Tarso rejeita ser vice na chapa de Olívio Dutra









Tarso rejeita ser vice na chapa de Olívio Dutra
O prefeito Tarso Genro afirmou ontem, que não abre mão de disputar a indicação do partido para um segundo mandato do PT no Palácio Piratini. Disse que a sua inscrição está mantida pelas tendências e movimentos do partido que estão dando sustentação a sua candidatura ao governo do Estado. Tarso rechaçou a possibilidade de ser o vice, numa eventual composição com Olívio Dutra.

As deliberações foram tomadas pela manhã quando Tarso e seus apoiadores reuniram-se na prefeitura para avaliar os últimos movimentos do grupo que defende a reeleição de Olívio Dutra. "Vamos continuar conversando com todas as forças políticas buscando um consenso, e também manifestamos de maneira formal a inscrição do nosso nome às prévias", declarou. O prefeito disse que o diálogo com todas as tendências em busca de um consenso serão levadas até a exaustão. Ele relatou que pessoalmente considerou positivo o convite ao diálogo feito pelo governador para o PT Amplo e a Rede. "Não se nega o convite de um governador para discutir política".

Sobre um possível oferecimento de cargos no governo para os grupos que o apóiam, Tarso disse que não foram dirigidos à Rede, segmento do partido do qual está atualmente licenciado, mas que mantém como sua referência. Segundo o prefeito, o fato, se ocorrido, teria sido com o PT Amplo, que nega. Ele ainda lembrou que no próprio governo há uma controvérsia se houve ou não houve a proposta. "Eu acho que isso não ocorreu porque temos no governo do Estado pessoas categorizadas que entendem que o problema que está ocorrendo agora, não são um problema de cargos e sim de ver quem é o candidato mais forte e viável, e como se renova e se afirma o projeto que estamos construíndo", disse o prefeito.

Discussão com Rossetto é encerrada
O prefeito Tarso Genro disse resolveu encerrar o episódio com o vice-governador, com quem teve, dias atrás, atritos públicos. "Já respondi e não pretendo mais tocar nesse assunto. No momento que eu tiver de novo qualquer tipo de alusão à minha pessoa que eu ache desaforada ou que saia das medidas, vai responder como sempre tenho feito dentro do debate político. É assunto encerrado. Está resolvido e vamos em frente".
Criticado por ter levado à imprensa o seu descontentamento com cortes da sua imagem pela Televisão Educativa (TVE) na abertura do Fórum Social Mundial, Tarso disse que a discussão interna deve, sempre, permanecer como um princípio. Entretanto, ele destaca que, às vezes, o debate interno se torna público, principalmente quando desrespeita o interesse da sociedade.

"Um exemplo disso foi o fato da TVE. Foi um fato público. Centenas, dezenas de pessoas me falaram nas ruas a respeito do assunto. Portanto foi um fato público que tinha que ser respondido publicamente, e assim será sempre". Para o prefeito esse é um fato que já saiu da agenda de discussão e certamente vai ser avaliado nas instâncias internas para se saber se ele ocorreu ou não. Tarso disse que ficou satisfeito com a carta remetida pelo presidente da TVE, por entender que ele é um homem sério e coloca aquilo que acredita ser a sua visão. "Agora, isso não encerra o assunto", disparou o prefeito.


Chuva do final da tarde volta a alagar a Capital
A forte chuva que atingiu Porto Alegre voltou a causar tumulto. Com proporções semelhantes à precipitação do dia anterior, a tarde de ontem se transformou em um pesadelo para motoristas e pedestres. Por volta das 17h começou a chover intensamente, diminuindo a força somente às 18h30min. Uma nuvem negra atingiu novamente a cidade. Choveu em pontos isolados da Capital, transformando o trânsito em um verdadeiro caos. As zonas mais atingidas foram as regiões baixas, como Centro, Cidade Baixa e Menino Deus.

A avenida João Pessoa continuou com engarrafamento, especialmente no sentido bairro-Centro, mesmo depois que parou a chuva. Muitas pessoas saíram do Centro a pé, desistindo de ônibus ou lotações, para acessar os bairros. As sinaleiras também tiveram problemas, a equipe da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) tiveram que consertar manualmente 30% dos 750 semáforos de Porto Alegre.

