PFL exige retirada da candidatura de Serra









PFL exige retirada da candidatura de Serra
Esta é a condição para o partido voltar ao ninho tucano e apoiar candidato do PSDB à Presidência

O presidente do PFL, senador licenciado Jorge Bornhausen, informou que iria apresentar ontem à noite ao presidente Fernando Henrique Cardoso, em jantar no Palácio da Alvorada, os resultados de uma pesquisa interna do partido na qual a maioria concorda em apoiar um candidato do PSDB à Presidência da República desde que não seja o senador José Serra (PSDB-SP). "Cabe ao PFL mostrar que o quadro político atual não levará o candidato do governo à vitória", disse.

A direção do PSDB também se antecipou ao jantar no Alvorada e informou que a retirada da candidatura de Serra está descartada. Serra é acusado pelo PFL de ter inviabilizado a candidatura da ex-governadora Roseana Sarney. O episódio provocou a saída dos pefelistas do governo, rachando a base aliada.

Bornhausen anunciou que, na avaliação que faria, no jantar, sobre o quadro eleitoral deixará claro que ainda há tempo para o candidato governista ser substituído. "Há tempo de sobra para encontrar uma convergência e garantir a vitória", disse, enfatizando sua opinião de que Serra não agrega partidariamente e que seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto provam isso.
O reunião de ontem à noite no Alvorada incluia também a participação do presidente do PSDB, deputado José Aníbal, do coordenador político da campanha de Serra, deputado Pimenta da Veiga, além do vice-presidente do PFL, senador José Jorge, ex-ministro de Minas e Energia.
O vice-presidente do PFL, senador José Jorge, disse que a campanha de Serra "não teve a capacidade de aglutinar, o que a tornou uma candidatura de alto risco", razão por que o PFL não a apóia. Jorge argumenta que, numa campanha vitoriosa, deve haver união de toda a base governista, a exemplo do que ocorreu nas duas últimas eleições.

Para isso, no entanto, é preciso um candidato que una todo mundo, e Serra não une. "A situação no momento é muito difícil para a base, incluindo nós, do PFL, que fomos governo até há pouco tempo", disse José Jorge. "Queremos disputar uma eleição com chance de vitória, e com Serra não tem chance. A campanha de Serra não teve a capacidade de aglutinar, o que a tornou uma candidatura de alto risco, e essa candidatura, com certeza, nós não vamos apoiar". Jorge ressaltou, no entanto, que quem deve dizer se o candidato deve mudar é o presidente Fernando Henrique Cardoso.

Índice de rejeição é de 87%
O vice-presidente nacional do PFL disse que a reunião de ontem à noite no Palácio da Alvorada havia sido marcada para o PFL levar oficialmente a Fernando Henrique o resultado da pesquisa feita semana retrasada entre as bancadas do partido na Câmara e no Senado, governadores e prefeitos pefelistas em relação ao candidato José Serra.

A pesquisa mostrou que 87% dos entrevistados não aceitam Serra, mas gostariam de voltar à base do governo, se o candidato fosse outro.

Em relação a um eventual pedido de CPI para apurar denúncias de cobrança de propina quando da privatização da Companhia Vale do Rio Doce e contribuições para a campanha de Serra para o Senado, José Jorge defendeu a realização de investigações pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, embora considere isso complicado.

No entanto, ele observou que, quando começa esse tipo de denúncia, ela não pára mais. Foi o que, segundo ele, aconteceu a ex-governadora do Maranhão e ex-candidata do PFL à Presidência da República Roseana


PSDB descarta mudança
O presidente do PSDB, deputado José Aníbal, disse ontem, após se reunir com o deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG), coordenador político da campanha do pré-candidato do PSDB à presidência da República, senador José Serra, que, no jantar de ontem à noite no Palácio da Alvorada com dirigentes do PFL, o PSDB iria reafirmar a candidatura Serra. "Não adianta chover no molhado", disse Aníbal sobre a informação de que o presidente do PFL, senador licenciado Jorge Bornhausen, insistirá na substituição do nome de Serra para restabelecer um acordo com o governo.

