Serra deixa a Saúde e briga pelo Planalto
Serra deixa a Saúde e briga pelo Planalto
Tasso Jereissati insiste em aliança com PFL
BRASÍLIA - José Serra não poderá mais espiar o Palácio do Planalto pela janela do quinto andar do Ministério da Saúde. Ontem, o candidato tucano à Presidência deixou o cargo que ocupou nos últimos quatro anos. Assinou os despachos do dia, ainda de manhã, no apartamento funcional; à tarde, no ministério, despediu-se, um a um, dos assessores mais chegados.
Depois, levou Barjas Negri, o secretário-executivo que assume a pasta, ao presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto. Barjas foi acompanhado da mulher e dos três filhos. Quando transmitir o cargo oficialmente hoje, Serra estará livre para se dedicar exclusivamente à campanha.
O candidato a herdeiro do Planalto já está se esforçando. Para quebrar a tédio de fim-de-governo, convocou coletiva de imprensa às pressas para falar de álcool em gel. Dentro de seis meses, os supermercados só poderão vender o produto nessa forma, para diminuir o risco de acidentes domésticos. ''Não vou falar de jantar. Não cabe misturar. Muito menos com álcool'', brincou Serra.
O jantar, no caso, terminou às três da manhã de ontem, na casa do ministro das Comunicações e provável coordenador da campanha tucana, Pimenta da Veiga. O convidado de honra foi o rebelde Tasso Jereissati, governador do Ceará preterido por Serra como opção na disputa nacional.
Para todos os efeitos, Serra e Tasso acertaram os ponteiros, e o cearense concordou em fazer o discurso de saudação ao candidato. Mas não deixou de defender a reedição da aliança com o PFL que elegeu FH duas vezes e aproveitou para provocar o desafeto. ''Com essa disparidade nas pesquisas ninguém vai propor uma composição com Roseana Sarney que a exclua da cabeça-de-chapa.''
Disse trabalhar com o cenário de dois representantes governistas no primeiro turno e a hipótese de eles se entenderem em um eventual segundo turno. Para o governador, manter as portas abertas para um diálogo com o PFL ''é, no mínimo, uma questão de inteligência''. O encontro foi fruto de operação de Pimenta, do presidente da Câmara, Aécio Neves, do ex-governador Eduardo Azeredo e do líder do partido no Senado, Geraldo Mello (RN). Pensava-se que Tasso iria a um jantar no Alvorada com FH, Serra, o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcellos, e o presidente do PMDB, Michel Temer. Tasso não foi. Tratava da reconciliação na casa de Pimenta. Serra acabou se deslocando para a casa de Pimenta.
Acusação - Em seu último dia de ministro, Serra começou a sentir os efeitos colaterais de ser candidato. O Tribunal Superior Eleitoral recebeu uma representação contra ele da advogada Carla Maria Nicolini, de Recife (PE). Ela requer a apuração de suposta propaganda eleitoral, domingo passado, no programa do SBT Domingo Legal, comandado por Gugu Liberato. Argumenta que só pode haver propaganda depois de 5 de julho e, em sua opinião, Serra aproveitou o espaço para tirar proveitos eleitorais. A advogada pediu a punição dele, do PSDB e da emissora de televisão.
Oração e abstinência no jantar
Lula reza com representantes da Igreja Universal e recebe lista de reivindicações para fechar aliança com liberais
BRASÍLIA - O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, descobriu, na noite da última terça-feira, que terá de se adequar ao ambiente se quiser fechar a aliança com o PL. Cabeça baixa, mãos postas, orou antes do jantar oferecido pelos bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, integrantes do Partido Liberal. Não lhe foi servida bebida alcoólica e Lula não fumou a cigarrilha guardada no bolso interno do paletó.
A oração coube ao deputado Bispo Wanderval (PL-SP). ''Meu Deus. Muito obrigada por esse alimento. Que o mesmo nos dê força para trabalhar e que o melhor também tenha na mesa de todo o povo brasileiro'', pediu o bispo. Lula entoou o ''amém''.
