Serra briga com Garotinho









Serra briga com Garotinho
Lula mantém liderança, mas perde para Ciro na simulação de segundo turno

Pesquisa do Ibope divulgada ontem confirma a liderança do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e a tendência de crescimento de Ciro Gomes (PPS), da Frente Trabalhista, à Presidência. Ciro aparece com 26% das intenções de voto. Na pesquisa anterior, feita há dez dias, ele tinha 22%. O levantamento mostra também que o tucano José Serra, candidato do presidente Fernando Henrique Cardoso, continua sua trajetória de queda. Ele aparecia com 15% na última pesquisa e, agora, tem 13%. Este índice o deixa numa situação de empate técnico com o candidato do PSB, Anthony Garotinho, o último colocado entre os concorrentes não-nanicos, que aparece com dois pontos percentuais a menos.

Lula mantém os mesmos 33% da última avaliação. Garotinho, que vinha caindo a cada pesquisa e que enfrenta uma grave crise na campanha, passou de 10% para 11%. É um crescimento, mas dentro da margem de erro da pesquisa, que é de 2,2 pontos percentuais.

A grande surpresa, porém, é a clara vitória de Ciro sobre Lula na simulação de segundo turno. São sete pontos percentuais de diferença: 47% contra 40%. Na pesquisa anterior, em simulação semelhante, os dois estavam numa situação de empate técnico. Na sondagem divulgada ontem, em outras simulações sobre o segundo turno Lula vence tanto Serra, por 48% a 36%, como Garotinho, por 49% a 34%.

O Ibope ouviu dois mil eleitores, em 145 municípios, nos dias 21, 22 e 23 deste mês. Desde meados de maio o instituto vem fazendo duas pesquisas nacionais por mês sobre a intenção de voto para presidente.

Até junho, Lula se manteve em torno dos 38%, aproveitando-se da boa repercussão que tiveram os programas de televisão de seu partido, o PT. Na primeira semana de julho caiu para uma faixa em torno de 33%, 34%, onde se mantém até agora.

Já Ciro, em maio tinha 10%, estando em quarto lugar. A partir de meados de junho começou a subir e no início de julho já estava em segundo, com 18%. Há dez dias, tinha 22% e, agora, subiu mais quatro pontos percentuais, chegando aos 26%. Sua diferença em relação a Lula vem caindo a cada enquete: agora foi de apenas sete pontos percentuais.

Seu desempenho parece desmentir as análises de que o crescimento teria fôlego curto, por ter sido motivado apenas pelas inserções na TV, no fim de junho. Ele está mantendo por mais tempo que seus adversários a tendência de alta - comum a todos os candidatos logo em seguida às aparições nos programas de TV.

Serra tem uma curva inversa à de Ciro. De 16% em meados de maio, subiu a 19% com os programas de TV do PSDB. Mas, a partir do início de julho, começou a cair insistentemente. Teve 15% em meados do mês e, agora, está com 13%, em empate técnico com Garotinho, que tem 11%.


FH citou Lula como um alerta
Meta era mostrar Ciro como inimigo

BRASÍLIA - O aceno do presidente Fernando Henrique de apoio a Luiz Inácio Lula da Silva, em caso de segundo turno contra Ciro Gomes, teve alvo certo. Mostrar ao empresariado que Ciro é o inimigo do governo. O presidente qualificou de ''irresponsáveis'' e ''desatinadas'' as propostas do candidato do PPS. ''Agora é guerra'', avisou FH.

Nas últimas 48 horas, o presidente intensificou as conversas com líderes de PMDB, PSDB e PPB. Em todas, se mostrou motivado a levar José Serra ao segundo turno. Disse estar irritado com setores do empresariado que se empolgaram com Ciro. ''Se acham que vão derrotar o governo elegendo Ciro, vão ter que engolir o Lula'', desabafou. ''É melhor que fiquem com as barbas de molho e reflitam'', recomendou.

O presidente classificou de ''traidores e desleais'' os tucanos que deram apoio a Ciro. Foi indireta para o candidato ao governo do Ceará, senador Lúcio Alcântara (PSDB), que elogiou Ciro em nota oficial.