Aníbal ressaltou o interesse do PSDB em manter entendimentos com o PFL para as eleições de outubro, mas disse que isso não implica mudar o nome do candidato.

Aníbal ressaltou que as denúncias sobre a suposta tentativa de propina no leilão de privatização da Vale do Rio Doce não têm vinculação com Serra. "Isso não tem nada a ver com Serra nem com o PSDB e, se tem alguma coisa que apurar, que se apure", disse.

Ele prevê que o candidato tucano enfrentará, ao longo da campanha, outros momentos difíceis. "Mas estamos preparados para enfrentar todas as ondas", disse, destacando que, a partir de junho, quando as candidaturas estarão homologadas pelas convenções, terá início a parte objetiva da campanha, ou seja, os candidatos vão apresentar seus programas.


Candidato diz que denúncia é "trololó"
O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, classificou ontem, durante sua visita a Alagoas, como "trololó eleitoral" e "tititi" as acusações de corrupção envolvendo o empresário Ricardo Sérgio de Oliveira, seu ex-caixa de campanha, e de ter mantido um suposto caixa-dois na campanha eleitoral de 1994.

Reportagem publicada neste fim de semana pela Veja afirma que Ricardo Sérgio, ex-diretor do Banco do Brasil, cobrou do empresário Benjamin Steinbruch uma comissão de R$ 15 milhões pela ajuda para formação do consórcio vitorioso na privatização da Companhia Vale do Rio Doce, em 1997. Ricardo Sérgio foi caixa de campanha de Serra durante a eleição ao Senado, nas campanhas de 1990, 1994 e 1996.

Na chegada em Maceió, Serra afirmou que as acusações do caso Vale eram "trololó eleitoral". Em entrevista entre um evento e outro em Arapiraca, Serra novamente se defendeu: "É tititi, é casca de banana jogada aqui e acolá".

O candidato tucano afirmou que uma CPI para apurar suposta propina na privatização da Companhia Vale do Rio Doce "não faz sentido, mas a oposição tem seu direito de pedir".
"Não temo desgaste porque não tenho nada a ver com isso", disse, e defendeu a investigação "se houver algum sentido".

Serra considerou ser "maluca" a acusação de que recebera R$ 2 milhões para sua campanha ao Senado, em 1994, mas só registrara o recebimento de R$ 95 mil, segundo a revista Veja.

Ele disse que o empresário Carlos Jereissati, dono do grupo La Fonte e irmão do ex-governador cearense Tasso Jereissati, de fato contribuiu para sua campanha ao Senado de 1994. Mas garantiu que as doações foram legais e registradas na Justiça eleitoral.

Após discursar em um ginásio de esportes e lançar o Programa Bolsa-Alimentação em Arapiraca, Serra disse que é contra a instalação de uma CPI para apurar a denúncia.

Sobre a repercussão negativa que seu nome enfrenta no Nordeste, Serra afirmou: "Tem gente que fala que eu não gosto do Nordeste, mas essa gente é a oligarquia responsável pelo atraso na região. Tenho amor pelo Nordeste".

Requentada, afirma FHC
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que são "requentadas" as acusações de que o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio pediu R$ 15 milhões como propina ao empresário Benjamin Steinbruch na privatização da Vale.

Em entrevista concedida ontem de manhã à rádio Eldorado, FHC afirmou que em época de eleição aumentam os rumores de escândalo.

"Naturalmente, quando chega na fase eleitoral, aumenta mais ainda, aguça mais essa vontade de ver escândalo em toda a parte", afirmou.

Segundo o presidente, as acusações já estavam sendo investigadas. "Até agora, outras denúncias já feitas contra a mesma pessoa não foram comprovadas e não passaram de rumores", disse.

"O governo não tem porque ficar aflito com estes diz-que-diz. Se for verdadeiro, muito bem. Espero que isso passe e com a tranquilidade com que eu levo essas coisas. Havendo algo efetivo, a Justiça se ocupará", afirmou o presidente.

Corregedoria vai apurar
A ministra chefe da Corregedoria Geral da União, Anadyr de Mendonça Rodrigues, disse ontem que já determinou a instauração de processo para apurar todos os fatos que constam da reportagem da edição da revista Veja desta semana.