A mulher do bispo Rodrigues, Enir, foi pessoalmente para a cozinha preparar os pratos servidos no jantar que reuniu, além de Lula e Rodrigues, os deputados Luiz Antônio Medeiros e Valdemar Costa Neto, ambos do PL, e José Dirceu, do PT. Peixe ao molho de camarão, peru a Califórnia e carne assada. ''Ela queria servir lula à dorê ou lula frita, mas preferimos um badejo pois ele estava de regime'', justificou o bispo Rodrigues. ''Só consegui deixar de comer a torta de chocolate'', lamentou Lula, que anda num esforço concentrado para perder cinco quilos.
Logo no início do encontro, os liberais não esconderam de Lula a irritação com o deputado Milton Temer (RJ), que protestou contra a aliança, em entrevista ao Jornal do Brasil. ''Querem é aparecer na televisão e criar fato político'', queixou-se Rodrigues. Outro alvo foi o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues. ''Na eleição, ele ligou pedindo apoio e depois atacou o PL. É incoerente e mentiroso'', acrescentou.
No cardápio da conversa, sucessão, claro, dívida externa e sapos. O bispo Rodrigues quis saber sobre a dívida externa. Uma nova negociação dos juros da dívida foi defendida por Lula. Mas a exposição acabou interrompida por um estrondoso coaxar no jardim da casa. ''Esse barulho é música ou é sapo mesmo?'', perguntou Medeiros. No dia seguinte, estava preocupado. ''Será que Lula pensou que estava relembrando a frase do ''sapo barbudo'' do Brizola?''
O bispo Rodrigues colocou na mesa da sobremesa as exigências para fechar o apoio ao PT na eleição: o partido não deve defender o aborto e a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Pediu que o PT mantenha as ''conquistas'' do governo FH, como a estabilidade da moeda e o Plano Real. Lula garantiu que os avanços serão preservados, mas o programa de governo só será discutido em maio.
Nos braços liberais, por falta de opção
Lula explica que aliança com PL foi a que restou ao partido depois que aliados tradicionais optaram por outros caminhos
O PL foi o partido que sobrou ao PT no jogo de composições eleitorais, daí o esforço do candidato petista à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, em fechar a aliança com os liberais-evangélicos. Mesmo que boa parte da legenda critique a aproximação. ''Nossa prioridade era a coligação com os aliados tradicionais - PSB, PDT e, mesmo o PPS'', explicou Lula ontem à tarde, no Rio de Janeiro. ''Mas todos têm projeto de candidatura própria, o que é legítimo. Por isso, o investimento no PL, além da expectativa de um acordo com o PCdoB.''
É quase a história inteira. Lula e o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), querem o senador do PL mineiro, José Alencar, como vice na chapa do partido. Até porque não existe no horizonte partidário outro parceiro disponível. Como o próprio Lula reconheceu, o PSB lançou o governador do Rio, Anthony Garotinho na corrida ao Planalto. O PDT de Leonel Brizola fechou com o PPS do candidato Ciro Gomes. O PMDB gravita entre Roseana Sarney, do PFL, e o tucano José Serra. Restou mesmo o PL, partido que se define de oposição ao governo federal, mas, até o ano passado, ajudava a aprovar projetos de interesse de Fernando Henrique Cardoso e mantinha cargos no governo.
Como o PT justifica jantares e encontros com os evangélicos do PL e adversários históricos, como o deputado federal Luiz Antônio Medeiros, opositor de Lula no meio sindical na década de 80? Lula e Dirceu cochicharam antes de responder à pergunta, na sede do PT do Rio. Coube ao presidente da legenda, usar a palavra. Enrolou, lembrou que a convenção nacional do partido, no ano passado, deu poder aos dois para negociar alianças. Voltou atrás sobre o fato de o PT ser agora um partido de ''centro-esquerda''. Justificou que foi mal interpretado. E alegou que, nada ainda foi decidido. ''A palavra final será do diretório nacional, em junho'', afirmou Dirceu.