A Avenida Goethe, como de costume, ficou parada por causa da enxurrada, obrigando os automóveis a encontrar caminhos alternativos. O Túnel da Conceição também ficou interditado, prejudicando a entrada da cidade. O trânsito em direção à Estação Rodoviária ficou parado, fazendo com que o congestionamento na Castelo Branco chegasse até a Ponte do Guaíba. Voluntários da Pátria e Farrapos tiveram engarrafamentos.
O Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) esclareceu ontem que os alagamentos ocorridos na quarta-feira na avenida Padre Cacique foram causados por rompimento de uma laje de concreto que danificou a tubulação, provocando a obstrução da maior rede de esgotos pluviais da região. A Padre Cacique ficou alagada até as 21h de quarta-feira. Ontem, segundo o DEP, o sistema de esgoto pluvial da avenida não encontrou problemas para escoar a água acumulada.

A previsão para hoje não é das melhores para Porto Alegre: a chuva deve continuar. Ontem, o município de Tucuruçu (próximo a Pelotas) enviou uma notificação para a Defesa Civil do Estado informando que 90 pessoas ficaram desabrigadas devido à chuva. Os 207 municípios em situação de emergência por causa da seca, principalmente na Fronteira Oeste do Estado, continuam sem chuva forte capaz de reverter o quadro da estiagem.


Arrecadação do ICMS cai 18% em janeiro
A arrecadação do Estado com o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) teve queda real de 18,4% em janeiro frente a igual período de 2001, segundo dados preliminares da Fiergs. A principal razão da redução de R$ 119 milhões em relação a janeiro de 2001 foi a necessidade de complementar os recursos disponíveis no final do ano para pagamento do 13º salário dos funcionários públicos estaduais.
Para isso, foi feita a antecipação de R$ 100 milhões do ICMS de janeiro para dezembro, conforme a Secretaria da Fazenda. A antecipação de receitas não era feita desde 1996.

Esta operação tem duas conseqüências sobre as contas do Estado. A primeira é o efeito de inflar as receitas do ano passado. Segundo a assessoria econômica da Fiergs, se não houvesse antecipação de recursos do ICMS e do IPVA para 2001, o déficit orçamentário do ano passado teria sido de R$ 655 milhões, 16,7% a mais do que o déficit de 2000.

A segunda conseqüência é uma pressão adicional de R$ 100 milhões sobre o déficit de 2002. Este efeito pode ser problemático caso não se efetive a previsão do secretário da Fazenda Arno Augustin, de que o incremento do ICMS esse ano seja de R$ 1 bilhão.

Alguns analistas acreditam que esse crescimento não se efetivará. "A estimativa é de permanecer com os mesmos níveis de arrecadação com ICMS do ano passado", aposta o fiscal de tributos da Secretaria da Fazenda, Paulo Guaragna. Ele explica que a possível desaceleração na arrecadação de setores com alto peso na composição da receita, como energia, telecomunicações e combustíveis deve resultar em uma elevação nominal de R$ 500 milhões, o que daria crescimento real de 0%.

O desaquecimento da economia também vai pesar contra o caixa público. "A crise argentina, a desaceleração mundial e o racionamento afetaram fortemente a indústria", diz o presidente da Fiergs, Renan Proença. Ele acredita que a queda no segmento registrada em dezembro vai se refletir na arrecadação de janeiro, e, possivelmente, na de outros meses.

Somando-se a isso o fato de a despesa crescer entre 7% e 8% esse ano, segundo previsão do secretário substituto da Fazenda, Odir Tonollier, e de o orçamento para 2002 não trabalhar com a falta de R$ 100 milhões puxa dos para 2001, conforme informa Paulo Guaragna, o déficit orçamentário pode se agravar em 2002. O fiscal acredita que uma maneira de evitar que isso aconteça é racionalizar as despesas, além de aumentar a fiscalização e diminuir a sonegação. "O orçamento gaúcho é apertado, pois o Estado gasta R$ 1 bilhão anual com a dívida", observa.


