Serra promete redistribuir renda
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Serra promete redistribuir renda
Ministro lança candidatura com defesa da política econômica, tese de combate à pobreza e elogio a Itamar .
O ministro da Saúde, José Serra, disse ontem , no discurso de lançamento da sua candidatura à Presidência da República, que a redução da desigualdade não é um sonho impossível, e lançou, como lema de seu “futuro governo”, a frase nada contra a estabilidade, tudo contra a desigualdade.
O lema resume a estratégia de Serra: ele assume o papel de candidato do governo, comprometido com sua política econômica, mas tenta abrir novas perspectivas de crescimento e de redistribuição de renda.
Para ele, o Brasil já atingiu capacidade produtiva e nível de renda bem superiores aos que tinham as nações asiáticas no início do processo que lhes permitiu reduzir a pobreza absoluta de mais de 60% para menos de 10% da população, no espaço de uma só geração.
Ele lembrou que o Brasil moderno foi construído sob a liderança de homens que juntaram a esperança, a vontade e a competência, citando Getúlio Vargas, que sonhou com um Brasil industrializado, e Juscelino Kubitschek, que trouxe para o Brasil investimentos estrangeiros, estimulando a economia. Serra lembrou ainda Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Franco Montoro, que combateram a ditadura recuperando a democracia. Uma menção elogiosa ao governador Tasso Jereissati, seu rival no partido, foi calorosamente aplaudida.
Mas a referência que mais chamou a atenção dos tucanos que lotaram o Espaço Cultural da Câmara foi feita a um adversário, o governador de Minas, Itamar Franco. Serra disse que "durante 15 anos sofremos oito planos de estabilização, e conhecemos quatro moedas diferentes, mas foi Fernando Henrique Cardoso, levado ao Ministério da Fazenda por Itamar Franco, que conseguiu derrubar a superinflação, porque juntou à esperança uma grande equipe técnica, obstinação e capacidade de liderança”.
Tasso fica fora da campanha
A presença de todos os principais líderes do PSDB no lançamento da candidatura do ministro José Serra e o clima de confraternização, com abraços emocionados inclusive do governador Tasso Jereissati, deu um clima de união ao encontro do partido. Os políticos vinculados ao falecido governador Mário Covas, que hostilizava Tasso, chegaram juntos, entre eles os governadores Geraldo Alckmin e Almir Gabriel, além da filha de Covas, Renata.
Mas essa união do PSDB é relativa. Um sinal claro de que o partido não é o exemplo de coesão que os líderes afirmam foi dado pelo próprio Tasso e pelo ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo. "Não vou percorrer o País com o Serra nem farei parte da coordenação da campanha porque tenho de cuidar da vida lá no Ceará", afirmou Tasso, embora assegurasse que abrirá seu palanque – será candidato ao Senado – ao ministro da Saúde.
Ligado ao governador do Ceará, Azeredo foi mais duro nas declarações sobre o comportamento político de Serra, que estaria tentando se aproximar do governador de Minas Gerais, Itamar Franco, do PMDB: "Serra terá de escolher entre o PSDB mineiro e o governador Itamar Franco".
As declarações de Azeredo causaram preocupação à cúpula da sigla. O líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães Júnior, determinou ao deputado Carlos Mosconi (PSDB-MG) para conversar com o ex-governador e tentar acalmá-lo.
O presidente nacional da sigla, deputado José Aníbal, mostrou preocupação com a situação mineira e deu razão a Azeredo. "As questões regionais devem prevalecer e isso precisa ser administrado", afirmou. Para Aníbal, no entanto, a referência feita por Serra a Itamar foi apenas "a demonstração de muita lucidez"
Prazo para crescer
Embora os caciques presentes ao lançamento da candidatura de José Serra neguem, existe um prazo para que ela se viabilize, com o crescimento das intenções de voto no ministro. Os estrategistas da campanha apoiam-se em análises dos institutos de pesquisa, particularmente no Vox Populi. E há uma concordância quase generalizada: Serra precisa passar aos dois dígitos em três rodadas de pesquisas.
Os tucanos operam há bastante tempo com uma projeção, a de que bastam 18% dos votos no primeiro turno para se passar ao segundo. Essa seria a meta básica. Afinal, tudo indica que o competidor na reta final será Lula, considerado o adversário ideal pelos governistas.
Isso, em tese, permite esperar o horário eleitoral para Serra decolar. Daria mais tempo ao ministro.
