foi apenas de tesourarias. Operadores explicam que houve a entrada de exportadores no mercado, que evitavam fechar contratos na espera que o dólar subisse mais. A volatilidade no dia reflete que os bancos continuam especulando com a moeda. "Estamos muito próximos do vencimento de US$ 3 bilhões em títulos cambiais", lembra o diretor da Spinelli Corretora, Leão Machado Neto. O BC precisa rolar os papéis até o dia 17 de outubro.
O executivo do Lloyds TSB, Maurício Zanella, define o comportamento do câmbio ontem como uma correção técnica. "O dólar havia subido muito e os bancos não conseguiram manter as posições compradas neste nível. O risco de prejuízo é muito grande", diz. O BC já sinalizou que não vai permitir a moeda norte-americana encostar nos R$ 4,00. "Até a proximidade do vencimento vai haver pressão vendedora forte e o BC deve fazer algum anúncio para reduzir a força compradora", explica.
Com a calmaria no câmbio e baixo preço dos papéis, o Ibovespa registrou a quarta maior alta do ano, 4,35%, quase rompendo os 9 mil pontos. O volume, entretanto, mostra que os investidores continuam querendo ficar longe dos riscos, R$ 463,553 milhões. "Apesar do nível estar bastante baixo, os investidores estrangeiros devem esperar que haja uma tendência mais forte de alta. É pagar para ver", ressalta Machado.
As principais bolsas mundias registraram movimento de recuperação. Depois das fortes perdas de segunda-feira, os analistas passaram a recomendar a compra das ações. O Nasdaq disparou 3,55% e o Dow Jones 4,57%.
Artigos
Eleição, tecnologia e futuro
Waldir L. Roque
A eleição presidencial está se aproximando e os candidatos apresentam os seus programas de governo, usando sempre os mesmos chavões: prometo estimular, prometo apoiar, prometo combater isto e aquilo. Porém, o certo é que não podemos mais esperar para resolvermos graves problemas nacionais, dentre eles o de maior destaque que é a qualidade de vida dos cidadãos. Não basta prometer, tem que mostrar o caminho a ser trilhado, não apenas com programas de governo, mas pensando em programas de nação, com metas claras e muita objetividade. Melhorar a qualidade de vida passa pela melhoria de segmentos básicos como saúde e educação. O estado de miséria de grande parte da população brasileira é tamanho que algumas pequenas melhorias podem ser alcançadas sem grandes custos, mas para proporcionarmos um estado de bem-estar permanente é preciso muito mais, e isto significa uma melhor distribuição de renda, não com benefícios exclusivos de programas sociais, mas com a efetiva inserção dos brasileiros na economia, através da participação dos mesmos no mercado de trabalho. Para que isto aconteça, uma premissa básica é termos um crescimento econômico a uma taxa mínima que possa permitir termos um equilíbrio entre a demanda por trabalho e a taxa de crescimento. O crescimento econômico, em um mercado globalizado e onde o conhecimento está sendo a grande moeda, depende da capacidade científica e tecnológica da nação. Os chamados processos de inovação tecnológica, envolvendo desde as áreas humanas até a mecatrônica, desempenham um papel central para o crescimento econômico. Não podemos deixar de lado este fato, tornando-nos apenas agentes de consumo.
A maioria dos presidenciáveis discursa sobre a importância da inovação tecnológica, mas não deixam claro o que de fato pretendem fazer para sermos capazes de gerar inovações. No contexto brasileiro, a base das inovações deve ser de caráter incremental, ou seja, inovações de técnicas e processos que possam agregar valor aos produtos e resultados. Por isto, é importante que tenhamos alguns programas especiais de governo dirigidos para identificar e mapear os segmentos que podem agregar valor aos seus produtos com a inovação incremental. O enfoque deve ser dirigido a segmentos que produzem para o mercado interno, para potenciais empresas exportadoras e para as empresas que já estão exportando. No primeiro caso, a inovação incremental pode fazer com que os processos e produtos nacionais atinjam um padrão de qualidade que possa diminuir a demanda por produtos similares importados, no segundo caso a inovação pode agregar valor de forma que os produtos possam se tornar competitivos internacionalmente, abrindo assim a possibilidade de exportação e, no terceiro caso, a inovação incremental dará maior competitividade aos produtos, permitindo que estes permaneçam no mercado por mais tempo. Em todos os casos, estaremos promovendo uma ampliação no superávit do País e ampliando a nossa economia. Paralelamente a isso, o Brasil deve ter programas claros, com metas objetivas e condições adequadas políticas, sociais e financeiras, para buscar, a médio prazo, capacitação para criação de novas tecnologias com inovações radicais. Em todos os processos de inovação, quer radical ou incremental, a ação integrada do governo, academias e empresas é crucial para o sucesso.
