Título de eleitor leva mais de 5 mil às filas na Capital
Título de eleitor leva mais de 5 mil às filas na Capital
Quem fez o alistamento no último dia teve que esperar por até quatro horas
Com filas às portas dos cartórios eleitorais, encerrou-se ontem o prazo de alistamento eleitoral para quem pretende votar nas eleições deste ano.
Em Porto Alegre, as mais de 5 mil pessoas que compareceram aos 10 cartórios da Central de Atendimento ao Eleitor chegaram a ficar quatro horas na fila.
Além dos 20 guichês que funcionam o ano todo e dos 10 novos, abertos nas últimas semanas, outros sete postos de atendimento foram instalados na garagem do prédio dos cartórios da Capital para atender os retardatários. Às 19h, encerrado o prazo para o cadastramento, 780 pessoas ainda aguardavam atendimento. Os funcionários dos cartórios distribuíram senhas para quem estava na fila. O tempo de atendimento médio foi inferior a cinco minutos por eleitor.
No meio da tarde, servidores federais fizeram um protesto, por reajuste salarial, em frente ao prédio da Central de Atendimento ao Eleitor que interrompeu o trânsito na Avenida Padre Cacique.
Apesar de alguns manifestantes terem entrado no prédio para cooptar funcionários para o protesto, não houve interrupção dos trabalhos. Quase todos os servidores que trabalham no local são cedidos por órgãos públicos estaduais, como a Caixa Econômica Estadual, cujo quadro em extinção presta serviços em regime de cedência. Durante mais de duas horas, os eleitores que aguardavam na fila não tiveram outra opção a não ser ouvir os oradores que se revezavam em cima de um carro de som.
No Interior, até as 19h, havia o registro de 33.602 atendimentos nos cartórios eleitorais. Nesse número, não estão incluídos os atendimentos feitos depois do horário, mediante a apresentação de senha, nem os realizados em cartórios que não estão conectados com o sistema on-line do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Amanhã, a Justiça Eleitoral divulgará o número de alistamentos de jovens com idades entre 16 e 18 anos incompletos, alvos de uma campanha promovida pelo TRE e pela Assembléia Legislativa. De acordo com dados do TRE, menos de um terço dos jovens nessa faixa etária, em que o voto é facultativo, eram eleitores antes do início da campanha.
Depois de haver um cruzamento entre os números do Rio Grande do Sul e de outros Estados com o cadastro da Previdência Social, para identificar possíveis eleitores mortos, a Justiça Eleitoral deve divulgar o número total de pessoas aptas a votar na eleição deste ano. Em Porto Alegre, há a expectativa de que o número de eleitores ultrapasse a marca de 1 milhão.
PTB define apoio a Fortunati segunda-feira
As direções nacional e estadual do PTB devem definir na próxima segunda-feira o apoio à candidatura de José Fortunati (PDT) ao Piratini.
A exigência imposta pela cúpula nacional do PTB foi a única forma de evitar uma intervenção no diretório gaúcho, que ocorreria na próxima semana.
Ontem, o líder do PTB na Câmara, deputado Roberto Jefferson (RJ), afirmou que o PTB gaúcho teria gerantido que apoiará Fortunati. A promessa foi feita na noite de terça-feira pelo deputado federal Edir Oliveira durante jantar da cúpula e grupo de deputados do PTB em Brasília.
- Edir disse que o PTB gaúcho vai acolher a candidatura de Fortunati, o que deve pacificar nossas relações – afirmou Jefferson.
A notícia foi saudada inclusive com um brinde proposto pelo presidente nacional do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR). Martinez e Jefferson pretendem se reunir segunda-feira com o deputado Sérgio Zambiasi e integrantes do diretório estadual, em Porto Alegre.
– Eu até entendo que o PTB gaúcho está contrariado. O partido tem excelentes relações com o Britto (o ex-governador Antônio Britto, candidato do PPS), mas o projeto de unificar o trabalhismo passa também pelo Rio Grande do Sul – afirmou Jefferson sobre o desejo de unir PDT e PTB numa sigla.
Ontem, Edir confirmou que a sigla no Estado seguirá a orientação nacional, mas que pretende apenas lançar o nome de Zambiasi ao Senado, sem indicar nomes para vice na chapa de Fortunati. A decisão da executiva do PTB foi criticada pelo senador José Fogaça (PPS):
– A reação será negativa. A cúpula não pode ferrolhar as consciências dos petebistas – disse, referindo-se ao fato de a maioria do PTB gaúcho preferir Britto.