O presidente do PSDB, José Aníbal, e o líder na Câmara, Jutahy Magalhães, desmentiram que o presidente tenha garantido apoio a Lula no segundo turno. Preocupado, Serra telefonou ao presidente. ''Fernando Henrique me apóia. Vou para o segundo turno e é isso que ele me disse que acha'', disse


'Evangelização' de Garotinho irrita Arraes
BRASÍLIA - Após mais um dia de especulações sobre a manutenção de sua candidatura à Presidência, o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, garantiu que a única crise em sua campanha é financeira, mas reafirmou que não deixará a disputa.

Os problemas, no entanto, não param aí. Durante a reunião do comando da campanha em Brasília, Garotinho ouviu críticas do próprio presidente do partido, Miguel Arraes, sobre o foco nos eleitores evangélicos. ''Não concordo com a 'evangelização'. Devemos falar para todos os brasileiros. Não faz sentido em conduzir a campanha só para os evangélicos'', afirmou Arraes. Para reforçar, o presidente do PSB divulgou uma nota com os pontos fundamentais do discurso partidário, contra a atual política econômica neoliberal, a recuperação do ensino público e das Forças Armadas, auditoria na dívida pública e revisão das privatizações.
Embora Garotinho rejeite a ''evangelização'', admite que a estratégia da campanha tem os evangélicos na mira. ''A estratégia não é uma 'evangelização', mas de fortalecer a campanha no grupo que tem uma predisposição maior de votar no candidato'', defendeu-se. É certo, no entanto, que ele pretende criar cinco milhões de ''comitês evangélicos'', onde os fiéis fariam campanha a partir de casa na vizinhança.

''Garotinho não está fazendo campanha para o partido e nesse modelo o PSB não vai fazer campanha para Garotinho. Uma campanha política não se faz em igrejas, mas defendendo propostas'', reclamou o candidato do PSB ao governo do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg. A baiana Lídice da Mata e o paulista Jacó Bittar ameaçam abandonar a disputa aos governos estaduais. As justificativas são o discurso de Garotinho e a falta de recursos para a campanha. Bittar até já entregou sua desistência à Justiça Eleitoral de São Paulo, e Lídice tomará uma decisão até sábado.

''A preocupação que existe no momento é com a questão financeira. A arrecadação está minguando e é evidente que isso dificulta manter os compromissos assumidos'', reconhece o candidato a vice-presidente, deputado José Antônio Almeida. Os candidatos também querem maior presença de Garotinho nos Estados, mas ele mesmo admite que restringiu as viagens ao Sudeste por falta de verbas.


Frente decide manter Martinez
BRASÍLIA - A cúpula da Frente Trabalhista manterá o presidente do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), como coordenador nacional da campanha de Ciro Gomes à Presidência. Acusado de envolvimento com o ex-tesoureiro de Fernando Collor, Paulo César Farias, o deputado chegou a renunciar. Ele teria usado cheques de PC para comprar uma emissora carioca, a TV Corcovado (hoje CNT). Tanto o candidato como o presidente do PDT, Leonel Brizola, porém, rechaçaram o afastamento. ''Não admito que se fale mais nisso'', disse Ciro, através do líder do PTB, Roberto Jefferson.

A decisão foi sacramentada em reunião na casa de Martinez, em Brasília. Ciro não falou, mas Brizola e Jefferson não pouparam justificativas. ''A operação foi feita antes de Martinez ser parlamentar, PC não estava ainda sob investigação e está declarada no IR'', garantiu Jefferson. O empréstimo teria sido incluído no inventário de PC Farias. ''Ele nos garantiu que continua pagando para o inventariante, Augusto Farias'', falou, referindo-se ao irmão de PC. Jefferson disse que não cobrou nenhum documento de Martinez.

