Valadares alerta para riscos da transposição do São Francisco



Antes de pensar em transpor as águas do Rio São Francisco para outros estados do Nordeste, o governo precisa atentar para a necessidade de cuidar da recuperação e revitalização desse manancial. O alerta foi feito nesta quarta-feira (dia 28) pelo senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) ao chamar a atenção sobre a questão da água no século 21. Com base em dados da revista virtual Água On Line, o senador informou que o refluxo das águas do Rio São Francisco desequilibrou o braço-de-ferro que existia entre o rio e o mar.

- Nos últimos cinco anos, a maré avançou sem parar, engolindo 390 casas da ilha de pescadores do Cabeço, em Sergipe. A igreja do Bom Jesus foi afogada pelas ondas e o farol soçobra. O problema maior é que as autoridades insistem em encarar o São Francisco como rio supridor de matéria-prima (água). Ele pode ser condutor, mas nunca a fonte supridora - afirmou Valadares.

A poluição no São Francisco foi outro problema apontado pelo senador. Ele informou que 30% dos esgotos da região metropolitana de Belo Horizonte caem em afluentes importantes, como o Rio das Velhas e o Paraopeba, juntamente com os de outras 400 cidades, poluindo o rio São Francisco com coliformes fecais, ferro, manganês, fenóis, óleos, graxas e até arsênico e mercúrio, subprodutos da extração de ouro e outros minerais.

O senador Bernardo Cabral (PFL-AM), em aparte, disse que o Senado tem levado a sério o problema da água, "o ouro do século 21". Cabral solidarizou-se com Valadares na defesa da água, que classificou como "um bem imprescindível para a sobrevivência da humanidade". O senador Leomar Quintanilha (PPB-TO) disse que as gerações passadas jamais imaginariam que hoje a escassez de água estaria em debate. Quintanilha também entende que é preciso recuperar o São Francisco antes de transpor suas águas para outras bacias.

Valadares registrou ainda encontro internacional ocorrido em dezembro do ano passado, em Cochabamba, Bolívia, sobre a pressão global que está sendo exercida para entregar a exploração da água a empresas particulares. Desse encontro, continuou o senador, saiu a Declaração de Cochabamba, que defende como "direito inviolável" a conservação da água para gerações futuras; a proibição, em tratado internacional, de sua negociação e privatização para propósitos comerciais, e a proteção e regulação dos mananciais pelas comunidades locais em parceria com os governos.

28/03/2001

Agência Senado


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