Só que Serra precisa de maior respaldo partidário para se viabilizar. Atrair o PTB e o PMDB, hoje o alvo preferencial do ministro, é imprescindível para que a candidatura se firme. Não se trata apenas de aumentar o tempo no rádio e TV, mas de se consolidar como a principal alternativa da base governista, o que só conseguirá caso amplie, e muito, a penetração no eleitorado.
Itamar diz que não quer a vice
Um dia depois de ter admitido que poderia compor com os tucanos, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), afirmou ontem que nunca teve a "ousadia" de dizer que seria vice do ministro José Serra em sua empreitada presidencial.
A tarefa de desdizer o que não disse, pois Itamar apenas dissera que "tudo pode acontecer", foi uma forma de minimizar a repercussão que suas declarações tiveram entre seus aliados, que não vêem como o governador pode compor com um governo que critica há quatro anos.
"Há diálogo aberto entre os dois [Itamar e Serra], mas diálogo aberto é uma coisa, e uma aliança com o ministro é outra, muito difícil, porque ele é o candidato do atual governo, leva a marca Fernando Henrique Cardoso na testa", disse Marcelo Siqueira, um dos principais assessores políticos de Itamar.
O governador evitou comentar o lançamento de Serra, assim como sua referência a Itamar como responsável pela entrada de Fernando Henrique no governo.
Nada mudou, afirma Roseana
A pré-candidata à Presidência da República pelo PFL, a governadora Roseana Sarney, disse ontem que o lançamento do ministro tucano José Serra não muda nada no atual cenário eleitoral e desejou "boa sorte" ao possível competidor.
A possibilidade de Serra ser vice em uma chapa encabeçada por Roseana, segundo ela, depende do desenvolvimento das campanhas e das decisões dos partidos. Mas ela considerou "impraticável" ser vice de Serra, diante do resultado das pesquisas eleitorais que a colocam à frente do ministro.
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Identidade é o eixo do político
Gaudêncio Torquato
A identidade é o eixo principal de uma pessoa. No campo político, a identidade é a marca pela qual os homens públicos são conhecidos. Nela se abrigam o conceito, as qualidades, as virtudes, os valores e as características dos mandatários. Por isso, a identidade é também sinônimo de caráter, de personalidade. Quando a identidade é forte, a imagem do político acaba se fixando na mente dos eleitores de forma irreversível. Quando a identidade é fraca, a imagem resvala pelo cérebro, criando buracos negros e vazios. Grande parte dos políticos brasileiros se insere na camada superficial de identidades amorfas, sem cor, cheiro e gosto.
A identidade dos políticos, em nosso país, é geralmente maltratada e corroída pelas mazelas da velha política: o familismo e o caciquismo. Velhos coronéis acabam passando suas identidades para filhos e netos. Nesse processo de herança cultural, os herdeiros acabam se transformando em extensões dos pais, tornando-se, como a ovelha Dolly, clones jovens que acumulam a velhice dos ancestrais. Analisada sob esse prisma, a política torna-se estática, fincada sobre uma base conservadora, imune à mudanças e impermeável aos avanços.
Felizmente, há exceções. Há herdeiros que exibem fortes identidades e marcas indeléveis. Aécio Neves, que herda do avô Tancredo a alma política, está surpreendendo pela firmeza e independência. Faz boa gestão na presidência da Câmara dos Deputados. Arthur Virgílio, ministro-chefe da Casa Civil do Executivo Federal, é um feroz pit-bull, conhecido pela bravura e eloqüência com que defende o governo. Tem identidade própria e sabe falar bem como o pai, o ex-senador Arthur Virgílio. Sérgio Machado, senador, filho do ex-ministro de Viação de Jango Goulart, Expedito Machado, é um empresário que decidiu usar na política as armas que aprendeu a engatilhar na iniciativa privada. Roseana herdou do pai, José, o sobrenome e a vocação política, mas tem identidade própria. É uma mulher forte. No RN, os Alves têm exemplares com identidade própria, a partir do próprio governador, o afável Garibaldi, seu primo, o impetuoso e bom articulador, deputado Henrique Alves, além do tio, Agnelo, um jornalista com 85% de aprovação como prefeito de uma grande cidade.