Eles não abrem mão do voto
Em pouco mais de três minutos, Eldi Idiart fez ontem a transferência de seu domicílio eleitoral de Pelotas para Porto Alegre. Com 77 anos, idade em que o voto não é mais obrigatório, Eldi fez questão de se habilitar para votar na oposição. Moradora da Capital há pouco tempo, ela havia extraviado o título durante a mudança e só foi encontrá-lo à meia-noite do penúltimo dia do prazo de cadastramento eleitoral. No Fórum Eleitoral da Capital, teve atendimento especial e não precisou entrar na fila de várias quadras.
Com o filho Bruno, de um ano e dois meses, no colo, Luana Dorneles (foto acima), 16 anos, não teve a mesma sorte e ficou três horas na fila para fazer o título eleitoral. Luana também não precisaria votar até completar 18 anos, mas não abriu mão do direito de participar da eleição deste ano. Luana e Jorge Leonardo Amaral Gonçalves, 18, souberam que o prazo se encerraria ontem pouco antes de entrar na fila. A exemplo de Bruno, que distribuía acenos e sorrisos, Luana e Jorge mantiveram a disposição até chegar aos guichês de atendimento.
CNI reúne candidatos para debater economia
Concorrentes apresentarão agenda para o setor
Os industriais brasileiros pretendem esclarecer com os candidatos à Presidência da República os compromissos de cada um em relação a temas considerados prioritários pelo setor.
Os candidatos estarão reunidos hoje pela primeira vez, no auditório da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, discutindo a agenda a partir da qual a entidade pretende cobrar um programa mais agressivo de incentivo ao crescimento sustentado da economia.
O documento “A Indústria e o Brasil” explicita o posicionamento dos empresários sobre reforma tributária, incentivo às exportações, crédito e política de inovação tecnológica. Foi elaborado a partir de consultas a associações e federações de classe, além de 2 mil empresas.
– A idéia é que o país tem de ter uma agenda clara para crescer a taxas maiores do que as registradas nos últimos anos – diz o deputado federal Armando Monteiro Neto (PMDB-PE), candidato em chapa única à presidência da CNI, que está divulgando o documento.
A síntese da agenda, acrescenta, é mudar o fato de que o Brasil cresce de forma errática, alternando curtos ciclos de crescimento com períodos de estagnação e recessão. Para os empresários, uma taxa ideal seria de 4% a 5% de evolução do Produto Interno Bruto (PIB). A previsão oficial é de que o PIB deverá crescer 2,5% em 2002.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) já confirmaram a presença no encontro de hoje. Não haverá debate entre os candidatos. Cada um terá 20 minutos para fazer uma apreciação dos temas e responderá a três perguntas, feitas pelos empresários. O documento da CNI foi enviado a todos os partidos políticos.
Monteiro Neto ressalta que esta será a primeira vez que os empresários invertem o esquema, se antecipando aos programas dos candidatos à Presidência, para “evitar discursos vazios”. Também pela primeira vez a CNI toca na necessidade de atenção à área social.
PFL gaúcho formaliza apoio à candidatura de Britto
A executiva estadual deverá aprovar a coligação com o PPS por consenso
A executiva esta dual do PFL deve confirmar hoje o apoio à candidatura do ex-governador Antônio Britto (PPS) ao governo do Estado, em reunião no diretório regional do partido.
A participação da sigla na chapa majoritária do PPS será oficializada pelos 11 membros da direção gaúcha do PFL.
Na segunda-feira, o partido convocará todos os filiados ao diretório regional para comunicar a decisão e apresentará Britto como candidato da coligação, em um almoço.
De acordo com o presidente estadual da sigla, deputado Germano Bonow, a indefinição do PFL nacional quanto à aliança com o PSDB não impedirá o diretório de consolidar a parceria no Estado. Segundo ele, a coligação com o PPS não será revista pelo diretório gaúcho.
– É praticamente impossível uma mudança de rumos, porque estamos fechados com Britto. Teremos problemas caso o PFL se coligue com o PSDB nacional – afirmou o deputado, garantindo que a aliança com Britto já é decisão consensual da executiva.
Ontem, um grupo de deputados federais do PFL defendeu em Brasília que o partido antecipe a definição sobre a sucessão presidencial. A cúpula nacional da sigla havia escolhido o dia 6 de junho como prazo final.
