"Vamos brigar muito sobre a Alca", diz Lula
"Vamos brigar muito sobre a Alca", diz Lula
A partir do próximo dia 15 de janeiro o Brasil vai enfrentar uma negociação duríssima com o governo dos Estados Unidos, prevê Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, líder em todas as pesquisas sobre a sucessão presidencial.
Se eleito, disse Lula a um grupo de jornalistas estrangeiros, "sentaremos para negociar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), com muita força, brigando muito, da mesma forma que os EUA são intransigentes em defesa dos seus interesses".
"Nós vamos ser intransigentes", insistiu, "em defesa dos nossos interesses, e essa luta vai permitir que a gente chegue a um acordo que interesse ao Brasil, aos EUA e aos demais países do continente que vão participar da Alca." O PT, diz o candidato, tem uma proposta básica para a Alca: "Se nós não criarmos um mecanismo pelo qual os países mais ricos possam ajudar os mais pobres, como a União Européia ajudou a Espanha, a Grécia e Portugal a adquirirem infra-estrutura para se tornarem competitivos, o que pode acontecer concretamente?", raciocina.
"Ora, a economia mais forte pode sufocar a economia mais fraca", complementa. "Acho que um acordo de livre comércio tem que pressupor a sobrevivência da economia de cada país que faz parte do bloco." O Mercosul se tornou frágil, acha, porque não criou instituições comuns, como fez a Europa, para sustentar a integração.
IBGE prevê inflação de 6,7% em 2002
O "Relatório de Inflação", do terceiro trimestre, divulgado ontem pelo Banco Central, indica um aumento nas projeções de inflação para 2002 e 2003, ao lado de uma redução do ritmo de crescimento da economia, neste ano. De acordo com o documento, a inflação, medida pelo IPCA, alcançará 6,7% em 2002 e atingirá 4,5%, em 2003. No relatório de junho, a previsão para a alta dos preços este ano era de 5,5%, não passando de 2,6%, em 2003.
Contra uma estimativa de crescimento econômico de 2%, no relatório do segundo trimestre, o BC projeta agora uma variação de 1,4% para o PIB este ano. Com a confirmação pelo IBGE, ontem, de que o PIB cresceu 0,14%, no primeiro semestre, será necessário que a economia cresça pelo menos 2,5% no segundo semestre, para que a nova estimativa do BC seja concretizada. Segundo o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto, não será difícil alcançar o resultado previsto pelo BC. "A base de comparação é fraca e o efeito estatístico pode salvar a economia", disse ele. No mercado, estima-se que, afetada pela transição política, a economia cresça mais de 1% e menos do que agora prevê o BC
Ameaça do tráfico pára Rio e região metropolitana
A cidade do Rio e 21 municípios vizinhos viveram ontem um dia de medo e prejuízos, e amanhecem hoje sem saber se comércio, indústrias, transporte coletivo e escolas poderão funcionar normalmente. Numa demonstração concreta de seu poder paralelo, traficantes determinaram o fechamento do comércio e de escolas em toda a região metropolitana. Segundo estimativas da Federação do Comércio, os prejuízos do setor chegaram a R$ 130 milhões.
Até o início da noite a polícia investigava a origem das ameaças. A governadora Benedita da Silva atribuiu inspiração política ao episódio. O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que "a segurança pública não pode ser confundida com eleição".
Ex-carreteiro leva soja por rio
Operação vai começar em 2003 Ariverson Feltrinde São PauloO ex-caminhoneiro gaúcho Irani Bertolini investe um total de R$ 20 milhões com recursos próprios e da linha Finame na construção de empurradores e balsas para movimentar, por rio, a soja produzida em Mato Grosso. Os comboios de Bertolini a partir de 2003 vão transportar soja para a Cargill pelos rios Madeira e Tapajós, de Porto Velho (RO) a Santarém (PA), onde os grãos serão embarcados em navios, rumo ao mercado externo..
O ex-caminhoneiro gaúcho Irani Bertolini investe um total de R$ 20 milhões com recursos próprios e da linha Finame na construção de empurradores e balsas para movimentar, por rio, a soja produzida em Mato Grosso. Os comboios de Bertolini a partir de 2003 vão transportar soja para a Cargill pelos rios Madeira e Tapajós, de Porto Velho (RO) a Santarém (PA), onde os grãos serão embarcados em navios, rumo ao mercado externo.
