Serra reúne governadores e cobra engajamento
Serra reúne governadores e cobra engajamento
Estrategistas garantem que candidato voltará a crescer nas pesquisas ainda antes do horário eleitoral
BRASÍLIA – Com pesquisas, gráficos e projeções, os estrategistas da campanha presidencial da aliança PSDB-PMDB tentaram garantir ontem a manutenção do apoio de 15 governadores ao candidato tucano, José Serra. Para isso, argumentaram que ele tem condições de virar o jogo com a propaganda eleitoral, a partir de 20 de agosto. Na reunião com os aliados, no comitê de campanha, Serra disse que a candidatura dispõe de uma ampla base de sustentação, formada também por setores do PFL e do PPB, e salientou que é preciso uma vinculação maior entre a disputa presidencial e os candidatos nos Estados.
“Nossa parceria hoje é para ganhar, mas é preciso somar forças”, reforçou Serra. O presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), também fez essa cobrança aos governadores presentes ao encontro: pediu associação maior entre os candidatos a governador e ao Senado com a imagem do presidenciável. “Chamaram nossa atenção para fazer uma vinculação maior com Serra”, confirmou o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB).
Para fortalecer e popularizar a candidatura tucana até 20 de agosto, os aliados sugeriram grandes ações, como uma jornada nacional de mobilização. O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), propôs um novo encontro com todos os candidatos a governos estaduais que apóiam Serra. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), sugeriu um “dia nacional” para marcar o início da campanha em todos os municípios.
O estrategista político Antonio Lavareda e o marqueteiro Nizan Guanaes fizeram exposições positivas e garantiram que Serra voltará a crescer nas pesquisas de intenção de voto. Para eles,
ainda existe um porcentual de votos não-cristalizados – os eleitores que podem mudar de opinião.
“Serra vai crescer antes mesmo do horário eleitoral”, insistiu o coordenador político da campanha, deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG). A maior preocupação do comando tucano, ontem, era acabar com a desconfiança de que alguns governadores estariam deixando Serra para a apoiar o candidato do PPS, Ciro Gomes, ou o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Era o caso do governador de Santa Catarina, Esperidião Amin (PPB), que ontem foi garantir que continua com Serra, apesar de o tucano apoiar Luís Henrique (PMDB) em seu Estado: “Ele terá mais de um palanque em Santa Catarina.”
Perda – Todo o esforço não parece ter evitado uma perda: o apoio de Amazonino Mendes (PFL), que estava ontem em Brasília, mas não compareceu à reunião. O governador do Amazonas passou boa parte da tarde com o presidente Fernando Henrique Cardoso. “Logo, Amazonino estará de volta à candidatura tucana”, garantiu, mais tarde, um interlocutor do presidente. Serra também perdeu definitivamente o apoio do governador da Paraíba, Roberto Paulino (PMDB), que está com Lula.
A avaliação geral da reunião, no fim, foi de que, apesar da queda nas pesquisas, a aliança que apóia Serra continua forte e não há riscos de futuras adesões a Ciro ou Lula. “Temos um amplo arco de alianças políticas: bem mais da metade dos governadores de Estado me apóiam”, reforçou Serra. (Colaborou Cida Fontes, da AE)
Tucano promete pacote social de grande impacto
Segundo ele, ações vão ter abrangência similar à que teve o Plano Real na economia
BRASÍLIA – Em discurso otimista, o presidenciável do PSDB, José Serra, comprometeu-se ontem a priorizar a área social, se for eleito. Disse ainda que é o candidato do presidente Fernando Henrique Cardoso e que dará continuidade às políticas sociais do governo. “Aquilo que o Plano Real fez pela economia, o plano social vai fazer pelas pessoas; vamos continuar fazendo mudanças de grande abrangência”, garantiu.
Diante da platéia de 15 governadores, o tucano se comprometeu a fazer a reforma tributária, para dar mais competitividade à economia e gerar empregos no Brasil, a aumentar as exportações e a tirar do papel a reforma política. “Vamos acelerar o desenvolvimento da economia para que as exportações e as oportunidades de emprego melhorem”, afirmou.