A participação do PFL na chapa majoritária do PPS começou a ser definida em meados de abril, quando as articulações da Frente Trabalhista (aliança que reuniria PPS, PTB e PDT) começaram a ruir. Desde então, as direções estaduais dos dois partidos têm mantido conversas e encontros permanentes.
Tanto Bonow quanto o presidente estadual do PPS, deputado federal Nelson Proença, preferem não debater a composição da chapa majoritária antes do anúncio oficial da coligação. Mas a indicação de Bonow para vice de Britto já é vista como certa pelo PFL gaúcho.
– Se depender do partido, Bonow será certamente o candidato a vice – disse o vereador Reginaldo Pujol (PFL).
Embora não confirme sua participação na chapa de Britto, Bonow garante que não fala de cargos “por razão de estratégia”:
– Tenho ouvido seguidamente o meu nome, mas não há nada definido sobre o vice.
Na próxima semana, PFL e PPS deverão definir tópicos do programa de governo da coligação, alianças partidárias para as eleições proporcionais e a estruturação da campanha. Depois da confirmação do vice de Britto, as siglas iniciarão um roteiro conjunto de lançamento da chapa pelo interior do Estado.
Aprovada emenda que pode derrubar regra das coligações
O Senado aprovou ontem, em primeiro turno, por 60 votos a quatro, a proposta de emenda constitucional (PEC) que pode derrubar a verticalização das coligações já para as eleições deste ano.
Apesar da esmagadora maioria favorável à proposta do senador Bernardo Cabral (PFL-AM), para entrar em vigor a emenda ao artigo 17 da Constituição Federal precisa de um segundo turno de votação no Senado e de dois turnos na Câmara, o que não deverá ocorrer antes do recesso parlamentar de julho.
Mesmo os defensores da mudança para que os partidos voltem a ter autonomia para definir suas coligações – sem vinculação entre as candidaturas em nível nacional, estadual, distrital ou municipal – não acreditam que a PEC possa ser votada em regime de urgência. Para isso, seria necessário um acordo de líderes, que esbarraria no PSDB devido à contrariedade do governo.
A votação no Senado teve um efeito mais político do que prático, como um recado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a contrariedade do Congresso à padronização das coligações.
Se a emenda constitucional for promulgada a tempo de vigorar nestas eleições, a sua validade poderá ser contestada no Supremo Tribunal Federal. Pela Constituição, as leis que alteram o processo eleitoral devem ser aprovadas um ano antes das eleições.
Senado vai ouvir ministro e ex-diretor do BB
Líderes do governo alegam terem sido traídos pelos partidos aliados
Um ato tido como de traição por parte do PMDB e um cochilo dos líderes do governo no Senado permitiram ontem a aprovação de um requerimento para que sejam ouvidos na Comissão de Fiscalização e Controle o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira e o empresário Benjamin Steinbruch.
O convite representa mais um golpe na candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência, sob ataque desde que surgiram as denúncias envolvendo Ricardo Sérgio, acusado de cobrar propina de R$ 15 milhões a Steinbruch para direcionar a venda da Vale do Rio Doce, privatizada em 1997, ao grupo liderado pelo empresário.
O poder de convocação da comissão se restringe apenas aos agentes públicos, ou seja, apenas ao ministro da Educação. Portanto, se Paulo Renato recusar o convite, poderá ser convocado. A decisão irritou o governo. O senador Romero Jucá (PSDB-RR), vice-líder do governo, foi à comissão, depois de o pedido ter sido aprovado, tentar anular a decisão. Segundo ele, a votação deveria acontecer na próxima semana.
– Me sinto traído, porque isso não foi combinado – gritava Jucá.
A Comissão de Fiscalização é presidida pelo senador Amir Lando (PMDB-RO). Antes da reunião, ele havia combinado com o líder do seu partido, Renan Calheiros (AL), que não deixaria o requerimento ser votado. Mas não cumpriu a promessa.
O senador Artur da Távola (PSDB-RJ), líder do governo no Senado, disse que houve traição. O processo de votação do requerimento, de autoria do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), foi simbólico. Apenas um senador do PSDB estava presente: Francisco Sartori, que não reclamou.