Irani Bertolini chegou a Manaus na década de 70, com uma carga de móveis num caminhão Mercedes 1111. De lá para cá montou na região um grupo de transporte, armazenagem e construção de balsas e carretas que já fatura R$ 130 milhões por ano.
Informática atrai capitais externos
Empresas ignoram crise no setor. Dez empresas dos setores de software, hardware e serviços desembarcaram no Brasil, nos últimos meses, para disputar uma fatia do bolo do mercado de tecnologia. Elas atuam em áreas diversas como a australiana TrakHealth, (softwares para hospitais) as norte-americanas Witness Systems (centrais de atendimento) SMC (soluções de rede) e Brocade Systems (equipamentos para armazenamento de dados), a chinesa de Taiwan Soyo (placas de computadores) e a Oregon, de Hong Cong, especializada em eletrônicos com tela de cristal líquido. Apesar da crise no setor, executivos dessas empresas afirmam que o mercado brasileiro ainda oferece espaço. "Já conquistamos três grandes clientes, Atento, Tellus e Sistel", relata Dagoberto Freitas, gerente da Witness.
Um shopping da Sonae a cada ano
Grupo português define expansão no Brasil e anuncia empreendimento em São Paulo. A Sonae Imobiliária, braço do grupo português Sonae para a construção e administração de centros de compra e de lazer, tem planos definidos no Brasil - e eles não se orientam pelas oscilações da política e da economia. O objetivo é inaugurar em média um shopping center por ano, em prazo não definido. Depois do Parque Dom Pedro, de Campinas (SP), lançado em março, a empresa anuncia a construção do Boa Vista Shopping, na zona sul de São Paulo, um investimento previsto de R$ 60 milhões.
Uma das lojas-âncora será um hipermercado da rede Sonda, um concorrente. A Sonae faz parte de um conglomerado com forte interesse no varejo. Controla os hipermercados Big, os supermercados Mercadorama, Nacional e Cândia, a rede Big Eletro e a loja de confecções Hello.
Há uma explicação para a Sonae abrigar um rival em casa. "O Sonda nos entregou o terreno onde será construído o Boa Vista", afirma João Pessoa Jorge, presidente da Sonae Imobiliária no Brasil. "Em troca, vamos bancar a construção de um hipermercado." Na verdade, no local já funciona o Shopping Center Sul, de propriedade do grupo Sonda. Ele será demolido para dar lugar ao Boa Vista, um shopping com área total construída de 70 mil m, área bruta locável de 23,7 mil m, 204 lojas e quatro âncoras. Além do Sonda, duas âncoras já estão definidas: as lojas de roupas C&A e Marisa Família.
O próximo passo será a construção de um shopping em Curitiba, em parceria com o Jockey Club da cidade. Nesse caso, o sócio terá direito a 10% da receita arrecadada. Depois, além de ampliar a presença em São Paulo, a Sonae pretende alcançar Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
"Queremos explorar ao máximo o potencial brasileiro", diz Jorge. "Os cerca de 300 centros de compras aqui instalados respondem por apenas 18% das compras dos consumidores." Nos Estados Unidos, afirma, os 30 mil shoppings representam mais de 50% de todo o comércio.
Uma das estratégias da Sonae Imobiliária, iniciada com o Parque Dom Pedro, de Campinas, será atrair varejistas portugueses. Pelas mãos da Sonae já chegaram ao Brasil a Michele K, de decoração, a Polimais, de perfumes, e a La Lanidoro, de moda.
Colunistas
Ganhando dinheiro com a festa eleitoral
Klau s Kleber
A propaganda dos candidatos encobre os postes, avança pelas calçadas, largas faixas cortam a visão dos viadutos, qualquer espaço de muro ou fachada serve para o apelo dramático ao voto.
Fica difícil, para quem passa de carro, ler todas aquelas propagandas, se tivesse disposição para tanto. Para chamar a atenção um candidato ousado, e certamente com boa caixa, postou ao longo da Rebouças, a cada 50 ou 100 metros, homens carregando um cartaz perguntando: "Quem é 1818?".
Para responder a essa pergunta, o passante só tinha como indicação a legenda PST. Mas logo adiante vem o esclarecimento: "Eu sou, 1818" (com vírgula e tudo). "Marcílio Duarte, Deputado Federal. O voto é seu. A obrigação é minha".