Segundo Serra, o atual sistema tributário favorece muito mais o emprego no exterior do que no Brasil. “A reforma tributária também é tarefa dos Estados e, por isso, vamos trabalhar em parceria com os governadores.”
Em relação às exportações, Serra disse que o Brasil tem de exportar porque precisa de dólares, e anunciou que vai reunir-se com os governadores e com setores da economia com potencial exportador para ver o que necessitam para exportar mais. “Vamos fazer isso em cada canto do Brasil para gerar empregos e trazer dólares para o Brasil.”
Reforma – Ao falar da necessidade de uma reforma política, Serra defendeu a adoção do voto distrital misto e a fidelidade partidária. “Não há nenhuma democracia avançada que não tenha partidos fortes.” E lembrou que as reformas só poderão ser feitas por quem tem maioria no Congresso. “O peso da nossa aliança é fundamental para que se governe bem o Brasil.” (Eugênia Lopes e Cida Fontes)
Lula promete ‘guerra’ de subsídios na agricultura
Petista avisa que, se eleito, seguirá a mesma estratégia adotada pela Europa e pelos EUA
IJUÍ – O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que, caso os países que mantêm relação comercial com o Brasil continuem a subsidiar seus produtos agrícolas, o País também adotará essa política em um eventual governo petista. “Ou eles param de dar subsídio ou a gente terá de dar subsídio para o nosso agricultor”, reiterou o petista, em seminário com representantes de entidades do setor agrícola de Ijuí, no interior do Rio Grande do Sul. Para ele, o ideal é “que ninguém precise desses benefícios”.
“Se todos os países que têm relação comercial com o Brasil põem dinheiro nos seus produtos para poder exportar, vamos brigar muito na Organização Mundial do Comércio (OMC) para evitar isso”, disse o candidato, referindo-se à União Européia, que injeta no setor uma fortuna a cada ano, em subsídios, e à política exterior adotada pelos Estados Unidos.
No ano passado, em visita à França, Lula afirmou que o país sabia defender seus produtos agrícolas, enquanto o governo brasileiro não fazia o mesmo diante dos países ricos. Na época, o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, se irritou, acusando o candidato de agir como “quinta-coluna” da França contra interesses do Brasil.
Na segunda-feira, Lula se reuniu com o representante de comércio da União Européia, Pascal Lamy, com quem falou sobre os incentivos. “Já há uma discussão aprofundada de que eles (europeus) vão começar a ajudar o produtor ao invés de dar subsídio ao produto”, informou ontem o petista.
Firmeza – Para ele, as relações comerciais têm de ser tratadas com firmeza: “Não tem moleza, é pior que Grêmio contra Internacional. Negócio é guerra, é isso que precisamos fazer.”
Ao expor suas idéias de política comercial exterior, Lula disse que falta coragem ao atual governo para brigar na OMC pelos seus interesses. “O governo tem medo de entrar com processos por causa de retaliações”, acusou. “O Brasil tem medo de brigar com os grandes. Mas, se fosse assim, Davi não teria derrotado Golias.” Segundo Lula, as autoridades brasileiras não têm “auto-estima suficiente” para fazer a defesa dos verdadeiros interesses do País.
“Não tem presidente que fez mais política exterior do que Fernando Henrique, mas o resultado foi zero”, atacou. A proposta dele para o tema é a criação de uma Secretaria d e Comércio Exterior, ligada à Presidência, e a indicação de um representante em cada Embaixada brasileira para tratar do assunto.
Em comício feito ontem na praça central de Ijuí, Lula afirmou que uma vitória representará para
o Brasil o que foi a eleição do ex-presidente Nelson Mandela para a África do Sul. Falando para cerca de 2 mil pessoas, ele disse que pretende “despertar a consciência social” no eleitorado brasileiro. “A vitória dos Silvas no Brasil vai criar um processo semelhante ao que ocorreu na África do Sul, onde a maioria da população é negra e elegeu Nelson Mandela”, disse o petista, numa referência a seu sobrenome.
Reforço – A agenda das viagens de Lula por cidades do Rio Grande do Sul, que começou ontem e vai até amanhã, também tem como objetivo dar um reforço à candidatura do ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Genro ao governo do Estado. “Não estou aqui para falar de minha eleição, estou aqui para falar da candidatura de Tarso.”
