Serra promete ofensiva à violência
Serra promete ofensiva à violência
Pela segurança, tucano diz que muda até a constituição
Depois de afirmar que o compromisso fundamental de seu governo será garantir emprego e segurança para a população, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, prometeu ontem, durante caminhada pela orla do Leblon e de Ipanema, mudar a forma como a questão da segurança pública é tratada, mesmo que, para isso, precise alterar a Constituição.
''A segurança é condição para a vida. Vamos fazer uma grande ofensiva nessa área e mudar a maneira do Brasil tratar a segurança, nem que para isso eu tenha que mudar a Constituição'', afirmou o candidato, sob aplausos, durante rápido discurso feito em cima de ''fradinho'', ao final da caminhada, que reuniu cerca de 500 pessoas. Antes disso, ele participou da inauguração de um comitê no Leblon, onde autografou exemplares do livro O sonhador que faz. , com entrevista dada ao jornalista Teodomiro Braga.
Serra afirmou ainda que vai intensificar a campanha no Estado, onde pretende vir semanalmente. Segundo ele, o Rio ''é um dos mais importantes cartões de visita do Brasil'' e tem um papel fundamental em sua estratégia para aumentar a importação.
O candidato tucano distribuiu apertos de mão, beijos e abraços e bebeu muita água para enfrentar o calor de mais de 30 graus. Sempre acompanhado da candidata ao governo do Rio, Solange Amaral (PFL-PSDB-PMDB), do secretário geral de seu partido, Márcio Fortes, e do candidato ao Senado, Artur da Távola, Serra parou no meio do caminho em um quiosque e comprou uma água de coco.
Questionado se vai manter as críticas contra o candidato Ciro Gomes (PPS) na propaganda eleitoral na TV, estratégia adotada desde a estréia do horário gratuito, Serra garantiu que não vai haver alteração, ''até porque está indo bem e você não mexe no que está dando certo'', afirmou.
Problemas técnicos no horário eleitoral
TSE determina reapresentação dos programas de sábado
Nada de propostas ou ataques. O destaque do programa eleitoral dos candidatos à Presidência, sábado, foi o problema técnico. A falta de sincronia entre imagem e som começou na primeira edição e continuou à noite. José Serra (PSDB) foi o mais prejudicado. Ele chegou a ficar cerca de 30 segundos sem áudio. Na mesma noite, o coordenador de comunicação de sua campanha, João Roberto Vieira da Costa, divulgou nota atacando a Rede Minas, responsável pela transmissão. Bob Vieira, como é conhecido, pediu a ''substituição imediata'' da empresa.
Em tom indignado, o coordenador disse que os erros cometidos pela emissora foram um ''prejuízo para todo o Brasil''. Bob Vieira defendeu que a responsabilidade da transmissão volte a ser estatal. ''A Radiobrás gerou, sem nenhum problema, sem nenhum trauma, as campanhas nacionais de 1994 e 1998'', afirma.
Este ano, a Radiobrás está participando só como apoio. Forma a cadeia nacional de rádio. Uma eventual decisão sobre a substituição de uma emissora por outra é responsabilidade do TSE.
Ainda na madrugada de domingo, o presidente em exercício do tribunal, ministro José Paulo Sepúlveda Pertence, determinou a reprise de todos os programas televisivos, ontem. A medida agradou à coordenação da campanha de Serra, mas causou transtornos na grade de programação de todas as emissoras. Os programas foram ao ar no horário nobre da televisão no domingo, às 20h30.
A discussão sobre quem foi responsável pelas falhas também envolve a Brasil Telecom. A empresa é encarregada da geração do sinal para todo país.
Ciro tenta trégua com PSDB
'Freio de arrumação' tem como objetivo buscar o apoio tucano para o 2º turno
Da Sucursal de Brasília - O candidato a Frente Trabalhista à presidência, Ciro Gomes (PPS), dará um ''freio de arrumação'' - nas palavras de seus assessores - na campanha eleitoral. De olho no segundo turno das eleições, Ciro foi aconselhado a parar de brigar com José Serra, do PSDB, e começar a buscar apoio entre os tucanos para a batalha final com Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Amanhã, o comando da Frente Trabalhista discutirá uma trégua com o PSDB.