Parado pelo congestionamento, perguntei a um dos homens que carregavam o cartaz quanto estava recebendo por aquele trabalho. Ele não regateou informações. Aquele negócio de ficar segurando cartaz no canteiro central da avenida é chatíssimo e quando uma pessoa chega para conversar deve ser um alívio.
- R$ 15, respondeu, para ficar de estaca entre as 7 da manhã e sete da noite.
- E o almoço?
- O candidato paga, disse ele com um sorriso franco, de poucos dentes.
Não contei, mas calculo que, no trecho entre a Av. Paulista e a ponte Eusébio Matoso - uns 2,5 quilômetros ou quase meia légua caipira -, havia uns 30 daqueles homens carregando o cartaz do 1818. Ou seja, brasileiros temporariamente empregados. O que não chega a ser desprezível neste magro fim de governo.
Havia outros compatriotas trabalhando. Uns agitavam bandeiras, na esquina da Av. Brasil, para o governador e candidato à reeleição Geraldo Alckmin. Outro, solitário, procurava escalar um poste de cimento, tentando arrumar o cartaz do deputado José Genoino, também candidato a governador.
Na profusão de cartazes naquele local, enforcaram Genoino em efígie. Uma faixa gritando "QUÉRCIA senador" estava sendo também ajeitada. Seguiam-se cartazes de Romeu Tuma, também candidato a senador, com a indefectível estrela de xerife, que, aparentemente, é hereditária. Robson Tuma, candidato a deputado federal, tem uma menorzinha.
A julgar pelas ruas e avenidas mais movimentadas de São Paulo, está correndo bastante dinheiro nessa eleição. Falo da grana legal. Da ilegal, não tenho idéia. As gráficas, como sempre, estão faturando bem, e dando mais empregos, claro.
E, além dos milionários marqueteiros, advogados especializados em pedir direito de resposta nos programas eleitorais na TV, publicitários e jornalistas com habilidades diversas, tem pregador e carregador de cartaz, tem pintor, pichador, armador e arranjador de faixa, distribuidor de santinho, motorista, motoqueiro, etc. Surgiu também uma nova especialidade: os internautas que nos bombardeiam com e-mails. (Depois da queda de alguns palanques, os carpinteiros estão em baixa.)
Mas quem está ganhando dinheiro para valer nesta eleição são os operadores do mercado financeiro. Na coluna que aqui foi publicada segunda-feira, procurei determinar a taxa média mensal de elevação da cotação do dólar desde os idos de fevereiro. Tenho um velho vício profissional de fazer contas e cheguei a aventurar que o dólar chegaria a R$ 3,60 no segundo turno, embora não me surpreendesse se ele fosse a R$ 3,80 ou a R$ 4.
Caí do cavalo. O dólar subiu à taxa média mensal de 4,99% de fevereiro até 20 de setembro. Do dia 23 em diante, a cotação do dólar passou a saltar, em média, 2,62% por dia. A cotação, que estava em R$ 3,405 (venda) no dia 23, pulou para R$ 3,875 na última sexta-feira, quando o dólar chegou a bater durante o dia em R$ 3,90. Em uma semana, a cotação do dólar avançou 13,8%.
Até a alta cúpula do governo perdeu a esportiva desta vez. Na sexta-feira, os jornais davam em manchete declarações do Fernando Henrique Cardoso condenando a absurda especulação. O ministro Pedro Malan, que está em Washington para a reunião do FMI, disse que o ganancioso mercado é movido por medo e ignorância. Não adiantou nada.
Como não vão adiantar os bons resultados do balanço de pagamentos, a boa palavra do FMI sobre o Brasil e as afirmações de banqueiros de que Lula não mais assusta. Dizem que é um grupelho de operadores que maneja as cotações, o que é relativamente fácil em um mercado estreito.
Surgiu a sugestão de que o governo mude o cálculo da Ptax (taxa média), alargando o período de cálculo, o que poderia reduzir os gastos do Tesouro em relação aos títulos com correção cambial. Mas bastou essa suspeita para jogar mais lenha na fogueira. O governo parece manietado. Não há nada a fazer senão ficar aguardando não se sabe bem o quê. É como na peça "Esperando Godot", de Samuel Beckett: os personagens, Estragon e Vladimir, decidem no final ir embora, mas permanecem imóveis.
Cai o pano.
