Vedoin acusa parlamentares de saber do recebimento de propina por assessores, diz Biscaia



O presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Sanguessugas, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), disse em entrevista nesta quinta-feira (3) que o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin confirmou que os parlamentares citados anteriormente em seu depoimento à Justiça de Cuiabá sabiam que seus assessores receberam propinas. Luiz Antônio é um dos donos da Planam - empresa apontada como organizadora do esquema de fraudes para compra superfaturada de ambulâncias com recursos de emendas ao Orçamento - e foi ouvindo pela comissão das 9h até por volta das 16h30 desta quinta-feira na Superintendência Regional da Polícia Federal em Brasília.

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- Ele está trazendo elementos que comprovam que, em inúmeros casos, os assessores recebiam vantagens indevidas com o pleno conhecimento dos parlamentares. Quem tem um pouco de experiência na inquirição de testemunhas percebe que ele tem conhecimento dos fatos - ressaltou.

De acordo com o presidente da CPI, Vedoin afirmou que as denúncias contra esses parlamentares podem ser comprovadas porque eles tomavam providências, como o envio de ofício ao Ministério da Saúde ou da Ciência e Tecnologia, entre outras provas.

- É evidente que tinham participação - afirmou Biscaia.

Já o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), disse que o depoimento de Vedoin deverá levar a novas notificações de parlamentares pela CPI e, ao mesmo tempo, reduzir o número daqueles contra quem não havia provas materiais de participação no esquema de corrupção.

- Há um certo número de parlamentares que receberam em cash e estava difícil, até agora, reunir provas contra eles. Mas agora, Vedoin indicou testemunhas da entrega do dinheiro e outras formas indiretas de comprovação do recebimento, de forma que ficam reduzidas as possibilidades de escape desses parlamentares - declarou Jungmann, para quem o depoimento agrava a situação dos senadores já notificados: Ney Suassuna (PMDB-PB), Magno Malta (PL-ES) e Serys Slhessarenko (PT-MT).

Biscaia avaliou o depoimento do empresário como "elucidativo, firme e com muita credibilidade". Ele considerou importante essa reinquirição de Vedoin, apesar de, em sua opinião, o empresário já ter sido interrogado "com a mais absoluta clareza e correção", durante onze dias, em Cuiabá. Na sua avaliação, o depoimento desta quinta-feira está confirmando, em alguns aspectos, o que já se tinha conhecimento e convicção.

O deputado Paulo Rubem Santiago (PT-PE) informou que Vedoin também citou a participação de empresas de outros estados no esquema, além da Planam. Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro foram exemplos citados por Rubem Santiago, com base nas declarações de Luiz Antônio.

- Nós estamos aqui investigando uma parte do todo, mas queremos investigar o todo, com todas as empresas que fizeram negócios com os parlamentares - disse Santiago.

Até o final da manhã, o suposto envolvimento dos governadores petistas José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, de Mato Grosso do Sul, e Wellington Dias, do Piauí, nas fraudes não havia sido apontado.

Em relação ao rito do depoimento, Biscaia informou que cada parlamentar tem de 15 a 25 minutos para inquirir Vedoin. Ao final, o relator, senador Amir Lando (PMDB-RO), terá prazo ilimitado para ouvi-lo.

Assessores

Na tarde desta quinta-feira, sub-relatores da CPI deverão ouvir 31 assessores de parlamentares acusados de receber propina do esquema dos sanguessugas. De acordo com o presidente da comissão, a defesa apresentada por alguns parlamentares coloca a responsabilidade exclusivamente nos assessores.

- Nós sabemos que isso não resiste a uma comprovação efetiva - observou Biscaia.

O deputado informou ainda que na reunião administrativa da comissão, transferida para a próxima semana, deverão ser votados cerca de 50 requerimentos. Desse total, dois ou três, conforme destacou, são considerados mais polêmicos por pedirem a convocação de ex-ministros.



03/08/2006

Agência Senado


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