Superar o acirramento da disputa entre Ciro e Serra será a principal missão do ex-governador do Ceará Tasso Jereissati para evitar o aprofundamento da crise. Tasso não se conforma com a possibilidade de apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso ao candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva. Desde a semana passada o tucano, recém desembarcado da campanha de Serra, está na briga para cooptar velhas raposas.
Uma delas é o ex-presidente José Sarney, senador do PMDB do Amapá. Ao mesmo tempo, o ex-governador Leonel Brizola, do PDT, tentará abrandar as críticas de Jackson Lago, candidato da Frente Trabalhista ao governo do Maranhão, verdadeira base eleitoral do clã dos Sarney.
A trégua com Ciro está sendo discutida no comitê de campanha de Serra em Brasília. As pesquisas do PSDB mostram que os ataques a Ciro Gomes resultaram no crescimento de Lula, do PT.
''Defendo a adoção da melhor forma de garantir o sucesso na luta de Serra para chegar ao segundo turno'', discursa o secretário-geral do PSDB, deputado Márcio Fortes (RJ).
Mas o tom da campanha já começou a mudar. Advertido por Ciro, Paulinho Pereira da Silva, candidato a vice, baixou o tom dos ataques a Serra. Há três dias, declarou que o candidato tucano estava ''querendo apanhar''. Agora, Paulinho afirma que a foi interpretada ''fora do contexto''.
Os contatos pró-Ciro feitos por Tasso já resultaram em ampliação dos apoios. Empresários, políticos e amigos de Tasso confirmaram novos apoios. Entre eles, o ex-deputado Flávio Rocha (PL-RN), dono das Lojas Riachuelo. E Carlos Jereissati, um dos sócios da Telemar e irmão de Tasso, está articulando o apoio de um grupo de 30 empresários ao candidato da Frente Trabalhista.
Dinheiro é segredo na luta da sucessão
Arrecadação não é revelada
A máquina eleitoral está rodando há quase um mês, mas o financiamento que a alimenta ainda é tabu nos comitês eleitorais dos quatro principais presidenciáveis. ''Não podemos revelar, até para não constranger doadores. É estratégico'', diz Márcio Lacerda, arrecadador da Frente Trabalhista. ''Não é praxe dar conhecimento sobre quem contribui no curso da campanha'', alega Márcio Fortes, coordenador do comitê financeiro tucano. ''A pesquisa é um balizador das doações e isso é anti-democrático. Não vamos divulgar nada agora'', comenta Alexandre Cardoso, do comitê de Anthony Garotinho (PSB).
''É desnecessário divulgar agora'', avisa Delúbio Soares, que centraliza a arrecadação para o PT. O fato é que, se a campanha de José Serra (PSDB) funciona sem o mesmo volume de captações da eleição de Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes (PPS) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líderes nas pesquisas, estariam colhendo sem dificuldades e mantendo bom trânsito junto aos empresários. ''A arrecadação não está fácil, mas não podemos comparar com a eleição de 1998. Nosso objetivo é chegar a R$ 36 milhões. E estamos indo bem'', disfarça Delúbio.
O PT se sofisticou para seduzir os empresários nacionais. ''Temos um plano e estamos atrás das 10 mil maiores empresas do país'', continua Delúbio. Um kit foi montado para ser mostrado aos financiadores. Inclui uma carta de Lula e do vice José Alencar, uma correntinha com estrelas douradas do PT e um vídeo de 13 minutos com propostas e entrevistas de Lula. A estratégia tem dado certo. ''Geralmente entregamos a fita e, dois dias depois, nosso serviço de call center liga para marcar uma visita do nosso comitê de finanças'', informa Delúbio. Não se despreza ninguém. ''É democrático. Estamos atrás at é de quem está apoiando, por exemplo, o Serra''. Os tucanos prevêem gastar R$ 60 milhões. O PT tem recorrido também aos 278 mil filiados - espera-se arrecadar, no mínimo, R$ 3 milhões. O comitê está coletando ainda dinheiro com a venda de produtos pelo site de Lula.
O mistério em torno do nome dos doadores é tanto que entre os partidários de Ciro, a informação é uma arma de guerra. O candidato do PPS espera arrecadar R$ 25 milhões, o mesmo que Garotinho. ''Estamos em uma disputa acirrada'', comenta Márcio Lacerda. ''Não queremos dar munição ao adversário. Se a empresa x ou y fizer uma doação para gente, e tiver seu nome divulgado, pode nem doar mais ou sofrer pressões por isso. É um problema concreto que enfrentamos. A doação legal vai aparecer, mas não agora''. A Justiça Eleitoral obriga os partidos a entregarem a lista com os doadores e a prestação de contas 30 dias após o primeiro turno.
