Simon questiona recuo de Obama em relação ao acordo nuclear do Irã
Matéria alterada às 19h53
Apesar de reconhecer muitas qualidades no presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse nesta segunda-feira (24) ter estranhado a posição do governo norte-americano contrária ao recente acordo nuclear entre o Irã e a Turquia, fechado com a intermediação do Brasil. Para o parlamentar, Obama "baqueou" frente a pressões ainda não identificadas, mas que podem até ter partido da indústria armamentista.
Outra hipótese, que o senador considera igualmente grave, é a de que por trás dos obstáculos ao desenvolvimento de bombas atômicas por países como Irã estaria uma estratégia para impedir que a tecnologia nuclear com fins pacíficos torne-se realidade fora do grupo de países ricos. As grandes potências estariam receando o aumento do poderio econômico nas áreas do globo ainda não totalmente desenvolvidas. E deu como exemplo a possibilidade de o Brasil unir bacias hidrográficas amazônica e a do Prata utilizando a energia nuclear controlada.
De qualquer forma, Simon condenou a maneira como os ricos conduziram as negociações com o Irã. Em outubro do ano passado, os Estados Unidos teriam estimulado um acordo muito semelhante ao que foi firmado tendo como intermediador o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A prova disso seria uma carta enviada a Lula por Obama. A carta vazou para a imprensa, o que também é recriminável, no entender de Simon. Nela, Obama teria mencionado o enriquecimento de urânio iraniano em 20% pela Turquia, em conjunto com a França e a Rússia.
- Não me passa pela cabeça que o Itamaraty tenha distribuído um texto que não fosse real e concreto. Até sou muito sincero: eu estranho a divulgação do texto. Não sei o que teria levado esse texto a ser publicado - afirmou.
Ainda assim, o senador prestou solidariedade ao governo brasileiro e lamentou que Lula tenha tido seus esforços bombardeados. Para o parlamentar, integrante da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, é possível até que diante do sucesso da diplomacia brasileira, os Estados Unidos e outros países ricos, como a Rússia, a França e a China, tenham decidido sabotar o acordo. Seria uma forma de diminuir a crescente importância e desenvoltura de países hoje considerados "anões".
Outra hipótese pouco louvável para Obama é que Lula tenha sido apenas um joguete nas mãos do presidente dos Estados Unidos, do mesmo modo como teria sido manipulado pelo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Analistas de assuntos internacionais alertaram para o risco de ser ingênuo nesse campo. E, no que se refere às conversas entre Lula e Ahmadinejad, lembraram o que Hitler fez com o primeiro ministro inglês Neville Chanberlain. Em um encontro ocorrido em 1938, Chanberlain acreditou nas promessas de paz do ditador nazista, que logo em seguida invadiu a Áustria. No caso das tratativas entre Lula e Obama, Simon indaga se o presidente brasileiro não se deixou levar pelos incentivos do presidente norte-americano e depois ficou como pai de uma ideia que não deu certo.
A essas conjecturas, Simon ponderou que Obama é um político de muito valor, e que está enfrentando "duras batalhas" internas: Uma delas é a instituição de um programa de saúde para atender 40 milhões de cidadãos antes desassistidos. A outra é o estabelecimento de um "programa revolucionário" de reestruturação do sistema financeiro que prevê maior rigor para a ação dos banqueiros e especuladores.
O que nãos se pode admitir, no entanto, é que nesta disputa com o Irã os Estados Unidos estejam incorrendo no mesmo erro cometido em relação ao Iraque, país acusado injustamente de ter armas químicas. Informações da CIA, depois classificadas como "falsas", basearam a invasão do território iraquiano pelos Estados Unidos e seus aliados. Além da destruição do país, então governado por Sadam Hussein, os iraquianos tiveram seu petróleo saqueado. E há suspeitas de que a empresa do ex-vice-presidente do Estados Unidos no governo GeorgeW. Bush, Richard Cheney, estaria lucrando com a reconstrução do Iraque.
Em aparte, o senador Mão Santa (PSC-PI) pediu o fortalecimento da Organização das Nações Unidas (ONU). O senador do PMDB disse concordar com o parlamentar piauiense e foi além: pediu o fim do Conselho de Segurança da ONU, hoje dominado pelos países mais poderosos, e a votação ampliada a todos os países-membros.
Da Redação/ Agência Senado24/05/2010
Agência Senado
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