Tão mal se explicou, que Lula achou por bem acrescentar informações. Foi aí que reconheceu: o PT ficou com o PL por falta de outros parceiros no mercado partidário. Em Brasília, antes de seguir para o Rio, depois de um café da manhã com o senador José Alencar, foi mais diplomático. ''O PT nasceu na oposição para chegar à situação'', afirmou. ''Hoje, os mesmos que criticam a decisão de nos aproximarmos do PL foram os que nos criticaram no passado ao afirmar que perdemos eleições por não termos fechado aliança com o centro.''
E não teme ter de passar a campanha justificando, para os eleitores históricos do PT, o acordo com os liberais? Lula sorriu. ''O PT é um partido jovem. Não tem eleitores históricos.'' Veio ao Rio para festejar os 22 anos de existência do partido. E lamentou que a comemoração não fosse completa. A legenda, observou, está de luto pelos assassinatos dos prefeitos de Santo André, Celso Daniel, e de Campinas, Antônio da Costa Santos, o Toninho.
Confederação de interesses
Partido Liberal abriga desde governistas até políticos que apóiam Roseana
BRASÍLIA - A página do PT na Internet dá uma pista de como é difícil definir ideologicamente o PL, com quem Lula negocia. Ali está a lista de votação do projeto que altera os direitos trabalhistas. Na bancada do Partido Liberal, 10 deputados votaram contra o projeto. Outros 9 apoiaram a proposta do governo e estão listados na página petista como parlamentares que ''votaram contra os trabalhadores''. Para aumentar a confusão, 5 deputados liberais preferiram ficar longe do plenário na hora da decisão polêmica.
O PL é uma confederação de interesses. Mistura a bancada da Igreja Universal do Reino de Deus com políticos desgarrados de outras legendas. Enquanto evangélicos e parlamentares paulistas flertam com a candidatura de Lula, a bancada da Bahia segue as ordens do ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Todos cabos eleitorais de carteirinha da candidata do PFL, Roseana Sarney.
O partido inchou nos últimos anos, graças a uma política generosa de admissões. Dobrou a bancada de 12 parlamentares que elegeu em 1998. Com isso, garantiu preciosos 40 segundos na campanha eleitoral pela televisão.
No Acre, o presidente do diretório regional é o deputado estadual Aureliano Pascoal, primo do ex-deputado Hildebrando Pascoal, cassado e preso sob a acusação de comandar um esquadrão da morte, formado por policiais. Na época dos crimes, o comandante da PM acreana era Aureliano. O partido atua no estado ao lado do pequeno PSL, dominado pelo deputado federal José Alexandro, na fila da cassação, acusado de ajudar na fuga de traficantes. A possível aliança constrange os petistas. ''Se houver acordo, eles terão de expulsar os políticos ligados à criminalidade'', diz o senador Tião Viana.
É muito raro ver o PL votar unido no Congresso. O líder, Valdemar Costa Neto, antes governista, brigou e se transformou em oposicionista feroz. Em boa parte das votações, leva com ele os parlamentares da Universal.
Bem mais difícil é levar para o lado rebelde da bancada uma de suas maiores estrelas, o sindicalista Luiz Antônio Medeiros, um dos articuladores da mudança na lei trabalhista, que o PT considera um golpe contra os trabalhadores. Os parlamentares da região Norte também são fiéis governistas.
Lula não quer todo o PL. Está interessado em vantagens isoladas. Almeja o tempo na TV e gostaria de ter como vice o senador José Alencar (MG). Além de boa imagem entre os empresários, Alencar tem um patrimônio estimado em R$ 1 bilhão. O PT também cobiça os 5 milhões de votos que a Igreja Universal diz ter cativos. Em outras eleições, os pastores chegaram a comparar o candidato petista ao demônio. Hoje, acenam com apoio.
Invasão de sem-terra adia sessão sobre transgênicos
MST acusa deputado de querer aprovar relatório na surdina
BRASÍLIA - Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) invadiram e ocuparam ontem o gabinete do deputado Confúcio Moura (PMDB-TO), relator da Comissão Especial sobre Transgênicos. Os manifestantes reclamavam da atuação de Moura, acusando-o de querer aprovar na surdina seu relatório - favorável à liberação dos alimentos geneticamente modificados. A reunião da Comissão foi cancelada.