Brizola afirmou que as operações de PC Farias já foram investigadas pela Justiça e pelo Congresso. ''Isso é uma impertinência . Deixem a campanha de Ciro em paz'', reclamou. A assessoria de Augusto Farias declarou que, de fato, ocorreram negociações entre Martinez e o irmão de PC. Mas não revelou o valor pago ou quantas parcelas.

A permanência foi decidida para evitar desgastes. Para o senador Roberto Freire (PE), presidente do PPS, a aliança prevê que os presidentes dos partidos da Frente tomariam juntos as decisões. Freire conta com o bom senso de Martinez. ''Creio que possa esclarecer as denúncias ou teria saído'', afirma. Segundo ele, todos têm consciência que a campanha é o objetivo. ''Não há dossiês contra mim ou Ciro, não vamos deixar que contaminem nossos nomes.''


Governo prepara retaliação a ''infiéis''
BRASÍLIA - O governo pode iniciar um processo de retaliações aos antigos aliados que hoje trabalham para eleger Ciro Gomes (PPS) presidente. Estão nas mãos do secretário-geral da Presidência, Euclides Scalco, duas relações de cargos federais em Santa Catarina e Bahia, que tucanos e pemedebistas locais querem tirar do controle de correligionários do presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), e de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Eles comandam a ala do partido que não aceita apoiar o candidato José Serra (PSDB-SP).

Uma das listas foi entregue a Scalco na quarta-feira pelo deputado federal João Matos (PMDB, que chefiou a delegação de aliados do ex-prefeito de Joinville Luiz Henrique (PMDB), candidato ao governo de Santa Catarina. Junto com a relação de dez cargos ocupados por pefelistas, foram apresentados recortes de jornais catarinenses mostrando que os aliados de Bornhausen estão engajados na campanha de Ciro.

''Cumprimos a nossa parte. Agora cabe ao governo exigir coerência daqueles que ocupam cargos e estão fazendo oposição'', afirmou o secretário-geral do PSDB catarinense, Jacó Anderle, que acompanhou a comitiva. Scalco disse a eles que seria complicado fazer substituições no final do governo, mas ficou de conversar com o presidente Fernando Henrique e dar uma resposta semana que vem.

A outra lista foi entregue pelos líderes baianos do PMDB, Geddel Vieira Lima, e do PSDB, Jutahy Jr.. Eles querem que o governo substitua aliados de ACM em cargos federais da Bahia. É uma ratificação do pedido feito no início do ano, quando o PFL rompeu com o governo.

''Continuamos fazendo pressão, mas não tenho esperança nenhuma'', disse ontem o deputado Benito Gama (PMDB-BA), que desistiu da disputa pelo governo baiano porque os cargos federais continuaram com aliados de ACM. O apadrinhamento de chefes de repartições ajuda nas eleições estaduais porque mostra prestígio político junto ao poder central.

A lista dos catarinenses inclui o presidente da Eletrosul, Ruberval Pilotto, indicado por Bornhausen, que os tucanos querem substituir. Entre os cinco cargos pleiteados, está o de diretor-técnico do Sebrae, ocupado por Vinícius Lummertz, que trabalha por Ciro.


Começa corrida ao Senado no Rio
Primeiras pesquisas de opinião revelam os preferidos do público no início da campanha eleitoral

A campanha eleitoral para o Senado ainda não esquentou no Rio, mas alguns levantamentos prévios junto ao público já apontam a posição dos candidatos do Estado às duas vagas disponíveis. O deputado do PMDB Sérgio Cabral Filho, presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio, lidera as sondagens realizadas por institutos de pesquisas na capital e no interior fluminense, conforme antecipou o Informe JB ontem. Em segundo lugar, com uma diferença considerável, vêm Paulo Alberto Monteiro de Barros, o Arthur da Távola (PSDB), e Leonel Brizola (PDT), empatados tecnicamente.

Para o líder nas pesquisas, o fato decisivo que o torna o preferido entre os concorrentes é, em parte, sua atuação junto à terceira idade. ''Os meus 380 mil votos na eleição passada estão se multiplicando'', acredita Cabral Filho. Episódios como as denúncias de irregularidades envolvendo a aquisição de uma casa de veraneio em Mangaratiba, ''estão completamente superadas, pois tanto o Ministério Público Estadual quanto o Federal arquivaram o processo'', acredita.