Ela disse que já está encaminhando ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, um ofício solicitando um intercâmbio de informações sobre as investigações correlacionadas com a denúncia.

A corregedora esclareceu que cabe a Corregedoria Geral da União a apuração administrativa e civil de fatos ocorridos no Poder Executivo federal e o Ministério Público é quem tem competência para apuração no âmbito criminal.

Ela disse que já mandou que seja iniciada a coleta de informações com todos os órgãos envolvidos na denúncia. Anadyr frisou que todos os fatos que constam da reportagem serão investigados, mas se recusou a comentar especificidades.

Os procuradores federais que investigam as suspeitas contra o economista Ricardo Sérgio de Oliveira estão empenhados em garantir a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a privatização da Companhia Vale do Rio Doce.

Como parte da estratégia, pretendem divulgar, gradualmente, pela imprensa, novas denúncias contra o ex-diretor do Banco do Brasil (BB).


Petrobras fatura 63% mais, graças aos sucessivos aumentos da gasolina
O faturamento da Petrobras com a venda de gasolina cresceu 63% desde o início do ano. Segundo levantamento divulgado ontem pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço do litro da gasolina nas refinarias, sem impostos, subiu dos R$ 0,3113 registrados na primeira semana de janeiro para R$ 0,5078 na há duas semanas.

Com impostos, a preço de venda do combustível para as distribuidoras subiu 24,18% desde janeiro, praticamente anulando a redução de 25% promovida pela Petrobras na virada do ano.
Segundo a ANP, as distribuidoras compraram gasolina a R$ 1,0089 por litro na penúltima semana de março. No início do ano, após a redução de 25%, o preço do litro com impostos estava em R$ 0,8124. A diferença entre os preços de faturamento da Petrobras e o de venda às distribuidoras é a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), imposto federal sobre os combustíveis. A alíquota da Cide na gasolina é de R$ 0,5011 por litro, o que dilui os reajustes promovidos pela Petrobras em seus preços de faturamento.

A ANP passou a divulgar, desde ontem, os preços cobrados pelos produtores brasileiros de gasolina – Petrobras, as refinarias de Manguinhos e Ipiranga e as centrais petroquímicas – a exemplo do que vem fazendo com os preços das distribuidoras e dos postos. A pesquisa divulga apenas os preços médios regionais.

No caso do diesel, houve um aumento de 20,53% no preço de faturamento da Petrobras e de 14,63% no preço de venda às refinarias desde o início do ano. Na penúltima semana de abril, a estatal vendeu o combustível por R$ 0,625 por litro e faturou R$ 0,4672 deste total. A alíquota da Cide no diesel é de R$ 0 1578 por litro.

Antes de saber do resultado do levantamento, o diretor de Abastecimento da Petrobras, Rogério Manso, afirmou que a variação do preço da gasolina no mercado internacional nas últimas semanas ficou dentro da banda estipulada pela Petrobras e, por isso, a estatal não promoveu novo reajuste.

A empresa continua utilizando a fórmula anunciada há um mês, segundo a qual só haverá reajuste em um prazo mínimo de 15 dias após a última alteração, caso a variação internacional seja superior a 5%. O último aumento, de 10,08%, foi anunciado no dia 3 de abril. A empresa ainda não promoveu outro reajuste. Agora, diz o executivo, poderá fazê-lo a qualquer momento. "Os técnicos estão sempre avaliando o mercado. Mas não quero prever se haverá reajuste", disse.


Quadro eleitoral faz o dólar subir 2,4% em apenas três dias
O quadro político irá influenciar o mercado de câmbio até as eleições. Essa é a opinião dos analistas de mercado que, ontem, viram o dólar comercial fechar as operações com alta de 0,49%, a maior desde 22 de fevereiro. Depois de atingir R$ 2,441 durante o dia, o dólar fechou em R$ 2,418 para compra e R$ 2,420 para venda, acumulando este mês, em apenas três dia úteis, alta de 2,45%.