No fim de semana, as últimas pesquisas indicaram que, pela primeira vez, o petista foi ultrapassado pelo candidato do PPS ao governo, Antônio Britto. No comício, Lula fez duras críticas a Britto, que já foi governador, e defendeu o atual governo, do petista Olívio Dutra. “Se fizerem um estudo comparativo entre os governos de Olívio e Britto, Olívio ganha de 10 a 0.”
Pergunta sobre experiência irrita petista na TV
Em entrevista na Globonews, ele diz não haver universidade que ensine a ser presidente
O candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou irritado ontem com a jornalista Miriam Leitão, que lhe perguntou sobre sua falta de experiência administrativa, questão que lhe tem sido feita com freqüência. “Não se aprende a dar conta da problemática do País e das soluções nas escolas. Aí é uma questão de sentimento e de compromisso. Você tem que ser político, ter sensibilidade, ouvir as pessoas e tirar as conclusões”, disse.
No programa Espaço Aberto, exibido ontem na Globonews, Lula disse que procurou um curso universitário que o ensinasse a ser presidente, mas não encontrou. “Não tem universidade que ensine a solução para isso.” Para Lula, o fato de ter fundado o PT e depois a Central Única dos Trabalhadores (CUT), “num momento em que ninguém acreditava”, lhe dá credenciais administrar.
Lula também admitiu que “errou” ao comentar que era “troco” o valor de R$ 40 mil atribuído à suposta arrecadação de propina na prefeitura petista de Santo André. “Eu me expressei mal. Possivelmente tenha errado. O dado concreto é que acho uma coisa abominável, seja um, seja um milhão”, afirmou.
Sobre a morte do prefeito Celso Daniel, Lula disse não estar convencido de que tenha sido um crime comum. “ Sempre desconfiei que a morte do Celso Daniel, bárbara do jeito que foi, não poderia ter acontecido do jeito que aconteceu. Até hoje tenho dúvidas, mas como não sou policial, nem federal, nem civil, nem militar, fico na expectativa de que os dados da polícia sejam verdadeiros”, disse.
Ao comentar sua queda nas pesquisas, Lula disse que não perdeu, já que começou com 24% e foi para 43%. “Eu adquiri gordura como um urso polar hibernando (sic). Com a campanha agora vamos não só recuperar o que nós perdemos, mas vamos tentar ganhar a eleição, de preferência no primeiro turno. Não sei se dá, porque é um jogo difícil, mas vamos tentar”, brincou. “O PT está com a estratégia correta, estamos tranqüilos. Quem tem que se preocupar são os nossos adversários que estão correndo para ver se vão para o segundo turno.”
Mercadante acha inviável elevar mínimo em 2003
Deputado concorda com Serra e alerta para rombo milionário que haveria na Previdência
O deputado Aloizio Mercadante (PT-SP) concordou ontem com o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e disse que é “absolutamente inviável” aumentar o salário mínimo sem uma reforma abrangente na Previdência e sem crescimento econômico de 5% ao ano. “Já disse e vou repetir: cada R$ 1 a mais no mínimo custa R$ 158 milhões na Previdência”, afirmou. “Não adianta fazer um discurso demagógico de campanha para criar expectativas que não se vão realizar.”
Em todas as suas viagens, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promete dobrar em quatro anos o poder de compra do salário mínimo, que hoje é de R$ 200. Mercadante fez questão de destacar, porém, que o plano petista traz uma lista de condicionantes para o aumento do piso e para a criação de 10 milhões de empregos.
No programa “Mais e Melhores Empregos 2002”, o PT assinala que, para a concretização deste objetivo, “é fundamental assegurar as condições econômicas” para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). “Portanto, o que o Serra vem falando não é nenhuma novidade.”
Coordenador do programa econômico petista, Mercadante negou que o PT proponha elevar o mínimo em 20%, caso Lula seja eleito, já no primeiro ano. A sugestão constava de esboço preliminar, mas foi retirada.