O cerco ao ex-diretor do BB – que também foi tesoureiro da campanha de Serra ao Senado, em 1994 – começou a se fechar. A Polícia Federal (PF) dá início na próxima semana ao agendamento dos depoimentos que serão prestados por pessoas que estiveram envolvidas no processo de privatização do Sistema Telebrás, em julho de 1998, principalmente os diretores dos fundos de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ), da Petrobras (Petros), da Caixa Econômica Federal (Funcef), e da Telebrás (Sistel).
Em nota divulgada ontem, a Superintendência da PF no Rio esclarece que a Delegacia de Combate ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais já está de posse do relatório contendo a quebra de sigilo fiscal dos últimos cinco anos de Ricardo Sérgio. A quebra do sigilo foi solicitada à Justiça pelo Ministério Público Federal.
Ricardo Sérgio está sendo investigado pela polícia em função de acusações de que teria pedido ao empresário Carlos Jereissati comissão de R$ 90 milhões para convencer fundos de pensão a integrarem o consórcio que acabou comprando a Tele Norte Leste (hoje Telemar) durante leilão do Sistema Telebrás. O inquérito aberto pela PF em 1999 apura, além do suposto pedido de propina de Ricardo Sérgio, o compromentimento dos fundos de pensão, que teriam simulado operações de empréstimo para disfarçar o efetivo financiamento dos participantes do consórcio que comprou a Telemar.
Ciro diz que denúncia é caso de polícia
O candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou ontem que as denúncias de cobrança de propina para organizar um consórcio de empresas e fundos de pensão no processo de privatização da Vale do Rio Doce é caso de polícia.
Ciro evitou comentar o suposto envolvimento do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira nas denúncias.
– Me excluam deste assunto, porque é um caso de delegado de polícia – disse Ciro, antes de participar da primeira de uma série de audiências na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados com os candidatos.
Ciro foi o primeiro presidenciável a participar das audências. Os deputados que integram a comissão querem tomar conhecimento da política externa proposta pelos candidatos à Presidência dentro de seu programa de governo.
Em sua exposição inicial, Ciro defendeu o socorro imediato dos países ricos e do Fundo Monetário Internacional (FMI) à Argentina:
– É nosso dever ajudar a Argentina. A nossa economia está caminhando para o que aconteceu lá.
O candidato descartou a possibilidade de uma aliança com o PT do candidato Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno das eleições presidenciais. Ciro criticou a falta de experiência administrativa de Lula para assumir a governo e atacou também o candidato do PSDB, José Serra, a quem acusou de “falta de escrúpulos”.
– O Lula tem a incrível fragilidade de desejar como primeira experiência administrativa a Presidência da República – afirmou.
Observou, porém, que tem uma “grande afinidade com o padrão de comportamento ético de Lula”:
– Mas me assusta a falta de escrúpulos como se comporta o Serra.
Aprovada emenda do capital estrangeiro
Decisão final dos senadores será tomada em duas semanas
O Senado aprovou ontem, em primeiro turno, a emenda constitucional que permite a entrada de capital estrangeiro nas empresas de comunicação do país.
Os senadores mantiveram o texto dos deputados por 62 votos favoráveis, seis contrários e quatro abstenções. A emenda deverá ser votada em segundo e último turno no Senado dentro de 15 dias.
A proposta permite a participação em até 30% de capital estrangeiro em jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão. Pessoas jurídicas nacionais também poderão participar em até 100% das empresas. Hoje, apenas brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos podem ser proprietários de veículos de comunicação.
O presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), instalará na próxima semana, antes do segundo turno, o Conselho de Comunicação Social, criado pela Constituição Federal, mas nunca efetivado. Reivindicado pela oposição, o conselho será constituído por representantes de empresas de comunicação, de profissionais da área, da classe artística e da sociedade civil.
Promulgada a emenda, a participação de empresas nacionais será imediata. A entrada de capital estrangeiro, no entanto, dependerá de lei a ser aprovada pelos congressistas. O texto aprovado foi resultado de um acordo entre deputados governistas e de oposição com o apoio de entidades representativas de empresas jornalísticas. Na Câmara, o PDT foi contra a proposta, mas liberou o voto no Senado.