Desta vez, a intranqüilidade do mercado foi provocada, segundo especialistas, pelas denúncias apresentadas no final de semana contra o ex-presidente do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, que refletem diretamente na campanha de José Serra, candidato do governo. Sérgio de Oliveira participou da campanha de Serra para o Senado em 1994 e, de acordo com as denúncias agora apresentadas, teria pedido propina durante o processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce.

Para o analista de mercado Victor Hohl, conselheiro da Associação Brasileira de Analistas de Mercados de Capitais, os atuais fatos políticos reforçam a imagem de que não há candidato que dê continuidade à atual política econômica. "O problema do câmbio começou com a posição de alguns bancos que rebaixaram os títulos da dívida do País", avalia Hohl. "O escândalo envolvendo o ex-presidente do Banco do Brasil e o fato de o PFL não retomar a aliança com o governo se for mantida a candidatura Serra, agravam a situação", completa o analista. Para ele, a situação do mercado é pontual e o câmbio irá oscilar, para cima e para baixo, até as eleições, conforme a evolução do quadro político.

Apesar de não estar acompanhando mais de perto o mercado financeiro, o economista Raul Velloso, também acredita que a alta do dólar pode ser provocada, entre outros motivos, pela intranqüilidade política do momento. "Os indicadores econômicos em geral estão bem e não seriam motivo para esta movimentação", avalia. Para Velloso, o câmbio será alterado sempre que houver risco para o candidato do governo. "Para alguns investidores, o fortalecimento de uma candidatura da oposição fica muito próxima de uma ruptura da linha econômica atual", acredita o economista. A seu ver, é difícil convencer os investidores de que um candidato da oposição pode manter a atual política econômica.

Banco sugere aos investidores que troquem Brasil por México
Agora é a vez do setor privado brasileiro sofrer com a onda de rebaixamentos, iniciada na semana passada com a piora nas recomendações para os títulos da dívida externa brasileira.

Ontem, o banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs recomendou a seus clientes que reduzam suas aplicações em ações de bancos brasileiros e de empresas dos setores de telecomunicações e energia. Além disso, sugeriu que transferisse seus investimentos do Brasil para o México.

A instituição justificou a medida citando o quadro eleitoral. Para o Goldman Sachs, o crescimento do candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial aumenta as incertezas políticas.
O relatório do banco americano atinge as ações do Bradesco, Unibanco, Telesp Celular, Embratel, Eletropaulo e Eletrobrás.

O banco recomendou, no entanto, aumento dos investimentos em ações de companhias como Vale do Rio Doce e Embraer, que têm o perfil exportador e se favorecem com a alta do dólar.

O risco-país do Brasil subiu 3,07% nesta manhã e atingiu 906 pontos. É o maior patamar desde 4 de dezembro último, quando chegou a 912 pontos. O índice reflete a percepção de segurança que os investidores externos têm em relação a um país. Esse risco é medido pelo número de pontos percentuais de juros que determinado governo tem de pagar a mais que os Estados Unidos para conseguir empréstimos no exterior.


Mais nomes sujos na praça
Nem iniciativas para aumentar o número dos que limpam o nome impedem aumento da inadimplência

O número de brasilienses que entra no banco de dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) continua maior do que os que saem. A taxa de inadimplência, registrada pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), acumula no ano, até abril, 15,48%. Em abril, o índice de inadimplência foi de 1,48%, contra 1,49% no mês anterior.

No cálculo do índice de inadimplência a CDL considera o número de nomes incluídos e retirados do banco de dados do SPC. Equivale dizer que para cada cem pessoas que retiram seu nome do cadastro de devedores, outras 115 entram.

O acumulado do ano, na verdade, apresentou uma ligeira queda – os três primeiros meses terminados em março somavam 16,28% – mas, de acordo com o presidente da CDL, Pedro Américo Pires de Araújo, continua muito alto.

Araújo atribui o endividamento do brasiliense a fatores conjunturais, como os altos juros, que levam à perda do poder aquisitivo, além da falta de reajustes salariais. "Além disso, o consumidor tem agregado novos serviços ao seu dia-a-dia, como o uso do telefone celular, e, conseqüentemente, assumido novos compromissos", justifica.