Câmara abre processo de impeachment contra juízes
A Comissão Parlamentar da Câmara de Deputados da Argentina anunciou ontem a abertura oficial do processo de impeachment contra os nove juízes da Suprema Corte de Justiça, por mau desempenho das funções públicas e por decisões questionáveis em diferentes casos relacionados aos processos de contrabando de armas, de atentado contra a embaixada de Israel, de reajuste de tarifas telefônicas, leis trabalhistas e outras.
Durante a tarde, manifestantes realizaram um "panelaço" contra os juízes, que acabou em frente ao Congresso. O encontro dos 31 legisladores começou com a leitura de uma resolução que declarava a "admissibilidade formal" do processo, por parte do titular da comissão, o deputado Justicialista (Peronista), Sergio Acevedo. Calcula-se que dentro de 20 dias haverá alguma acusação formal.

Ao todo, foram apresentados até hoje 42 pedidos de impeachment. Porém, o que acelerou o ritmo dos trabalho da Câmara foi a decisão da Suprema Corte declarando inconstitucional o "corralito". Esses pedidos foram feitos por cidadãos argentinos, incluindo parlamentares, advogados, profissionais liberais e sindicalistas.
O processo de juízo político estabelece que a comissão de deputados atua como fiscal. Depois das investigações parlamentares a destituição dos magistrados deve ser aprovada em última instância pelo Senado, com dois terços dos votos.Os magistrados questionados terão direito a defesa.


Porto da Capital embarca carga inédita
O porto da Capital realiza uma operação pioneira ao embarcar 2 mil toneladas de maçãs resfriadas da Agropecuária Schio, produto que nunca tinha sido exportado através da estrutura. A operação, que iniciou ontem, deve estar finalizada até o final do dia de hoje ou amanhã, se não houver atrasos provocados pela forte chuva que caiu em Porto Alegre.

O produto irá para a Holanda, no navio frigorífico Ew McKinley, de bandeira panamenha, que deve demorar 18 dias para chegar à Europa. "Com este tipo de ação vai se invertendo a característica do porto, de importador para exportador", ressalta o superintendente da Superintendência dos Portos e Hidrovias (SPH), Luís Carlos De Cesaro. No próximo dia 22 mais uma carga de 2 mil toneladas de frutas resfriadas devem ser exportadas a partir do porto.

Para o secretário dos Transportes, Beto Albuquerque, a utilização da hidrovia do Guaíba permite uma redução de custos para as empresas e uma geração direta de empregos. "Essa manobra permite a integração do transporte rodoviário e fluvial", exalta Albuquerque. Para o transporte da carga até o porto foram utilizados 80 caminhões. A agência marítima Orion, responsável pelo embarque, estima o custo do trabalho em torno de R$ 150 mil.

Para Albuquerque, esse serviço, juntamente, com as 15 exportações de cargas de frangos realizadas pela Frangosul e os cinco embarques feitos pela Marcopolo, de 452 carrocerias no total, realizados a partir de 2000, comprovam a necessidade de aumentar o calado do porto da Capital de 17 pés para 19 pés. A obra deve iniciar esse ano, com previsão de término para 2003, com um investimento estimado em R$ 30 milhões, sendo a maior parte proveniente da União, outra do governo do Estado e uma terceira de parcerias com empresas privadas.

Conforme De Cesaro, as principais obras para a qualificação do porto, além do aumento do calado, são a sinalização para navegação noturna e a aquisição de um guindaste com capacidade para de 32 toneladas a 40 toneladas, no valor de R$ 1,25 milhão, que deve estar operando daqui a dois meses. "Somente com a dragagem, poderá se aumentar em 50% o peso da carga transportada pelos navios que ancoram em Porto Alegre", exalta De Cesaro.

O porto da Capital movimentou 926 mil toneladas em 1999, 1,067 milhão em 2000 e 900 mil no ano passado. De 70% a 80% da carga que transita pelo porto é constituída de fertilizante.


Banrisul tem lucro líquido de RS 95,6 milhões
O Banrisul obteve um lucro líquido de R$ 95,6 milhões em 2001, um crescimento de 14,5% em relação a 2000. Para esse ano, a estratégia é ganhar em escala, mas sem aquisições. Serão abertas 14 novas agências. O investimento será da ordem de R$ 52 milhões, entre a expansão e reformas. No ano passado, o montante investido foi de R$ 42 milhões, com a inauguração de seis novas agências.