Serra ainda não divulgou seu plano de governo e tem criticado todas as propostas para o mínimo, chamando-as de irrealistas. “Não vou fazer promessas mirabolantes que, a partir de 2003, não possa cumprir”, alega. Na outra ponta, Anthony Garotinho (PSB) garante que, se ganhar, o salário mínimo saltará de R$ 200 para R$ 280 em 1.º de maio de 2003. Em 2005, diz, o valor seria de R$ 400.
Quem quer que seja o presidente, no entanto, receberá como herança o comprometimento com metas fiscais, abrangendo o período de 2003 a 2005. A perda de arrecadação prevista só para o ano que vem é de R$ 10,7 bilhões. “Não há margem de manobra, como alguns candidatos estão dizendo, em 2003”, afirmou Mercadante. “Não sabemos como vai estar o País em 1.º de janeiro, nem como será a taxa de câmbio e a de juros e quais as condições de financiamento internacional.”
O programa do PT sustenta que o País precisa “resgatar” a vocação para crescer 7% ao ano. Mas pondera que, com 5%, já estariam criadas as condições para a queda do desemprego. “Só que não é uma meta porque acho muito pouco provável, especialmente nos dois primeiros anos de governo, que se possa chegar a um patamar como este”, disse Mercadante, que é candidato ao Senado.
“Fazer um esforço para dobrar o mínimo em quatro anos é uma das poucas metas do Lula e isso é realmente merecido, mas temos de esperar baixar a poeira para fazer projeções.”
Só trocar presidente não adianta, diz Ciro
Para candidato, problema do País está nas instituições e no modelo de governo
BELO HORIZONTE -- O candidato do PPS à Pesidência, Ciro Gomes, voltou a dizer ontem que não basta trocar o presidente para que o País sofra as "mudanças necessárias". Para ele, o problema fundamental do Brasil está nas instituições, no modelo e nas "estruturas que governam o País".
"O que está acontecendo com o Brasil não é o problema do fulano de tal que hoje nos dirige. Se fosse assim, era muito fácil. Nós trocaríamos o fulano por um beltrano que tudo poderia fazer, acontecer, e o paraíso desceria à terra dos brasileiros", discursou Ciro para prefeitos da região metropolitana de Belo Horizonte, na sede da Associação Comercial de Minas.
"Infelizmente, o problema é muito mais grave, muito mais complexo, embora haja soluções extraordinariamente disponíveis para a sociedade brasileira", completou Ciro.
O presidenciável da Frente Trabalhista não deixou, também, de criticar o presidente Fernando
Henrique Cardoso: "O nosso problema está nas instituições, no modelo, nas estruturas mesmas que hoje governam o País e, evidentemente, a Presidência da República, diante delas, não é neutra. E aí vai a crítica que cabe à complacência, à concordância de um erro de estratégia que pode e deve ser censurado." Ciro também afirmou que o presidente está cercado de "bajuladores".
Itamar - Na chegada a Belo Horizonte, Ciro encontrou-se, no Aeroporto da Pampulha, com o governador de Minas, Itamar Franco, que retornava de Juiz de Fora. "O encontro foi uma feliz coincidência. Me avisaram que ele estava lá. Para meu prazer e meu dever, fui abraçá-lo", disse Ciro. Ele garantiu que não pediu o apoio do governador para sua candidatura: "Um homem da altura de Itamar não pode ser aliciado."
FHC defende Sivam e nega irregularidades
Antes de inaugurar o sistema, ele reitera que escolha da Raytheon se deu em 'processo limpo'
ANÁPOLIS - O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em discurso na Base Aérea de Anápolis (GO), que o processo de instalação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) foi "limpo". Durante a cerimônia de entrega de três aviões que farão parte dos programas do Sivam, ele afirmou que as denúncias de irregularidades envolvendo representantes do governo foram feitas pelos "pessimistas" e "derrotistas" de sempre. Para instalar o projeto de US$ 1,4 bilhão foi selecionada em 1994 a empresa americana Raytheon. A rede de radares, que será usada para garantir a segurança do território e espaço aéreo na Amazônia, será inaugurada hoje, durante visita de Fernando Henrique a Manaus.