Esse é o caso da corretora de seguros Daiana Gonçalves de Moraes Rego, 27 anos. Ela adquiriu um celular e fez outras dívidas que saíram de seu controle. "Fugi do orçamento", resume ela que, ontem, procurava um jeito de arrumar o dinheiro necessário para quitar as dívidas.

O interesse maior de Daiana, agora, é cobrir os cheques que já foram dados e evitar sujar seu nome, engrossando o banco de dados do SPC. "Meu tipo de trabalho exige que eu tenha o nome sempre limpo", justifica.

Na tentativa de resolver sua situação, ela procurou as financeiras, que prometem crédito fácil, na verdade, uma alternativa pouco recomendada por economistas e especialistas. Mas esbarrou na burocracia. "Eles pedem muita coisa e meu crédito não foi aprovado, apesar de meu nome estar limpo", afirmou.

Daiana precisa de R$ 400,00, para cobrir os cheques e colocar o aluguel em dia. Ainda em busca de uma solução ela promete: após resolver a situação, organizará seu orçamento e não gastará além do que ganha.

Para quem já está com o nome incluído no SPC, a solução, segundo Araújo, é negociar. O presidente da CDL recomenda que o devedor procure seu credor e converse. "É interesse do comerciante e das financeiras receber seu dinheiro e devolver a capacidade de crédito ao cliente", justifica ele.

Assim, o primeiro passo em uma renegociação, ensina, é tentar reduzir os juros. Além disso, é possível propor um parcelamento da dívida e, até mesmo um abatimento.

A alternativa procurada por Daiana, que pretende recorrer a um empréstimo em uma financeira, segundo Araújo, não é a ideal. "Ela vai estar criando mais um problema, no lugar de encontrar uma solução", avalia o presidente da CDL. Para ele, a melhor saída é sempre a negociação.

Pré-datados complicam
O alto índice de inadimplência registrado pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) fica ainda mais expressivo quando se considera o fato de que, no final do ano passado, foi realizada uma ampla campanha de renegociação de dívidas.

Visando as festas de final de ano, a CDL incentivou os consumidores cadastrados no banco de dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) a procurarem seus credores para quitar seus débitos. Para isso, foram oferecidas vantagens, como a redução de juros, abatimentos de dívidas e parcelamento do pagamento. Com isso, várias pessoas recuperaram seu crédito e, conseqüentemente, sua capacidade de compra no mercado.

O alto índice de inadimplência registrado no acumulado deste ano até março (16,28%) pode ser explicado pelas novas dívidas assumidas pelos consumidores. Segundo Pedro Américo Pires de Araújo, presidente da CDL, a pequena queda no acumulado do ano ano (de 16,28% para 15,81%) registrada entre março e abril pode ser atribuída ao vencimento dos cheques pré-datados dados no final do ano.

Só negociação resolve
O brasileiro não tem a cultura do planejamento e acaba assumindo compromissos além de sua capacidade de pagamento. Essa é a opinião do consultor Emanuel Gonçalves (criador do site SOS Dívidas), que recomenda aos consumidores colocarem na ponta do lápis os ganhos e gastos de cada mês. "Quando a pessoa perceber o primeiro sinal de que o débito é maior do que o crédito é hora de sacrificar alguma coisa", ensina.

Para ele, a saída para os devedores, inicialmente, é reduzir gastos, naturalmente preservando no orçamento os gastos com a subsistência básica, como aluguel ou prestação da casa própria, escola e alimentação. É possível, a seu ver, economizar na conta de luz, água e lazer.

Se isso não for suficiente, deve-se partir, então, para a negociação. "Não se deve nunca assumir uma nova dívida para cobrir um conta antiga. Quando recorre a um empréstimo o consumidor já está comprometendo sua situação financeira", afirma Gonçalves. Na verdade, o consultor acredita que o brasileiro não é mau pagador. O problema é que na ansiedade de manter seu cheque especial ou o cartão de crédito, começa a pagar o mínimo e quando percebe não consegue mais regularizar a situação.

O que falta, na opinião de Gonçalves, é tomar a decisão de parar na hora certa. Mesmo que não consiga renegociar a dívida, ele diz que ainda existe uma saída para o devedor: recorrer a um juizado especial de defesa do consumidor. "O juizado pode marcar uma audiência de conciliação e, geralmente, o problema se resolve."