A rentabilidade do patrimônio líquido em 2001 foi de 16,32%. Os dados foram divulgados ontem pelo presidente, Túlio Zamim. Segundo ele, entre as principais causas que levaram ao incremento do lucro está o crescimento e melhora na qualidade das operações de crédito. Grandes bancos de varejo, como o Itaú e Bradesco, obtiveram esse ano uma rentabilidade do PL acima de 20%. Também contribuiu a maior captação de recursos.

Zamim acredita que, em 2002, a base de clientes deve aumentar em mais 10%, cerca de 200 mil novas contas. "Apenas 40% da população economicamente ativa do estado tem conta bancária", justifica. O governador Olívio Dutra comemorou o resultado. "O bom desempenho do banco está ligado ao fator social. Investimos em uma política que estimule a economia do Rio Grande do Sul", destaca.

A receita de tesouraria, apesar da alta dos juros representa apenas 33% da receita total do banco ou R$ 850 milhões. Cerca de 10% do total foi empregado na prestação de serviço. O restante voltou-se para operações de crédito. "O crescimento dos ativos permitirá um caminho mais conservador", diz Zamim. As operações de crédito cresceram 28,2%, atingindo R$ 3,41 bilhões contra R$ 2,66 bilhões de 2000. O segmento de maior destaque foi a carteira de crédito geral Pessoa Física que subiu 52,6%. Em 2001, o volume total foi de R$ 452,9 milhões. "Queremos abrir a oportunidade para quem não tem relação com o setor bancário, mas sem correr risco", diz Zamim. A inadimplência, ao mesmo tempo, ficou abaixo de 1%. As provisões caíram de R$ 195 milhões em 2000 para R$ 159 milhões.


Artigos

A violência é caso de polícia?
Ana Candida Echevenguá

Freud dizia que o homem é essencialmente um animal. Superior aos outros, criou uma ordem civilizada na tentativa de diferenciar-se do mundo animal não-humano. Apesar da evolução, é incapaz de transcender sua animalidade. Como membro integrante duma amoral ordem predatória, sujeita-se aos instintos básicos dos animais. A sociedade tenta controlar seus instintos básicos; a religião e a arte esforçam-se para espiritualizá-lo. Mas a história atesta o fracasso dessas tentativas: a poderosa vitalidade do animal-homem irrompe indiferente a valores do bem e do mal.

Assim, liberdades culturais, sonhadas como conquistas da civilização produziram dramáticos desequilíbrios. A quebra na estrutura axiológica é observável cientificamente. A família não está socializando a criança: domando seus instintos animais para integrá-la numa ordem social e moral. A escola perdeu a autoridade sobre essa mesma criança. A liberdade dos jovens é confundida com consumo de drogas, de sexo e de violência. A globalização criou um exército de excluídos e desempregados. O Brasil, que nunca foi social-democrata, nos anos 90, aderiu à devastação do serviço e do patrimônio público e à proliferação do desemprego. A pobreza não é causa da criminalidade; mas o desemprego desestrutura sociologicamente a família - essencial na reprodução de valores. Os estudiosos demonstram que, após seis meses de desemprego, comportamentos desviantes surg em.

Soma-se a estes fatores a doutrina do etiquetamento: a pessoa condenada por um crime carrega um estigma. Há o grupo dos criminosos e o dos não criminosos. A idéia de ressocialização é mentirosa: a reincidência é de 85%; a expectativa de vida do reincidente é de 25 anos. A ele não interessa se vai morrer ou não, não interessa pena maior: não há expectativa de melhor vida, não há acesso à cultura, à nada. A criminalidade começa na infância, quando ele - o menor pobre - ingressa na FEBEM. Em vista disso, o Direito, ao observar o princípio da legalidade, antecipa o futuro?

Engels defendia que o Estado nasceu da necessidade de a classe economicamente mais forte controlar conflitos sociais entre os diferentes interesses econômicos. Em nome da lei e da ordem, conservadores condenam e/ou reprimem o povo. O Estado capitalista é a resposta à necessidade de mediar o conflito de classes e manter a ordem que reproduz o domínio econômico da burguesia. Em 1997, a bandeira da lei e ordem passou para a esquerda e assegurou aos trabalhistas ingleses a vitória de Blair.