No discurso em Anápolis, o presidente saiu em defesa de militares ligados ao Sivam e dos ex-ministros da Aeronáutica Lélio Lobo e Mauro Gandra, que pediu demissão em 1995, por causa da suspeita de que teria feito lobby em favor da Raytheon, escolhida para fornecer equipamentos para a instalação do projeto.
"Também nunca me esquecerei da ação do brigadeiro Oliveira (o chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Marcos Antônio de Oliveira) que vi de perto, nos momentos de grande dificuldade, quando se procurava embaralhar a compreensão de um processo limpo, através de intrigas, de infâmias", disse o presidente. Oliveira esteve ontem na solenidade em Anápolis, quando foram "batizados" com champanhe pelo presidente três aviões R-99, a serem usados na vigilância da Amazônia. Também participaram da cerimônia o comandante da Aeronáuca, Carlos Almeida Baptista, os ministros da Defesa, Geraldo Quintão, e da Casa Civil, Pedro Parente, e o governador de Goiás, Marconi Perillo.
Desde o início - Fernando Henrique afirmou que sempre defendeu o Sivam, desde o processo de seleção da empresa que seria encarregada de instalar os equipamentos, em 1994 (no governo de Itamar Franco), até hoje. Para eles, as pessoas que atuaram para garantir a instalação do Sivam trabalharam com "honestidade".
O comandante da Aeronáutica também defendeu o Sivam, com o argumento de que as informações sobre a existência de problemas na licitação foram patrocinadas pelo que chamou de "comissão de plantação" de denúncias. Em 1995, militares tiveram de prestar depoimento em comissão especial do Senado que apurou supostas irregularidades no projeto.
Calúnias - Para Baptista, não passam de "calúnias, injúrias e difamações" as acusações feitas contra militares.
"Foram feitas requisições, a todo instante, de esclarecimentos de parlamentares, de órgãos de fiscalização de contas, que estiveram permanentemente ao lado de dirigentes da comissão de plantação", disse o comandante. "A tudo, nossa gente respondeu com trabalho, perseverança, garra, tenacidade e, especialmente, com honestidade."
Artigos
O risco Ciro Gomes
Gilberto de Mello Kujawski
Consta que o banqueiro Olavo Setúbal, em conversa com Ciro Gomes, teria dito que não tem medo de Lula. "Porque, se eleito, o Lula não vai fazer nada. Eu tenho medo é de você." Todos concordam que Olavo Setúbal sabe o que diz. Sua perspicácia mercadológica foi posta à prova muitas e muitas vezes, sempre com sucesso. O receio manifesto por alguém nessas condições deve ser ouvido como um vaticínio. Poderá cumprir-se ou não, mas é bom levá-lo em conta. O poder de arranque de Ciro nas pesquisas começa a assustar o eleitorado de cabeça fria.
Para quem não morre de amores por Ciro Gomes, a primeira cautela, ao opinar sobre ele, será a de não desqualificá-lo sumariamente. Para manter a isenção forçoso é reconhecer suas qualidades de homem público. Ciro irradia o charme discreto do líder providencial, o salvador da Pátria em perigo. Ele é enérgico, dotado de senso de autoridade, rara hoje em dia; sabe mandar e nada consta quanto à sua honestidade. Em sua alma vibram sincero patriotismo e forte idealismo, dos quais não se envergonha.
A trajetória do político cearense comprova sobejamente esse perfil, confirmando seu pulso executivo. Ao assumir a prefeitura de Fortaleza, limpou a cidade de toneladas de lixo acumulado nas praias e nas ruas e saneou as finanças, voltando a pagar os salários do funcionalismo, repondo as parcelas atrasadas. Como governador, desenvolveu atuação também saneadora e empreendedora, entregando o Estado em boas condições ao sucessor. Gosta de falar, tem o dom da oralidade, boa cabeça e argumentação aliciadora, o que explica seu sucesso na televisão. Em suma, Ciro Gomes exibe liderança à flor da pele, e sua postura física retesada é a de um puro-sangue da política, um executivo nato, cheio de vitalidade, dinamismo, coragem e determinação.
Depois desse retrato, que poderia passar pela imagem do político ideal, é o caso de indagar: onde está o defeito de Ciro? Existirá no candidato do Felipão, de ACM e de Bornhausen, tão bem-dotado, algum ponto fraco ou duvidoso, que possa comprometer tamanha soma de qualidades?