As dicas para sair do aperto
  • Evite ao máximo recorrer a empréstimos, se precisar completar seu orçamento.

  • Se já estiver arcando com o custo de empréstimos, fuja do processo de criar uma dívida para pagar outra, pois isso só funcionará enquanto você tiver crédito e, mais cedo ou mais tarde, o problema explodirá.

  • Nunca fique pagando valor mínimo de cartão de crédito todo mês, pois estará jogando dinheiro fora: a dívida nunca diminui, pois os juros são, reconhecidamente, muito elevados.

  • A saída para quem está preso ao cartão é negociar o pagamento em parcelas fixas, o que pode ser feito até com 1% de juro ao mês, e liquidar a dívida.

  • Se a administradora de cartões de crédito não aceitar negociar, abra uma ação contra ela e deposite o valor básico – sem os juros – em juízo, como forma de pressioná-la.

  • Quando procurar a administradora para negociar a dívida, não aceite a primeira proposta, exija juros menores e prazo maior.

  • Em qualquer caso, só faça acordos que puder cumprir, pois se deixar de cumprir o acertado terá dificuldades muito maiores para retomar uma negociação.

  • Nunca recorra a credores fora do sistema financeiro, como agiotas, pois a dívida crescerá muito mais e tanto a negociação quanto um eventual processo serão muito mais difíceis.

  • Da mesma forma, nunca aceite artifícios como transferir linhas telefônicas, eletrodomésticos, carros ou outros bens em garantia, pois se o aperto estiver grande será melhor vender esses bens e pagar o débito do que correr o risco de perde-los.

  • Em todos os casos, faça em primeiro lugar um reexame do seu orçamento.

  • Dê prioridade às despesas essenciais, como condomínio, aluguel, escola, aluguel ou prestação do imóvel, telefone, luz e dedique tudo o que sobrar ao pagamento de dívidas.

  • Pague antes as dívidas que tenham avalistas ou tenham sido feitas em nome de outras pessoas: pois além de ficar com o nome sujo na praça você perderá as chances de recorrer a elas no futur o..

  • Pague antes as dívidas de pequeno valor, para poder se concentrar em um número menor de negociações.

  • Recorra à Justiça ou aos órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, até como forma de rejeitar imposições ou pressões.

  • Para fazer uma queixa no Procon ou juizado especial, leve todos os documentos, nome, endereço do credor, detalhes do financiamento, tudo que puder.

  • Leia o código do consumidor na parte sobre dívidas e, se mesmo se tiver advogado, informe-se sobre seus direitos.


    Artigos

    Entre votar e assistir o Faustão
    Eduardo Brito

    A ida de Le Pen ao segundo turno das eleições presidenciais francesas teve um grande mérito. Sepultou de vez uma das idéias mais pascácias que já passou pelo Congresso, a de tornar facultativo o voto.

    Foi por pouco que essa proposta não vingou na Assembléia Nacional Constituinte. Pasme-se, com grande respaldo na esquerda, justamente a grande prejudicada com o resultado eleitoral na França.

    Por lá, o susto valeu. No segundo turno, domingo, só faltaram 19,16% dos eleitores, número muito inferior ao registrado no primeiro turno: 28,4%. O resultado foi bem mais condizente com o que indicavam as pesquisas.
    O voto facultativo encontra surpreendente respaldo nas classes médias brasileiras. É que, na típica arrogância que as caracteriza, parte dos eleitores de classe média acredita piamente na existência de brasileiros que não sabem votar, em contraposição aos que, como eles, claro, sabem votar. Uma vez facultativo, o voto se tornaria apanágio dos que sabem votar. Eles conduziriam o País ao glorioso destino sonhado pela classe média. E tudo estaria resolvido.

    Essa postura recebe a previsível sustentação dos políticos eleitos por segmentos organizados dessa mesma classe média. Apostam em que, diferentemente dos demais, sua parcela cativa de eleitores se mobilizará e lhes garantirão os votos.