A ocupação começou por volta das 14h. Sem o bloqueio da segurança do Congresso, os cerca de 30 manifestantes tomaram sem problemas o gabinete 573 do anexo III da Câmara. ''Só saímos daqui quando o deputado aparecer. Estamos preparados para acampar por uma semana'', desafiava João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST. ''Queremos que o relator abra o projeto de liberação para debate.''
Os manifestantes rapidamente cobriram as paredes de cartazes e abriram uma faixa contra a liberação dos transgênicos no país. Deputado pelo PMDB, Moura teve a sala tomada pelo vermelho das bandeiras do PT e do MST. Funcionários do parlamentar trabalhavam, ao mesmo tempo em que crianças, adolescentes e idosos se amontoavam no apertado gabinete. Do lado de fora, um integrante do MST, fantasiado como um personagem do filme ''Pânico'', posava para os fotógrafos, com uma cesta de alimentos ditos transgênicos, que o MST levou para presentear o deputado.
Força-tarefa não se entende no caso Daniel
PT critica desorganização das polícias
Exatamente um mês após o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, a força-tarefa encarregada das investigações entrou em conflito. A Polícia Federal prendeu na terça-feira Andrelison dos Santos Oliveira, o André Cara Seca, mas não liberou o suspeito para prestar depoimento à Polícia Civil na tarde de ontem. O deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, integrante da comissão do PT que acompanha o caso, cansou após duas horas de espera no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Deixou o prédio dizendo que as duas corporações ''sabem muita coisa e não podem ficar disputando o preso.''
Antes disso, Greenhalgh tinha elogiado o que chamou de ''salto de qualidade'' na investigação, mas lembrou que a falta de sigilo continuava prejudicando o desfecho do caso. ''Vazou informação e os suspeitos vazaram da cidade'', ironizou. O também deputado petista José Genoino, candidato ao governo de São Paulo, engrossou as críticas. ''A Polícia Civil não se entende com a Federal nem com a Militar, todas batem cabeça por falta de comando'', afirmou. ''Se estão investigando há um mês e não chegaram à nenhuma conclusão, há algo errado.''
Andrelison negou aos policiais federais ter participado do crime e acusou o próprio irmão, Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho, de integrar a quadrilha que seqüestrou e matou o prefeito. O delegado Edson Santi, do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), divulgou ontem fotografias de mais quatro suspeitos: Itamar Messias Silva dos Santos, Juscelino da Costa Barros, o Cara de Gato, Mauro Sérgio Santos de Souza, o Serginho, e Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro, apontado como líder do grupo.
Antecedentes - Monstro agia na favela Pantanal, no Sul da capital paulista, para onde Daniel foi levado. Santi não quis afirmar que são estes os assassinos do prefeito, mas confirmou a participação deles em vários seqüestros-relâmpago, todos com cativeiros na favela Pantanal.
Para marcar o primeiro mês da morte de Daniel, o grupo Fórum pela Paz organizou um ato público em Santo André no fim da tarde de ontem. A concentração ocorreu em frente ao Painel da impunidade, instalado no Paço Municipal da cidade para registrar os dias passados desde o crime.
Artigos
Muito barulho através do tempo
José Carlos Azevedo
O relatório do Clube de Roma, ''Limits to Growth'' , de 1972, fez prognósticos sombrios sobre escassez de energia, poluição, extinção de espécies animais e vegetais e crescimento da população mundial, reafirmados, em 1981, por seu presidente, A. Peccei, em ''100 Pages Pour l'avenir''. R. Malthus, 180 anos antes, já havia feito considerações alarmantes sobre o crescimento da população humana e dos meios de subsistência. Nenhuma dessas previsões se confirmou.
P.R. Ehrlich, biólogo e diretor do Centro de Estudos Populacionais da Universidade de Stanford, autor do The Population Bomb (1968), previu catástrofes maiores: ''A batalha para alimentar a humanidade acabou. Nos anos 70, o mundo passará por inanição de grandes proporções; centenas de milhões de pessoas morrerão de fome''. ''Se eu fosse jogador, apostaria que a Inglaterra não existirá no ano 2000.'' Ehrlich deve ter influenciado os que vêm danos à natureza na débil fumaça de um cigarro e outros exageros que servem apenas para alertar os que devastam matas e florestas, assoreiam rios e lagos, caçam e pescam de forma predatória e degradam a natureza. As previsões de Ehrlich não se confirmaram.
