Um terço da Câmara entra no troca-troca



Um terço da Câmara entra no troca-troca Fim do prazo para filiação acelera a mudança de legenda, que atinge 161 dos 513 deputados federais. Para aumentar a representação no Congresso, os partidos políticos, a partir de agora, só têm uma saída. Conquistar o voto do eleitor. Em cumprimento à legislação eleitoral, o político precisa estar filiado a um partido doze meses antes do pleito. Este prazo terminou no sábado, fazendo com que seja interrompido o troca-troca de legenda. Só na atual legislatura, a Câmara dos Deputados processou 251 mudanças de sigla, protagonizadas por 161 deputados. No total, os deputados são 513. Isso quer dizer que 31,1% dos deputados, quase um terço deles, mudou. No Senado houve 15 mudanças, onze delas só nas duas últimas semanas. De setembro até 6 de outubro ocorreram 31 trocas. Nesse período, o PSDB foi o partido que registrou mais perdas: 13 no total. O PTB foi o mais favorecido, somando seis novos deputados à sua bancada. PPB e PFL surgem em seguida, com três novas filiações. Como o PFL passou a ser a maior bancada, com 96 deputados, e se somou ao PST, com 5, adquire também a condição de maior bloco, com 101 deputados. Seguem-se PMDB, com 92, e PSDB, com 91. Também formam blocos o PPS com o PDT, o PL com o PSL, e o PSB com o PC do B. No Senado, 15 mudanças Em 2001, 15 senadores mudaram de partido, onze somente no segundo semestre. Os últimos a comunicarem a mudança foram José Alencar, que passou do PMDB para o PL; o ex-ministro Freitas Neto, que foi do PFL para o PSDB; e Luiz Otávio, que ficou mais de um ano sem partido e acabou retornando para o PPB. A busca de espaço político regional é sempre um fator decisivo para a troca, mas os dias tumultuados vividos pela Casa ajudaram, com a renúncia de três dos seus mais influentes membros (Antônio Carlos Magalhães, José Roberto Arruda e Jader Barbalho). PTB e PDT ganharam três senadores cada. Ficaram no prejuízo os três mais importantes partidos governistas: PSDB, PFL e PMDB perderam, cada um, dois senadores. Pai de Jader avisa: não assume vaga O jornalista Laércio Barbalho, de 83 anos, pai do ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e primeiro suplente dele no Senado, confirmou ontem, em Belém, que não assumirá a vaga aberta com a renúncia do filho. Ele foi taxativo: "Meu tempo na política já passou". Com problemas no coração e sofrendo de diabetes, Laércio disse que comunicará por carta na próxima semana à Mesa do Senado a intenção de abrir mão dos 15 meses de mandato que teria. O segundo suplente, Fernando Ribeiro, ainda não definiu sua posição. José Ignácio acaba junto com Pitta O novo partido do governador do Espírito Santo, José Ignácio Ferreira, é o PTN, o mesmo que acolheu Celso Pitta depois das acusações de corrupção que sofreu na Prefeitura de São Paulo. A informação é do presidente regional do partido, Pedro Paulo Gonçalves Pereira. Ele confirmou que a filiação faz parte de um acordo do governador com cinco partidos nanicos. Ferreira não fez um anúncio oficial, mas ontem se reuniu na sede do governo com membros do PTN, PPB, PGT, PTC e PRTB, para acertar os detalhes do acordo. Com base no acordo, o PTN aceitou Ferreira; o PPB sua mais próxima aliada, a ex-senadora Luzia Toledo; o PGT levou três deputados estaduais, o PTC mais três e o PRTB ganhou um. Estudantes xingam ministro Surpreendido por um grupo de manifestantes que o xingavam de "canalha" e "ladrão", o ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, reafirmou ontem, no Rio, que manterá suspensos os salários dos servidores das universidades federais enquanto houver risco de suspensão dos vestibulares. Os estudantes, solidários