Arthur da Távola, que conhece os números de uma dessas pesquisas, frisa que está em segundo lugar na preferência do eleitor. ''Apesar do empate técnico, o Brizola vem em terceiro, com uma diferença de dois pontos'', analisa.

Ele acrescenta que a queda do presidenciável do PSDB à Presidência da República, José Serra, nas pesquisas não interfere em seu desempenho eleitoral. Mas cobra dos candidatos proporcionais ''mais politização e fidelidade partidária''. Ele ressalta que ''é um erro'' o distanciamento das campanhas a deputado estadual e federal das candidaturas majoritárias e ao Senado, ''como vem ocorrendo no caso da coligação Todos Pelo Rio'', comenta. Estão na aliança o PMDB, o PSDB e o PFL.

''No momento em que um candidato proporcional insere na propaganda os nomes de quem apóia ao Senado, ao governo estadual e à Presidência da República, valoriza a campanha'', argumenta o senador.

O parlamentar, candidato à reeleição, crê que superar os 1,8 milhão de votos obtidos há oito anos, ''é uma tarefa difícil com a atual legislação''.

''Atualmente, a lei é muito mais proibitiva do que voltada para o esclarecimento do público. Em 45 dias de propaganda eleitoral gratuita, os candidatos ao Senado terão apenas 22 programas'', reclama.

Para o ex-governador Leonel Brizola, porém, ''a campanha ainda não começou''. Acostumado às batalhas eleitorais, Brizola está empenhado, no momento, em coordenar as campanhas presidencial, de Ciro Gomes, e estadual, de Jorge Roberto Silveira. ''Não tive tempo, ainda, para procurar os eleitores e comunicar-lhes que concorro ao Senado'', esclarece.

''Tão logo comece a propaganda eleitoral, pretendo me dirigir à população do Rio e apresentar a minha candidatura'', promete, certo de que esta atitude irá melhorar seu desempenho nas pesquisas.

Em quarto lugar nas pesquisas realizadas aparece o bispo evangélico Marcelo Crivella (PL). Ele desconfia dos resultados. Segundo sua assessoria, ''não é compreensível que, em menos de um mês, ele despenque do segunda para o quarto lugar''. Procurado pelo Jornal do Brasil, o candidato foi localizado mas não retornou o telefonema até o fechamento desta matéria.


Artigos

Como tratar o lixo da esquerda?
Cid Benjamin

É forçoso reconhecer que as experiências socialistas não tiveram a marca do fortalecimento da democracia. Mais do que uma suposta incompatibilidade do socialismo com a democracia, a meu ver isso se deveu a circunstâncias históricas (agressões militares, asfixia econômica etc). No entanto é inegável que essas circunstâncias ajudaram a consolidar traços autoritários na doutrina socialista. O que não impede que, em tese - por oferecer patamares mínimos de educação, cultura e vida material a todos - o socialismo crie melhores condições para o exercício democrático da cidadania. Para se convencer disso, é só olhar para o papel determinante do poder econômico em qualquer eleição nos países capitalistas (e não só nos do Terceiro Mundo) ou, ainda, para a exclusão social de parcelas expressivas em boa parte desses países, o que tem conseqüências diretas no exercício da cidadania.

Hoje, a maioria das correntes de esquerda faz profissão de fé democrática e defende uma imprensa crítica e independente. Nenhuma admite como modelo o regime stalinista ou seus descendentes diretos.

Mas, na prática, nem sempre é assim. Não poucos reagem mal quando têm os calos pisados. Por paradoxal que pareça, frases como ''a publicação disso favorece a direita'' ou ''é melhor só tratar dessa questão num outro momento'' são muito ouvidas.