J.L. Simon, professor da Universidade de Maryland, autor do importante livro The Ultimate Resource 2 (1998), refuta as previsões alarmistas e, contrariando ''ambientalistas'', diz que o mundo está cada vez melhor. O consumo de calorias nos países pobres aumentou de 1.932kcal, em 1961, para 2.650kcal em 1998. O crescimento anual da população mundial caiu de 2%, em 1960, para 1,26% em 2000, prevendo-se 0,46%, em 2050, e a estabilização, em 2100, de 11 bilhões de habitantes. Há energia útil em abundância e petróleo para mais 150 anos. A biodiversidade, diz ele, citando estudo da World Conservation Union e da Sociedade Brasileira de Zoologia, foi pouco afetada na Mata Atlântica e nenhuma das 291 espécies de animais foi considera extinta. O mesmo ocorreu nos EUA e em Porto Rico.
A poluição, outra litania de ''ambientalistas'', pode ser controlada: as concentrações de dióxidos de enxofre e carbono, em Londres, são hoje iguais às de 1580. Se os maiores produtores de lixo, os EUA, mantiverem o ritmo atual, quantidade acumulada até o fim deste século, caberá num pequeno quadrado com 28km de lado. Simon cita a American Meteorological Society, diz que o El Niño causou prejuízos de 4 bilhões de dólares e benefícios de 19 bilhões, resultado de temperaturas mais altas, vidas salvas, economia de combustíveis e diminuição de tornados e furacões.
Não há fundamento científico definitivo sobre o aquecimento da Terra devido à emissão de gases, e o Protocolo de Kyoto, diz Simon, reduzirá para 1,9 grau C o aumento de 2,1 graus C de temperatura previsto para 2100. Medições recentes na Antártida (New York Times, 18/1/02) provam que ali o degelo diminuiu e a espessura do gelo aumentou, prenunciando o esfriamento da Terra e, não, seu aquecimento. Ao contrário do que alardeiam muitos, não haverá o derretimento das calotas polares nem o desaparecimento de cidades litorâneas.
O recente The Skeptical Environmentalist, Measuring the Real State of the World, de B. Lomborg, da Universidade de Aarhus, antigo ativista do Greenpeace, prova que a futurologia alarmista está errada. Muitos dos que criticam Simon e Lomborg apenas dizem que eles não integram a grei ''ambientalista''. Esquecem que Newton, Galileu, Gauss e outros sábios não souberam resolver o difícil problema de determinar a longitude no mar, o que foi feito por um relojoeiro inglês, J. Harrison.
Há muitos estudos recentes sobre essa questão, cabendo ressaltar os de Edward Osborne Wilson, da Harvard, em seu importante livro The Future of Life (2002) e de Richard Leakey, em The Sixth Extinction (1998). Opiniões tão diversas de cientistas competentes mostram que, nos dias correntes e devido à sua alta complexidade teórica, são fantasiosas, apenas literárias e sem fundamento científico, as previsões alarmantes sobre o futuro do meio ambiente. Muita falação e pouca fundamentação, solo fértil para aproveitadores e eco-pirados: houve cinco grandes extinções de vida na Terra, sem interferência humana, que renasceu da mesma maneira. ''A ignorância adquire mais confiança que o conhecimento: são os que sabem pouco e, não, os que sabem muito, que asseveram, de forma enfática, que este ou aquele problema nunca serão resolvidos pela ciência.'' (C. Darwin, The Descent of Man).
Corrigir danos à natureza, incluindo os que se repetem cansativamente - a poluição na Lagoa Rodrigo de Freitas e as inundações na cidade de São Paulo - depende apenas da ação governamental e da educação de cada um. Há 700 anos, no reinado de Eduardo I, um londrino foi executado por queimar betume, o que contrariou o édito real baixado para reduzir a fumaça em Londres (Simon, pág. 241).