com a greve de professores e funcionários, invadiram o auditório do Hotel Glória, onde o ministro participava do seminário Plano Nacional de Educação. Policiais do 2º Batalhão da Polícia Militar foram chamados para conter a confusão, mas não conseguiram evitar que o grupo de estudantes voltasse ao auditório e gritasse novas ofensas contra o ministro. Sobre a contratação de funcionários de empresas terceirizadas, Paulo Renato afirmou: "Mandei estudar, caso alguma universidade se recuse a fazer o vestibular". Líderes dos grevistas querem falar com FHC As lideranças do movimento grevista das universidades federais vão se reunir hoje com parlamentares da Comissão de Educação do Congresso Nacional e líderes da bancada da oposição para pedir a suspensão dos trabalhos dos deputados e senadores (a chamada obstrução parlamentar), para forçar uma decisão do governo federal sobre as negociações. O objetivo é negociar diretamente com o presidente Fernando Henrique Cardoso. "Se não conseguimos ser ouvidos pelo MEC, temos de falar com a autoridade superior", disse o presidente do Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior (Andes), Roberto Leher. Os professores e servidores das universidades estão em greve desde o dia 22 de agosto. Eles suspenderam as negociações com o MEC na semana passada, quando o ministro Paulo Renato proibiu o pagamento dos salários dos grevistas. Hoje, a decisão do pagamento está nas mãos do STF. Artigos Longe do bem e do mal Cláudio Lysias Os vinte e seis dias que separaram os atentados terroristas nos Estados Unidos do primeiro bombardeio no Afeganistão, no domingo, foram dos mais reveladores da história recente. Não propriamente pelas mudanças visíveis do dia-a-dia de muitos países e de seus habitantes, mas pelo tranco que deram na cabeça de muita gente. O jeito de pensar o mundo em bem ou mal, em oposição cristalina, que parecia ter se esgotado com a queda do Muro de Berlim, estava ainda bem vivo, mas desta vez foi ferido de morte com as loucuras do Osama. Esse raciocínio não caiu totalmente por terra, como as torres gêmeas de Nova York, tanto que são muitos os que ainda interpretam o ato insano como fruto plantado pelos próprios Estados Unidos, mas esgotou-se em profundo ridículo. Não, os Estados Unidos, e muito menos Nova York, mereceram o ataque suicida. Nenhum país ou cidade merece aquilo. Além do mais, os Estados Unidos não plantaram essa semente do terror. Com todos os seus defeitos e absurdos, com toda a sua tirania do ar condicionado, entre outras, de que reclamava Hemingway, Nova York é uma cidade em que o futuro é forjado no dia-a-dia com muitas contradições, muita briga, muita sacanagem, muita alegria, muita loucura, muito trabalho, muita música, muito amor, tudo muito. Como no Rio, Brasília ou Buenos Aires. Não há donos da verdade ou osamas bin ladens dizendo o que as pessoas podem ou não fazer, devem ou não fazer. Há incertezas, misérias, solidão, violência? Sim, mas há vida pulsante e é isso o que interessa. Inútil tentar compreender totalmente os atos terroristas usando apenas as armas da razão e os raciocínios acadêmicos. Bin Laden, de certa forma, quer ser tudo o que ele acha que os Estados Unidos são. O milionário arrependido deve achar um desperdício completo uma grande nação como a norte-americana permitir tanta liberdade e tanto pecado, na sua concepção. Um Bin Laden em Washington, deve pensar ele, colocaria tudo nos eixos. Seria apenas uma questão de tempo. Em vez de jazz, Cole Porter, Michael Jordan, Spielberg e Bob Dylan, o Corão sendo decorado em todas as escolas, sem ninguém para ensinar que o Corão, lido com sabedoria, pode se tornar fonte de poesia infinita e telerância