Artigos
A responsabilidade na questão agrária
Olívio Dutra
Há problemas sérios no setor agrário brasileiro e gaúcho que se arrastam há muito tempo. Entre eles os conflitos de interesses e a responsabilidade do governo federal por sua lerdeza no tratamento da questão agrária não apenas no Rio Grande do Sul, mas em todo o país. Entretanto, ultimamente tem sido constante a tentativa de responsabilizar o governo da Frente Popular do Rio Grande do Sul por uma questão secular e que se agrava com o passar dos anos. O recente episódio da Fazenda Ana Paula traz novamente o problema para as manchetes e, como vem acontecendo, desde nossa vitória por estas plagas, análises distorcidas tentam culpar o governo do Estado pelo acontecido. É esta questão que deve ser plenamente esclarecida.
O nosso governo tem como princípio a observância da lei e, portanto, sempre cumprimos as decisões judiciais. Nossa postura foi – e continuará sendo – a de mediação nos conflitos, buscar sempre a negociação, a fim de evitar a exacerbação das contradições para preservar a vida. E podemos proclamar aos gaúchos que obtivemos pleno êxito na diminuição da violência, com um saldo zero de vítimas, em contraste com outras regiões brasileiras. Além disso, a ocupação de terras durante estes quase quatro anos não foi maior do que durante os governos anteriores e também não foi maior o prazo para o cumprimento das decisões judiciais referentes à questão agrária em nosso Estado.
O MST é um movimento social com plena autonomia. Não é um apêndice do governo, nem de qualquer partido político
Uma evidente manifestação de má-fé são as repetidas acusações de que incentivamos o MST nas ocupações. Ora, o MST é um movimento social com plena autonomia. Não é um apêndice do governo, nem de qualquer partido político. Além disso, é preciso ficar claro que não nos causam prazer as ocupações de terras e o agravamento dos conflitos agrários. Trabalhamos, ao contrário, com o objetivo de solucionar o conflito e podemos afirmar com segurança que temos obtido êxito inegável se compararmos números e estatísticas com gestões anteriores. E tudo dentro da lei. No caso atual da Fazenda Ana Paula, por exemplo, os proprietários optaram por não entrar na Justiça. Ora, nenhum governo age sem uma decisão judicial na disputa por uma posse de terra.
Na verdade, o grande problema é a não-realização da reforma agrária em nosso país. Enquanto em todos os países capitalistas avançados esta etapa já foi realizada, continuamos com uma estrutura obsoleta, uma pesada herança de séculos passados. E a responsabilidade primeira de realizar a reforma agrária é do governo federal e das elites que se recusam a dar um passo decisivo para o desenvolvimento econômico e a justiça social. Os ruralistas acirram a contradição deixando crescer o inço da violência ao impedir as vistorias por parte do Incra. O governo federal, aliás, tem se caracterizado pela não-assunção de suas responsabilidades, ao não se impor na questão das vistorias, nem realizar as desapropriações necessárias.
Afirmamos o nosso projeto. Conforme compromissos assumidos em 1998, estamos realizando a parte que nos cabe para mudar a estrutura fundiária no Estado. De 1978 a 1998 foram assentadas 6.845 famílias, das quais 1.865 sob responsabilidade dos governos estaduais. Contrastando com este quadro até o final de 2002, em quatro anos portanto, teremos assentadas 7 mil famílias, com crédito, educação e programa de saúde assegurados, além de trabalharmos para a recuperação de assentamentos anteriores ao nosso governo e que tinham sido abandonados à própria sorte. Os números mostram que trabalhamos concretamente para modificar uma situação de problemas e conflitos seculares, em contraste com quem deveria tomar a iniciativa, o governo federal. A questão agrária no Brasil é séria demais para ser tratada com retórica e ideologismo barato. Para nós, reforma agrária e política agrícola devem andar de mãos dadas para o bem do Rio Grande e do Brasil.
Colunistas
ANA AMÉLIA LEMOS
Especulação e reação
O comentário feito neste espaço sobre as análises de agências internacionais projetando aumento do risco Brasil por conta de uma eventual vitória da oposição não teve apoio de muitos leitores. A interpretação, apresentada aqui terça-feira, atribuía à onda especulativa a razão de tais avaliações de bancos estrangeiros e agências, e minimizava o impacto da vitória do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, em relação por exemplo a mudanças radicais na política econômica. De Fortaleza, o leitor Rogério Souza usou endereço eletrônico para apresentar seu protesto. Assim escreveu o referido leitor: “Você acha que um partido que combate a agricultura moderna, que expulsa empresas estrangeiras (a Ford), que ainda fala em luta de classes, em ditadura do proletariado, em mais-valia, merece palmas e aplausos de investidores estrangeiros em vez de chumbo?”