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
Mordendo a própria língua
Vista assim do alto, é de uma irrelevância abissal a cena em que o senador José Alencar declara-se ''à esquerda de Lula'', e o presidente do PT, José Dirceu, posiciona seu partido ao centro. O fundamental a ser discutido a respeito da aliança PL/PT não é isso. Até porque esse parece ser o único ponto em comum entre os dois parceiros.
O que importa examinar é justamente o que os separa e, considerando a extensão oceânica dessa distância, o debate então concentra-se na seguinte questão: quais as razões de um e de outro para marchar juntos na eleição e, presumidamente, no governo?
Nesse aspecto, o PL, justiça se faça, pelo menos tem mais clareza do que pretende. Já disse que quer influir no programa econômico petista e avisou que não aceitará na campanha a abordagem - muito menos a defesa - de temas como o aborto e a união entre pessoas do mesmo sexo. Nenhuma palavra se ouviu até agora a título de ''alto lá'' da direção petista, que também parece não se ter dado ao trabalho de perguntar a Marta Suplicy - aquela que seria a maior vitrine do PT na sucessão presidencial, por administrar São Paulo - o que ela acha dessas exigências e se está também proibida de tocar naqueles assuntos que lhe marcaram a trajetória pública.
O braço auxiliar da Igreja Universal do Reino de Deus sabe, portanto, o que quer do PT. Mas o PT até agora apenas esboçou difusa tese a respeito da ampliação de seu arco de alianças, pendente à direita depois que a esquerda se recusou a aceitar seu comando como força hegemônica.
Os defensores da coligação, à falta de argumentos objetivos, queixam-se de ser patrulhados exatamente por estarem dando as costas ao sectarismo que antigamente impunha limites e critérios às companhias com as quais o partido andava. Querem ser pragmáticos, mas não exercem a razão pura do pragmatismo, que é a exposição dos objetivos concretos.
Tomemos como exemplo a comparação clássica da aliança do PSDB com o PFL. Muitos leitores petistas reclamam que se impõem reparos ao acerto ora em curso com o pessoal do bispo Macedo, mas nada se diz a respeito da junção de pefelistas e tucanos. Ledíssimo engano. Primeiro, porque faz oito anos que essa aliança é assunto - praticamente o único - da cena política brasileira.
Segundo, os dois partidos aliaram-se dizendo à sociedade que pretendiam tais e quais reformas, que apoiavam a estabilidade monetária, o ajuste fiscal, a abertura da economia, as privatizações. Ou seja, rusgas de execução à parte, lá atrás, em 1994, um sabia exatamente o que queria do outro e ambos tinham objetivo comum ao qual se juntaram outros partidos depois de conquistado o poder.
Em terceiro lugar, e aí reside a contradição que pode complicar a vida do PT ante o eleitorado, quem costuma criticar todo e qualquer movimento político que considera esdrúxulo e fora de sua cartilha são os petistas, que agora mordem as próprias línguas. E correm o risco de morder as bochechas quando forem sendo r eveladas as combinações estaduais a que se dá o PL. Por exemplo, na Bahia, está com Antonio Carlos Magalhães, e, no Acre, com aliados de Hildebrando Pascoal. Em Alagoas, resvala em Fernando Collor, na figura do deputado João Caldas.
Sempre se poderá dizer que é tudo gente que até outro dia pertencia à base de FH. Sim, mas e daí? O PT não quer justamente se diferenciar ''disso tudo que está aí''?
A julgar pela argumentação de muitos que reclamam da falta de críticas aos acertos bastante pouco cerimoniosos do centro à direita, fica a impressão de que o PT cansou de fazer o papel do inquisidor e reivindica lugar de destaque naquele campo que ele mesmo qualifica de pecador.
Patrulha gastronômica
O mesmo PT que não vê o menor problema numa aliança política sem afinidades ideológicas quase transformou em caso de Estado um simples almoço entre o deputado Paulo Delgado e o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Arthur Virgílio, na sexta-feira passada.