extrema. Não há muito o que interpretar, há muito o que lamentar e muito o que aprender com isso tudo, antes que seja tarde. A guerra não era a solução, mas vai dizer isso ao Bush. Salman Rushdie, o escritor anglo-indiano condenado à morte pelos aiatolás do Irã pelo livro Os Versos Satânicos, hoje exilado em Nova York, talvez tenha sido o mais feliz tradutor dos dias que correm, em que o Ocidente corre o risco de esquecer a sua maior riqueza – a liberdade – em troca de um combate supostamente mais eficiente à barbárie. Disse ele, em artigo reproduzido pelos jornais, na semana passada: "O fundamentalista crê que não acreditamos em nada. Na sua visão de mundo, ele tem suas certezas absolutas, enquanto nós estamos mergulhados em vícios sibaríticos. Para provar seu engano, primeiro precisamos saber que ele está errado. Devemos concordar no que importa: beijar em lugares públicos, sanduíches de bacon, discordâncias, roupas decotadas, literatura, generosidade, água, uma distribuição mais equânime dos recursos do mundo, filmes, música, liberdade de pensamento, beleza e amor". São esses, segundo Rushdie, os fundamentos de um possível "livro essencial" da existência. Colunistas Claudio Humberto A CPI natimorta Ainda não saiu a anunciada CPI do BEC, para apurar o rombo de R$ 1 bilhão no Banco do Estado do Ceará. Não saiu nem vai sair, a julgar pela lista dos maiores devedores, a que esta coluna teve acesso. Dela fazem parte o senador Sérgio Machado, do PMDB (cuja rede de colégios deve R$ 3.143.446,24) e um genro do senador tucano Lúcio Alcântara (R$ 139.365,42). A Porto das Dunas, empresa que empregou Ciro Gomes (em cujo governo o rombo se deu) pendurou R$ 7.906.703,73 no BEC. Notáveis devedores Até o presidente do Tribunal de Contas do Ceará, Teodorico Menezes, a quem cabe fiscalizar a boa aplicação dos recursos públicos, deve R$ 141.072,91 ao BEC. E o humorista cearense, amigo e eleitor confesso da dupla Tasso Jereissati-Ciro Gomes e dono da Renato Aragão Produções Artísticas, tem um papagaio de R$ 415.346,83. Os valores são de 1997. Na boca do inferno Sem medo de ser feliz e decidido a "lavar a honra e o nome", o ex-ministro Eduardo Jorge esteve ontem no Ministério Público Federal, para uma conversa a portas fechadas com Geraldo Brindeiro. Ninguém sabe o que falaram, mas todos sabem o que EJ deseja: processar procuradores, como Luiz Francisco Souza, que o acusaram sem provas. Pensando bem... ...deveriam se chamar Itamarhawk os mísseis americanos errantes, que mataram quatro funcionários de uma ONG da ONU no Afeganistão. Novo sucesso Depois do campeão de audiência "Geddel vai às compras", com denúncias de enriquecimento ilícito do líder do PMDB na Câmara, a turma de ACM distribui em Brasília cópias de um novo vídeo, "As primeiras gatunagens de Geddel – Como os Vieira Lima usaram laranjas para desviar R$ 1 milhão do Baneb", o Banco do Estado da Bahia. O avô da matéria A indicação do publicitário Luiz Macedo para o lugar do ministro Andrea Matarazzo (Comunicação), revelada nesta coluna, foi idéia de Petrônio Correia, seu ex-sócio na extinta agência MPM e atual presidente de um Instituto de Acompanhamento de Publicidade. O mercado chama o IAP, inventado por Matarazzo, de "Instituto de Aposentadoria do Petrônio". Gaveta.gov.br Para contemplar processos que dormem nas gavetas da Procuradoria-Geral da República (como o litígio entre a CBF e os tricampeões Carlos Alberto Torres, Jairzinho, Paulo César Lima), basta ir ao site www.pgr.mpf.gov.br. Está tudo lá. Mas, justiça se faça, o processo mudou de gaveta: há anos dormita na do subprocurador Henrique Fagundes Filho. Época no páreo Nada como a competição. Há anos Veja e IstoÉ dão demonstrações