Afinal, o Direito Coletivo do Trabalho legalizou o conflito de classes e permitiu a expansão política do operário como cidadão. Com reformas, Blair reduziu a violência que crescera no governo Thatcher e Major. Em Nova Iorque, um comissário de polícia, ao criar a política da "tolerância zero", obteve o mesmo resultado por algum tempo. No Brasil, a violência atinge todas as categorias sociais: há unanimidade na exigência de sua contenção. Pensa-se em reequipamento e reorganização das instituições policiais. Será, a expansão da violência, caso de polícia? Nossa sociedade tornou-se tolerante com a violência física (e a policial). Por isso, batemos nos nossos filhos. A mídia não perde tempo: quer poderes ilimitados para conter o crime e anseia por leis mais duras. A idéia é voltar ao passado: a sociedade quer repressão, rigorismo, respostas imediatas, buscando exemplares condenações. Afinal, na China, o crime de tráfico é apurado em 40 dias e a pena é morte em praça pública. A classe média, inflada pela mídia, quer botar o mundo (o outro mundo, que não o dela) na cadeia.

Os EUA, nos anos 70, contavam com 350 mil presos. Hoje este número está perto de 2 milhões: jovens entre 18 e 25 anos - chicanos e pretos. Graças a isso, a estatística do desemprego caiu em 4,5%. Ora, preso não é desempregado!! Nos EUA, o terceiro maior negócio é o complexo industrial prisional. Só a cadeia (jaula) rendeu 50 bilhões de dólares em 2000. E o negócio foi a 100 bilhões com despesas com juízes, faculdades... No Brasil, não há "vagas para presos" nem dinheiro para investir. E se houver, é sempre um Zé que vai ser preso. Temos cerca de 8.500 tipos penais mas os operadores usam meia dúzia. O resto é retórica. Os crimes contra o patrimônio - furto e roubo: só pobre pode cometer; apropriação indébita - tem sua autoria na classe média e os crimes do colarinho branco são cometidos pela classe alta. Esta é a sociologia do crime.

É mais fácil prender, processar e condenar o pobre do que o que sonega milhões. Dos 682 casos investigados pelo Banco Central, somente 5 resultaram em condenação: ninguém ficou preso. O Código Penal, de 1940, foi feito para o país agrário: previu penas mais rigorosas para os crimes contra o patrimônio. Por isso, o latrocínio tem condenação maior do que a do homicídio qualificado. A liberalização penal na ditadura - que perdura até hoje - aplicou-se à classe média urbana e manteve o aparato repressivo ao "criminoso de sempre" - o pobre. O governo continua a ser um comitê gestor dos negócios da burguesia.


Colunistas

ADÃO OLIVEIRA

Numa visita a duas cidades do Entorno de Brasília, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o problema da falta de segurança no País "não pode ser resolvido pelo presidente da República com uma Câmara em nível federal". Segundo ele, ao contrário da crise de energia, que pôde ser resolvida por um grupo ligado diretamente ao Palácio do Planalto (a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica - GCE ), o combate ao crime requer ações descentralizadas dos estados e municípios.

Corrupção
Fernando Henrique destacou também a necessidade de combater a corrupção, classificada por ele como "irmã gêmea" dos crimes e assassinatos. O presidente insistiu na necessidade de leis mais severas que garantam a punição e prisão de quem cometeu crimes. Antes de falar sobre segurança, FHC destacou as ações do governo na área social, enfatizando o programa Bolsa-Escola. E afirmou "estamos fazendo distribuição direta de renda no Brasil".

Cobrança
O presidente FHC cobrou do Congresso a votação de cerca de 60 propostas de mudanças na legislação na área de segurança pública. "O Congresso em mutirão poderia votar isso em uma semana. Por que não faz isso?", indagou o presidente. Segundo ele uma destas propostas é complexa porque modifica a Constituição para obrigar a integração das polícias civis e militares nos Estados.