Infelizmente, o que temos visto no Brasil é uma avalanche de boas intenções nos discursos, mas uma prática inconsistente e inconseqüente.
Colunistas
ADÃO OLIVEIRA
Dez anos de impeachment
Naquela manhã do dia 2 de outubro de 1992, até o sol nasceu envergonhado em Brasília.
A cidade vivia intensamente os últimos momentos de Fernando Collor no poder, num misto de orgulho e tristeza. Orgulho pela democracia forte do país que contemplava o impedimento de um presidente eleito pelas urnas sem sequer um soluço autoritário. Triste por ver defenestrado o primeiro presidente eleito por voto direto, depois de anos de ditadura e da farsa do colégio eleitoral.
Collor, há exatamente 10 anos, passou para a história como o primeiro presidente brasileiro punido com impeachment.
Dois anos antes - 15 de março de 1990 - vestindo terno azul e uma gravata bordô, Hermes, com prendedor e com muito gel nos cabelos, o jovem Fernando Collor de Mello, de 40 anos, assumia a presidência da República.
No mais autêntico estilo yuppie, ele, erguendo a mão direita à altura do peito, leu o juramento no Congresso Nacional, diante de duas mil pessoas que o aplaudiam delirantemente.
Uma bela imagem! Milhões de brasileiros assistiram a essa cena pela televisão. O mundo via o Brasil sair da ditadura.
Minutos depois, no Palácio do Planalto, com os votos de aproximadamente 35 milhões de brasileiros e com a confiança de 71% da população, Collor de Mello subiria a rampa do Palácio do Planalto para receber a faixa presidencial.
Nesse momento desaparece o jovem simpático que encantou o povo brasileiro defendendo os descamisados. Toma posse o arrogante, o prepotente.
Com postura imperial não permitiu que ninguém - nem os seus amigos de infância - o abraçasse. Collor estendeu o braço como que a sinalizar com aquele gesto que no exercício do cargo ele queria manter distância do passado.
Nessa época George Bush, pai de George W., imaginava que era Deus. Collor não queria nem saber quem era Deus!
Era a piada da época nos salões de Brasília.
O primeiro político a ouvir uma cobrança espinafrada do presidente Collor foi o então senador Fernando Henrique Cardoso. Fernando Henrique fora escalado para introduzir no plenário o novo presidente. Ao avistá-lo e com o dedo em riste, Collor cobrou:
"Senador, esperei pelo senhor até o último momento".
Constrangido e embaraçado pela cobrança, o senador Fernando Henrique lamentou não ter podido aceitar o convite para integrar a sua equipe na condição de ministro das Relações Exteriores.
Com um lay-out de vanguarda, Collor assumiu a presidência com estilo de revolucionário.
"Que se dane o protocolo", ele costumava dizer.
No dia da posse mandou cancelar o tradicional coquetel servido aos convidados de outros países, corpo diplomático e demais autoridades baseadas em Brasília. Os convidados foram recepcionados com vinho nacional e água mineral. E só.
Collor começou seu governo com o confisco da poupança e com um pacote econômico que causou confusão no mercado. A abertura de nosso mercado se deve a ele.
Mas criar fatos era sua especialidade: durante o governo jogou futebol de salão, ultrapassou a barreira do som pilotando um caça F5, passeou de porta-aviões, submarino, jet-sky, potentes motos e ultraleve.