Nos últimos meses, por duas vezes me vi envolvido em situaçõe s assim. A primeira, em janeiro, uma semana após a morte do prefeito Celso Daniel. Fiz uma reportagem que falava da existência de um esquema de corrupção na prefeitura. E informava que, pouco antes de ser assassinado, Celso Daniel vinha se chocando com figuras centrais do esquema. Concluía afirmando que esses fatos deveriam ser levados em conta nas investigações sobre sua morte. O mundo quase veio abaixo. Ouvi coisas como: ''Esse tipo de matéria não ajuda a campanha de Lula e deveria ficar para outro momento''. Como se, no tal ''outro momento'', não fossem aparecer também ''razões de Estado'' para engavetar assuntos incômodos.

Domingo passado, outra matéria que fiz despertou reações semelhantes, embora mais localizadas, por envolver personagem menor. Ela contava que o TCU considerara irregular o pagamento de diárias pelo Crea-RJ a seu presidente (hoje licenciado). A justificativa para o pagamento é que o beneficiário mora em Niterói e a sede do órgão é no Rio - portanto, em outra cidade. Note-se que o percurso - de não mais de 20 quilômetros - era feito em carro com ar-condicionado, motorista e combustível pagos pelo Crea. O pagamento de tais diárias, claramente imorais, já era comentado por engenheiros e arquitetos e no PT - partido pelo qual o beneficiário é candidato a deputado. Não encontrei ninguém que as defendesse. Mas houve quem, sabendo da preparação da matéria, viesse a mim ponderar sua ''inconveniência'' (alguns o faziam declaradamente a pedido de assessores do beneficiário). O argumento não era novo: poderia ''prejudicar o PT e a campanha de Lula''.
Mas, afinal, quem prejudica a esquerda? Quem se envolve em crimes, irregularidades e imoralidades ou quem não aceita empurrá-los para baixo do tapete?

Como jornalista pretendo continuar defendendo a publicação do que seja relevante para a sociedade. É a melhor forma de dignificar a profissão. Mais importante até do que isso, é a melhor forma de exercer a cidadania e defender a democracia.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

A hora da máquina
Mais que a intervenção da agência reguladora nos preços dos combustíveis - já determinada pelo presidente -, o que os aliados de José Serra querem de Fernando Henrique Cardoso é a revogação pura e simples do aumento no preço do botijão de gás de cozinha e, se possível, a demissão do presidente da Petrobras, Francisco Gros. De preferência, com humilhação.

Tanto o PSDB quanto o PMDB estão considerando o aumento das tarifas públicas, sobretudo na Petrobras, um crime de lesa-campanha eleitoral. Os líderes dos dois partidos na Câmara, Jutahy Júnior e Geddel Vieira Lima, levaram as críticas aos núcleos de governo e de campanha com relatos dramáticos sobre o efeito dos aumentos sobre o eleitorado.

Baianos, ambos passaram os últimos dias em campanha no Estado e, de lá, principalmente do interior, voltaram perplexos com o prejuízo.

''As pessoas dizem que o governo não quer ganhar a eleição e algumas até acreditam em teorias conspiratórias, segundo as quais Fernando Henrique estaria empenhando-se pessoalmente na eleição do PT que faria um governo desastroso, permitindo a volta dele ao poder em 2006'', conta Jutahy.

O líder do PSDB é até ameno ante a exaltação do pemedebista Geddel Vieira Lima: ''Votamos contra a privatização da Petrobras que, por não ser uma empresa privada, deve se submeter a políticas públicas. Nesses termos, o aumento do gás foi um equívoco que o presidente Fernando Henrique deveria assumir pessoalmente. O senhor Gros não tem o direito de lustrar a própria biografia atendendo à lógica dos lucros da Petrobras, prejudicando o cotidiano das pessoas e causando um dano profundo na candidatura do governo.''
Pois se o caro leitor estranha o tom, ainda não viu nada. Daqui para frente o que se pretende na campanha de Serra é ofensiva total. Mãos na massa com força equivalente a uma candidatura que tem o apoio do presidente da República e de 15 governadores. A bordo dessa estrutura, reza a nova norma, Serra perderá a eleição apenas se quiser.

Mas talvez não soe algo eleitoreira a regra?

