Tião Viana acusa governo de subestimar problema do narcotráfico



O senador Sebastião Viana (PT-AC) acusou o Executivo de subestimar a gravidade do problema do narcotráfico no país. Ele fez a afirmação ao comunicar ao Plenário, nesta quinta-feira (dia 31), que a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional aprovou, esta semana, requerimento de sua autoria para a realização de audiência pública para debater as ações do governo no combate ao tráfico e ao consumo de drogas no Brasil.

- Gostaria de deixar este alerta: o governo não está considerando a questão das drogas com a relevância que esta merece. Infelizmente, com todo o respeito aos profissionais que individualmente se empenham nas tarefas de prevenção e de recuperação, entendo que o governo brasileiro continua tratando o problema como uma questão menor - alertou.

Tião Viana chamou a atenção para a presença de diversas máfias internacionais no Brasil. Ele lembrou que por intermédio das investigações da CPI do Narcotráfico e da ação do ex-titular da Secretaria Nacional Antidrogas verificou-se braços das máfias italiana e a japonesa estão agindo no país.

Segundo o senador, relatório do Escritório das Nações Unidas para o Controle de Drogas e Prevenção ao Crime - edição 2000 - aponta o Brasil como o maior mercado de cocaína da América do Sul e o segundo maior das Américas, logo depois dos EUA. Conforme o documento, existem pelo menos 900 mil usuários do entorpecente no Brasil e seu consumo difundiu-se principalmente entre estudantes.

Tião Viana também citou estudo realizado por Marie Christine Dupuis, analista reponsável pelo programa global da ONU, segundo o qual "o Brasil é um dos países mais tentadores para lavagem de dinheiro do crime organizado". Segundo as mesmas fontes, esses recursos ilegais giram em torno de US$ 500 bilhões a US$ 700 bilhões em todo o mundo, o equivalente a 2% do PIB mundial.

No Brasil, disse o senador, uma investigação conjunta da Política Federal, do Ministério Público, do Banco Central e do Conselho de Controle de atividades financeiras apurou que o crime organizado teria lavado R$ 30 bilhões nos anos de 98 a 99, e que o volume total da transação poderia chegar ao dobro disso.

Ao descrever o ciclo do narcotráfico, Viana ressaltou que a distribuição envolve desde o "avião" e o traficante de morro "até o banqueiro". Sendo que este colabora para a legalização do dinheiro gerado pelo narcotráfico. Infelizmente, disse ele, o noticiário revela apenas a ponta mais visível do tráfico.

- A outra ponta, a dos grandes comerciante de droga, nunca chega aos noticiários, mas, na realidade são eles os que lucram com esse verdadeiro mercado da morte. Os traficantes do morro não passam de "terceirizados" que, por sua vez, delegam a atividade mais perigosa para jovens desempregados - afirmou.

Tião Viana apelou para que a promessa do ministro da Justiça, José Gregori, de priorizar ações preventivas, se confirme. Embora reconheça que a Secretaria Nacional Antidrogas tem adotado medidas significativas para enfrentar a questão das drogas, o senador observou que algumas questões formuladas pelo seu primeiro titular, o juiz Walter Maierovitch, continuam pendentes. Ele se referiu a importância das drogas deixarem de ser tratadas como caso de polícia e passarem a ser vistas como caso de saúde pública, assim como questionou a lentidão do governo para desconectar o Brasil da rede internacional do crime.

Em aparte, o senador Geraldo Cândido (PT-RJ) chamou atenção para as relações entre o narcotráfico e o tráfico de armas como uma das principais fontes de violência no Brasil. Casildo Maldaner (PMDB-SC) alertou para a necessidade de o governo criar uma transição para que o antigo plantador de coca ou maconha passe a se dedicar a outra cultura.

31/05/2001

Agência Senado


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