Veja a íntegra do discurso do presidente do Senado



"Creio expressar o sentimento de toda a sociedade ao afirmar a satisfação de celebrar mais um marco da democracia brasileira. Sem dúvida alguma, é um momento - e o Presidente já o disse com toda ênfase - de orgulho para a nossa jovem, mas vigorosa, democracia. 

Essa é uma virtude da democracia, vai se incorporando tão confortavelmente ao nosso cotidiano que, quando paramos para observar, parece que sempre vivemos na plenitude democrática, embora todos saibamos que nem sempre respiramos normalidade.

Outro mérito é que o modelo não se pretende acabado. Como nunca se completa, é necessário refazê-lo diariamente. É uma obra aberta e coletiva que tem início, mas não tem termo. Como é humildemente imperfeita, a democracia precisa sempre ser refeita e aí reside seu maior valor: a permeabilidade permanente aos aperfeiçoamentos institucionais.

Nunca é demasiado relembrar o ensinamento: a democracia pode ter problemas, mas é o melhor sistema de governo. Os problemas existem, de fato, mas a democracia segue sendo o melhor sistema de Governo. 

O processo eleitoral de 2006, mais do que a celebração democrática, deve ser compreendido - o Presidente já o disse - além do cômodo antagonismo entre os que disputaram a eleição. Ele se insere em um processo histórico-social e precisa ser ponderado, sob a perspectiva das mensagens emanadas da sociedade. 

Chegou o momento de interpretar esses anseios e interagir com eles. É uma decisão crucial, especialmente agora, quando transpomos o calor eleitoral e ingressamos na administração, cujos atos e decisões têm conseqüências sobre a vida de todos nós. A sociedade amadurecida está atenta. Ela nos ouve, e, no silêncio do voto, exige ser ouvida com maior freqüência e ser atendida. Ela clama e continuará clamando por melhorias no seu dia-a-dia. 

O último pleito, sem dúvida nenhuma, demonstrou que a percepção do conforto econômico, aqui defendida pelo Presidente, foi decisiva no resultado. 

A sociedade recusou a hegemonia nas mãos de um segmento. Entre a Presidência da República, Senado Federal, Câmara dos Deputados, Governos Estaduais e Assembléias Legislativas, o Poder foi repartido. 

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com responsabilidade aguda, rara sensibilidade adquirida em sua trajetória única soube diagnosticar e compreender os desejos da sociedade e, verificada a opção pela continuidade do seu projeto, convocou o Brasil para uma conciliação. 

Reformas estruturais - e V.Exa. tem razão, Presidente Lula - pertencem ao futuro do País não a Governos. A pregação, estando todos a colaborar, não deve ser recebida com reservas. Busca-se uma conjugação de vontades, com propósitos determinados como meio seguro de superarmos as apreensões nacionais. 

Hoje fica claro que esta convocação deve contar principalmente com a oposição, vital em qualquer democracia, e que reúne valorosos quadros na busca do bem coletivo.

O espaço da oposição - V.Exa. já disse, e eu repito - é sagrado; sua voz crítica, imprescindível. Tudo em política é questão de espaço, possibilidade e ousadia. Se houver ambiente para um amplo diálogo que permita fazer as reformas, reduzir mais impostos, distribuir mais rendas, gerar mais investimentos, mais empregos e crescer ainda mais em bases sustentáveis, todo esforço, Sr. Presidente, será pouco para concretizá-lo. 

Precisamos de racionalidade para maximizar os dividendos econômicos que o cenário externo ainda sugere. Os ciclos históricos exigem espectadores atentos. Ou o Brasil avança, ou é marginalizado da história econômica moderna. Daí a necessidade que V.Exa. tem de destravá-lo. 

Não precisamos de frases sonoras ou sugestivas. Diante de um mundo irremediavelmente globalizado, o nosso choque é o choque da execução do óbvio, é uma caminhada que exige trabalho, união e patriotismo. Ela nos dará segurança para gerar os empregos pretendidos e crescermos acima dos percentuais de outrora.

Brasileiros não torcem contra o Brasil e, portanto, não querem assistir à repetição de erros pretéritos. É imperativo, na busca do bem comum, que ousemos fiscalizar, legislar, apontar caminhos sólidos para o desenvolvimento - essas são atribuições do Poder Legislativo. 

Enquanto as potências avançam celeremente em todos os campos, ainda lutamos por direitos básicos, comezinhos. Consagradas as conquistas mais elementares da democracia, as liberdades e o Estado de Direito, devemos somar esforços para avançar ainda mais rumo à justiça social e à igualdade de oportunidades, sem as quais nenhuma democracia estará completa, nenhum democrata estará satisfeito. 

Democracia não é só direito a voto, não é só ir e vir. Sr. Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva; Sr. Vice-Presidente, José Alencar; Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Aldo Rebelo, um dos mais atentos observadores da cena nacional, como bem sabem, democracia é mobilidade social, igualdade de oportunidades e justiça social. 

As projeções do cenário mundial são confortáveis, ainda sinalizam para um crescimento sustentável para os países emergentes. Muitos dos resultados são reflexos das reformas iniciadas na década de 90 que precisam, como disse V.Exa., ser continuadas. Devemos prosseguir com elas, ou seremos um elo perdido no continente. Temos potencial e vamos, com a ajuda de todos, dar os passos do tamanho dos passos de outras nações.

O papel do Parlamento, Sr. Presidente Lula, é acelerar as reformas, que não devem ser procrastinadas ou vítimas de contaminações eleitorais que se avizinhem. Para cumprir o seu destino histórico, o País pede a seqüência das reformas, entre elas, a modernização do sistema político, a reforma política - quem morreu não foi a democracia, não foi a ética, quem apodreceu foi o nosso sistema político uninominal - , a mudança nas novas formas de cooperação entre a União e os demais Estados Federados e a simplificação dos nossos tributos. 

Sei que a exortação pela palavra tem perdido a força, mas devemos ressuscitar esse valor, senão começaremos a perder o contato com a sociedade. Os riscos são conhecidos, Srs. Senadores, Srs. Deputados. Há descrença na capacidade saneadora e organizadora das instituições. 

Desejo que os anseios do povo brasileiro encontrem ressonância nos três poderes, que, mais do que nunca, precisam ser independentes, autônomos e harmônicos e que possamos colaborar na construção de um futuro próspero, justo e igualitário para o Brasil.

E neste projeto estou convencido de que a Oposição, parte essencial do Poder Legislativo, tem verdadeiramente como contribuir, dada a responsabilidade e a maturidade com que vem atuando. 

Creio exprimir neste momento o sentimento dominante ao dizer que não será por nossa omissão, inércia ou inação que o governo de V.Exa. não dará ao Brasil as medidas de que o povo reclama, a opinião pública reivindica e a Nação, que decidiu elegê-lo, espera. Os interesses do Brasil estarão, como sempre estiveram, acima de eventuais divergências ideológicas, doutrinárias e partidárias.

Para encerrar, repito Padre Vieira e desejo bons anos a V.Exa., não apenas este, mas todos os do seu mandato."



01/01/2007

Agência Senado


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