Trabalhadores estão dispostos a sacrificar 2,9 mil empregos para salvar Varig, afirma representante de empregados



Os empregados da Varig estão dispostos a aceitar cortes no número de empregos na companhia como contribuição ao plano de recuperação da empresa. Para adequar o quadro às condições operacionais do momento, eles aprovam uma redução de 2.900 postos, como revelou o coordenador dos Trabalhadores do Grupo Varig, Márcio Marsillac, em audiência pública realizada no Senado, nesta terça-feira (25), para debater a crise e apontar alternativas destinadas a salvar a companhia da falência.

O plano envolve ainda uma negociação para que os empregados remanescentes abram mão de 30% de seus salários, acrescentou Marsillac. No depoimento, ele pediu pressa e uma ação "proativa" do governo para que se mantenha a empresa viva. Argumentou que a demora pode complicar seriamente o quadro atual, agravado pela redução da entrada de recursos no caixa da empresa em razão da queda sazonal do movimento no setor, nos primeiros meses do ano.

A audiência foi promovida por quatro comissões: Serviços de Infra-estrutura (CI), Assuntos Econômicos (CAE), Assuntos Sociais (CAS) e Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR). Os debates serão retomados na próxima semana, com a presença da ministra-chefe da casa Civil, Dilma Rousseff, entre outros representantes do governo que serão convidados a manifestar-se sobre a crise.

Marsillac criticou a intervenção no fundo Aerus, dos empregados da Varig, pela Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social. A decisão, como explicou, impede a execução do plano de recuperação proposto pelos empregados. A proposta implicava mobilizar recursos do fundo para as indenizações dos empregados que seriam dispensados, além de assegurar a recuperação e recolocação em linha de dez aeronaves, medida considerada fundamental para a recuperação do fluxo de caixa.

No depoimento, Marsillac lembrou que a empresa já chegou a operar vôos deficitários, para a África, apenas para atender interesses diplomáticos do Brasil. Também salientou que os trabalhadores reconhecem que os atuais problemas da companhia foram causados por gestão inadequada e até temerária. No entanto, fez questão de destacar prejuízos provocados por erros de políticas de governo, como no congelamento tarifário do Plano Cruzado. Por decisão da Justiça, conforme Marsillac, essa questão garante à Varig indenização da ordem de R$ 6,8 bilhões.

- A empresa tem crédito moral de sobra para com país e com sociedade brasileira, mas também créditos de ordem econômica e financeira ; e é isso o que vai garantir a recuperação da Varig- argumentou.

Mantra

O presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Elnio Borges, criticou o "mantra", segundo ele repetido por autoridades e até por sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores (CUT), de que dinheiro público não será usado para salvar a Varig. Garantiu que os planos para a recuperação da empresa não passam por esse caminho e que as interpretações nessa linha - como denunciou - camuflam interesses a favor da falência da empresa, de sua entrega a concorrentes ou de sua venda, "na bacia das almas", para especuladores.

Borges citou como fato estranho a decisão da BR - estatal vinculada à Petrobras - de suspender a oferta de crédito para a venda de combustível à companhia. Isso ocorreu, segundo ele, apenas um mês depois de firmado um acordo entre a Varig e seus credores para ampliação do prazo das dívidas, em janeiro. Também criticou a intervenção no fundo Aerus, impedindo a mobilização de recursos de curto prazo para socorrer a empresa.

- Os trabalhadores consideram criminosa a intervenção - afirmou Borges, observando que seria usado apenas um quarto das reservas disponíveis do fundo no reforço ao caixa da Varig.

O diretor-geral da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Sérgio Silveira Zuanazzi, contestou críticas à falta de apoio do governo para salvar a empresa. Segundo ele, esse apoio vem ocorrendo há muitos governos, do contrário o "desfecho" da situação da empresa já teria sido outro. O que está em questão, como afirmou, diz respeito à forma de capitalização da empresa - se o aporte de recursos virá do governo ou do setor privado.

25/04/2006

Agência Senado


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