Acre tem novo chefe da PF
Após interferência de FH, a vaga, desocupada há 16 dias, terá como dono Paulo Fernando Bezerra
O ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, disse ontem ao governador do Acre, Jorge Viana (PT), que o novo superintendente da Polícia Federal no Acre será nomeado ''nos próximos dois dias''. A conversa foi por telefone. Depois de pedir ao presidente Fernando Henrique Cardoso para que o cargo fosse preenchido com urgência - conforme adiantou o JB -, o governador desembarca hoje em Brasília para conversar pessoalmente com o ministro.
A cassação do registro da candidatura de reeleição de Jorge Viana, na última sexta-feira, deixou muito tenso o clima em Rio Branco. A vaga de superintendente da PF está desocupada há 16 dias. Ao JB, o diretor-geral da Polícia Federal, Armando Possa, afirmou ontem que o novo superintendente ''está nomeado e se chama Paulo Fernando Bezerra''.
Mas o diretor-geral da PF ignorava a situação de emergência em que mergulhou o Acre há três dias - e também não sabia ainda quando o delegado nomeado assumiria o posto: ''Não há uma data precisa, deve ser na primeira quinzena de setembro'', declarou. Armando Possa asseverou que ''desconhece'' as preocupações do governador do Acre sob a situação no Estado.
Viana tem declarado temer alguma represália de integrantes do crime organizado, depois da decisão do TRE do Acre favorável ao Movimento Democrático Acreano (PMDB- PPB-PFL). O diretor-geral da PF, porém, jurou que não há problemas: ''Em relação às nossas atribuições, está tudo sob controle''. O JB tentou, sem sucesso, falar com o governador do Acre sobre a nomeação.
De acordo com informações da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), a indicação de Bezerra foi feita pelo PMDB a pedido do ex-superintendente da PF no Acre, Glorivan Bernardes de Oliveira, assessor direto de Armando Possa em Brasília. O ex-superintendente foi uma das testemunhas de defesa do deputado José Aleksandro (PSL-AC) no Conselho de Ética da Câmara. Aleksandro substituiu na Casa o ex-deputado Hildebrando Pascoal, preso desde 1999 por tráfico de drogas e por comandar um grupo de extermínio.
Numa audiência que concedeu ao governador do Acre, há duas semanas em Brasília, o ministro Paulo de Tarso expressou ''firme propósito da PF de continuar colaborando com a Justiça Federal no Acre no combate ao crime organizado'', segundo relato de Jorge Viana. Na ocasião, o governador classificou de ''exemplar'' o trabalho da PF no Estado.
Garotinho chama disputa de baixaria
Candidato criticou troca de farpas
O candidato do PSB à Presidência da República, Anthony Garotinho, classificou a disputa eleitoral de ''baixaria'', durante carreata no Rio de Janeiro. Sem citar nomes, o candidato ironizou: ''O que verificamos é uma baixaria entre os candidatos. Um sendo chamado de mentiroso, o outro de ladrão. Temos então o seguinte fato: um mentiroso, um ladrão e um despreparado. Acho que o povo vai votar no Garotinho'', disse.
O que Garotinho chamou de baixaria foi a troca de acusações durante a semana passada entre o candidato do PSDB, José Serra, e o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes.
Acompanhado da mulher Rosinha Matheus, candidata ao Governo do Estado do Rio, Garotinho disse acreditar que sua candidatura irá ao segundo turno das eleições por ser a única que tem um bom projeto para mostrar à população. Ele afirmou ainda que seu programa eleitoral de TV vai mostrar o que foi feito em sua administração à frente do governo do Rio.
A carreata, que saiu de Padre Miguel, não chegou a empolgar os moradores dos bairros da zona oeste por onde passou. O candidato disse que sempre venceu as eleições na região: ''Não será diferente dessa vez''.
O candidato do PT à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, passou o dia ontem em São Bernardo do Campo, em São Paulo.
Rita cai no chão em SP
SÃO PAULO - A candidata a vice-presidente Rita Camata (PSDB/PMDB) caiu da bicicleta ontem durante um passeio ciclístico organizado pelo PSDB jovem, no parque do Ibirapuera (Zona Sul de São Paulo). Rita usava um chapéu da campanha do tucano José Serra e pedalava ao lado de integrantes do partido, quando se desequilibrou e caiu no chão, de frente, apoiando-se com as duas mãos.