    Os dados da França comprovaram o que os políticos mais sensatos – e menos oportunistas, ao menos nesse sentido – têm feito prevalecer no direito brasileiro. O desinteresse ou o conformismo, ainda mais em países com candidatos pouco diferenciados um do outro, pode prejudicar qualquer dos lados. Inclusive o que se considera beneficiário potencial do votos voluntários.

    É evidente que, na visão dessa classe média, um microcéfalo qualquer julgará mais interessante acompanhar a vibrante programação da TV brasileira nas tardes de domingo do que se dirigir a uma seção eleitoral. Vale para um ou outro caso, certamente. Mas não será esse eleitor que decidirá o resultado.

    O efeito mais provável do voto facultativo será elevar a renda do cabo eleitoral, aquele que ainda comanda o voto no interior, na periferia das grandes cidades e até mesmo em sindicatos e outras organizações. Se hoje eles recebem uma vez só, na hora do voto, passarão a receber três vezes. Na hora de alistar o eleitor, na hora de conduzi-lo às urnas e, como antes, na hora do voto.

    Em tempo: está tramitando ainda ao menos uma proposta de emenda constitucional tornando facultativo o voto. Até que chegue ao plenário, pode ser que o Congresso esqueça o triste destino de Lionel Jospin. Nunca se minimize o peso de uma idéia de jerico.


    Colunistas

    CLÁUDIO HUMBERTO

    Atentado: PF investiga armação
    A Polícia Federal suspeita de "armação" no atentado a tiros contra o carro do filho da corregedora-geral do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, do Rio de Janeiro, no dia 12 de março último. Dias antes, a juíza Maria Helena Cisne Cid acusara juízes federais de suposto favorecimento a empresários, fazendo parecer que o tal "atentado" era vingança. Mas, ao que tudo indica, segundo a Polícia Federal, tudo não passou de uma grosseira armação.

    Tudo muito suspeito
    Os PMs que atenderam a ocorrência (o "atentado" contra Cláudio, filho da juíza Maria Helena Cisne Cid) e o delegado federal José Walter Teixeira desconfiaram da excessiva tranqüilidade da vítima. E da presença, no fato, de Marco Antônio Xavier Soeiro, policial civil amigo de Cláudio e suspeito de simular assalto a cargas, extorsão, desmanche de veículos roubados etc.

    Pensando bem...
    ...Ricardo Sergio de Oliveira hoje mora bem, bebe vinho de US$ 5 mil, mas houve um tempo, coitado, em que ele vivia só em fundos de pensão...

    O preço da resistência
    O governo brasileiro nunca entendeu as razões do embaixador José Maurício Bustani, que se deixou imolar na Organização das Nações Unidas para a Proscrição de Armas Químicas. Agora tem uma pista: soube que a sua resistência foi recompensada por uma indenização de 207.000 euros (meio milhão de reais). A que não teria direito em caso de renúncia.

    Droga pura
    Só duvida do envolvimento do pagodeiro Belo com drogas quem nunca ouviu as músicas que ele canta.

    Teoria da conspiração...
    As recomendações negativas de investimentos no Brasil – alertando sobre o "risco Lula" – começaram pelo banco Morgan Stanley, na tarde de segunda, 29 de abril. No sábado anterior (27), o alto tucanato, assustado com o crescimento nas pesquisas do candidato do PT a presidente, reuniu-se na espetacular residência do presidente do BNDES, Eleazar de Carvalho.

    ...e o terror anti-Lula
    Tucanos ilustres como o ministro Pedro Parente e o deputado Márcio Fortes (RJ) estiveram na casa da Rua das Iposeiras, 530, em São Conrado, Rio, para festejar os 60 anos do presidente da Petrobras, Francisco Gros. Ele é diretor licenciado do Morgan Stanley para "mercados emergentes". Menos de 48 horas depois da festa, o banco espalhou o terror contra o "risco Lula".

    Façamos um acordo
    Depois de dizer não a Romário e a grande parte da torcida, Felipão só tem uma saída, bem simples, para que todos esqueçamos isso: trazer o penta.