Também por mensagem eletrônica, o leitor Régis Ribeiro Baldino apresenta seus argumentos para contestar as avaliações feitas neste espaço sobre as recomendações dos bancos estrangeiros, em caso de vitória do PT. Disse que as firmas que emitiram tais análises têm grande patrimônio e credibilidade e não irão colocar esse conceito em risco quer por ação, quer por omissão. Baldino acredita que o interesse desses bancos é preservar os negócios dos seus clientes, cumprindo obrigações contratuais e pouco se importando se isso prejudica ou não a economia do país analisado.
“Nós, por aqui, estamos acostumados com a pouca cultura e a língua solta do candidato, mas seguramente no Exterior pega mal quando ele diz que não conhece as instituições Merril Lynch e Morgan Stanley. Isso é, no mínimo, prova de pouca cultura e, quando afirma que uma vez eleito reduzirá de imediato para 4% as taxas de juros, dá prova de ignorância mesmo, justificando plenamente a opinião dos analistas de risco.”
A boa performance eleitoral do PT na disputa presidencial levou assessores diretos do candidato a buscarem contatos com o setor financeiro, a área empresarial e a outros segmentos importantes da produção. Querem evitar pânico. Na dianteira desse plano está o deputado e economista Aloízio Mercadante (PT-SP). E hoje, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Lula, José Serra, Anthony Garotinho e Ciro Gomes apresentam suas propostas para a economia nacional.
JOSÉ BARRIONUEVO
Aliança do PTB com o PDT na majoritária
Sônia Santos seria a vice de Fortunati, com Zambiasi para o Senado
A disposição do comando nacional do PTB de vir ao RS para buscar uma solução para o impasse na Frente Trabalhista, segunda-feira, é um primeiro indicativo de busca do entendimento com bons modos. A truculência, tanto de Leonel Brizola quanto de Roberto Jefferson, estava jogando o PTB nos braços do PPS. Com diálogo, o PTB gaúcho não poderá resistir a uma proposta que libere a eleição proporcional da aliança, permitindo uma nominata exclusiva para deputado estadual e federal, sem parceria com outros partidos. Em contrapartida, Sérgio Zambiasi participaria da chapa majoritária como candidato ao Senado, indicando o PTB ainda o vice de Fortunati, provavelmente a ex-vereadora Sônia Santos.
“Custo PT” combina ranço ideológico com má gestão
Presidente da Comissão de Fiscalização e Controle, o deputado Berfran Rosado (PPS), engenheiro, definiu ontem, em discurso durante o grande expediente da sessão da Assembléia, o que seria o “custo PT”: uma combinação do ranço ideológico com a incapacidade administrativa. Diz que o preconceito espantou uma série incomensurável de investimentos a partir do expurgo da Ford, não conseguindo gerar nenhuma iniciativa que ampliasse a receita, travando o desenvolvimento. Já a má gestão estaria gerando, segundo o deputado, um brutal prejuízo na área social, com falta de segurança, ausência de recursos para a saúde, falta de salas de aula, de professores e de merenda.
Na avaliação de Berfran Rosado, só o déficit, objetivo, nas finanças públicas, chegará ao final do governo a R$ 4 bilhões.
Base rejeita discurso do comando do PMDB
O diretório metropolitano do PMDB desaprovou o nível das críticas de Pedro Simon e Cezar Schirmer no congresso de mulheres no domingo, quando os dois dirigentes do partido concentraram fogo nos ex-companheiros que foram para o PPS, com destaque para Antônio Britto. Com apenas três votos contrários, o diretório decidiu remeter carta ao comando do PMDB observando que esta não é a linguagem que caracteriza a luta da sigla ao longo de sua história. Discorda da postura do ponto de vista ético e lembra que tanto Simon quanto Schirmer sempre disseram que o governo Britto era o melhor de todos os tempos. Ressalta ainda que o adversário é o PT e que a campanha não pode servir para catarse de mágoas pessoais.
Jô entrevista Garotinho
Na primeira entrevista da série com presidenciáveis, Jô Soares ouviu de Anthony Garotino (PSB) dizer que não vê motivos para tirar da chapa o candidato a vice, Costa Leite, por ter trabalhado 11 anos no SNI durante a ditadura militar.
Hoje, na madrugada, seria a vez de Lula.
