Sócrates: dirigentes de futebol não sabem vender o espetáculo e preferem vender o artista
- É como se eu fosse um Médici (referência à família célebre pelo mecenato praticado no renascimento italiano) e contratasse o Michelangelo (pintor e escultor, notabilizado sobretudo pela decoração da Capela Sistina, no Vaticano). Só que, em vez de vender a obra de arte, vendo o próprio artista - comparou o ex-jogador.
Sócrates denunciou que o futebol brasileiro "virou um antro de negociatas". Segundo ele, mesmo os jogadores de médio e baixo porte, para assinar contratos, submetem-se a dividir seus salários com procuradores, treinadores e até com dirigentes de clubes.
O ex-jogador da seleção brasileira de futebol disse que os clubes "estão todos quebrados porque não sabem vender o produto que têm na mão". Lembrou que somente o Corínthians e o Palmeiras têm 25 milhões de aficcionados, mas um jogo entre ambos em São Paulo não consegue levar mais de duas mil pessoas ao campo.
- Os clubes têm receita de R$10 milhões por ano, mas gastam R$30 milhões. Eles só não foram à falência porque são protegidos. Por isso, a maior parte das transações que existem no futebol brasileiro ocorrem em função da compra e venda de jogadores - afirmou. E observou que nem as redes de televisão conseguem vender as cotas de patrocínio para os jogos.
Para Sócrates, a legislação brasileira de desporto, que prende o jogador ao clube através do passe, é "uma excrescência". Ele afirmou que a lei é escravista, "uma prisão em que o trabalhador está sujeito a seu patrão". E ressaltou que nenhum dirigente de futebol quer mudanças, embora clubes e federações estejam no fundo do poço.
- É mais fácil deixar o escravo na mão, porque ninguém quer deixar de ganhar dinheiro - disse ainda Sócrates, para quem "não existe nenhum compromisso dos dirigentes com seus clubes, pelo menos filosoficamente". Ele acrescentou ser uma bobagem dizer que os jogadores irão todos para a Europa com o fim do passe.
- Eles já foram, já estão lá, todo o mundo está lá. Só não foi quem ainda não se destacou para isto - disse. E apontou a "imensa série de passaportes falsos como o retrato de uma indústria de vender jogadores para o exterior".
Goiás
Em sua exposição inicial na mesma reunião da CPI, outro depoente, o advogado do Goiás Esporte Clube, João Bosco Luz de Morais, afirmou que o fim da lei do passe, como previsto na Lei Pelé, fará com que os jovens craques brasileiros migrem todos para o exterior. Em sua opinião, os clubes estrangeiros contratarão esses jogadores sem nenhum investimento em sua formação. E o ônus ficará para as agremiações brasileiras, que investiram nas categorias de base.
22/02/2001
Agência Senado
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