    Goteiras no teto
    A chuva que saiu sobre Salvador, ontem, mostrou a dramática situação do superfaturadíssimo aeroporto da cidade. Apesar dos R$ 127 milhões torrados nas obras de reforma a cargo da empreiteira OAS, aquela do Amigo Sogro, inúmeros baldes tentavam livrar das goteiras os usuários da estação de passageiros. Um vexame típico da nação de ACM.

    Estafa matrimonial
    Após condecorar com a medalha Pedro Ernesto o marido e colega de partido André Luiz, a vereadora Eliane Ribeiro (PMDB) cansou. Teve dez faltas abonadas de uma só vez pelo presidente da Câmara, Sami Jorge (PDT): cinco em março e cinco em abril. No Dia da Mentira ela trabalhou.

    Goleada
    E d. Marta, hein? Parece o Corinthians: está acabando com São Paulo.

    Briga na Justiça
    A deputada Rita Camata (PMDB-ES) foi inscrita no Cadin, o Cadastro de Inadimplentes (espécie de SPC) do governo federal, porque considerou injusta uma multa da Receita Federal. A Câmara não tributou na fonte a ajuda de custos dos deputados, e ela pagou o pato. Depositou a quantia em juízo, em 1994, e até hoje aguarda decisão da 5ª Vara Federal, em Brasília.

    Mães, há várias
    Se for justo como acreditam seus admiradores, Lula deveria homenagear em almoço, domingo, o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, o ministro Paulo Renato e Benjamin Steinbruch. Afinal, é o Dia das Mães.

    Sentença
    Quem com Serra fere, com Roseana será ferido.

    Gonçalo nada santo
    O deputado federal Wanderley Martins (PSB-RJ) esclarece que sempre lutou contra a corrupção na Prefeitura de São Gonçalo (RJ), e pediu a cassação do vereador Ricardo Castor, "o que vem incomodando os que temem perder a 'merendinha' do prefeito Henry Charles". Mas é o deputado Luisinho (PDT) quem comanda agora a comissão de investigação.

    Esses franceses...
    Se é verdade tudo que falam sobre o Jacques Chirac na França, pode-se dizer que no domingo, naquele país, tinha voto saindo pelo ladrão.

    Poder sem pudor

    Ministro só com telex
    Eduardo Portela era ministro da Educação, no governo João Figueiredo. Ele foi obrigado a pernoitar em São Paulo: o mau tempo fechou o aeroporto. Foi direto para o Hotel Maksoud e, na recepção, o empregado português exigiu pagamento antecipado da diária. Mas não aceitou seu cheque, de Brasília. Um primo de Portela, Valdir Luciano, cochichou:
    – Esse é o ministro da Educação, Eduardo Portela.
    – Não é, não – cortou o empregado do hotel, para explicar cartesianamente – se fosse, teria vindo um telex de Brasília fazendo reserva. Toda vez que vem ministro pra cá, vem telex. Não tem telex, então ele não é ministro.


    Editorial

    COMBATE À INFORMALIDADE

    Perde-se muito tempo discutindo se deve ou não ser votada a flexibilização das leis trabalhistas no Congresso Nacional. Fala-se em direitos adquiridos como forma de emperrar uma discussão inevitável. A flexibilização das regras de contratação de trabalhadores é um assunto que precisa ser tratado com urgência, até porque o próprio mercado já o fez, informalmente.

    No Distrito Federal, são 66 mil trabalhadores sem carteira assinada. E muitos deles o fazem porque aceitam um emprego sem os benefícios, mas pelo menos garantem a renda no fim do mês. Não é pior para os trabalhadores essa flexibilização branca? Há uma máxima que diz: assuntos esquecidos ou vítimas de omissão do poder público são ocupados pela informalidade, só que com menos controle e eficiência.

    O que se vê na questão dos trabalhadores sem carteira assinada segue o mesmo raciocínio: não há opções nem regras, mas é preciso alimentar os filhos no fim do mês. Enquanto isso, os parlamentares adiam mais uma vez a alteração de formas antigas de relações de trabalho, que desestimulam empresários a contratar. Não é viável para as empresas levar um funcionário e pagar por dois, somando-se os encargos.

    A reforma nas leis do trabalho é urgente. Antes que a informalidade assuma de vez o comando das ações.


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    05/07/2002


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