''Não tem importância, depois a gente manda o Ciro responder na televisão se ele acha que a revogação do aumento do preço do gás é eleitoreira'', parte para o ataque o líder do PMDB.

Ontem mesmo, os governistas já começaram a conversar mais objetivamente a respeito de algumas idéias esboçadas no dia anterior, ainda durante a reunião do candidato com os governadores aliados.

São três os pontos considerados prioritários: mudança da postura do candidato, cujo ânimo para afetividades eleitorais não anda lá grande coisa; cobrança de firmeza por parte de correligionários, sem tolerância para posições dúbias; discussão profunda sobre a melhor maneira e o momento ideal para Fernando Henrique entrar na campanha.

Nos últimos dias o presidente vem ouvindo apelos para que tome a iniciativa de falar abertamente a respeito da campanha, com uma abordagem franca sobre os acertos, as omissões e os equívocos de seu governo.
Os políticos acham mais eficiente Serra apresentar-se como candidato da ''melhora'' e não da ''mudança''. Este nicho, avaliam, está ocupado por Ciro.

A exposição dos acertos de FH teria o óbvio objetivo de estabelecer uma ligação positiva para Serra. Ao terreno das omissões pertenceria aquilo que o governo não pôde fazer - salário mínimo decente, por exemplo - e, no campo dos erros, estariam os aumentos das tarifas. A respeito destes, a idéia seria o presidente se desculpar e revogar logo o que for possível.

E antes que os mais afoitos saiam concluindo que há alguma intenção de pôr a máquina do governo a funcionar em prol da candidatura de José Serra, cumpre informar que é disso mesmo que se trata.

É público
Equivoca-se o candidato Ciro Gomes quando reage indignado às questões a respeito do empréstimo que seu coordenador de campanha, José Carlos Martinez, tomou a Paulo César Farias ainda durante o governo Collor.
Ciro rechaça o que chama de ''provocações'', dizendo que não há razão para se envolver ou se preocupar com empréstimos de ''dinheiro privado, entre pessoas físicas''.

O dinheiro do falecido PC Farias, administrado pelo irmão deputado, é tudo menos privado. Aliás, Collor perdeu o poder e Farias foi condenado à prisão exatamente pela natureza pública do patrimônio na seara de ambos amealhado.

Posto em sossego
O PFL aderiu oficialmente à oposição, mas se esqueceu de sair dos cargos federais que ocupa nos Estados.
Jorge Bornhausen continua dono de bons pedaços em Santa Catarina, e assim ocorre país afora.

O Planalto, por sua vez, também não pede devolução. Vai ver não consegue abrir mão do pefelê, cuja eficácia administrativa é de renome mundial.


Editorial

HORA DE AVANÇAR

Por determinação do presidente Fernando Henrique, o governo voltará a controlar o preço do gás de cozinha. A medida vem ao encontro das críticas que o candidato tucano ao Planalto, José Serra, vem fazendo à política de preços da Petrobras. É fácil entender sua natureza conjuntural. Difícil, porém, é desfazer a aguda contradição entre a intervenção e o modelo competitivo que se adotou no setor energético.

No regime de mercado, os preços sobem e descem. Refletem os custos. Quando insumos são importados ou têm cotações internacionais (caso do gás e do petróleo), os preços finais embutem a volatilidade do dólar. Não por ganância mas por racionalidade. Se subirem demais, haverá incentivo à importação. Já o congelamento de preços desorganiza a produção e traz resultados funestos.

O presidente da República cita a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) como exemplo bem- sucedido de intervenção. Sabe-se, contudo, que a política tarifária da Aneel, de prioridade absoluta aos consumidores, contribuiu para os gargalos do setor elétrico. Em meio à crise do racionamento, o diretor-geral da Aneel foi ameaçado de demissão.

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) tem de ficar atenta. Mas é bom lembrar que a Petrobras enfrenta concorrência e deve satisfação a milhares de acionistas. Em vez de voltar atrás, o melhor que o governo tem a fazer é avançar e privatizar a Petrobras.


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07/26/2002


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