Depois a peteca caiu. A corrupção tomou conta de seu governo e a comunidade internacional passou a desconhecê-lo. Isolado na Casa da Dinda, Collor viu o Congresso reagir à sua arrogância.
Collor marcou sua relação com o Congresso Nacional pela truculência. Ele circulava no Congresso de cabeça erguida e cara fechada, mantendo a mesma postura imperial e narcisista que ostentava no Palácio do Planalto.
Pagou caro por isso. Foi cassado.
No dia do impeachment ele saiu pela porta da frente do Palácio do Planalto. De mãos dadas com a mulher Rosane.
Antes de subir no helicóptero que o levaria para o ostracismo por longos 10 anos, teve tempo de fazer um gesto obceno ao ouvir de um manifestante:
"Revista ele, revista ele!".
CARLOS BASTOS
Alto astral no comício de Tarso e Lula
O PT gaúcho promoveu uma grande e entusiasta concentração popular no Largo da Epatur, anteontem, pelas candidaturas de Lula à presidência da República e Tarso ao governo. O comício mostrou uma massa petista em alto astral, e até assanhada com a possibilidade iminente de Luis Inácio Lula da Silva ganhar a eleição já no primeiro turno. Caras-pintadas, um grande número de bandeiras, e principalmente muita vibração foram as marcas do evento que marcou o ponto alto da campanha do PT no Rio Grande do Sul.
Lula contagiou-se com o ambiente e chegou a chamar Porto Alegre, que já está na quarta administração municipal do PT, e que em 1998 conquistou o Palácio Piratini, como a capital vermelha da América Latina e do país. E procurou conter o entusiasmo exagerado da massa, e disse que os militantes não devem colocar o salto alto, "pois a eleição ainda não está ganha". Cautela não é demais nesta antevéspera do pleito, e como consta no clipe da televisão com um grupo de trabalhadores de uma empresa de mudança, que dizem que ela poderia ser feita de uma vez só - referindo-se ao dia 6 de outubro - mas que pode ser necessário fazer em duas vezes.
O candidato do PT à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou o comício de Porto Alegre para rebater os críticos da condição dele não possuir diploma universitário. E sustentou que as três eleições em que participou e foi derrotado - uma por Fernando Collor de Mello e outras duas por FHC - serviram como um curso de doutorado para quem não passou pela universidade. Lula estava inspirado em sua manifestação e disse que houve um tempo em que alguns acreditavam que só a luta armada poderia levar o povo ao poder. E ressaltou que lideranças sindicais como ele e Olívio Dutra optaram por fundar o Partido dos Trabalhadores, e estavam no rumo certo, pois a criação de um partido político está se revelando um caminho acertado para se chegar ao Poder.
Tarso Genro, Olívio Dutra, Miguel Rossetto, Paulo Paim e Emília Fernandes foram muito festejados pela multidão petista, juntamente com Lula. E até o companheiro de chapa do petista, o senador José Alencar, do Partido Liberal, chegou a ser aplaudido após seu discurso, apesar de ter sido alvo de vaias e apupos, quando foi anunciada sua presença com os demais candidatos no palanque.
E ontem pela manhã Lula teve um encontro com setenta lideres empresariais gaúchos. E na entrevista coletiva disse que ele é que vai escolher o momento para anunciar os integrantes de seu governo, caso seja eleito, inclusive quem ocupará o Ministério da Fazenda e a presidência do Banco Central, cujo anúncio está sendo reclamado por alguns setores do mercado.
FERNANDO ALBRECHT
Os testes do Amazon
Com exclusividade a página mostra a foto do protótipo do utilitário esportivo Amazon 4x4 que a Ford está testando no Nordeste. O lançamento deve ser no início de 2003 e o carro será fabricado pela Ford de Camaçari. Aquela que era para estar aqui, lembram? O diretor geral da Band, Bira Valdez, passeava em Fortaleza quando viu quatro destes utilitários, usando um disfarce apenas razoável - as placas eram de Camaçari. Bira colou atrás dos carros e conseguiu fotografá-los mesmo sem consentimento dos pilotos. Ainda não se conhece a motorização, mas pelo jeitão do carro assemelha-se a um Focus.