O que faz um político compor uma identidade eficaz é, em primeiro lugar, a leitura adequada da sociedade e dos tempos. É preciso saber ler e interpretar os novos rumos, os anseios, expectativas e desejos da sociedade. Políticos que herdam identidades, para crescerem, não podem contemplar o meio ambiente a seu redor com os olhos dos pais e dos avós, porque estarão enxergando o passado. Em segundo lugar, a identidade exige que os perfis criem e desenvolvam discursos próprios, criativos, originais, substantivos. Uma boa identidade se assenta numa base programática de conceitos densos. O que se vê por aí é uma linguagem tatibitate – frouxa, inócua, adjetiva, verborrágica, ultrapassada. Ademais, a identidade exige caráter, que é a soma de valores que não se vêem nos balcões do fisiologismo: o compromisso, a palavra dada, a lealdade, o companheirismo, a dignidade pessoal, o respeito ao próximo.
Identidade não se inventa nem se deixa cosmetizar por essa onda do marketing ordinário, que constrói franksteins por muitas regiões do País. Quando um político tem a coluna vertebral reta, fixa o eleitor olhos nos olhos, sem ficar envergonhado, sabe o que povo quer e cumpre o prometido, a imagem que emana dele é a de alguém de respeito, primeira condição para ganhar o voto. E respeito se conquista com as ferramentas da verdade, do sentimento de boa fé, da coragem e ousadia, além da política de lealdades. O povo não aprova perfis que passam uma borracha na palavra dada. Por isso, sabe distinguir o engodo da verdade e os oportunistas dos idealistas.
Ao longo de uma caminhada penosa, percorrendo caminhos íngremes, o peregrino vai deixando pegadas firmes no chão. Qualquer pessoa pode identificar facilmente a fotografia de suas andanças. O povo segue seus passos sem medo. Para este obstinado, as portas dos novos horizontes estarão sempre abertas, porque a força do povo é a sua força. O peregrino é o político coerente, de caminhar firme. Vence obstáculos e tropeços, porque é protegido por uma aura tão brilhante quanto o diamante. Político de identidade gelatinosa, ao contrário, se esvai na correnteza das chuvas de verão. A sabedoria clássica assim o classifica: “com a mesma boca, põe para fora o quente e o gelado; numa das mãos carrega a pedra e com a outra, o pão; é capaz de caiar duas paredes com o mesmo pote de cal; tem a alma negra, guardai-vos dele”.
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CLÁUDIO HUMBERTO
Os escândalos de Roseana
Na campanha presidencial, os adversários de Roseana Sarney vão se concentrar nos escândalos envolvendo a governadora do Maranhão. Um deles foi o “Pólo de Confecções de Rosário”, projeto de US$ 20 milhões destinado a “gerar 4 mil empregos”, inaugurado com a presença de FhC. Na verdade, era golpe de um chinês de Taiwan, que só queria vender máquinas de costura. Acabou preso em Manaus, por estelionato.
Estrada fantasma
Roseana Sarney ainda deve explicações convincentes, por exemplo, sobre uma estrada fantasma ligando os municípios de Paulo Ramos e Arame. A estrada não foi construída, mas a Viúva ficou US$ 33 milhões mais pobre. Quem terá ficado US$ 33 milhões mais rico.
Suspeita rapidez
Outro escândalo envolvendo Roseana Sarney e o marido, Jorge Murad, é o caso Usimar – projeto de R$ 1,3 bilhão diligentemente aprovado pela Sudam, em reunião presidida pela governadora. Os R$ 44 milhões do Erário, adiantados com incrível rapidez, simplesmente sumiram. Agora o casal é processado por improbidade administrativa, na Justiça Federal.
Ponte segura
Já se conhece a razão da estabilidade no emprego do presidente de Furnas Centrais Elétricas, Luiz Carlos Santos, cuja demissão foi várias vezes anunciada. É que Santos é a principal ponte entre o governador de Minas, Itamar Franco, e o candidato tucano a presidente, José Serra.
Assédio a Minas
José Serra decidiu que será em Minas a pré-convenção do PSDB que lançará oficialmente sua candidatura, dia 24 de fevereiro. Pensava-se em Recife ou São Paulo. Definiu-se por Belo Horizonte em função de um critério matemático e outro nem tanto. Minas é o segundo colégio maior eleitoral. E foi lá, em Contagem, que FhC começou a campanha vitoriosa de 1994. Serra diz que não é supersticioso, mas não custa tentar
Nem eles merecem
Uma mensagem circula na Internet propondo, “para melhorar o Brasil”, Paulo Maluf na Presidência da República... Argentina.
Encenação de Tasso
O PSDB não está convencido da submissão de Tasso à candidatura Serra. Para uma assessora de FhC, ele cumpre apenas o roteiro pré-estabelecido por ACM e a cúpula do PFL: finge apoiar Serra, mas na verdade aguarda que as pesquisas o afastem da disputa. Até abril.