Apesar da queda, Rita não se machucou. Ela se levantou sozinha e continuou o passeio. O grupo se reuniu às 9h na frente do comitê de José Serra nos Jardins. Serra estava no Rio esta manhã e não participou do passeio.
Artigos
Desenvolvimento sustentável
Nilson Naves
Cinge-se à origem dos povos a causa remota da degradação ambiental. Porque dotado da faculdade de pensar, o homem sempre se sentiu impelido a modificar, a influenciar o meio, adaptando-o às suas necessidades não só de sobrevivência mas também de consecução da felicidade, alvo primacial da vida na concepção da sabedoria grega. Assim, a essa epopéia foram sendo acrescentados novos capítulos - da revolução agrícola aos avanços da informática e da genética -, os quais, a par da satisfação daquelas necessidades, foram imprimindo ao legado das gerações pósteras a cor da devastação.
A propósito, reflita-se na indagação de Kant mencionada por Norberto Bobbio na Era dos Direitos: estaria o gênero humano em constante progresso para o melhor? Conquanto tenha o filósofo alemão julgado possível, com certa hesitação, responder afirmativamente à pergunta, o curso da História e a dantesca realidade ecológica dos tempos modernos indicam outra direção. ''As forças geradas pela economia tecnocientífica'', no dizer de Eric Hobsbawm, ''são agora suficientemente grandes para destruir o meio ambiente, ou seja, as fundações materiais da vida humana''.
Verdade inquestionável, as sociedades do século XXI herdaram, e em parte protagonizaram, um mundo tiranizado pelas conseqüências do desenvolvimento desenfreado, que, em detrimento do direito à vida, tem feito campear a desolação.
Evidência, entre outras inumeráveis, da devastação que se instala, a Amazônia dá sinais de agonia: a alteração da paisagem natural não ultrapassava 0,5% no início do século XX, atingindo, 100 anos depois, mais de 17%. Ademais, espantosas as estimativas quanto à extinção de espécies de vida, que se processa num aceleramento quase incontrolável: de 1500 a 1850, foi eliminada uma espécie a cada década, nos 100 anos subseqüentes, uma por ano; em 1990, desapareceram 10 espécies por dia contra uma a cada hora em 2000. Resultante da falta de políticas direcionadas para o aproveitamento ecologicamente correto dos recursos naturais, a visível assolação chegou a motivar o despropósito de se ver ameaçada a soberania do Brasil sobre a rica área.
A mídia veiculou, recentemente, o maior desastre ecológico produzido pelo homem: o Mar de Aral , na Ásia, estará totalmente seco em 2010. Se a advertência se referisse apenas ao seu desaparecimento, talvez não merecesse o destaque que lhe está sendo conferido. O cerne da questão é outro: o elenco de conseqüências daí advindo. Qual o destino dos 55 milhões de pessoas que habitam a bacia daquele mar, abastecido que era ele por rios hoje desviados para fins de irrigação? Onde irão buscar trabalho, renda e alimento, se definha vertiginosamente a grande fonte de indústria pesqueira? E as tempestades de areia e sal, que confinam os moradores, até por semanas, nas suas casas? Além do mais, às doenças relacionadas com a pobreza sobrepõem-se, em nível epidêmico, o câncer, a tuberculose, a asma e outras, decorrentes do uso de agrotóxicos e do elevado teor de sal.
Estaria a perplexa humanidade passiva diante dessa conjuntura apocalíptica que vem sendo fomentada na marcha silenciosa dos milênios? É notório que não. A problemática ambiental, embora seja a ecologia uma ciência recente, já preocupava estudiosos de outras épocas. Nos tempos modernos, tal preocupação tem-se revelado na realização de congressos mundiais e nacionais voltados para a preservação ambiental; na celebração freqüente de acordos, tratados e protocolos, também, na proliferação de leis pertinentes e na criação de órgãos governamentais e não governamentais. Cumpre referir, nessa escalada homérica, a evolução de diversos textos constitucionais, quer no aspecto da sua interpretação, quer no da reformulação, desde a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Estocolmo, 1972).