Hortênsias terá candidato
Região das Hortênsias pode voltar a ter um representante na Assembléia, se a investida de um grupo de prefeitos e lideranças do PPB conseguir convencer o diretório estadual do partido a liberar seu principal operador, o secretário-geral Antônio Dorneu Maciel. Um abaixo-assinado reúne apoios que vão de Gramado a municípios dos Campos de Cima da Serra. Filho de ex-prefeito, natural de São Francisco de Paula, onde foi vereador, Maciel tem sido o porta-voz das principais reivindicações da região.
Falta ainda o nihil obstat de Celso Bernardi, que não gostou da idéia de perder seu braço direito na campanha ao Piratini.
Pardal deu cria
Irritado com a postura olímpica da prefeitura de Porto Alegre, o vereador Fernando Záchia (PMDB) foi para a rua disposto a combater o pardal faturador em seu habitat. Junto com uma campanha educativa, colocou placas na maioria dos pardais alertando para a multa. Resultado: houve uma queda vertiginosa da arrecadação no dia de ontem, como sua equipe pôde comprovar no período em que esteve na Silva Só. Baixou para zero, sem que nenhum acidente se registrasse na redondeza.
Záchia está disposto a exterminar o “pardal faturador”, como define, que “está dando cria”, com aumento de 12 para 18 pontos de arrecadação.
Manobra
O líder do governo, vereador Marcelo Danéris, ainda tentou protestar, ontem, diante da quebra de um acordo em plenário patrocinado por Sebastião Melo, do PMDB, e Isaac Ainhorn, do PDT. Uma manobra em plenário, antecipando a votação de uma questão polêmica, pegou a bancada do governo desatenta. A Câmara de Porto Alegre aprovou parecer que vai permitir anular o realinhamento de preços nas tarifas do Dmae.
Tarso reúne comando
O primeiro compromisso político de Tarso, no regresso da Europa, será um café da manhã com os 26 integrantes da coordenação da campanha, segunda-feira. Na quarta-feira, o candidato do PT faz a primeira incursão ao Interior, começando pelo menor município do Estado, André da Rocha.
O comitê central da campanha será montado na Duque de Caxias, 555, onde funcionavam algumas zonas eleitorais.
Menos acidentes em rodovias com lombadas
O deputado Elmar Schneider encontrou no site da Secretaria dos Transportes informações suficientes para ficar convencido de que está certa a preocupação do Ministério Público. Os números são de janeiro a maio de 2001: nas rodovias onde estão instaladas as 22 lombadas, houve 162 acidentes neste período, com seis mortes; nas rodovias onde estão instalados 29 pardais, foram constatados 1.279 acidentes, com 58 mortes. Não deixa dúvidas.
Mas no que depender do governo, permanecem os pardais, pelo simples motivo de que arrecadam mais. Não importam as mortes.
ROSANE DE OLVEIRA
Segundo turno
Inventado com a mais nobre das intenções – garantir ao presidente, ao governador e aos prefeitos das grandes cidades governar com o apoio de uma maioria sólida –, o segundo turno vai servir neste ano para expor as contradições que vicejam no seio dos partidos. O eleitor deve estar preparado para um certo surrealismo, por conta do inusitado: tudo indica que, pela primeira vez, o Brasil terá uma eleição presidencial em dois turnos combinada com o segundo turno nos Estados.
Em 1989, a eleição foi decidida em dois turnos, mas era uma eleição solteira, só para presidente da República. Os votos do PMDB se dividiram entre Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva. O PSDB, idem. PPB e PFL fecharam com Collor e conquistaram cargos no governo. O PDT fez campanha para Lula, depois de o ex-governador Leonel Brizola ter dito que seria obrigado a engolir o “sapo barbudo”. Foi mais fácil digerir porque não havia governos estaduais em disputa.
Em 1994 e 1998 Fernando Henrique Cardoso ganhou a eleição no primeiro turno, e a dis puta no segundo ficou restrita aos Estados, com o presidente eleito apoiando seus preferidos ou se abstendo onde dois aliados disputavam o governo.
Tudo será diferente em 27 de outubro. As pesquisas indicam que haverá segundo turno na eleição do presidente da República e dos governadores dos principais Estados brasileiros. Será um teste para as convicções partidárias.