José Dirceu queria soltar nota oficial do partido desmentindo que os dois tenham almoçado juntos, apenas porque a fertilidade mental que vigora em Brasília na modorra das sextas-feiras supôs que os dois tenham se encontrado para acertar os rumos da sucessão.
Ora, no máximo Delgado e Virgílio concordaram com a marca do vinho australiano que pediram. Entre outros motivos porque nem um nem outro tem delegação do PT e do PSDB para acertar o que quer que seja em nome dos partidos.
Leve impressão
Pode ser apenas suposição infundada. Mas os movimentos de tucanos, pefelistas e pemedebistas nos bastidores indicam que tem muita gente achando que está na hora de o PFL fazer umas contas objetivas e começar a pensar que talvez mais valha uma presidência do Congresso na mão do que uma campanha à Presidência da República à deriva.
Editorial
CRISE DE CONFIANÇA
A informação é oficial e traz inquietação para os brasileiros que acreditaram na previdência complementar. Dos 339 fundos de pensão existentes no país, pelo menos 66 não têm condições de garantir o pagamento integral dos benefícios. Não conseguiram se enquadrar às novas regras segundo as quais as receitas devem cobrir 70% do total de benefícios concedidos ou contratados. Serão necessários R$ 8,74 bilhões para corrigir o desequilíbrio atuarial.
Quase a metade do rombo (R$ 4,1 bilhões) se refere ao rombo da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), abalada pelo peso de milhares de aposentadorias aprovadas no ano passado. Destacam-se também as dificuldades do CBS Previdência, fundo de pensão dos funcionários da Companhia Siderúrgica Nacional, cujo rombo atinge R$ 435 milhões, quase dois terços do patrimônio de R$ 630 milhões. A Secretaria de Previdência Complementar (SPC) acaba de nomear um administrador especial para ajudar a direção do CBS. Na prática, trata-se de intervenção branca. Comprova-se assim a gravidade da crise dos fundos de pensão.
Diante da intervenção da SPC, a presidente da empresa, Maria Sílvia Bastos Marques, reagiu com indignação. ''Fiquei sabendo pela imprensa. Um anúncio desta natureza não pode ser feito desta forma. Ontem mesmo, falei com o ministro (da Previdência) sobre a minha surpresa e desconforto com o impacto da notícia sobre a companhia''. A experiente e respeitada executiva fez o que dela se podia esperar: saiu em defesa da imagem da empresa que administra e pediu uma reunião de emergência em Brasília. Mas o que está em jogo vai muito além dos interesses da CSN. A notícia sobre o déficit estrutural dos fundos de pensão traz desconforto nacional, pois põe em xeque os mecanismos de complementação da previdência que são oferecidos aos trabalhadores. Aumenta a descrença nas alternativas à Previdência oficial - o que conflita com a estratégia de incentivar a classe média a aderir a planos privados e individuais, desonerando o INSS.
O governo Fernando Henrique acreditou que é possível repetir no Brasil a experiência de nações desenvolvidas e de economias vizinhas como a do Chile. Nesses países, a Previdência pública destina-se basicamente às camadas mais pobres da população. O futuro das famílias de classe média depende de sua capacidade de poupança e das aplicações em pecúlios e fundos de pensão. O modelo funciona bem e dá excelentes resultados. Os fundos de pensão transformaram-se nos principais atores do mercado de capitais, com participação acionária disseminada pelas principais empresas. Conhecem-se poucos casos de malversação. Nos Estados Unidos, em caso recente, a direção da Enron empurrou ações supervalorizadas pela goela do fundo de pensão de seus funcionários. Muitos serão obrigados a rever os projetos de aposentadoria. Mas ninguém duvida que os responsáveis pela falcatrua irão parar na cadeia.
No Brasil, a previdência complementar já chegou à maioridade, mas não amadurece. Parece que está sempre engatinhando. Não inspira confiança à sociedade. E não se confirma como uma opção real de investimento. A SPC está certa ao apertar o cerco em nome do equilíbrio atuarial. Enquanto os fundos de pensão não se enquadrarem, será muito difícil mudar o perfil da Previdência oficial.
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02/21/2002
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