Editorial
SEGUIDA MELHORA NAS CONTAS EXTERNAS
A última assembléia geral conjunta do Fundo Monetário Internacional/Banco Mundial deixou a impressão de que tem pouquíssimas chances de ser adotada a proposta patrocinada pela vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, de criação de um fórum para reestruturação da dívida externa soberana, isto é, de governos de países emergentes em dificuldades. A proposta, oficialmente denominada "Sovereign Debt Restructuring Mechanism", ou (SDRM), só poderia transformar-se em realidade no espaço de alguns anos, uma vez que, pela sua natureza, teria de ser previamente aprovada pelos parlamentos dos países-membros.
Além disso, a proposta de Krueger só se aplicaria à negociação de dívidas externas de governos, o que o Clube de Paris, que reúne os credores dos países industrializados, já faz informalmente. Acresce que em muitos países em desenvolvimento as dívidas externas contraídas por empresas são em valor muito maior que a de governos. Tais países estão também altamente endividados no plano interno, a um custo elevado. A manutenção de altas taxas de juros domésticas tem tido, inclusive, a finalidade de atrair aplicações externas para seus mercados. Assim, o interesse pela proposição endossada por Krueger perde muito de seu atrativo.
Embora o Grupo dos Sete (G-7) tenha se comprometido a analisar o SDRM no seu próximo encontro, na primavera de 2003, ficou patente, na reunião do Fundo, a preferência dos governos dos países industrializados e dos grandes bancos internacionais pela "cláusula de ação coletiva" na emissão de bônus. Essa cláusula permite agrupar milhares de detentores de bônus, o que poderia ajudar muito o processo de renegociação de dívidas.
Como se sabe, os bônus são inicialmente adquiridos por bancos internacionais, que os repassam a milhares de clientes. No caso de uma reestruturação, se a maioria optar por uma alternativa, como a rolagem, por exemplo, os que estiverem em minoria não poderiam bloquear o esquema por meio de ações judiciais.
Como afirmou o presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, o Brasil não é contrário, em princípio, à introdução de cláusulas de ação coletiva nos lançamentos futuros, como, por sinal, já tem acontecido em emissões feitas em Londres. O que o País não aceita é a inclusão dessa cláusula em novos contratos de bônus já emitidos, o que feriria direitos adquiridos.
As autoridades brasileiras acompanham com interesse a evolução dessas discussões, mas não porque tenham em vista a reestruturação da dívida externa do Brasil. Segundo os últimos dados divulgados (posição em junho), a dívida a curto prazo do setor público é insignificante (US$ 173 milhões). Já a dívida a médio e longo prazo do governo (US$ 104,46 bilhões) está bem escalonada e as amortizações e juros previstos podem ser saldados com reservas existentes no BC. Quanto à dívida interna, há condições que permitem a rolagem.
< BR>É inegável que há preocupações com o Brasil, muitas vezes por falta de conhecimento realista da consolidação das instituições democráticas brasileiras e do perfil dos candidatos e dos partidos que os apóiam. Espera-se naturalmente que, com a realização das eleições de 6 de outubro, o quadro fique mais claro, inclusive para os investidores externos.
Há dados econômicos que não podem ser ignorados, como a sensível melhora que vem apresentando o balanço de pagamentos brasileiro, que, em agosto último, pela primeira vez desde agosto de 1994, apresentou um superávit de US$ 316 milhões. Com isso, o déficit acumulado no ano em transações correntes, que era de US$ 8,83 bilhões de janeiro a julho, caiu para US$ 8,51 bilhões de janeiro a agosto, 48,5% menos que nos primeiros oito meses de 2001 (US$ 16,52 bilhões).
O déficit registrado até agosto, convém lembrar, é coberto com folga pela entrada de investimentos diretos neste ano, que, apesar da retração no mercado mundial, devido à aversão ao risco, atingiu US$ 13,64 bilhões nos primeiros oito meses. A previsão do BC é que o déficit em transações correntes pode fechar o ano em US$ 14 bilhões. É perfeitamente realista prever que esse total seja também inferior ao volume de investimentos até o fim deste ano.
Quanto às exportações, dados revelados ontem, quando o mês de setembro não estava ainda fechado, indicam que chegaram a US$ 43,20 bilhões neste ano, bem próximo do total de janeiro a setembro do ano passado (US$ 44,37 bilhões). Em suma, o Brasil vem-se adaptando bem a uma conjuntura internacional difícil e tem condições de crescer e manter a sua solvência internacional.
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10/01/2002
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