seguidas de competência e qualidade, dividindo o mercado semanal de informação. Mas agora há algo de novo nas bancas, após Paulo Moreira Leite assumir a direção de Época. A revista da Editora Globo está mais quente, mais profunda, mais bem informada. Os leitores agradecem. Conquistando Hollywood O veterano ator Charlton "Ben-Hur" Heston será o criminoso nazista Josef Mengele no filme "Papá Alguém 5555" (sic). É uma co-produção Brasil, Hungria e Itália, de US$ 12 milhões, com locações no Rio de Janeiro, Manaus e Alemanha. Não se sabe ainda quem viverá o legista Badan Palhares e o ex-chefão da PF, Romeu Tuma. Luz no escuro O professor e vice-diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, lança hoje o livro "O Apagão – por que veio? Como sair dele?". Editado pela Revan, reúne artigos publicados entre outubro de 1992 e abril de 2001, em que o físico já alertava para os riscos da falta de investimentos em geração e distribuição de energia. Aponta também alternativas para a crise. Profissão mortal Cem petroleiros já morreram nos últimos três anos em acidentes na Petrobras/suja/vaza/bum! Média de dois mortos por mês, a maioria de empresas terceirizadas. A empresa rejeita as exigências da categoria para a renovação do acordo coletivo de trabalho, como direito de recusa, reposição de efetivo e o fim da terceirização em atividades essenciais. Diabo F.C. Com a ascensão de Osama bin Laden, Saddam Hussein foi para o banco de reservas. Crime castigado Foi condenado à prisão perpétua o assassino do casal brasileiro Kleber e Lilian Santos, num condomínio em Plano, Texas, em agosto do ano passado. Michael Adam Sigala, de 23 anos, entrou para roubar e poderá pegar pena de morte, por matar com tiros na cabeça o engenheiro e a mulher dele, enquanto a violentava. Eles querem é rosetar O deputado Gilvan Costa (PTN) quer acabar o Recifolia, animadíssimo carnaval fora de época de Pernambuco, "evento desumano realizado para desumanos", que deveriam se preocupar com a crise de energia e a guerra aos terroristas. O Recifolia – acredita – "estimula o consumo de drogas e a violência". Será mais fácil Bin Laden se entregar, deputado. Poder sem pudor Assunto proibido José Maria Alkmin, ministro da Fazenda de JK, já estava no estúdio, para participar de um programa na TV, quando disse ao entrevistador: – De inflação eu não falo. – Como não? O senhor é ministro da Fazenda! – ponderou o repórter. – É, mas eu não falo, meu filho, porque inflação é como feiúra de mulher: quanto mais se comenta, mais cresce... Editorial Feras à solta Dois cachorros ferozes, um pit bull e um rottweiler, mataram um poodle no Lago Sul. Escaparam por pouco um entregador de pizza e o dono do poodle, que tentou evitar o ataque. Em outras cidades brasileiras, o problema se repete e ninguém faz nada. Já que os donos desses cachorros, criados para matar, não têm qualquer sentido de vida comunitária e não cuidam de seus cães, o problema deveria ser da polícia. Mas a polícia não tem como fiscalizar e punir essas pessoas. Como sempre acontece no Brasil, esses ataques vão continuar até que alguém seja morto por um desses cães. Aí, então, o caso transforma-se em um escândalo e as providências são anunciadas com estardalhaço. Cães ferozes criados sem segurança e em locais abertos, são sinônimo de confusão. Não adianta sacrificar os animais, mas educar os donos e proibi-los de manter determinadas raças em residências e até apartamentos. Enquanto o poder público e a própria sociedade ficar apenas aguardando o pior, casos como os ocorridos no Lago Sul vão se repetir indefinidamente. Está na hora de agir. Topo da página

10/10/2001


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