Tome-se o exemplo do PPS. O senador Roberto Freire, presidente do partido, já disse que se não forem os dois para o segundo turno, Lula e Ciro Gomes estarão no mesmo palanque. Impossível imaginar essa cena no Rio Grande do Sul, onde o ex-governador Antônio Britto e os deputados que foram com ele para o PPS nutrem pelo PT um sentimento que oscila entre o ódio e o desprezo. A recíproca é verdadeira.
Se o segundo turno for disputado entre Tarso Genro e Antônio Britto, como ficará o PDT, que rompeu com o PT na metade do governo Olívio Dutra e vetou o nome do candidato do PPS para representar a Frente Trabalhista? Não importa o que Brizola decida, mas se a final for entre Britto e Tarso, o PDT marchará dividido.
Nesse mesmo cenário, o PMDB também se dividirá. Magoados com Britto, que deixou o partido em setembro do ano passado, líderes peemedebistas não falam abertamente na hipótese de Germano Rigotto ficar de fora do segundo turno, mas sabem que a divisão será inevitável. Uma parte votará em Britto, outra em Tarso e outra anulará o voto ou apertará a tecla do branco na urna eletrônica.
Por nunca ter brigado com ninguém, a esperança de Rigotto é a mesma de Celso Bernardi, do PPB: chegar ao segundo turno e reunir em torno de seu nome todos os adversários do PT. Que não são os mesmos na sucessão presidencial, convém registrar.
Editorial
O AVANÇO POSSÍVEL
Detalhamento do Censo 2000, divulgado ontem, revela que os anos 90 não conseguiram assegurar ganhos na renda, nem reduzir as desigualdades de poder aquisitivo entre os brasileiros. Em compensação, aceleraram avanços consistentes na área social. Deixaram também um legado importante de transformações como o crescimento do número de mulheres no comando de famílias, além de maior acesso à energia elétrica e ao telefone e de um salto contrastante com a evolução da renda na presença de bens de consumo duráveis no lar, dentre os quais o computador. Como fez questão de ressaltar o presidente Fernando Henrique Cardoso, esse retrato sem retoques do brasileiro não é para ser visto com “triunfalismo nem pessimismo”, mas com o realismo necessário para pautar uma orientação eficiente de políticas públicas daqui para a frente.
Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), abrangendo parte dos governos Fernando Collor, o de Itamar Franco e o atual, reafirmam conquistas particularmente nas áreas de saúde e de educação. Entre 1991 e 2000, o índice de mortalidade infantil caiu de 48 para 29,6 por mil crianças nascidas vivas. No mesmo período, o percentual de crianças entre sete e 14 anos em sala de aula ampliou-se de 79,5% para 94,9%. Bastam esses resultados relacionados aos jovens cidadãos para demonstrar que, mesmo em momentos de dificuldades financeiras, políticas públicas bem orientadas detêm um inacreditável poder de assegurar melhorias. A condição é que sejam colocadas em prática com eficiência e sem descontinuidade.
O país só poderá ampliar e consolidar ganhos se conciliar políticas
sociais eficientes com expansão econômica
Num quadro de dificuldades generalizadas como o enfrentado pelo país, os ganhos em áreas sociais não são atestados apenas pelos números oficiais. Ainda nesta semana, a Organização das Nações Unidas (ONU) formalizou a decisão de instalar no Rio de Janeiro o Centro Internacional para Políticas de Redução da Pobreza. A escolha não se deveu ao fato de o país concentrar um contingente expressivo de miséria infantil, mas justamente por estar conseguindo reduzi-lo gradativamente. Mantido o ritmo atual, não é improvável que o Brasil venha a cumprir a meta, assumida internacionalmente, de reduzir pela metade os níveis de pobreza até 2015.
Independentemente do acerto de programas em áreas essenciais, é importante que o país possa enfrentar também desafios que dependem também do desempenho do setor privado. Com base nos mesmos números do Censo, o especialista na área do trabalho Marcio Pochmann, de São Paulo, alerta que, em 10 anos, a proporção de chefes de família sem qualquer renda ampliou-se de 11,8% para 32,3%. Mantidos os níveis atuais de apenas 2% de crescimento econômico, o percentual de sem-renda poderá superar o de chefe de famílias mais pobres com algum salário já ao final dos próximos 10 anos. O país precisa se preparar desde já para afastar riscos como esses, que ameaçam as conquistas sociais. Só poderá ampliar e consolidar ganhos, porém, se conciliar políticas sociais eficientes com expansão econômica.
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05/09/2002
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