Dentre essas reações positivas à complexa questão ambiental, merece destaque a Eco-92, ponto de referência da Cúpula do Joanesburgo, que se inicia. É evidente, no entanto, que muito pouco se concretizou das alvissareiras propostas da Agenda 21, programa decorrente da Eco-92. Ao contrário, nos 10 anos que se seguiram, considerada a década perdida, os problemas ambientais agravaram-se mais e mais, e a distância entre os países ricos e os pobres aumentou a olhos vistos.
As ações em prol do desenvolvimento sustentável têm andado a passos lentos nessa luta desigual: é infinitamente mais célere a voracidade com que políticas equivocadas, megaprojetos econômicos, biopirataria predatória, falta de humanismo das grandes potências e desinformação perpetram crimes contra os ecossistemas, dos quais depende a continuação da vida na face da Terra.
Nem de longe promissoras, as perspectivas deparam-nos uma verdade estarrecedora: é inegável que o homem perdeu o leme. Nas pertinentes palavras do historiador Hobsbawm, ''não sabemos para onde estamos indo. Contudo, uma coisa é clara. Se a humanidade quer ter um futuro reconhecível, não pode ser pelo prolongamento do passado ou do presente. Se tentarmos construir o terceiro milênio nessa base, vamos fracassar. E o preço do fracasso (...) é a escuridão.''
Não sabemos, na verdade, para onde estamos indo, mas bem entendemos que há caminhos. Para os trilhar, quando achados, não precisaremos atropelar os avanços científicos e tecnológicos, nem emperrar a máquina do progresso.
Na íngreme jornada rumo à implementação, em escala mundial, do desenvolvimento sustentável, rumo ao equilíbrio entre o progresso tecnocientífico, a satisfação das necessidades humanas e a preservação das fontes da vida, faz-se mister, no entanto, uma mudança radical de mentalidade. Isso em todos os níveis da sociedade, de modo que a vital questão saia do âmbito do debate e se materialize em vontade política séria, urgente e eficaz, sobretudo dos países ricos, consubstanciada, entre outros aspectos, na adesão aos acordos e no combate à exclusão social, de modo que a grave questão se materialize em ação harmônica de todos os segmentos da pirâmide social, daí provindo resposta aos clamores de um planeta em agonia, antes que a escuridão vaticinada nos envolva.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
Jobim acha regra eleitoral superada
Para o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Nelson Jobim, o atual sistema eleitoral está em vias de extinção. Na opinião dele, é inevitável que a próxima eleição já tenha novas regras, sob pena de aumentarem tanto as distorções, na relação entre os candidatos e o eleitorado, que o próprio caráter representativo do Parlamento seja posto em xeque.
''É inequívoco o esgotamento do sistema. Essa desorganização que se vê é a demonstração de que uma geração inteira de políticos referendados no regime militar chegou ao fim e, com ela, todas as normas que balizavam o comportamento dos partidos, desde as correlações de forças internas até a relação com o eleitorado.''
Constituinte de 1988, não é de hoje que Nelson Jobim reflete sobre o tema. Naquela época já alertava para a ausência de uma conexão correta entre representantes e representados, fazendo do Congresso muito mais um ajuntamento de delegados de grupos de interesse - corporativos, religiosos, regionais, profissionais - do que a expressão da representação social do país.
Nada mais natural, portanto, que aproveitasse a visibilidade que lhe dá a presidência do TSE para retomar a luta pela reforma político-partidária e eleitoral. Começou por instituir a regra da verticalização das coligações partidárias, baseado na legislação existente.
É com estranheza que ouve as avaliações de que a obrigatoriedade de as coligações regionais seguirem as alianças nacionais seria a responsável pelo vale-tudo em vigor nas parcerias eleitorais. Jobim argumenta que os acordos não ortodoxos sempre ocorreram. O que a verticalização fez foi imprimir restrição a eles. ''De imediato nos deparamos com situações que eram toleradas, mas passaram a ser ilegais.''
A instituição da ilegalidade, por esse raciocínio, chamou a atenção para o quanto eram inadequadas e desorganizadas as relações interpartidárias. Ou seja, acendeu-se um holofote sobre uma inconsistência que só então passou a ser vista como tal.
Defensor da tese de que o próximo governo não pode adiar por um segundo sequer a execução da reforma política, Jobim prepara-se desde já para fazer a sua parte. Quer usar essa eleição como exemplo do quanto é frágil o sistema atual. Ao longo da campanha está preparando no TSE quadro detalhado sobre as eleições em todos os Estados de modo a que, no final, tenha mapa preciso da origem dos votos que levaram cada um dos eleitos à Câmara dos Deputados.