Justiça
O presidente disse ainda que existem outras mudanças legislativas importantes, principalmente a mudança no Código Penal para tornar a Justiça mais ágil. "Nós não podemos mais aceitar que ninguém no Brasil vá para a cadeia protegido pela lei, ou melhor protegido pelas chicanas utilizadas por maus advogados".

Direitos
O presidente destacou que ninguém mais do que ele defende os direitos humanos até porque, lembrou, foi exilado e perseguido. E definiu: "Aquele que é seqüestrado, que é assaltado, aquele que tem família e que morreu é ser humano também e não pode ver que seus algozes estão se beneficiando, fingindo que isto é proteção de direito. Quem matou tem que ir para a cadeia. Quem seqüestrou tem que ir para a cadeia.

Congresso
O presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), disse que não interpretou o discurso do presidente Fernando Henrique Cardoso como uma crítica ou cobrança ao Congresso Nacional. O presidente disse que se houver vontade política do Congresso é possível fazer um mutirão e votar em uma semana os projetos relativos à segurança pública.

Ritmo
Tebet deixou claro que o Congresso seguirá o seu ritmo. O Congresso não pode votar a toque de caixa avisou. Segundo ele, os parlamentares vão continuar a trabalhar pelo aperfeiçoamento das leis. Afirmou que a maior responsabilidade sobre segurança pública é do governo. A maior responsabilidade não é do Congresso, mas de quem executa as leis, afirmou Tebet.


CARLOS BASTOS

As articulações no PT buscam um consenso, e houve inclusive a proposta do governador Olívio Dutra de que seu futuro companheiro de chapa fosse um nome do PT Amplo, ou dos setores que apoiam a candidatura do prefeito de Porto Alegre. Tarso Genro ontem, no entanto, manteve uma agenda de quem continua candidato a disputar a prévia petista para concorrer ao Palácio Piratini. Pela manhã ele teve uma reunião com as lideranças das tendências que o apóiam. No começo da tarde deu uma entrevista a uma emissora de rádio, quando disse que continua com a intenção de chegar à condição de candidato do PT ao governo. Sempre declara que a escolha deve acontecer pelo consenso, mas não afasta a possibilidade de prévia. Ao argumento de que encurtaria seu mandato na capital, Tarso disse que seria uma honraria a Porto Alegre ter seu prefeito guindado à condição de governador. Depois criou mais um fato político efetivando uma visita ao novo presidente da Câmara Municipal, vereador José Fortunati (PDT), seu ex-companheiro de PT e de tendência.

Diversas
  • No final da tarde, Tarso Genro teve um encontro com sindicalistas petistas no restaurante Taberna, no Mercado Público, fechando sua agenda de candidato potencial ao governo do Estado.

  • Na entrevista radiofônica, o p refeito Tarso também deixou claro que na hipótese de ser derrotado pelo governador Olívio Dutra na prévia partidária, não seria candidato a vice-governador, como já aconteceu em 1998.

  • Ele diz que seria a oportunidade para se apontar novas lideranças que estão surgindo no partido, o que afasta a idéia da repetição da dobradinha Olívio-Rossetto.

  • A intensa atividade política de Tarso no dia de ontem dá impressão que é para se antepor à investida palaciana sobre as forças que o apóiam, pois na véspera o governador Olívio Dutra fez uma proposta concreta de indicar alguém do grupo para seu companheiro de chapa, no caso de ser escolhido por consenso.

  • E o vice-prefeito de Santa Maria, Paulo Pimenta, que é um dos líderes do PT Amplo, reafirmou seu apoio a Tarso Genro, dizendo que gostariam que ele saísse candidato pelo consenso, mas como esta hipótese está cada vez mais afastada, não resta outra alternativa que não seja a prévia.

  • Paulo Pimenta diz que a insistência de setores do partido para a repetição da chapa Olívio-Rossetto, e o lançamento de Flávio Koutzii ao Senado, revelam que os interesses de indivíduos e tendências são colocados acima do partido.