Não há dúvida que o ponto fraco existe, e está bem à vista de todos. É o seguinte: Ciro, nos bastidores de sua magnífica fachada de carisma e eficácia, sofre contradições terríveis, que ele não sabe administrar harmoniosamente e entram em curto-circuito, eclodindo em explosões inesperadas, de efeito incalculável. Ciro é material perigosamente inflamável, uma caldeira de alta pressão sem válvulas de escape, e suas explosões atingem vários níveis:
podem ser estampidos verbais, xingamentos grosseiros, insultos torpes e pesados; estouros voluntaristas, manifestos em atos e decisões precipitados e impulsivos, que podem não ter volta nem correção possível; rupturas políticas abruptas com os aliados do passado e aliança com os ex-inimigos; estalos ideológicos detonados no gosto do confronto aberto com a ortodoxia, a moderação, e na tendência incoercível para o extremismo e o exibicionismo.
Contradições todos nós as temos; a questão é querer administrá-las de modo a desarmá-las, o que nem todos querem. A contradição básica e primária de Ciro, da qual ele é incapaz de livrar-se, remonta às suas origens políticas.
Sua família, os Gomes de Sobral, integram uma poderosa oligarquia pesando há mais de cem anos na região. Seu bisavô e seu pai foram prefeitos de Sobral e o atual prefeito é seu irmão, Cid.
Representante da fina flor da oligarquia nordestina, como conciliá-la com o ideal apregoado de um político democrata, moderno e progressista, sobretudo num temperamento sentimental como Ciro, agarrado aos manes da família e do meio em que foi criado? A genética do caciquismo não entra em conflito com a cartilha da igualdade e das mudanças sociais? Na linha dessa mesma contradição, Ciro entrou na política pela porta suspeita do PDS, partido gestado pela Arena, agremiação que dava sustentação à ditadura militar. Ele mesmo reconhece: "É uma mancha na minha vida, que assumo, não sem um trauma pessoal" (Veja, ed. 1760). Aí está: os traumas pessoais do candidato, que são muitos e continuados, resolvem-se em explosões absurdas, irracionais, que abalam todo um castelo imaginário de boas intenções.
Uma coisa é a p essoa dada a instabilidades eventuais e muitíssimo outra é o indivíduo movido continuamente a explosões, como Ciro Gomes. A imprevisibilidade é a nota constante e inquietante de sua conduta, traço que o aproxima, para seu desgosto, de dois presidentes que não deram certo devido ao excesso de "independência": Jânio Quadros e Fernando Collor. Como confiar num governante sujeito a rompantes, que desfaz com os pés o que construiu com as mãos? Ciro chama a política para o campo pessoal, em vez de fazer o contrário, consagrando seu ego desmesurado à tarefa impessoal de promoção do bem público pautado na lei e no Estado de Direito, e não nos destemperos, nos caprichos e nas vontades de um temperamento de prima-donna.
E que pensar do apoio do PFL? O presidenciável diz-se "constrangido", mas aceita a aliança proibida. Mais uma contradição, mais uma explosão iminente.
E que dizer de seu guru ideológico, a extravagante figura do professor Roberto Mangabeira Unger, que lembra um personagem fugido daquele conto de Poe, "O sistema do dr. Abreu e do prof. Pena"? Não se trata de nenhuma nulidade, mas de um intelectual engenhoso, embora de aparência meio lunática, que reclama para o Brasil "projetos fortes" (Folha de S.Paulo, 16/7).
"Projetos fortes" é o eufemismo para o populismo e o estatismo desse ex-correligionário de Leonel de Moura Brizola, com verniz de Harvard e tinturas acadêmicas. Estatismo e populismo que encontram terreno fértil num candidato inflado de soberba, que se pretende acima de tudo e de todos, talvez até dos partidos e das instituições.