Com isso tem certeza que obterá a prova definitiva de que inexiste relação direta entre os partidos e os eleitores. Esse material Jobim entregará ao Congresso, uma cópia para cada parlamentar, e a partir daí pretende deflagrar o debate a respeito da necessidade da reforma. Mostrando concretamente que o que existe hoje no Brasil é um arremedo de democracia representativa, em que não há compromissos firmados que necessitem ser cumpridos para garantir a sobrevivência política de ninguém.
Jobim deixa fora da discussão a mudança do regime, raciocina sobre a realidade do presidencialismo. E nele considera que não adianta, por exemplo, falar em fim do voto obrigatório nem em alterações radicais nos mecanismos da eleição.
Agora, há pontos cujo enfrentamento é inadiável: fim das coligações proporcionais, estabelecimento de patamar mínimo de votação nacional para garantir acesso de um partido ao Parlamento, restrições à troca de partido, financiamento público das campanhas, escolha de candidatos pelo sistema de listas fechadas.
Muito bem, nada que já não se saiba e, ainda assim, tudo o que nunca se conseguiu fazer. ''Por isso mesmo é que o momento é o início da legislatura, bem distante da próxima eleição'', argumenta Jobim.
Está certo, mas o que mobilizaria desta vez suas excelências? Aí o pres idente do TSE volta ao efeito fundamental que terá a regra da verticalização na composição do próximo Congresso. ''As chamadas coligações brancas não têm direito à soma do tempo de televisão, não podem usar o dinheiro dos fundos partidários conjuntamente e, mais importante, ficam impedidas de considerar todos os votos obtidos pela coligação para efeito do quociente eleitoral que determina quem é ou não eleito.''
Na avaliação de Jobim, independentemente da diversificação de palanques, serão mais favorecidos os que tiverem se mantido mais próximos da lei. Tanto aqueles que reproduziram nos Estados as alianças nacionais quanto os que optaram por não ter candidatos a presidente. Com isso, ele supõe que vá haver concentração partidária maior: menos partidos elegerão mais deputados.
Ao constatar na prática que a organização do sistema fortalece os partidos mais estruturados, as grandes bancadas, pelo raciocínio de Jobim, terão interesse em aprovar a reforma, por entender que serão favorecidas.
Editorial
PACOTE DE DENÚNCIA
Depois de oito meses de investigação sigilosa, o Ministério Público do Estado de São Paulo acaba de denunciar à Justiça um grupo de políticos, autoridades municipais e funcionários graduados da administração do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), morto em janeiro deste ano. Ao todo, são 13 pessoas, dentre as quais um vereador do PT, três empresários de ônibus locais e o ex-presidente da Comissão Permanente de Licitações.
Os sete promotores do MPE pediram também a quebra do sigilo bancário e fiscal dos acusados de envolvimento em fraudes à Lei de Licitações, com prejuízo de R$17,11 milhões para o tesouro municipal.
Carga pesada: desvio de verbas públicas (peculato), formação de quadrilha, falsidade ideológica e fraude. O ponto de partida foram indícios levantados pelo Tribunal de Contas do Estado e documentos oficiais sobre ''quadrilha organizada estável'' na administração municipal e favorecimento da empresa Projeção Engenharia Paulista de Obras, de propriedade de Ronan Maria Pinto e Humberto Tarcísio de Castro.
O sucessor de Celso Daniel, João Avamileno (PT), assinou seis contratos, no valor de R$1,029 milhão, com a empresa Projeção. Segundo o TCE, são 98% de fraudes. É um recorde. O inquérito sobre a morte de Celso Daniel não convenceu a opinião pública e, em razão do ano eleitoral, o PT levantou a suspeita de crime político e demorou a admitir que houvesse implicação de figuras locais do PT.
A CPI da Câmara de Vereadores também se perdeu em descaminhos. A situação se complicou no plano municipal, mas a direção nacional do PT não percebeu a importância política de um claro desfecho para o episódio de morte mal explicada. Com a posição estável de Lula nas pesquisas, o PT deveria se empenhar em resolver o episódio para não parecer interessado em botar panos quentes numa situação em que é o maior interessado em demonstrar o contrário de leniência ou conivência, por efeito do espírito corporativo.
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08/26/2002
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