    Última
    O deputado Valdir Andres (PPB) assumirá a vice-presidência da Assembléia no próximo dia 19, no lugar do deputado Francisco Áppio. Andres pretende usar a experiência que acumulou como primeiro secretário, em duas oportunidades, e como presidente da CPI da Segurança Pública. Para Andres, a nova tarefa vem acompanhada de um compromisso adicional que será substituir o deputado Sérgio Zambiasi na presidência em um ano eleitoral. A Assembléia será o centro nervoso e o tambor de ressonância da política estadual e a mesa diretora precisará ter muito equilíbrio.


    FERNANDO ALBRECHT

    Fórmula C, de Carteiro
    Parece mas não é. Este funcionário da ECT não está puxando a muque o carro que recolhe correspondência nas caixas dos correios. É um veículo elétrico que complementa os triciclos. Semelhante ao usado para recolher o lixo - o do DMLU tem mais mordomias, como volante e lugar para motora e um carona - este só possui uma espécie de manche, onde ficam os comandos. Decididamente, carteiro sofre. Nem mesmo com carro elétrico podem dar uma sentadinha. Pelo menos, tem teto solar.

    O ataque de Onyx
    O deputado Onyx Lorenzoni (PFL) acusa os "atuais governantes que teorizam sobre as dificuldades internacionais mas adiam a solução dos problemas locais". E pergunta: "E a violência enfrentada pelos gaúchos? E os seqüestros relâmpagos, os assaltos aos ônibus e lotações, as invasões de residências? Quando enfrentarão estes problemas?"

    Nem defunto escapa
    A falta de PMs no posto do Hospital de Clínicas, prédio construído pela comunidade a pedido da BM, fez da área território livre para os ladrões. Nem carro-fúnebre escapa. Lalaus levaram um carro da Funerária Pio XII do estacionamento do HCPA. Os tripulantes foram pegar um cadáver e deixaram aberto o porta-malas, ou porta-defuntos. Quando voltaram, o carro sumira. Imagina se estivesse carregado. Ia com defunto e tudo.

    Sperotto, o ciumento
    Um jantar reuniu jornalistas, publicitários e os presidentes da Fiergs, Renan Proença, e da Farsul, Carlos Sperotto. O papo estava pra lá de animado, mas Sperotto estava caladão. Ligeiramente macambúzio. A folhas tantas, Renan Proença perguntou a Sperotto o motivo do desalento. "Estou com ciúmes", suspirou Sperotto. E arrematou: "O Olívio agora não briga mais comigo, só com o Tarso".

    Problemas do Litoral
    Leitor reclama do reajuste do IPTU de Xangri-Lá, que subiu 28,75% no seu caso. A praia está mal-cuidada, escreve ele, e a prefeitura lasca este aumento absurdo argumentando que 60% dos salários do funcionalismo é pago pelo IPTU. Em contrapartida, nem mesmo expediente em tempo integral existe - o funcionalismo só trabalha pela tarde.

    Problemas da cidade
    Está na hora do Infraero tomar uma providências contra os furtos e roubos que ocorrem no estacionamento do Salgado Filho. Uma leitora, cujo carro foi arrombado durante apenas 15 minutos de ausência, ouviu no posto policial que era o sexto ou sétimo caso em poucos dias. Uma gangue age livremente, embora se saibam quem são. Pilotos também se queixam. Enfim, está como o diabo gosta e ninguém faz nada.

    Bebida sem direção
    A Fundação Thiago de Moraes Gonzaga e o Zoom da Claro Digital disponibilizarão o BuZoom, ônibus especial gratuito que levará jovens para o carnaval. Circulará ininterruptamente de sexta a terça-feira, a partir da 1h da madrugada, nos trajetos Atlântida-Imbé/Atlântida-Capão Novo. Basta cadastrar-se no quiosque do BuZoom em frente ao Ibiza. Muitas famílias, certamente, não terão um feriadão trágico graças a este serviço.

    Ecos do Fórum
    Cena assistida no Bourbon Ipiranga, segunda-feira: dois militantes do FSM com sotaque cariocas esperavam a vez de pagar. O primeiro com uma garrafa de Coca-Cola e o segundo com um leite Parmalat. Este espinafra o colega: "Pô, vais levar essa m... de refrigerante? Por que não um iogurte?". Resposta: "E tu, com esse leite Parmalat?". O segundo se rende filosofando: "É, ainda vamos ter nossas marcas sociais".