Bira Valdez/Divulgação/JC
Reclamações do campo I
O presidente da Farsul, Carlos Sperotto, conversou na manhã de segunda-feira com o presidente Fernando Henrique Cardoso, que queria saber dele como andava o setor primário gaúcho. Sperotto não se fez de rogado e enumerou os pontos que considerava bons e ruins. Entre estes últimos, lamentou que na minirreforma tributária esteja embutida a cobrança de 27,5% de Imposto de Renda na fonte na venda de gado em pé, a partir de janeiro.
Reclamações do campo II
Isso arrepiou os cabelos até de pecuaristas carecas. Quem foi o gênio que teve essa idéia é pergunta que todos os ruralistas se fazem. O impacto disso no preço da carne e em toda a cadeia produtiva é fácil imaginar. Se deixarem soltas as rédeas da Turma do Leão não demora e pagaremos IR até sobre o ar que respiramos. O presidente Fernando Henrique anotou a reclamação e agora o remédio é esperar que o Congresso tome alguma atitude.
O convite
A exemplo de outros candidatos, Lula teve uma reunião com empresários gaúchos ontem de manhã no Sheraton Hotel. Representantes de entidades como a Fiergs, Farsul e Federasul não foram. O convite partiu do empresário Carlos Smith - leia-se Ciacorp. Segundo um dos convidados ausentes, ficou claro que não haveria um debate mas apenas a fala do candidato, sem direito à réplica ou tréplica. Ou seja, segundo esta fonte, serviria apenas para marcar presença e dar prestígio a Lula.
Rodovia sem ponte...
A propósito da falta de uma ponte na rodovia que liga Montenegro a Pareci Novo, a RS-124, moradores do vizinho município de Harmonia chamam atenção que ela deve ser inaugurada amanhã. Sem a ponte, claro. No trecho já aconteceram vários acidentes, inclusive com mortes. E contam que passam por problema parecido.
Em novembro de 2001 foi inaugurado com pompa e festividades trecho ligando Harmonia com São Sebastião do Caí.
..e sinalização falha
Antes da festa propriamente dita, contam os moradores, vieram os engenheiros do Daer, que fizeram uma reunião com os delegados do Orçamento Participativo, com o intuito de motivar a comunidade para participar da solenidade. Foi lhes externada a preocupação com a qualidade do asfalto e a sinalização "defeituosa e incorreta". Isso foi constatado pelos técnicos e foi prometida uma solução imediata. Está na mesma até hoje.
Querência amada
O comício do PT no Largo da Epatur foi um negócio, com a militância eufórica já festejando a conquista do poder. O único senão foi que a dupla Luciano e Zezé di Camargo cantou a música Querência Amada
, de Teixeirinha, que vem a ser praticamente a trilha sonora oficial do candidato Celso Bernardi, do PPB, usada no seu espaço na rádio e TV.
Britto na Band
Na entrevista que deu ontem ao Jornal Gente da Rádio Band, Antônio Britto nem parecia que estava em queda nas pesquisas. Leve e bem-humorado, o ex-governador frisou várias vezes que cumpriu seu papel e que a soma das intenções de voto das oposições mantinha-se igual desde o início das pesquisas. Ou seja, o PT permanece com um terço e os contrários a ele com dois terços.
Lei Záchia
O prefeito João Verle sancionou a já chamada Lei Záchia, do vereador Fernando Záchia (PMDB), que permite o parcelamento em até oito vezes das multas dos pardais. É extensiva a outros tributos municipais, por suposto. Vai beneficiar milhares e milhares de pessoas que não podiam arcar com as pesadas multas na hora de pagar o IPVA.
Tangos e boleros
Dublê de dono de bar (O Girassole, na Vieira de Castro, 435) e cantor romântico, o veterano Edgar Pozzer lança dia 8 à noite, no Gondoleiros, um CD de tangos e boleros. Depois haverá baile com o conjunto Impacto. No Girassole, Pozzer tira chope, passa a comanda para a cozinha, fecha a conta, dá desconto e canta, tudo ao mesmo tempo. Dizem que o segredo é seu ghost singer , o empresário Belmiro Zaffari, que sempre fica em mesa próxima.