Editorial
EFETIVO CONTROLE DE NOSSO ESPAÇO AÉREO
Não é exagero afirmar que na data de hoje se inicia a integração de dois terços do território brasileiro, com a instalação do maior sistema, em execução no mundo, de defesa e controle de espaço aéreo. Pois o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) que o presidente Fernando Henrique Cardoso inaugura nesta quinta-feira, quando cerca de 75% de sua estrutura entra em funcionamento, abrange a enorme área de 5,5 milhões de quilômetros quadrados, compreendendo os Estados do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso e Piauí - ou seja, uma extensão territorial equivalente a mais da metade de toda a Europa.
Para se ter uma idéia do que significa - quanto à entrada de contrabando - a imensa fronteira da Amazônia legal, bastaria mencionar que essa região recebe, anualmente, cerca de 1,5 mil tráfegos aéreos desconhecidos, sendo 90% relacionados a atividades ilegais - notadamente o transporte de drogas e armas. Espera-se que, quando o Sivam estiver em pleno funcionamento, nenhuma aeronave - por menor que seja - consiga sobrevoar a Amazônia, sem ser detectada pelos radares, localizados tanto em terra quanto na água e no ar.
Esse projeto representa um investimento global em torno de US$ 1,4 bilhão.
Contém um formidável aparato de controle e defesa - dentro da mais moderna tecnologia –composto de dezenas de aviões, 6 satélites, 25 radares, 87 estações de recepção de imagens geradas por satélite, captação de dados meteorológicos e captação de informações de superfície, 200 plataformas de coleta de dados nos rios da região, Centros Regionais de Vigilância (CRVs), como os de Porto Velho, Manaus e Belém - além de gerar cerca de 2,1 mil empregos diretos.
Afora as operações relacionadas à vigilância do tráfego aéreo (chamada parte "azul" do projeto), há também, de forma inteiramente interligada, as que dizem respeito à fiscalização da superfície (parte "verde"), especialmente referentes a desmatamentos, queimadas e outras atividades predatórias de fauna, flora e meio ambiente. Suas dimensões, portanto, são compatíveis tanto com a imensa extensão territorial, que abrange essa atividade de vigilância do Estado brasileiro, quanto com a complexidade de funções, militares e civis, que ela exige. Nos CRVs, por exemplo, funcionarão Conselhos constituídos por representantes de 17 instituições públicas federais, entre as quais a Agência Nacional de Águas (ANA), a Polícia Federal, o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, o Ibama, a Funai, a Petrobrás e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Esse megaprojeto de vigilância aérea tem recebido uma das maiores "vigilâncias" políticas que já mereceram projetos governamentais no Brasil, tendo sido exaustivamente analisado - e aprovado - pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela "CPI do Sivam", que teve curso no Congresso Nacional, desde que foi escolhida, para sua implantação, a empresa norte-americana Raytheon, que vencera a disputa com a francesa Thomson/Alcatel - estas duas remanescentes de um total de 60 pretendentes que, em fevereiro de 1994 se candidataram a implantar o Sivam. Em nenhum momento houve qualquer dúvida a respeito de a Raytheon ser a mais qualificada, tecnologicamente, para o empreendimento. O que se colocou em dúvida, deu margem a muitas críticas - e a matérias jornalísticas que continuam saindo requentadas, a respeito -, foi o suposto "favorecimento", feito por autoridades militares brasileiras, para que a empresa norte-americana obtivesse melhores condições de suas próprias fontes de financiamento.
Na verdade, pretenderam dar uma conotação de grande escândalo ao empenho de autoridades militares em obter o melhor sistema. E, se houve alguma "esperteza", no caso, foi ela inteiramente em benefício dos interesses nacionais: já que a proposta da empresa norte-americana era tecnicamente a melhor, mas não podia oferecer financiamento tão favorável quanto sua concorrente francesa, autoridades brasileiras facilitaram que ela se financiasse junto ao Eximbank por meio de um expediente em que comunicavam que o Sivam tinha por finalidade principal o combate ao tráfico de drogas e armas - o que é pura verdade e poderia ser divulgado, publicamente, a quem interessar pudesse. Outra "denúncia" diz que autoridades brasileiras teriam se "comprometido" a compartilhar dados, obtidos pelo Sivam, com os norte-americanos.
Convenhamos: será que, com a disponibilidade tecnológica que possuem, com seus satélites, precisam eles de tal compartilhamento?
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07/25/2002
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