    O evangélico Garotinho
    Garotinho terá a total colaboração da fortíssima comunidade evangélica brasileira. Aqui, o presidente do Diretório Municipal do PSB, Hélio Corbellini, comunica que foi formado o 1º Comitê Garotinho Presidente e dia 18 o PSB da Capital organiza o Comitê de Evangélicos.

    Qual é o pó?
    Até hoje, mesmo passados meses da onda de pânico com o antraz, uma funcionária do Banco Central de Porto Alegre está devidamente encarregada de fazer a triagem de correspondência e verificar se não tem pó suspeito. Ela está devidamente apetrechada, com luvas, óculos especiais etc.


    Editorial

    RECEITA RÍGIDA PARA O PRÓXIMO GOVERNO

    Ao contrário do que ocorreu nas duas últimas trocas de governo no Brasil - quando Fernando Collor surpreendeu com o confisco e Itamar Franco com o Plano Real - o resultado das próximas eleições não deve gerar grandes surpresas ou sustos, na economia. O novo governo em 2003, seja qual for o resultado das eleições presidenciais, terá menor margem de manobra para promover uma guinada brusca na política econômica.

    A Lei de Responsabilidade Fiscal, o regime de metas de inflação e a disciplina fiscal, que tem gerado superávits primários, além do orçamento para 2003, que será votado este ano, atuam como salvaguardas e reduzem o grau de incertezas. Isso, sem contar com a possível independência do Banco Central, projeto já aprovado pelo Senado, que deve ir à votação na Câmara dos Deputados em breve, como prioridade do atual governo.

    Entre as restrições econômicas que serão herdadas pelo próximo governo, destaca-se a restrição cambial. À medida em que o crescimento da economia leva a um aumento das importações, há uma amarra à taxa de crescimento dada pelo câmbio. Para que o país possa crescer mais, será preciso apostar no aumento das exportações e em seu efeito multiplicador sobre o mercado interno, sobre emprego, renda e produção.
    A Lei de Responsabilidade Fiscal fixando tetos para endividamento público, para gastos com pessoal, e impedindo que o governo federal assuma dívidas de estados e municípios e a meta de inflação, ainda que fixada acima dos 3,25% previstos para 2003, impedem mudanças na política cambial e forçam a manutenção de uma disciplina fiscal. É verdade que o próximo governo pode acabar com as metas, já que o seu cumprimento está condicionado ao acordo com o Fundo Monetário Internacional, que termina em setembro. Mas nenhum governante, de qualquer partido, é ingênuo para se enganar. Todos sabem que os custos dessa decisão seriam elevados e que o preço, s e resolver abandonar as metas de inflação, será alto, com impacto no mercado, dificuldades de financiamento da dívida pública e juros que não cairão.

    A equipe econômica do próximo presidente receberá como herança um desenho de política econômica interligado - inflação, juros e câmbio. Observa-se que em um regime de câmbio flexível, qualquer inconsistência atinge diretamente os preços, pressionando a inflação para cima. O assessor econômico de Lula, economista Guido Mantega concorda com este princípio, mas observa que há mudanças possíveis e importantes a serem feitas, sem alterar a harmonia do conjunto. Por exemplo, ele defende a manutenção da política de metas de inflação, mas considera irreal o teto de inflação fixado em 3,25% para 2003.

    No entender do PT, o limite de 6% é o razoável para um país emergente como o Brasil às voltas com problemas cambiais. "Isso não significa a volta da memória inflacionária. Se houver focos e pressões sobre os preços, o Banco Central tem que atuar rapidamente, subindo os juros", explica Mantega. Com essa flexibilidade, Mantega entende que haveria margem para uma redução dos juros - defendida tanto pelo PT, quanto pelos economistas encarregados do estudo encomendado pelo PSDB. Hoje, o pagamento com o serviço da dívida consome 12% do Produto Interno Bruto. O setor externo é onde o próximo governo encontrará mais margem de manobra. É necessário superar a fragilidade externa através da obtenção de superávit nas transações correntes para reduzir a pressão sobre o câmbio e permitir a adoção de uma política monetária com juro real mais baixo.


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    02/08/2002


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