O dilema de Brizola
Brizola completa 80 anos mergulhado num dilema. Não sabe se apóia Itamar (que nem sabe o que fará amanhã) ou se adere a Ciro. De quebra, Miguel Arraes insiste para que se reconcilie com Garotinho. Mineiramente, ele não diz nem sim, nem não. Garante que talvez
Mudança de linha
O Fórum Social de Porto Alegre perdeu um importante apoio. A TV Senado, que em 2001 gravou quase todos os painéis, não irá ao evento este ano. Até o senador Pedro Simon, que desejava gravar entrevista sobre o assunto, foi convidado a falar sobre o novo Código Civil.
Vocação revelada
Descobriram por que ACM é a estrela da propaganda do governo da Bahia, paga pelo Erário e veiculada com abundância na TV do próprio ex-senador. Reconhecendo ACM como uma grande vocação para ator, a oposição está sugerindo que ele passe a ser a principal atração do mais famoso grupo teatral do estado: a Companhia Baiana de Patifaria.
Literatura
Os graves problemas gerados pelo desrespeito aos direitos autorais estão preocupando o governo. Ou pelo menos o líder do governo no Senado, Artur da Távola (PSDB-RJ), que acaba de contratar um agente literário para cuidar de sua carreira de escritor.
Memória assassinada
Há três anos, em 14 de janeiro, morreu o maestro Armando Prazeres, vítima de um assalto no Rio. Era referência nacional na popularização da música clássica no País. Merecia ser nome de rua, como prometeu, na época, o governador Garotinho, que também esqueceu do festival e do teatro com nome do maestro, anunciados com entusiasmo de palanque.
Pensando bem...
...do jeito que está, a candidatura Serra não passa de uma convenção.
Tem boi na linha
A multinacional Novo Nordisk garantiu no British Medical Journal que continuará fabricando insulina animal, após comprar o laboratório Biobrás, o maior do gênero no Brasil. Cientistas denunci am a preferência crescente pela insulina sintética, mortal em alguns diabéticos. A droga Lentard, de insulina animal, saiu do mercado na Inglaterra. Humm....
Refazendo a recuperação
O governo excluiu 65.464 empresas do Refis (plano de recuperação fiscal). As 30% sobreviventes enfrentam o aumento de despesas criado pelo racionamento e a recessão. Quem optou pelo Refis e pagou em dia sugere aos sábios de Brasília parcelar os débitos constituídos após a opção pelo programa. Ou vira enxugamento de gelo.
Poder sem Pudor
Gargalhadas mudas
Jânio Quadros e comitiva, incluindo o mineiro Magalhães Pinto, foram recebidos com vaias em Sete Lagoas (MG), na campanha presidencial de 1960. Depois do comício, entraram no carro. Jânio, irritado, notou que Magalhães não parecia incomodado e observou, com sarcasmo:
– Quando os mineiros não riem por fora, riem por dentro!...
– Deixa de besteira, Jânio – reagiu Magalhães – na próxima vez seremos recebidos com flores
– Ou com mais ovos? – encerrou o candidato, cáustico.
Editorial
REFORMA URBANA
Aquestão da ocupação irregular de terras no Distrito Federal vem sendo atacada de frente pelo atual governo. Nos últimos meses se avançou como nunca, quando a Secretaria de Assuntos Fundiários conseguiu terminar estudos que vinham sendo feitos há anos e dezenas de condomínios foram aprovados. Deve avançar mais ainda com a criação de uma vara judicial específica para o caso do uso da terra no Distrito Federal.
Problemas herdados ainda da época da instalação de Brasília, quando nem todos os fazendeiros que tiveram terras desapropriadas para a formação do quadrilátero do Distrito Federal receberam por elas, fizeram a questão fundiária se arrastar até hoje, mas bastou um governo decidir encarar o problema de frente para que o novelo formado em décadas começasse a ser desfiado.
Com cuidado, os condomínios estão sendo aprovados e novas áreas para habitação estão surgindo, sem que isto signifique impacto prejudicial à qualidade de vida do Distrito Federal. Ao contrário, milhares de famílias que tinham dificuldade para pagar o aluguel ou compra de imóveis, têm agora oportunidade de construir sua casa. Ao governo cabe manter a postura vigilante que vem tendo para que o projeto, que vem sendo conduzido com sucesso, não seja manchado por pessoas má-intencionadas.
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01/20/2002
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