Editorial
CENÁRIO E VIGILÂNCIA EXTERNOS DÃO POUCA MARGEM AO BRASIL
A campanha eleitoral continua farta em excelentes intenções para o mandato que se inicia em janeiro de 2003.
Porém, que ninguém se iluda, a situação dependerá mais dos fatores externos, de olho no comportamento econômico-financeiro do presidente eleito. Com as ameaças que pairam sobre a economia mundial, é um problema afrouxar o ajuste fiscal. Ao contrário, talvez até aumentado para 4% do PIB é que haverá condições de trazer segurança para novos investimentos no País. Se o eleito for da oposição, a cautela e a vigilância dos agentes financeiros internacionais serão redobradas. Os compromissos com a estabilidade, superávit primário, combate à inflação, saldo positivo na balança comercial e tudo aquilo que faz uma boa governança estarão sendo observados lá no estrangeiro, mesmo que a economia mundial comece a se recuperar, puxada pelos Estados Unidos. Porém, até que chegue 2003 e um novo inquilino no Palácio do Planalto, temos de aguardar os acontecimentos que afetarão nossas vidas, mesmo ocorrendo a milhares de quilômetros, no Iraque, por exemplo. Guerra na região, além de abrir as portas do inferno terá conseqüências sobre o petróleo, o Iraque tem as segundas maiores reservas do mundo, daí, inclusive, a suspeita sobre os reais motivos da anunciada intervenção bélica dos EUA, com ou sem apoio da ONU e do seu Conselho de Segurança, onde a Rússia desponta com poder de veto e armamento nuclear. Na hipótese de que a turbulência não seja maior da que ocorre nos ativos das Bolsas, dos C-Bonds, do dólar em queda mas em irreais R$ 3,60, da taxa de risco, que passa dos 2000 pontos-base, ou 20%, e dos 18% na Selic, o presidente emergente das urnas terá de manter o prumo.
Com a contenção dos gastos governamentais, estará aberto o caminho para os investimentos do setor privado, viés contrário das teorias de John Maynard Keynes. O ordenamento jurídico brasileiro também impôs a austeridade no poder público, através da Lei de Responsabilidade Fiscal e da Emenda Constitucional nº 32, a qual proíbe que Medidas Provisórias sejam editadas com o fim de congelar, seqüestrar ou modificar as regras nos ativos financeiros, como ocorreu no Plano Collor. Os melhores economistas prevêem uma lenta retomada da economia mundial, acentuando-se a partir do segundo semestre de 2003. O medo e a aversão ao risco continuarão e, com isso, restará margem de manobra restrita ao Brasil, o mundo dos negócios nos olhará com desconfiança ao conceder crédito. Menos gastos, mais arrecadação, cobrando menos mas de mais empresas e pessoas físicas, o que implica na solução para o rombo previsto com o fim da CPMF, da alíquota de 27,5% do IRPF e de menos um por cento no CSLL das empresas. Se vencer a situação ou uma oposição serena e pragmática do ponto de vista das premissas financeiras e econômicas, que seriam mantidas, em fevereiro o risco-Brasil pode cair para 900 pontos e chegar em meados do ano que vem em 700 pontos. O déficit externo em conta corrente manter-se-á declinante, qualquer coisa em torno aos US$ 15 bilhões, financiado integralmente pelo investimento estrangeiro direto, inflação de 5,5% e o PIB crescendo, pelo menos, 3%.
Estas são as melhores projeções, os cenários virtuosos e o que se deseja. São os famosos eixos macroeconômicos que sustentam o arcabouço da recuperação nacional, seja qual for o presidente. Fora disso, amargaremos um 2003 com incertezas, mais inflação, taxas de juros e de risco altas, prolongamento da aversão ao crédito para o Brasil, enfim, tudo aquilo que não queremos. Então, neste caso, o futuro a Deus e a nós pertence, basta sermos competentes.
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10/02/2002
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